sexta-feira, setembro 27, 2024

Não sei o que é pior, se é ser professora de Matemática sem ter habilitações para isso ou fazer implantes e dar injecções para aumentar o tamanho do pénis sem ser médico

 

A senhora em questão deu aulas durante anos, fez manuais aprovados para acompanhamento lectivo, fez avaliações de colegas e aparentemente era sempre tão generosa nas notas que dava que toda a gente se sentia agradecida. Li que a senhora não foi meiga a dourar a pilula: terá dito que se mestrou em Cambridge e se doutorou na Madeira, isto, segundo dizem, sem nunca ter saído da Sobreda.

Mas passou. Candidatava-se a cargos e cenas, parece que sempre prestável, se calhar não levantava ondas e, no fim, toma lá uma avaliação generosa e siga o baile.

Dito isto, não faço ideia se era boa professora ou não. Nem sei se sabia qualquer coisa da matéria que dava. De qualquer modo, por princípio, não deve haver lugar para trapaceiros. 

Em tempos não muito longínquos, trabalhou na mesma empresa que eu uma sumidade -- seleccionada por um head hunter internacional e sancionada pela direcção de recursos humanos -- que tinha um CV de tal forma impressionante e robusto que ninguém quis parecer mesquinho a ponto de verificar a veracidade daquilo.

Tinhosa como sou, qualquer coisa ali fez com que o meu faro se pusesse em guarda. As habilitações académicas eram tão extraordinárias que me palpitou que fossem obra de uma imaginação demasiado fértil. 

Fiz umas pesquisas simples. Pimba. O curso superior que ele dizia que tinha pura e simplesmente não existia e na universidade onde tinha estudado nunca ninguém soube que se tivesse alguma vez matriculado. Uma história pegada. 

Quando alertei a nossa direcção de recursos humanos ficaram arrepiados mas desculparam-se com a empresa de head hunting que deveria ter feito essa validação. Mas porque tinham caído tão ingenuamente na esparrela, também não quiseram assumir a barracada. O que acabou por acontecer é que ele próprio, estrangeiro, charmoso, uma simpatia, percebeu que não tardaria a ser descoberto e, para alívio geral, foi pregar para outra freguesia. 

Contudo, durante uns dois ou três anos foi o maior, tratado nas palminhas, levado ao colo. A mim tresandava-me a banha da cobra mas era só eu. O resto da malta curvava-se perante uma estrela internacional de tamanho gabarito. É fácil enganar quem gosta de ser enganado.

Hoje li que um tailandês fez tratamentos para engrandecimento de pénis (dir-se-á engrandecimento?)  -- implantes, injecções e não sei que mais -- durante cerca de 20 anos. E, afinal, não é médico nem nada que se pareça. Muitos dos garganeiros que, em vez de se contentarem com o que lhes calhou na rifa, resolveram pôr-lhe o pirilau nas mãos acabaram com infecções. Claro que a maioria deve ter ficado caladinha a pôr pomadinhas em casa a ver se ninguém descobria mas houve um deles que se queixou mesmo. Veio então a saber-se que não havia cuidados de esterilização nos instrumentos nem os indispensáveis cuidados médicos no manuseamento, inserção de implantes, injecções para insuflar o bicho (não deve ser exactamente insuflar mas o efeito deve ser quase o mesmo e só de ver as imagens até me encolho... e não tenho pénis, faria se tivesse...). 

Confessou, claro. Diz que aprendeu sozinho e não passou do secundário. 

A capacidade de os trapaceiros enganarem os outros e irem passando entre os pingos da chuva é incrível.

E a cegueira dos que se deixam enganar é igualmente inacreditável.

Sem comentários: