quinta-feira, setembro 18, 2014

Um AVC descrito na primeira pessoa por uma neurocientista que, além do mais, tem a grande vantagem de ser uma excelente comunicadora: a Dra. Jill Bolte Taylor. E uma amiga minha, médica, e a sua condição actual.


No post a seguir a este já partilhei convosco um vídeo humorístico antigo que um amigo me enviou, um vídeo sobre o Eterno Masculino. Olhem, foi aquele amigo de quem no outro dia falei, o que tem vontade de se desfazer de toda a tralha que herdou e adquiriu ao longo de anos para ir viver num andar mínimo na zona do Chiado.

É um amigo de longa data, um pândego, e costumava enviar-me toda a espécie de maluquices.  Volta e meia ainda manda. Grande parte delas eram os colegas da mulher, minha amiga também, que lhe enviavam a ela, ela enviava para o marido e para mais umas quantas pessoas incluindo para mim mas, se ela se esquecia ou se achava que era coisa too much, encarregava-se ele de assegurar o broadcast geral.

Ela trabalhava num dos grandes hospitais de Lisboa, geralmente os grandes acidentados iam parar-lhe às mãos. Encarava tudo na maior descontracção e ainda bem senão andaria sempre em colapso emocional.

Ela conta imensas histórias que nos fazem rir imenso. Por exemplo, conta que tinham uma brincadeira muito divertida: que quando fazia bancos e lá aparecia algum doente-homem armado em parvo, chico-esperto ou em pintas, ela chamava uma colega, falavam em voz baixa com ar preocupado como se desconfiassem de um problema grave e depois comunicavam que lamentavam mas que ele tinha que ser examinado, um toque rectal. O sujeito começava logo a vacilar. Elas, então, diziam que tinham que ir chamar um colega especialista da área. E iam. Iam chamar creio que um enfermeiro ou médico, não me lembro, mas sei que era um negão, um calmeirão preto. E então o negão punha-se a calçar a luva com todo o vagar, a espetar o dedão como que para ganhar balanço. E elas a gozarem com a aflição do pintarolas, que se encolhia todo. Depois lá inventavam uma desculpa e diziam que ficava para outra altura.

Muita história engraçada ela tem para contar. Sobre casos, isso não tem conta. Diz ela 'Há lá muita cama, percebes...'

Afinal, um dia destes sentiu um incómodo, não ligou, até que falou com um colega de imagiologia. O colega examinou e descobriu aquilo que ninguém quer descobrir. Foi um susto muito grande. Fez quimio, Parece que está tudo controlado, tomara que sim, há muitos casos em que a coisa se cura. Mas reformou-se, acho que aproveitou este programa de reformas antecipadas, ainda não me lembrei de perguntar como foi possível quando lhe faltam tantos anos para a idade estipulada. Sei que tem um corte enorme na reforma mas isso não é problema, têm outros rendimentos; e já não tinha energia para fazer bancos, muitas horas de stress, situações complicadas. Além disso, tendo que lidar com desastres e casos terminais a toda a hora, dada a sua presente circunstância, deve ter perdido aquele distanciamento que sempre lhe conheci.


Os vídeos abaixo mostram a apresentação de um caso que sempre me interessou desde que o meu pai teve os pequenos AITs e depois um AVC extenso e grave. Uma neurocientista vê-se um dia confrontada com um acidente vascular cerebral no seu próprio cérebro. Sendo o cérebro a sua área de estudo, ela descreve com clareza e até com um certo sentido de humor o que lhe aconteceu. 


Jill Bolte Taylor com a mãe,
o seu anjo da guarda



Ouvindo as suas palavras eu percebo melhor o que aconteceu ao meu pai, apesar da área lesada no cérebro do meu pai ser simétrica em relação à dela. 


O meu pai, ao contrário do que aconteceu à Drª Jill, ficou a prender-se na lógica das coisas, empreende em assuntos irrelevantes, preocupa-se com tudo. Com ela foi o oposto, passou a ser tudo peace and love, na boa. 


Mas no caso dela, foi susceptível de ser operada e ficou óptima. No caso do meu pai não.


Sempre me interessei por conhecer o funcionamento do cérebro, e isto já vinha de longa data. Sendo leiga, é como curiosa que leio, ouço, tento perceber. No fundo, acho que quero compreender melhor o que sou e o que os outros são.

E sei também agora - e antes não sabia - que o cérebro se pode 'reformatar', pelo menos em parte, que pode descobrir novos caminhos quando os anteriores ficam destruídos. Mas isso será tema para outro dia.



[As legendas, como verão, não são extraordinárias mas, enfim, não retiram a compreensão do que é dito por Jill Taylor. A sua apresentação no TED está aqui dividida em dois vídeos.]










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Relembro: sobre o Eterno Masculino é descer até ao post já a seguir.

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Volto aqui, um bocado depois de o ter terminado. Estava a começar um outro post mas, para o fazer como queria, precisaria de mais tempo e já passa da uma e meia da manhã e amanhã tenho que me levantar muito cedo. Por isso, agora fico-me por aqui.


Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira!


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