Li duas coisas que me levaram a solidarizar-me com os ali referidos.
A primeira é que dispararam os pedidos de intervenções estéticas. Não sei se é assim que se diz. Quero dizer, cirurgia, botox, coisas assim. Com meses seguidos de videoconferências, a gente a ver-se ali em grande plano, a descobrir umas rugas que a olho nu mal se vêem, a descobrir ângulos insuspeitos, é normal que a gente se olhe com ar crítico e pense que aqui e ali merecia um repuxão ou um enchimento. No entanto, atenção. Pro que é pro cuida dos mais ínfimos pormenores e talvez não seja preciso chegar a cenas intrusivas como a faca ou a picadela. No meu caso, logo que, nos primeiros dias, percebi que estava a entrar num capítulo paranormal da minha existência, fui aprender: como aparecer bem em videoconferência? Vídeos que é mato. E então aprendi a colocar o computador num plano mais elevado, a dobrar um bocado o monitor onde está a câmara, a ter a luz num determinado ângulo, a passar um brilhozinho nos lábios, a passar uma light shadow nas pálpebras superiores. Agora, antes de 'join the meeting', ajeito o aparelho, ajusto o ângulo, componho a luz, esbato o fundo, vejo-me como vou aparecer e depois é que faço a minha entrada em cena. Voilà.
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A outra é a camisa do zoom.
Confirmo. Não apareço de camisa, camisas não fazem o meu género, mas tenho quem, aqui em casa, ande em tronco nu ou com uma qualquer tshirt e, nos segundos que precedem uma team meeting ou uma zoom meeting, pimbas, camisinha enfiada e já está. E não é um, tem dias em que são dois cavalheiros a praticarem tal arte. Big reuniões, coisa importante, e eles ali estão, a preceito, aperaltados.
Na parte de baixo continuam os calções, os pés descalços ou chinelos, mas isso não interessa, não se vê. Mal a reunião acaba, salta a camisa e continuam na onda em que estavam antes, num dress code mais dado à rebaldaria do que ao formalismo.
A mim o que já me aconteceu é, quando estamos só os dois, nestes dias de calor, andar por aqui em topless ou, mesmo, como vim ao mundo e, às tantas, receber uma videochamada (por vezes até da família) ou alguém do trabalho ligar a perguntar se estou disponível para entrar, de súbito, em reunião e eu, aflita, numa correria loca, desatar à procura de um vestido que enfie pela cabeça, ou se é trabalho, também a soltar o cabelo, a ir pôr uns brinquinhos, a dar uma pincelada de brilho nos lábios... e, ufa... mal respirando, aparecer sentada, impec, à mesa de reuniões.
São os novos tempos. No meio da desgraça que é isto, no meio da pouca sorte e infelicidade -- em especial para quem é atingido pelo corona ou pelos seus efeitos colaterais -- há algumas consequências positivas. O teletrabalho, a informalidade, a relação mais próxima entre a vida pessoal e a vida profissional, são coisas boas, saudáveis, e espero que tenham vindo mesmo para ficar. Que interessa que a gente por baixo do vestido não tenha nada ou que quem se senta de camisa muito certinha, direitinha, esteja de calções ou descalça? Nada. O que interessa é a produtividade e a boa onda. Voilà.
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E, já agora que não vem nada a propósito, queiram conferir, abaixo, qual o teste que o parvalhão do narcisista-mor fez. Temos razão para nos preocuparmos....? Temos... Um maluco destes com o poder que tem... Medo....
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E tenham um dia feliz, ok?
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