Eu não sei responder a nada disto. Nunca tinha ouvido falar no Stefano. Agora uma coisa eu sei. Tal como é sabido e consabido desde os tempos em que Harry Selfridge organizou os seus armazéns no início do século passado, colocando na entrada o que agradava às mulheres (maquilhagem, moda, chapéus, luvas, etc), quem decide como vai ser são as mulheres.
Portanto, se é para ver e ouvir (coisa forçosamente platónica, digamos assim), não é melhor que seja um giraço com um sorriso lindo, fofo, queridésimo, simpático todos os dias...?
E isto sou eu, hetero, a falar. Agora, se a mulherada se encanta, imagine-se o que não pensarão os homens gays lá do burgo...? Tudo a votar no menino... Ora não.
Mas se acham que isto é conversa da treta -- e claro que é -- deixem que transcreva o que o Guardian diz (tradução às três pancadas do artigo Stefanos Kasselakis: ex-banker who lit up Greek politics to lead Syriza):
Ao meio-dia de segunda-feira, Stefanos Kasselakis, um executivo do setor marítimo e ex-negociador do Goldman Sachs, caminhou pelos corredores do parlamento grego para ser coroado chefe do Syriza, o outrora partido radical de esquerda do país.
Ninguém poderia parecer mais fora de sintonia com uma força política tão mergulhada na turbulência da sangrenta história do pós-guerra da Grécia. Mas Kasselakis, com um sorriso aparentemente permanente nos lábios, desafiou todas as probabilidades. Depois de iluminar os céus da sóbria cena política do país com uma campanha no alto do vigor das redes sociais, o greco-americano de 35 anos não só emergiu como o vencedor da corrida de duas voltas para liderar o Syriza – ganhando 56,69% dos votos – mas provou que é muito mais do que uma estrela cadente.
Há apenas seis meses, Kasselakis era um desconhecido político arrancado da obscuridade pelo líder cessante do Syriza, Aléxis Tsipras, para se apresentar como candidato expatriado nas eleições estaduais do partido nas eleições nacionais de Maio. Desde que deixou a Grécia, ainda adolescente, com uma bolsa de estudos num prestigioso internato de Massachusetts, depois de vencer uma competição de matemática, ele não olhou para trás.
Se os roteiristas tivessem tido a chance de escrever o roteiro, eles poderiam ter tropeçado. E não só porque o antigo “Garoto de Ouro” – apelido dado a Kasselakis pelos colunistas – vem dos EUA com um currículo que nenhum esquerdista que se preze poderia endossar.
Num país mediterrânico mal preparado para eleger uma mulher como primeira-ministra – e muito menos um homem assumidamente gay – ele chegou à Grécia com o seu marido, Tyler McBeth, um enfermeiro norte-americano que conheceu e por quem se apaixonou em Miami.
McBeth, que assim como Kasselakis, começa o dia malhando na academia, apareceu sorrindo ao lado dele desde o início da corrida pela liderança – o casal entrou na união civil há quatro anos. “A minha mãe”, disse recentemente o novo líder do Syriza, “nada mais quer que nós tenhamos filhos e possamos vir ajudar-nos”.No domingo, Kasselakis fez de tudo para garantir que a sociedade socialmente conservadora da Grécia soubesse exatamente quem era o seu marido, chamando McBeth para se juntar a ele no seu discurso de vitória fora da sede do partido.
Além disso, a ascensão de Kasselakis surgiu do nada.
O escritor de esquerda Dimitris Psarras, evocando a ansiedade que o súbito aparecimento do greco-americano desencadeou entre os quadros do que outrora foi uma aliança de marxistas, ex-comunistas, ecologistas e social-democratas, disse: “É como se a Netflix tivesse entrado, assumido o controle do party e agora está transformando-o em uma série. As pessoas não têm ideia do que se trata a sua política, ou se ele tem algum programa. É claro que eles estão em choque.”
(...)
Em retrospectiva, o anúncio poderia ter sido escrito por psicólogos comportamentais – o recém-chegado político falou publicamente sobre fazer terapia para lidar com a sua sexualidade.Pesada na história de vida e na verdade, a declaração começa: “O meu nome é Stefano e tenho uma coisa para vos contar. Nasci em Maroussi [um subúrbio de Atenas] em 1988, num país com primeiros-ministros hereditários; numa família com pais que se criaram por conta própria. A minha mãe, dentista, trabalhou dia e noite para sustentar o meu pai enquanto ele abria sua empresa.”
No final do vídeo, Kasselakis falou sobre o colapso económico de sua família, como foi parar aos EUA “sozinho com bolsa integral”, cursou a Universidade da Pensilvânia, conseguiu um emprego no Goldman Sachs, entrou no mundo do transporte marítimo – ganhando uma pequena fortuna no processo – e conheceu “o sopro de liberdade” na sua vida, Tyler.
