Luzinhas, ternurinhas, caderninhos, coisinhas de casa. E, a seguir, big little lies
Ontem deu-me para beber à noite um chá de uma misturada qualquer que para ali tenho e de cuja marca ou composição agora não me lembro. Tem um sabor bom, exótico. Só que me tirou o sono e, claro, também tive que me levantar duas vezes para ir à casa de banho. É que, ainda por cima, quando bebo chá, como gosto muito, bebo canecas cheias e, portanto, já estão a ver.
Acho que só adormeci já perto de amanhecer. Portanto, desforrei-me e deixei-me ficar a dormir até mais tarde. Acordei com o urso cabeludo a dar-me beijinhos na mão. Tenho impressão que, quando durmo até mais tarde, pelo sim, pelo não, ele gosta de conferir se estou viva. Mal acordo, fica descansado e pára com as lambidelas. O meu marido já estava levantado certamente há séculos e devia andar nas dele, tendo deixado a porta do quarto aberta.
O nosso dia foi calmíssimo. Longa e boa caminhada antes de almoço. Almocinho bom, simples.
Depois de almoço, estive a ver o Little big lies. O meu filho tinha-me aconselhado mas eu andava na Netflix, numa de The good doctor. Mas agora voltei à HBO e, de facto, é uma série tramada. Faz-me lembrar um bocado a onda do Twin Peaks. Para os mais novos, o Twin Peaks pouco ou nada deve dizer mas, na altura, deu que falar. Num lugar pacífico, tranquilíssimo, bucólico, onde nada acontecia e onde todos eram amigos, após a descoberta do corpo de Laura Palmer, aos poucos vai-se percebendo que, sob a fina capa das aparências, a inquietação vivia latente, sempre pronta a manifestar-se. A música era parte do ambiente de suspense, as cores e o excelente trabalho de David Lynch faziam o resto.
O Big little lies é um pouco assim. Num lugar de famílias ricas, casas fantásticas à beira mar, onde a escola e as actividades a ela associadas são um importante elo de ligação entre as famílias, aos poucos vamos descobrindo que sob a pele das mulheres elegantes e sorridentes e sob a pele dos respectivos maridos há mais do que o que aparece à superfície. A inquietação é crescente. Não há grandes acontecimentos, apenas pequenas mentiras, uma ou outra omissão, insignificantes encobrimentos. E o enredo vai avançando sobre essa mistura de acasos e opções que, na vida real, também desenha os destinos da gente.
A banda sonora também é qualquer coisa. A música lá em cima, The wonder of you, faz parte do episódio em que há uma festa temática, eles de Elvis, elas de Audrey Hepburn, e em que o Ed, o marido de Madeline (fantástica Reese Witherspoon), protagoniza um momento em que se sente, quase fisicamente, que a desgraça está para acontecer.
Há um crime, sabemos desde o início, mas não sabemos bem quem morreu. Mas vamos percebendo que qualquer um pode vir a ter um fim triste e que qualquer um pode ter estado envolvido no homicídio.
E há, a par disso, o extraordinário elenco de actores, nomeadamente de actrizes. Excelentes desempenhos. Citei Reese Witherspoon mas são todos incríveis.
[A grande arte da representação vai-se desviando do grande ecrã para o streaming. A evolução acontece muitas vezes (ou quase sempre) de forma inesperada, disruptiva.]
A seguir chegou parte da tribo. Chegam ruidosamente. Tocam à campainha mas os meninos fazem-se logo ouvir e a ferinha cabeluda salta de alegria e abala a correr para ir fazer-lhes a festa ao portão, saltos no ar, abracinhos, beijinhos. E eu vou atrás e só por decoro não me manifesto com idêntica exuberância.
Ontem tínhamos estado com a outra parte da tribo. Entre jogos de futebol, dois num clube, outro noutro, estudo para testes já para quatro deles, festas de anos, e, para ajudar à festa, as viroses que apanham nas escolas, nem sempre conseguimos fazer o pleno.
Claro que, em especial os miúdos, preferem quando estão juntos. Mas é sempre bom, sempre.
Hoje, enquanto uns jogavam futebol, a minha menina quis vir ver onde estavam as bolas grandes de Natal. Não me lembrava, pensava que estavam nos baús que estão numa arrecadação que temos num compartimento do sótão. Mas não, devem estar nos baús que estão na garagem. Mas ela não se desmoralizou. Nessa arrecadação há uma zona que, nos tempos dos anteriores proprietários, era usada como a sua biblioteca particular. O senhor levou os livros, claro, mas deixou ficar todas as estantes pois tinham sido montadas à medida. É aí que arrumo todas as carteiras, malas, malinhas e malões, sacos, mochilas, necessaires. Uma maravilha para mim que sempre tinha desejado tê-las bem arrumadas, tudo bem à vista e bem organizado. E uma tentação para ela. Resolveu pôr-se a abrir as mais pequeninas, as que eu usava em casamentos, cocktails, alguns eventos que requeriam coisa mais artilhada. A ideia, disse-me ela, era ver se descobria alguma coisa imprevista. Diz que gosta sempre de ver pois descobre sempre qualquer coisa. Descobriu moedas, papelinhos e descobriu um caderninho muito bonito que, em tempos, pensei usar como diário. Foi nos tempos pré-blog. Subtraí-lho pois não sei o que para lá estará. Por vezes tenho pensamentos impróprios para consumo. Mas prometi-lhe que vou reler e, se for, coisa capaz, a deixo ler. De resto, do que rapidamente folheei, parece que não deve ser mais do que meia dúzia de folhas escritas. Deve ter acontecido o mesmo de sempre: tudo o que entra nas minhas carteiras parece que se perde para todo o sempre. Mudo de malinha e lá ficam as coisas. Se volto a usar ou mudo o que lá está dentro para qualquer outra ou deixo ficar mas parece que o conteúdo se funde entre si. Por isso, fiquei tão surpreendida como ela quando ele lindo caderninho saiu à cena.
Entretanto, no outro dia comprei no supermercado uma grinalda de luzinhas pequeninas, que funciona a pilhas, e que na embalagem a mostrava dentro de uma taça de vidro. Hoje coloquei-a dentro de um copo grande e coloquei-o na mesa cá de fora. A minha menina deve ter achado que estava a modos que um bocado pobrezinho e foi lá dentro buscar uma espécie de taça baixa em aço brilhante e, então, em cima o dito copo. Ficou melhor, as luzinhas reflectiam-se na taça. Bonito. As luzinhas assim fazem sempre um ambiente acolhedor.
Para o lanche quiseram, e assim foi feito, sandes em pão de rio maior, quentinho, com tomate, queijo de cabra, brie e um fio de azeite. Em duas das sandes, também orégãos. Depois, para quem quis, diospiro às rodelas polvilhadas com canela e regadas com um fio de mel.
E, agora, ao chegar aqui, liguei-me no Youtube e ele, sabendo que sou dada a casas, a ambientes de aconchego e de afecto, apresentou-me o vídeo abaixo, muito bonito, com várias belas peças de artesanato, daquelas que me dão vontade de me atirar à obra.
Inside This Curator’s Bohemian L.A. Home Filled with Handcrafted Objects | Vogue
Step inside gallerist Alex Tieghi-Walker's avant-garde Los Angeles home in Vogue’s latest “Objects of Affection” video. As Alex walks around his property filled with handmade, one-of-a-kind objects, he regals us with the unique tales that make up the essence of these wonderful pieces. Watch as Alex discuses everything from his eye-popping ceramic cabinet to a handwoven Argentinian mountain hat that will forever reside in his bedroom.
Sem comentários:
Enviar um comentário