segunda-feira, outubro 25, 2021

Agora que Outubro caminha para o fim, aproveitámos este domingo de sol para estarmos juntos e para tentarmos escapar aos desencabrestados ímpetos do little baby bear

 


Entramos, pois, na última semana de outubro. O mês rubro começa a despenhar-se nos dias curtos e escuros. Quando aqui chegamos sinto sempre uma certa nostalgia. E não sei se nostalgia é a palavra certa mas não me apetece usar a palavra certa.

Mas hoje o dia ainda esteve bonito. Um solinho ameno, brando, dourado, um calorzinho a querer despedir-se mas, entre vai e não vai, ainda gostoso de se sentir.

Agora, já o dia a dobrar, aqui no sofá, quase a dormir enquanto via o final do filme sobre o Madoff, reparei que estava a sentir-me apertada. 

Olhei para mim para perceber de onde vinha a sensação e só depois de perceber que não vinha da roupa visível é que me lembrei que ainda estou com o soutien vestido. Mas agora não o dispo senão esqueço-me dele aqui e ainda acontece o que aconteceu no outro dia. Vi o ursinho de peluche muito entretido num canto. Pareceu-me que estava com qualquer coisa preta na boca mas como todo ele é um tufo quase preto, não prestei a devida atenção, pensei que era uma falsa impressão minha. Mas, depois, pensei que, just in case, deveria validar. E nem queria acreditar. Estava todo entretido com o meu lindo soutien de renda preta, uma copa na boca, creio que tentando desacoplar uma alça. Fiquei passada. Assim de repente nem encontrei explicação para ele estar na sala a brincar com o meu soutien. Só depois me lembrei que eu, na véspera, em idêntica situação, me tinha desacoplado dele.

Se estamos apenas nós em casa, ando na maior liberdade de movimentos. Mesmo as reuniões remotas são feitas sem soutien. A liberdade de movimentos motiva a liberdade de espírito. 

Por isso, quando o tenho vestido parece que me sinto amarrada. Certamente ainda amarrada à memória de uma realidade que já foi a minha. 

Até corpete de renda, com mil colchetes nas costas já usei, um quase-espartilho em renda rosa e branco-pérola, lindo de morrer, que comprei no Soleil Sucrê em Bayonne. Já aqui contei e penso que, se estiverem para aí virados, merece ser relido pois prova bem a velha máxima de que o que tem que ser tem muita força.

Até as minhas caminhadas são, pois, quase sempre na total desportiva, o mais possível a l'aise.

Mas hoje foi casa cheia e, portanto, noblesse oblige, soutienzinho com ela. Só que, com a fera desencabrestada, excitada com tanta brincadeira, ao contrário do que era costume ao ver-me sozinha, hoje nem me lembrei de tirar todos os arreios.

A endiabrada criatura -- que toda a tarde correu, saltou, rebolou. arranhou, mordiscou, driblou, quis comer cogumelos frescos e cocós antigos e simulou actos indecorosos com algumas pernas que achou mais inspiradoras -- agora, aqui no chão, dorme o sono dos justos ao pé do sofá onde o dono faz o mesmo.

Os meninos gostam todos deste nosso novo familiar. Apenas a minha menininha mais linda ainda não se chega muito. Tem um certo receio. Eu era assim. Lembro.me de ver os meus filhos com a nossa cãzinha ao colo, na maior descontração, e eu incapaz de lhe pegar ou de me chegar muito. Tinha medo que se virasse a mim, que me mordesse, nem sei bem. Depois passou-me, claro. Mas foi um receio que tive que vencer. E a minha menininha também haverá de vencer os seus receios. Mas se todos gostam e todos têm ternura e grande à-vontade com ele, de todos é o mais novo da minha filha que mais brinca, mais se dedica a este endiabrado monte de pelo. Gosta mesmo, mesmo muito dele. E a pequena fera retribui-lhe o afecto. A ele e, de forma exuberante, à minha filha. Quando a viu ia-a devorando, tanta a alegria. Teve que trocar a mini-saia por umas leggings que lhe emprestei para não ficar com as pernas todas arranhadas. 

