terça-feira, janeiro 29, 2019

Não há ausência se permanece, pelo menos, a recordação da ausência.





Há algum tempo, deparei-me com um velho caderno onde tinha apontado algumas frases que me tinham impressionado. Havia uma extraída de Em Busca do Tempo Perdido, de Proust. 


Dizia:
Mas para desencadear aquela tristeza, aquela sensação de irreparável, aquelas angústias que preparam o amor, é necessário -- e talvez seja isto, mais do que uma pessoa, o próprio objecto que a paixão procura ansiosamente atingir -- o risco de uma impossibilidade.
E se a paixão que me invade, que nos invade, diante destes livros perdidos tivesse as mesmas origens da paixão amorosa descrita por Proust? Se fosse precisamente o risco de uma impossibilidade que justifica o misto de arrebatamento e melancolia, de curiosidade e fascínio, que cresce quando se pensa em algo que existiu, mas que não podemos agarrar com as nossas mãos? Se for o vazio que nos fascina, por que podemos preenchê-lo com a ideia de que o que falta é a peça decisiva, perfeita, inigualável?


Além disso, esses livros tornam-se desafios à imaginação, a outros escritos, ao desenvolvimento de paixões alimentadas pela sua própria inatingibilidade. Não é por acaso que muitas destas páginas perdidas acabaram por provocar a escrita de novos livros.

Mas não é só isso, é algo mais.



Num romance de finais do século passado, uma escritora canadiana, Anna Michaels, escreveu:
Não há ausência se permanece, pelo menos, a recordação da ausência. (...) Se alguém já não tem a terra, mas tem a recordação da terra, pode sempre desenhar um mapa.

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Excerto do livro 'Histórias de livros perdidos' de Giorgio Van Straten, da editora Elsinore, tradução de Carlos Aboim de Brito

Me And Mrs Jones aqui é interpretado por Billy Paul. Marie-Thérèse Walter é retratada por Picasso.

The Loveliness of Love de George Darley é lido por Tom O'Bedlam

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E queiram continuar a descer para verem como é bom saber viver

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