sexta-feira, junho 05, 2020

A vez daqueles a quem um joelho tem sido posto sobre o pescoço


Não sei se é só a cor da pele. É também a pobreza intrínseca, a humildade indefesa. Os cobardes não gostam de sentir a coragem por perto. Tudo fazem para pôr a pata em cima, para atirar por terra e pôr o joelho dobrado em cima do pescoço de quem está na mó de baixo. Dos cobardes não são de esperar gestos de respeito quanto mais de nobreza. Os cobardes rapidamente passam de medíocres a maus, é só aparecer-lhes a oportunidade.

Não é só aos negros.

Já vi tratar assim um homem branco que estava com uma depressão, fragilizado. O chefe, que temia a competência do subordinado, tirou-lhe funções, marginalizou-o, fê-lo sentir-se ainda mais um merdas, alguém sem valor, sem futuro, alguém que se sentia envergonhado por ter que expor a sua humilhação quotidiana. Na prática, o chefe pôs-lhe a patorra em cima, esmagou-o.

Já vi um bronco, que se sentia desafiado pela franqueza e conhecimentos de uma jovem, esvaziá-la de funções, tentar dobrá-la, humilhá-la e, quando ela estava grávida, em termo de gravidez, tentar que fosse dispensada (leia-se: despedida), dizia ele que era porque ela não tinha funções e ele não tinha qualquer trabalho para lhe dar. Não era negra: era mulher, jovem, grávida, branca.

Mas, também, os negros simplesmente pr serem negros. Já estive numa sala de reuniões apinhada e, havendo necessidade de chamar um técnico e sendo ele negro, ouvi um grande executivo dizer no gozo: 'olha, conseguiu resolver, tem esperto na escabeça.'. Era um jovem, a prazo, negro. Fez um sorriso envergonhado e saíu da sala, de cabeça baixa. Nenhum de nós teve a coragem que ele teve pois, se a tivessemos tido, teríamos dito que apenas continuaríamos na sala se o cobarde saísse. Somos nós todos, com a nossa delicadeza, que deixamos que os cobardes vão ganhando terreno.

Em todo o lado em que houver um estúpido, ignorante, bronco e, sobretudo, cobarde, qualquer pessoa indefesa estará em risco. Somos nós, os civilizados, que temos que aprender a ser mais corajosos.

Gente assim deve ser tratada com desprezo, deve rir-se-lhe na cara, deve mostrar-se que não se tem medo, e, se se puder chegar perto, quando a besta menos esperar, deve chegar-se-lhe perto, agarrar-lhe os tomates e apertar até que a besta guinche de dor, espanto e vergonha. Ou dar-lhe uma valente joelhada, deixá-lo cair de joelhos a ganir. Se for uma mulher a fazer-lhe isso deve ter um copo de café na mão e, a seguir, despejar-lhe em cima. Digo café para ser coisa com cor que se veja, para que fique ainda mais ridículo, aspecto borrado. Mas, sendo um homem, o que deve fazer depois de o deixar a ganir agarrado aos tomates, é mijar-lhe em cima. À cara podre.

No caso de Trump, os guarda-costas deveriam unir-se e fazer um cordão em sua volta para que fique isolado e alguém possa penetrar nesse círculo de segurança e fazer-lhe isso. Com as câmaras a filmar. Para que no Face, no Insta, no Twitter, no YouTube e em todo o lugar possível passem as imagens da besta a ser humilhada. E em todo o lado por onde também passe a boneca-insuflada, Ivanka de seu nome, alguém deveria passar-lhe uma rasteira e fazê-la ir ao chão. De preferência, deveria ser alguém com um cão pela mão para que o cão lhe mije em cima.

O que se passou com George Floyd foi apenas mais um caso nuns Estados Unidos degradados, desunidos, aparvalhados, assaraapantados, embrutecidos. Um caso limite, chocante, em directo. Alguém que morreu à vista de todos, assassinado por quem deveria defendê-lo. Quem o assassinou foi alguém que se sentiu com poder para vergar um homem, para o asfixiar até à morte, alguém da raça do Trump, do Bolsonaro, alguém arraçado de besta quadrada, de cavalgadura, de tiranete de opereta bufa e mal ensaiada.