O mano do meio do meu filho trata-o por puto. E o que posso dizer do puto é que é uma ternura não doseada. E irrequieto, irrequieto, maluco, maluco.

Fotografei-o em plenas refregas mas tão escurinho é e tão depressa corre e salta que as fotografias ficam sempre pouco nítidas. Só fica bem quando está cansado e o pessoal aproveita para o ter ao colo. E aí é a ternura que se vê. Quentinho, fofinho, maciinho, um peluchinho que apetece ter aninhado no nosso colo.

Para além disso e do lanche e dos jogos e das conversas, tivemos, como sempre, os velhos números de luta livre. 

Desta vez, dois primos uniram-se para derrubar o pai de um e tio de outro, coisa que invariavelmente acaba com eles todos transpirados. Um deles, então, acaba sempre a escorrer. Também já têm acabado com algumas nódoas negras. Eu, se fosse comigo, ficava sem me mexer. Mas eles voam, saltam, dão cambalhotas e levantam-se sempre prontos para outra.

O teenager já não se envolve nisso, está grande, com o buço a despontar e preocupado com os seus testes, com os resultados dos jogos e com outros temas próprios dos 'crescidos'. A menininha mais linda ajuda na cozinha, ajuda a pôr a mesa, salta à corda, joga ao limbo e deixa-se estar deitada na relva, indiferente à batalha campal que ali vai, mesmo por cima dela. 

Estava com umas calças minhas pois as jardineiras que trazia não a deixavam ter a flexibilidade necessária para jogar ao limbo. O que vale é que a minha roupa dá para todos os números.

E o mais novo, o caçulinha mais lindo, sempre na boa, alinha com as brincadeiras de um e de outro, provoca a fera, atira-se do balouço e curte a feliz despreocupação da sua inocência.



Para além disso, posso ainda acrescentar outra coisa.

Temo os dias escuros, húmidos, frios, curtos -- o que é sabido. Prefiro que seja dia até ser tarde, andar ao sol, ver as flores resplandecentes de luz. Mas tudo tem um lado bom e, por isso, já estive a inventariar as pinhas que estão perto de casa para quando acendermos a lareira. Gosto muito de estar ao pé da lareira: gosto do quentinho aconchegante e bom, gosto da luz do fogo. Gosto. Portanto, vou tentar não me queixar mais por Outubro estar a chegar ao fim pois não tarda poderei estar a trabalhar ao pé de uma lareira acesa e isso, caraças, também é bom demais. 

Daqui a nada, também irei assar castanhas e o perfume das castanhas assadas também também vem com a minhas boas recordações ao colo. 

Num outro mundo, comprava-as na rua e recebia-as num cartucho feito com jornal ou com uma página das páginas amarelas. E sabiam-me pela vida. Não sei para onde foi esse mundo ou para onde foi a minha vida que nunca mais comi castanhas assadas na rua. 

Mas castanhas assadas a la maison e comidas à beira de uma lareira acolhedora também é coisa boa, daquelas que têm o sabor bom da saison. Reza a lenda que deveriam ser acompanhadas com uma água pé mas isso não, obrigada. Talvez um medronho ou uma ginjinha de Óbidos. On verra.


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Desejo-vos uma bela semana a começar já por esta segunda-feira

4 comentários:

Anónimo disse...

Isto é que é um cachorro:

https://youtu.be/O936G9y_ywU?t=116

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Ai que fofura...!
Por aqui o tempo já dá ares outonais de noite e de manhã, durante o dia um calorzito bom.

Um belo serão.

Um Jeito Manso disse...

Olá Anónimo da Ópera,

Não cante já de galo. O meu pequeno urso ainda não canta ópera mas deixe estar... daqui por algum tempo acredito que tocará piano e falará francês. Depois sempre quero ver o que me diz...

:)

Dias felizes!

Um Jeito Manso disse...

Olá Francisco,

É uma fofura mas que não se controla. Tenho as pernas todas arranhadas. Quer vir ao meu lado, a pé, em duas patas. E, para isso, apoia-se com as duas da frente nas minhas pernas. Até aí tudo bem... agora aquelas unhas afiadas é que me dão conta do juízo...

E é de aproveitar este calorzinho que se despede...

Dias felizes, Francisco.