Nesta fase da minha vida em que tudo muda, é como se estivesse a começar de novo. Ou seja, estou como peixe na água. Gosto de recomeços. Quando estou nesta, pouco ou nada me prende ao que era. Pelo contrário, quanto mais depressa despir toda a pele que ainda me prende à minha vida anterior melhor.
Hoje ao fim do dia, tive que ir a um sítio para escolher uma coisa. Mas, mal lá chegada, quando me preparava para ir tratar do que lá me tinha levado, uma pessoa chamou-me para me mostrar uma coisa. Fui. Pensava que era coisa rápida. Afinal foi demorado. Ia mostrar-me umas coisas simples. Afinal, de uma coisa, veio outra e, de outra, veio outra. Sempre mais coisas para me serem mostradas. E, às tantas, chegámos a uma sala e ali havia muita coisa para ver. E, estava eu a ver uma estante, diz-me: não está ver o que é esta estante? E eu: não. Então, a estante rodou e descobriu-se uma porta. Fui atrás. Máquinas. Não percebi que máquinas eram aquelas. De outro lado, caixas, arcas, coisas indistintas. Então, quando pensava que não havia nada mais a ver, dizem-me: e aqui atrás há isto. Espreitei.
Não queria acreditar: uma sala cheia de estantes e livros, livros, revistas. Explicou-me: uma biblioteca privada. Mas privada em todos os sentidos da palavra. Secreta, oculta, quase como se não existisse. Olhei em volta, perplexa. Estantes a toda a volta e, se não estou em erro, também ao meio, Se eu pudesse ter uma biblioteca assim, a library of my own, secreta, vasta, sigilosa, um espaço quase infinito... Fiquei sem dizer nada. Nunca poderia ter imaginado tal.
Quando saí daquele labirinto, já as pessoas com quem tinha ido encontrar-me se tinham ido embora, certamente cansadas de esperar por mim. O tempo tinha passado sem que eu tivesse dado por ele e sem que eu tivesse conseguido interromper quem tinha estado a conduzir-me naquela inesperada visita guiada.
O tempo não anda a ser-me suficiente para me entregar à absoluta descoberta de uma vida nova que se desdobra a toda a hora à minha frente até porque tenho que conciliá-la com o lado prático da minha actividade quotidiana mas, apesar disso, o que posso dizer é que, para mim, o mais estimulante são estes momentos em que passam por mim estas vibrações prenhas de expectativa e descoberta.
Há algum tempo, naquele longínquo tempo pré-covid, estava eu a almoçar, acompanhada, quando ouvi uma voz conhecida a exclamar: 'Olha quem ela é,,,!'. E já lá vinha ela de braços abertos e eu levantei-me e abraçámo-nos e demos o beijinho que, em tempos, as pessoas trocavam quando se encontravam. E logo ali, de pé, pusemos a conversa em dia. Quis que ela se sentasse e almoçasse connosco mas não, estava atrasada, ia ter com outra pessoa, já estava nas horas. Perguntei-lhe como estava a dar-se nessa sua nova vida. Sorrindo, transbordante de entusiasmo, disse: 'Bem! Óptima! Se eu soubesse que ia ser assim, há que tempos que tinha mudado'. Adorei ouvir, era bem ela, sempre pronta para ser a eterna adolescente que conheço há anos. Provavelmente sou também um pouco assim. Não fazer as coisas pela metade, não negar a experiência que se faz convidada, ousar, ir em frente.
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Uma vez mais, fotografias que nada têm a ver com o texto (ou será que têm?) da autoria de Eylül Aslan e que, cá para mim, se forem como eu, curvam-se perante Ennio Morricone que, pela milionésima vez, aqui nos traz o Oboé de Gabriel.
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Talvez um dia destes regresse ao mundo dito real e fale da notícia do dia: o que o super-judge Alex -- o implacável justiceiro que parece odiar visceralmente quem tem dinheiro ou poder -- fez agora ao Mexia (o da EDP) e ao Manso Neto. Todo um filme. Uma opera bufa. Uma soap. Mas terá que ser num dia de muito estômago.
E boa sorte e muita saúde e alegria para si que aí está desse lado.
6 comentários:
Se bem percebi para a senhora não há problema nenhum em se set rico à custa de escravizar os outros.
Olá Anónimo/a
Quer desenvolver o seu raciocínio? Estou curiosa em perceber como chegou a tão brilhante conclusão.
Que tal pôr fotos ou imagens relevantes para o post, em vez de imagens com inuendos pseudo- eróticos que distraem as pessoas da mensagem do post? Você pode fazer melhor do que isto. Tem bons textos, melhores os que retratam uma família, e a experiência de um tempo único e de um local sentido como paraíso. São textos que se sentem mais do que outros, medíocres, reforçados por imagens desadequadas.
Precisa que lhe faça um desenho a mostrar o quão esclavagista a senhora é?
O super juiz anda a perseguir o Mexia por ter inveja do tamanho da pixota dele.
Trate-se, minha senhora.
Pois, não sei de que fala. Se estava com o pénis na cabeça, informo que deveria ter usado o 'ch'. Se não foi o caso, talvez seja mesmo melhor fazer um desenho pois não encontro the x-word no dicionário.
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