sexta-feira, dezembro 17, 2021

O mistério dos sucessivos disparos na central de segurança, cada um em seu lado da casa, in heaven

 


Ontem o meu marido teve que ir até à nossa casa in heaven pois iam lá tratar de uns arranjos. Como sempre acontece, quem tinha que ter chegado a uma certa hora chegou hora e meia depois. Por isso, veio de lá tardíssimo.

Quando já se tinha ido deitar, um alerta. Tinha disparado um alarme, numa zona da casa. Pensámos: o sensor deve ter pifado. Depois ele lembrou-se que tinha posto umas coisas em cima de outras. Talvez aquilo tivesse caído. Confiei e ele adormeceu. 

Estava eu aqui escrevendo, novo alerta, novo disparo. Desta vez num outro lugar da casa. Assustei-me. Ele ainda tentou dormir. Disse que, se calhar, era a central que tinha pifado. Não fui nessa. Equacionámos: ir lá? Sair daqui à uma e meia da manhã...? Chegar lá de madrugada...? E se houvesse ladrões? Ná...

Perguntei se não teria deixado alguma janela aberta. Que não, que obviamente não. Portanto, alguma coisa (ou alguém) era. Medoooo....

Resolvemos ligar para a GNR. Expusemos a situação. Prontificaram-se a mandar lá uns agentes. Eram duas e tal e ainda estava eu ao telefone com um que transmitia instruções ao sargento que lá estava. O sargento fazia perguntas e eu ia esclarecendo. 

Então, saltaram o muro e foram fazer a ronda e que logo me diziam. Deviam ser duas e tanto, ligaram. Aparentemente estava tudo fechado, tudo tranquilo.

Fui-me deitar. 

Às três e tal, telefone. O meu marido levantou-se. Novo disparo, agora noutra parte da casa. Recomendação que fossemos perceber o que se passava.

A central é antiga, ainda não temos sensores de videovigilância. Os da empresa de segurança não vão lá ao fim de semana e não nos é fácil programar idas ao dia de semana. E nas férias não nos lembramos de tal coisa.

Resolvemos que, à primeiríssima da manhã, iríamos. 

Às seis e tal, novo alerta: outro disparo.

Às sete, a GNR. Para saberem se estava tudo bem. Relatámos. Disseram que eram melhor irmos ver. Aparentemente não havia movimento quando lá foram mas que têm estado a ocorrer muitas assaltos. Ainda conversámos um bocado sobre isso: a dificuldade em apanhar em flagrante, em ter certezas, a falta de meios.

Portanto, lá fomos. Nós dois e a fera. Pensámos que, apesar de ainda não ter feito cinco meses, já haveria de dar sinal se houvesse coisa.

Lá chegados e a porta da frente aberta, o meu marido foi à frente com o seu ajudante de campo, o nosso felpudo body gard.

Fiquei à porta a guardar a fortaleza e com o número da GNR à mão de semear. Depois, fartei-me de estar à espera. Gosto de estar no olho do furacão. 

Entrei, juntei-me ao pelotão da frente. Tudo normal.

Até que o meu marido espreitou para o quarto e... 'O cabrão de um rato!'. Afastei-me. 'Onde?'. E ele: 'Em cima da cama'. Com a vassoura que tinha na mão, bateu na cama, tentou descobrir onde se tinha metido. 

O feroz cão de guarda indiferente. Para ele, notoriamente, rato não é gente que se veja.

Fui buscar outra vassoura e fui esperar o intruso do outro lado da porta. Até que o vimos a fugir do quarto e a ir para a sala da televisão, para trás do sofá onde costumamos estar a ver televisão.

Não era ratazana mas também não era mínimo. E tinha um rabo compridíssimo.

Não me dá medo nem me dá nojo. É um bichinho do campo. O que me chateia é que fique em casa pois pode causar estragos e são esses estragos e essa porcaria que me causam alguma repugnância.

Os dois, cada um com sua vassoura, afastámos o sofá, batemos no sofá, batemos no chão, sei lá. Nada. Zero rato. O urso peludo intrigado com aquela movimentação. Cabeça de um lado, cabeça de outra. Ora olhava para um, ora para outro. Não consegui explicar-lhe.

Já pensávamos que o parvo do rato se tinha escapulido sem que tivéssemos dado por isso. Até que o vimos a sair não se sabe de onde, a fugir. Tentámos empurrá-lo para a rua, fizemos alarido. Nada. Fugiu para o outro lado da sala, para baixo da escrivaninha. 

Reiniciámos a perseguição. Nada. Sitiámos o bicho rabudo. Demos vassouradas, batemos, revirámos, espreitámos, tentámos assustá-lo, tentámos de tudo. Nada. 

Mais de meia hora naquilo. Zero, bola. Nada.

Armámos o alarme. Fomos dar uma volta pelo campo. 

Aqui o cão de guarda ficou feliz. Este é o seu elemento. Não faz um único disparate. Não se encavalita em nós, não mordisca. Nada. Anda pelos caminhos, fareja, investiga, escava. Se ouve algum barulho suspeito, põe-se em guarda, ladra, olha para nós procurando o nosso apoio. 

Durante esse tempo, o alarme não disparou. Então resolvemos fechar tudo e vir embora. 

