Não encontrei cogumelos. Ou, para ser mais precisa, apenas dois, grandes, mas ambos já em processo de definhamento. Talvez por isso, não havia pegadas ou terra lavrada por javalis. Tudo muito verde, tudo molhado, tudo muito bonito.
O pequeno urso estava estupefacto com tudo. Não andou a pé, em duas patas, agarrado às nossas pernas, não mordiscou pés, não brincou com o que encontrou. Andava ao nosso lado, a observar e cheirar tudo. O alecrim deixou-o doido. Nem queria andar, só cheirar. Quando passámos na zona do grande eucalipto, onde o perfume é intenso, também ficou muito admirado.
Foi extraordinário como se portou de forma comedida, calmo, a andar ao nosso lado. Estávamos receosos não fosse aparecer algum cão ou não fosse ele querer comer alguma porcaria. Como ainda apenas tem uma dose das vacinas, não pode correr o risco de ser contagiado. Eu tinha sugerido que lhe puséssemos coleira para o termos pela trela. Mas o meu marido diz que isso não é assim, que o uso da coleira e da trela não são imediatos, requerem treino.
Mas felizmente não apareceu nenhum cão e felizmente ele portou-se como gente grande.
Tinha comido qualquer coisa, pouco, em casa, de manhã. Só voltou a comer, e pouco, à noite, quando regressámos. Durante o dia, quer no campo quer, ao fim do dia, em casa da minha mãe, não comeu. Estava desconcentrado.
Dentro de casa, lá, in heaven, também andou a explorar tudo, quase intrigado. Cheirava tudo, por vezes dava ao rabinho. Se calhar, as coisas, embora desconhecidas, cheiravam-lhe a nós.
Outras vezes, sentava-se a observar. Não sei como é que os cães pensam mas se calhar percebia que era uma casa desconhecida mas que, estranhamente, sentia como sua.
A chuva ainda lhe faz alguma espécie. Quando estava dentro de casa e, lá fora, chovia copiosamente, deixou-se ficar a olhar pela janela.
À ida, de manhã, no carro, quis ir de pé, encostado a mim, a ver a janela. À vinda de lá, quando íamos para casa da minha mãe, já veio deitado no banco. No entanto, sempre atento. Se o carro abrandava ou curvava ou se a chuva estava mais intensa, levantava a cabeça para perceber o que se passava.
Vinha eu, no carro, a dizer que estava espantada com a forma tranquila e bem comportada como se tinha portado no campo quando, ao chegarmos a casa da minha mãe, desencabrestou. Louco, aos saltos, agarrado à minha mãe, a correr pela casa, eufórico, a puxar a mantinha do sofá, a querer estraçalhar o saco das lãs, a empoleirar-se nela, a mordiscá-la. A minha mãe quase estarrecida, mas divertida, com o potencial de estrago que ali estava: ''Seu maluco! Quieto! Ai!'
Ainda fui às compras com a minha mãe. Não queria, que já era tarde, que já era praticamente de noite, que estava mau tempo. Mas o meu marido fez o favor de ir connosco -- ficando no carro com o ursinho de peluche que ficou aconchegado ao seu colo -- pelo que nos deixou perto do nosso local de passeio.
Quando fomos, depois, deixar a minha mãe a casa, a fera quis lá ficar. Não queria vir connosco. Virava-se, punha-se a caminho da cozinha. Teve que vir à força, ao colo. A minha mãe fica contente por ver como a pequena criatura gosta de lá estar.
No regresso, veio a dormir, deitado no banco. Chegou a casa, espapaçado. O dia todo sem dormir (nem comer) deixou-o de pantanas. Consegui que comesse umas bolinhas de ração mas pouco. Depois veio pôr-se a querer vir para o meu colo. Aqui ficou, aninhado e quentinho, muito macio e fofo. Contudo, ao fim de pouco tempo já estava a mordiscar-me os dedos e os braços. Deveria haver chuchas para cães bebés.
Finalmente, começou a apreciar os ossinhos de couro de roer. Enquanto os rói está sossegado e nem deixa que nos aproximemos. Mas não podemos andar-lhe a dar desses ossinhos a toda a hora.
Este domingo esteve feérico, parecia que lhe tinham dado corda mas com rotações a mais.
Corre, salta, rói tudo e mais alguma coisa, rouba sapatos, tira almofadas de cima dos sofás, puxa tapetes para o meio da casa -- desenfreado, alegre, feliz da vida.
De tarde, aprendeu a subir para as cadeiras espreguiçadeiras. E fica todo orgulhoso. O pior é que logo de seguida começa a roer a cadeira. Por mais que me zangue, finge que está a dormir mas está a ver se a come.
Fez também uma que me deixou passada. Na sala da lareira temos um cadeirão que tem, ao pé, um pequeno banco que funciona também como descansa-pés. Pois o little baby bear pôs as patas da frente no banquinho e, dali, saltou para o cadeirão. Então, meio molhado -- pois tinha vindo do jardim -- lá estava ele no cadeirão. Nem queria acreditar quando lá o vi. Não tarda tenho os sofás todos sujos.
De notar que isto tudo começou com o alerta de que um cachorro tão bebé não regula ainda bem a temperatura do corpo. Portanto, em vez de ficar na casota que tínhamos posto no pátio junto à cozinha, entre muros e sob um telheiro, passou a dormir numa caminha na cozinha. Estando dentro de casa, daí até cirandar por toda a casa foi um ápice. E, num instante, toda a casa passou a ser um imenso parque de diversões ao seu dispor.
Hoje a trupe do meu filho esteve cá.
A pequena fera perseguiu a bom perseguir, a correr e a latir, a minha menininha mais linda que estava halloweenescamente maquilhada e que ainda não ganhou à vontade para lhe pegar ou mexer, perseguiu o mais novo que estava de vampiro e que voou de sofá em sofá para lhe escapar e apenas poupou o mano do meio porque tinha vindo de uma festa de anos e estava mais cansado, mais sossegado e passou despercebido.
E brincou com o meu filho e com a minha nora. Mas, curiosamente, parece que não tenta mordiscar ou encavalitar-se no meu filho. Parece que há ali um certo respeito.
Entretanto, enquanto eles estavam a ver se programavam a caldeira, enfiou-se por lá e, enquanto o tentava tirar, pelo sim, pelo não, fez cocó. Depois, quando eu, zangada, zangada a sério, fui limpar, rosnou e não queria que eu me aproximasse. Tive que lhe dar uma palmada.
E, já depois de eles se irem embora, fugiu com um chinelo e o pior é que me apanhou uma caixinha pequenina de veludo que eu, sem querer, deixei cair e fugiu pela casa toda com ela na boca. Estava a ver que ma estragava e isso é que nem pensar, é muito bonita e de estimação.
Obviamente a esta hora já dorme o sono dos justos.
É impressionante como um serzinho pequeno e peludo consegue a proeza de preencher tanto as nossas vidas.
Eu que, em condições normais, escreveria um post inteiro a falar das maravilhas do outono in heaven, dos líquenes, dos cheiros, das cores, da caruma molhada, dos musgos, do silêncio, da paz... agora não faço outra coisa senão falar dele.
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