A sua decisão de aderir à corrida pela liderança do Syriza – permitida a qualquer membro assalariado do partido – nasceu, disse ele, do desejo de “construir o sonho grego”.“Tenho consciência de que não tenho experiência partidária. A minha experiência é no trabalho e na vida social”, disse Kasselakis aos ouvintes, insistindo que com o seu melhor inglês, melhores competências empresariais e melhores diplomas, poderia não só derrotar o primeiro-ministro grego, Kyriakos Mitsotakis, mas também expulsar o centro-direita do poder. “Para que o sonho grego se torne realidade, temos de derrotar aqueles que beneficiam de uma Grécia que é um campo árido e não da Europa na prática”, disse ele.
Quer quisesse ou não, Kasselakis fez o que nenhuma outra pessoa conseguiu fazer: transformar a política grega num pseudo-reality show televisivo em menos de um mês.
Mas o que ele também mostrou tão acertadamente é que quatro semanas é muito tempo na política, o suficiente para apagar o passado e para “redefinir” um partido.
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Uma boa terça-feira
Saúde. Boa disposição. Paz.
4 comentários:
"afinal onde é que está a linha que separa a esquerda da direita"
Um ou dois passos atrás: essa linha existe? É uma linha ou são várias, muitas? E faz sentido, hoje, continuar à procura dela(s)?
É bom estar assim confuso. Dá corda aos neurónios.
:-)
Olá João,
Confuso isto, mesmo. Creio que a realidade hoje introduz muita perturbação nas linhas. Já não são rectas. São curvas, irregulares.
Há problemas novos que não havia quando a linha inicial foi traçada: o ambiente e a crise climática, a globalização, a demografia, a inclusão e o direito à diferença, a inteligência artificial... etc. E depois vêm as questões mais imateriais como as aspirações dos jovens que, em grande parte, quando se lhes pergunta o que esperam da vida, dizem que querem ser felizes.
Se os partidos não perceberem que o mundo agora é outro, deixam a porta aberta ao populismo.
Não é uma equação fácil de resolver... Mas, sim, dá corda aos neurónios.
:-)
UJM
Há muitos anos, e de politica falando, ainda sem haver "inteligência artificial" já ouvia forças politicas a perguntar se ainda- há época, claro está- fazia sentido a linha de demarcação entre a esquerda e a direita.
Por acaso, só por acaso, digo eu, quem tentava acabar com essa linha ideológica, era a direita. E sabemos bem porquê, a luta de classes incomodava uma burguesia instalada onde era dificultado o acesso ao conhecimento. A universidade, era uma miragem para a maioria dos filhos da classe operária e pequena burguesia. Hoje, lá vem a ladainha, por acaso, só por acaso, digo eu, aparece na cabeça de um alto quadro do Goldman Sachs para se bater ao governo italiano. Como a tática da direita não dorme e está sempre atenta ao descuido.
Provavelmente, uma pergunta simples, sobre o porquê de haver um pensamento de esquerda e outro de direita, podia ser feita aos jovens que querem trabalho e não têm; aos jovens que tendo trabalho não têm salario para uma habitação; aos desempregados de longa duração; aos jovens que apostaram em engenharias de fósseis e a descarbonização os levou ao desespero do desemprego com cursos, mestrados, e até uma boa parte a caminho de doutoramentos tirados nas melhores universidades do país,- e eu até conheço alguém quem se encontrou nessa situação-; perguntar aos reformados se o estado para o qual descontaram uma vida, lhes compensa em civilidade no seu tratamento da velhice; perguntar aos doentes se sentem conforto no acesso ao SNS; perguntar ao povo se esta democracia pornográfica está ao serviço das suas necessidades tais como a justiça quando dela precisam; perguntar ás famílias se acreditam num ensino dado por pessoas sem provas de conhecimento para o acesso de professor que dignifique o ensino para os jovens; perguntar se o povo se sente seguro com as forças policiais quando delas necessita...enfim! e tantas outras questões que levam a que a tal linha entre esquerda e direita, não se transforme numa paleta de degradê, onde a perceção divisória é em função da conveniência de quem a interpreta.
Feitas estas e outras prementes perguntas, adivinhem, quem mantinha a linha entre forças politicas, e quem quer o degradê da politica ?! Áh Áh Áh, eu sei qual a resposta, mas não digo.
Cumprimentos, UJM
Já agora.
Vejo na tv umas crianças, quem sabe se, das avenidas novas de Lisboa, e provavelmente habituadas de pequenas com os pais, a tomar chá na Mexicana onde uma certa burguesia pseudointelectual há alguns anos frequentava, deitar tinta em cima de um ministro. Estas crianças deviam levar umas palmadas já que os pais não as educaram.
Normalmente este histerismo revolucionário acaba aos trintas e tais a entrarem em empresas que na juventude combateram. Conheci "grandes revolucionários no PREC" que depois descambaram para a direita e extrema-direita. Esses gajos que me acompanhavam nas lutas de mocada entre grupos partidários quer no técnico quer na clássica e outros locais, a grande maioria, ultrapassaram-me pela direita, fiquei sozinho ou quase. Mas alguns até chegaram a ministros e a assessores dos ditos cujos. Enfim...estou velho, porra. Já vi muita merda.
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