Não tenho querido falar nisto. Não gosto de falar a quente. Não gosto de falar quando acho que a situação é tão grave que não bastam palavras. Em situações assim penso que é necessário que a revolta seja forte, eficaz, que o troco seja dado na mesma moeda. Não desejo a morte de ninguém, nem sequer de Trump, de Bolsonaro ou do polícia que asfixiou George Floyd até à morte. Mas desejo que haja forma de os neutralizar politicamente e de os condenar, por todos os meios disponíveis em democracia, por todos os crimes que cometem.

E, enquanto andam à solta, que nenhuma voz se cale.

Como Al Sharpton.



Ou Anderson Cooper:



E, entretanto, que os indefesos não percam a esperança, se mantenham vivos e fortes até que o seu dia chegue -- como Archie Williams de quem soube através do MCS.

Don’t Let the Sun Go Down



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A todos desejo uma boa sexta-feira.

10 comentários:

Maria Santana disse...

Subscrevo! Obrigada por este post!

João Lisboa disse...

Belíssimo post.

Francisco de Sousa Rodrigues disse...

Maravilhosa pasionaria!

Aquele abraço.

Estevão disse...

Uns mais, outros menos, somos quase todos culpados.
Este episódio recente em que a tropa nazi atira um judeu ao chão, vai certamente mobilizar os representantes de Israel:

https://www.youtube.com/watch?time_continue=16&v=QSBZGv5wzK4&feature=emb_logo

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Santana

Thanks.

Um sábado bom para si.

Um Jeito Manso disse...

Olá João,

Obrigada.

Um bom sábado.

Um Jeito Manso disse...

Francisco,

!Olé. Gracias.

E um belo sábado.

Um Jeito Manso disse...

Olá Desconfinado,

A sua ironia é tempero que não sei se conjuga bem com a violência e o desnorte a que se assiste por lá. Vejo cenas como a do filme e tenho pena de quem cai e fica a esvair-se em sangue no meio daquela gente, tal como tenho pena dos que não votaram em Trump, tal como tenho pena que nós, estúpidos humanos, desperdicemos a oportunidade de vivermos em harmonia durante o escasso tempo em que nos é dado conhecer esta vida.

Não lhe parece? E não sente pena?

Um bom sábado.

Estevão disse...

No vídeo, um polícia atira ao chão um idoso, este desmaia, começa a esvair-se em sangue e nenhum polícia parece preocupado com o facto. Isto revolta-me e revolta qualquer pessoa.
Acontece que a violência nos EUA tem vindo e merecer o repúdio de várias comunidades, mesmo de outros países. Sendo este episódio um déjà-vu dos filmes sobre o nazismo, era desejável que o influente e muito poderoso lóbi judeu o condenasse. Mas nem uma palavra.
Era o que eu queria comunicar, mas não fui capaz. As minhas desculpas.
https://youtu.be/QSBZGv5wzK4

Um Jeito Manso disse...

Ora Desconfinado, está a pedir desculpa porqu~e? Eu é que entendi como ironia o que de ironia não tinha nada. É que, no meio da maldade, tenho dificuldade em agrupar as pessoas por origem, raça, credo ou o que for. Judeus? Cristãos? Brancos? Penso que aqui é uma questão de humanidade. Ou desumanidade. Ou maldade. Ou estupidez. Um homem armado empurra um homem de cabelos brancos (e que os tivesse pretos ou louros) e atira-o ao chão. Ouve-se o baque. Fica sangue no chão. E em vez de se ver que o polícia ficou aflito, em vez de ficarem todos aflitos, quase parece que não é nada com eles ou que aquele episódio só serve para os atrapalhar. E eu vejo aquilo e o que penso é que o mundo anda mas não avança para a frente e a falta de civismo parece ser crescente, quase parece que pouco se evoluíu desde o tempo da barbárie.

Mas percebo agora melhor o que diz e não quero que peça desculpa. Está bem?

Um bom domingo.