A primeira vez que ouvi a palavra idadismo foi à minha mãe. Numa aula de uma cadeira da Universidade debateram o tema, discriminação baseada em critérios de idade. Pensei que fosse um neologismo criado de propósito para consolar os alunos de uma universidade sénior. Ou seja, lá está, reagi com preconceito, como uma verdadeira idadista.
Achei interessante a entrevista e acabei por ver a conferência na qual Ashton Applewhite fala sobre o assunto e que, abaixo, partilho em versão legendada.
Nada de extraordinariamente novo mas, juntando as pontas, percebe-se como o idadismo está na base de uma generalizada mentalidade que condiciona todos quantos, em vez de estarem contentes por estarem vivos e com vontade de seguir em frente, ficam é angustiados por se verem mais velhos. Sobre esta base desenvolvem-se florescentes negócios.
Não há nada que mais facilmente faça mover a sociedade e, logo, a economia do que o medo.
Neste caso:
- o medo de que os outros nos vejam como velhos, acabados, gastos;
- o medo de nos vermos ao espelho e nos acharmos uma triste sombra do que, em tempos, fomos;
- o medo de nos sentirmos olhados com desdém ou compaixão;
- o medo de pressentirmos um fim cada vez mais próximo.
Cosméticos anti-aging, anti-rugas, anti-flacidez, anti-manchas, para as primeiras rugas, para as rugas instaladas, para peles maduras, para peles pós-menopausa. Cosméticos quer de venda em farmácia, quer de nicho (produtos a peso de ouro de marcas que se sabem publicitar bem), quer grande público (marcas vendidas nas grandes superfícies).
E tratamentos estéticos de toda a espécie e feitio para combater os efeitos da idade (botox, lifting, laser, etc).
Ou seja, há toda uma rentável indústria bem assente na publicidade e, agora, nas redes sociais que faz mover esta vontade que as pessoas têm de parecer mais novas.
E isto não é apenas uma questão de pele. É toda uma fileira: ginásios, personal trainers, massagens, drenagens, sei lá.
Sobretudo, as pessoas não querem parecer mais velhas. Mas, do que me apercebo, a preocupação é mais com o exterior do que o interior.
Quando digo que, um dia destes, quando me reformar, quero encetar uma vida nova, tenho a sensação que ninguém me leva muito a sério, penso que tomam isto como uma daquelas excentricidades que não dará para levar muito a sério. Quem é que, em vez de descansar de uma vida de trabalho, vai começar uma vida nova depois dos sessenta?
E depois isto das rugas que se vão cavando, das carnes que vão perdendo a rijeza, dos cabelos brancos que vão despontando... que mal tem?
Para quê uma pessoa fazer 'preenchimentos', inchar-se, esticar-se? Para ficar a parecer um peixe balão?
Se uma pessoa está bem, se tem vontade de bulir, se aceita com naturalidade uma dorzinha aqui ou ali de quando em vez, se ainda consegue sentir o deslumbramento da beleza e das primeiras vezes, então todos os dias são dias de festejar a vida. Seja qual for a idade.
Let's end ageism | Ashton Applewhite
It's not the passage of time that makes it so hard to get older. It's ageism, a prejudice that pits us against our future selves -- and each other. Ashton Applewhite urges us to dismantle the dread and mobilize against the last socially acceptable prejudice. "Aging is not a problem to be fixed or a disease to be cured," she says. "It is a natural, powerful, lifelong process that unites us all."
Oscar-Nominee Sharon Stone for the September 2022 Issue | Vogue Arabia
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Desejo-vos um dia bom
Saúde. Afecto. Paz.
3 comentários:
Bom dia UJM, com sua licença acrescento a Juliette Binoche e a Isabella ( bela bela) Rosselini.
Olá Lucy
Tem razão. Belíssimas e intemporais. Isabelle Huppert também, também sem se esticar ou 'preencher' e também sempre bela.
Gracias pela lembrança. A ver se um dia junto umas quantas...
Dias felizes, Lucy!
Aqui a futilidade tem espaço.
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