Não sabemos que é feito do rato. Não o vimos ir para a rua. Mas não o descobrimos em lado nenhum nem o alarme voltou a disparar. Vamos fazer figas para que tenha fugido para a rua, para o seu habitat.

De tarde, o meu marido foi à sua vida e eu à minha. Reuniões de seguida, uma das quais de rebimba o malho mas em mau. Acabei a última já passava das sete e meia. Noite cerrada e fria. E depois várias coisas para tratar. 

Resumindo: depois de uma quase directa e de um dia assim, estou capaz de cair para o lado. Além disso, esta friday vai começar bem, com mais uma daquelas conversas tidas na secreta.

Portanto, lamento, mas hoje não tenho nada de nadica a dizer. Com vossa licença e pedindo muita desculpa por não conseguir responder e agradecer aos comentários (a ver se amanhã à noite o consigo), vou ver se descanso um pouco e esperar que o bicho rabudo, aka o cabrão do rato, não ande pela casa a fazer das suas e não faça disparar o alarme.


__________________________________________________________

Pinturas de Lucia Heffernan que resolveu pintar fofos pintainhos a fazer poses de ioga, pretendendo ilustrar o velho ditado: uma pose de ioga por dia não sabe o bem que lhe fazia.

Colors é interpretado por Black Pumas, Slash, The Pocket Queen | Playing For Change | Song Around The World

_______________________________________________________________

Para si, uma happy friday. Tudo a bombar por aí, ok?
Daqui a nada é Natal e eu ainda não sei o que fazer para os comes. Oh oh oh. 
Vocês já sabem?

6 comentários:

Anónimo disse...

Talvez uma ratoeira, uma das que os caça vivos:

https://www.333shop.com/pt/shop/product/2665-ratoeira-ecologica-6484?gclid=CjwKCAiAh_GNBhAHEiwAjOh3ZHzzQKvbkbVewi-v2XUuSEdC1kpTo3m4TEN7jsHQVyEQoMk_Kh3xqRoCMy4QAvD_BwE#attr=~

E se o gatinho ousar aparecer em cima do muro, que a fera não o escorrace.

José Duarte disse...


Susto, mistério e suspense até ao fim na madrugada. Brilhante e palpitante descrição, perfeitamente à altura de Patricia Highsmith ou de Stephen King. Acção e vassouradas para todos os gostos, menos para o urso peludo. De realçar os nervos de aço que a amostra de fera demonstrou perante o alvoroço das duas personagens principais. Ele viu logo que não havia por ali novidade de maior, caso contrário teria latido os alertas adequados. Rato, para ele, não conta, é figurinha de banda desenhada. Por enquanto, ele é só um detector de eventuais ameaças e um emissor de alertas. Daqui por ano, ano e meio, será um temível e implacável adversário para qualquer desgraçado salteador que ouse devassar o vosso território (que é também o dele)...

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Hehhee, ai o raio do rato.
Que peripécia!

Um belo fim de semana.

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo da Ratoeira,

Obrigada pela informação. Gosto da ideia. Detesto matar animais. E os ratinhos até são bonitos com aquele rabinho comprido.... Vou ver se arranjo uma. Penso que aquele deve ter fugido pois o alarme não voltou a disparar mas, no campo, ratinhos é o que não falta.

Quanto ao gatinho, agora não o tenho visto mas também estou curiosa. A nossa boxer ficava ao rubro, o pelo eriçado, ladrava grosso e fugia numa fúria e ver se os apanhava. Mesmo na cidade, se eu lhe dizia: 'Olha... e o gato...?', ela ficava na mesma, largava a correr, à procura, a ladrar.

A ver como será este...

Obrigada.

Um bom domingo.

Um Jeito Manso disse...

Olá José Duarte,

Penso que foi mesmo o que disse: para ele, um bichinho minúsculo e silencioso nem é tema.

Mas, de vez em quando, nem a gente vê nada ou percebe o que passa, parece que detecta qualquer som ou movimento, começa a fungar, a ladrar, desta a correr, todo agitado. Depois vem ao pé de nós, com ar de quem espera um sinal de agradecimento. E nós elogiamos.

E, no outro dia, chegou-se uma pessoa ao portão que nós não conhecíamos e ele ficou bravo. Ficámos agradados a achar que vamos mesmo ter um cão de guarda.

Ficamos é na dúvida se é compatível ser cão que gosta tanto de correr e de movimento, que gosta de ser cão de guarda, com ser, ao mesmo tempo, cão de casa. A nossa boxer fazia a fusão perfeita de estilos. Mas era obediente e dócil. Este é teimoso que nem um burro, é possessivo e descarado...

Apaixonei-me pela imagem do cão Serra d'Aire e com o que li sobre a sua inteligência. O meu marido interessou-se por ler que é inteligente e um bom guardador. Mas não nos ocorreu que, pela sua natureza, ao não lhe proporcionarmos o que a sua natureza pede, o possamos estar a frustrar...

E, uma vez mais, muito obrigada pelas preciosas dicas.

Um bom domingo!

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

Dentro de casa, no campo, bichos de conta e aranhas já nem se fala. Lagartixa já não foi uma ou duas vezes que lá apanhámos uma. Agora rato foi mesmo uma première...

Espero que esteja tudo bem consigo e com os seus seus e que o trabalho esteja a bombar.

Um belo domingo, Francisco.