A questão Síria e, nesse sentido, dos recentes ataques levados a cabo pelos EUA (como o apoio dos seus caniches europeus, como o R.U. e a França) explica-se de uma forma muito simples. Tem a ver com o projecto do gasoduto do Qatar, que quer os EUA, quer a UE, desejam, desde há algum tempo a esta parte, e que se estenderia dali até à Europa, passando entre outros países pela Turquia e…precisamente, também e sobretudo pela Síria. Os EUA, com o apoio subserviente dos seus aliados europeus actuaram mal, logo no início, ao tentarem pressionar o regime de Bashar al-Assad a aceitar a passagem desse gasoduto. Como Assad se negava a deixar passar esse pipeline pelo seu país, Washington passou a destabilizar o seu regime, desacreditando-o politica, diplomática e economicamente.
Uma das formas tentadas foi fazer crer que a Síria não só possuía armas químicas, como as utilizava contra o seu povo.
Já em 2007, 2008 e 2009 a Organização para a Proibição das Armas Químicas – OPAQ - discutia a questão Síria quanto às armas químicas. Nessa altura, conseguiu-se um compromisso do governo sírio, já com Assad no poder, para que desmantelasse os seus depósitos de armas químicas. Os sírios receavam sobretudo Israel, que possuía armas químicas e nucleares, mas que não as declaravam à OPAQ, porque, por sua vez, receavam a Síria e o Irão (que tinha deixado de as possuir, embora Telavive mantivesse reservas quanto a essa versão – que veio a provar-se ser verdadeira). O Irão deixara de as possuir. Recorde-se que o Irão foi vítima de um ataque de armas químicas perpetuado pelo Iraque, durante a guerra em que se envolveram. E quem apoiava o Iraque de Saddam Hussein, na posse de armas químicas, contra o Irão? Os EUA! Washington, por exemplo, nunca pressionou Israel a desembaraçar-se daquelas armas - químicas e nucleares. E os próprios EUA e a Rússia, nessa altura, possuíam ainda um enorme arsenal de armas químicas que iam destruindo progressivamente, acção essa supervisionada – parcialmente – pelos inspectores da OPAQ.
Ora, a Síria já nessa altura estava num processo de se ver livre dessas armas químicas. Estamos a falar de 2008, ou seja, de há uns 10 anos atrás.
Todavia, com a destabilização da Síria um par de anos depois, o governo de Assad passou a ter um menor controlo dessas armas químicas que acabaram parte delas em mãos estranhas, como os terroristas islâmicos, a CIA, opositores do regime de Assad, etc.
Entretanto, a destabilização da Síria foi levada ao extremo pelos EUA, após o regime de Assad manter a sua postura de não autorizar a passagem do dito gasoduto. A ideia do gasoduto do Qatar tem a ver com a redução da dependência da Europa do Gás proveniente da Rússia. Mas, Assad compreendeu que o passo seguinte depois de autorizar essa passagem seria a sua destituição e colocação em Damasco de uma marionete dos EUA, que naturalmente, permitiria, a troco de uns tantos milhões de USD, que o negócio viesse a cair nas mãos das grandes multinacionais ligadas ao petróleo e à exploração do gás, naquela região.
Para além de vir a perder o apoio político que recebia de Moscovo. Na altura esse apoio era ainda e apenas político (e de algum modo económico, através de alguns acordos bilaterais).
Após Obama ter decidido começar a retirar as suas forças armadas da região, onde se incluía a Síria, depois de alguns ataques aéreos dirigidos às bases do ISIS, Assad, que nunca confiou nos EUA e sabia que um próximo Presidente poderia vir a ter uma opinião diferente da de Obama, aprofundou os laços com Moscovo, que incluíam uma estreita cooperação militar. Como sucede até hoje (desde há cerca de 3 anos).
A Síria é xiita (como o Irão), ao contrário da Arábia Saudita, sunita, e nesse sentido muito mais liberal nos seus costumes. As mulheres não são obrigadas a andar de véu (hijab), têm uma maior liberdade no que respeita ao seu vestuário, podem conduzir, dirigir empresas, etc. Em comparação com o Irão, igualmente xiita, as mulheres gozam de uma maior liberdade na sua forma de estar e actuar na sociedade síria do que no Irão, igualmente xiita. Já na Arábia Saudita o cenário é radicalmente diferente, como se sabe. Este último é um regime reaccionário, ultra-conservador, fundamentalista, intolerante do ponto de vista religioso e absolutamente anti-democrático. E, como se não bastasse, Riad é o maior financiador dos diversos grupos terroristas islâmicos. Todavia, os EUA e alguns países europeus, como o RU e a França, mantêm bons e rentáveis negócios com o regime inqualificável de Riad, sobretudo no que respeita à venda de armamento (a Arábia Saudita é o principal importador de armamento do R.U e os EUA o maior exportador para Riad, desde armas, a equipamento militar, aviões, etc) e do petróleo.
Os sauditas, por incrível que possa ser, são também aliados de Israel (com o apoio dos EUA) naquela região do Golfo, pois partilham os mesmos inimigos: a Síria e o Irão.
Assim e deste modo, havia que criar um conflito artificial na Síria, como sucede desde há uns 7 anos e picos. E pouco importa (aos EUA e europeus) que o resultado seja aquele que é conhecido, por outras palavras, que as principal vítimas desse conflito sejam os civis, entre crianças, mulheres, idosos, etc. Para além da economia (gado, terras, indústrias, enfim todo um tecido económico de um país e a consequente ruína financeira), Washington tem-se empenhado desde então, na destabilização da Síria com acusações diversas ao regime de Assad, que estando longe de ser recomendável, está a anos-luz do da Arábia Saudita, por exemplo.
Os alegados ataques de armas químicas de que se fala e levou à justificação dos ataques recentes dos EUA deveriam ter sido inspeccionados pela OPAQ, com inspectores independentes, nomeados por aquela Organização e depois de devidamente autorizados pelos membros permanentes do Conselho de Segurança da ONU. E ali, uma vez se concluísse existirem provas irrefutáveis de que a agressão fora levada a cabo, com a conivência de Assad, então sim actuar-se-ia em conformidade.
Mas, como sabemos, não foi isso que se passou. Os EUA, a França e o Reino Unido agiram sem um mandato das N.U e do seu Conselho de Segurança e nesse sentido actuaram à revelia do Direito Internacional. Como já tinha sucedido anteriormente.
As Nações Unidas hoje em dia estão desacreditadas. Pelo facto de 3 membros permanentes do Conselho de Segurança - EUA, França e R.U - agirem contornando-a e ignorando-a, e por Israel não respeitar nenhuma decisão das N.U, no que respeita às agressões que pratica na Palestina.
Em resumo, tudo isto não passa de um cenário bem montado, com fins propagandísticos. Fez-se uma manipulação dos factos e dos acontecimentos. A arte de bem enganar e ludibriar as pessoas e a verdade é hoje em dia uma das mais relevantes armas políticas das potências mundiais.
Por fim, este recente ataque à Síria teve também um segundo propósito: o de tentar intimidar Moscovo. Porém, tendo em conta a diminuta proporção daquele ataque, ao que se foi sabendo, é caso para nos perguntarmos, quem temia quem. Na verdade, a contenção do ataque acaba por revelar as muitas cautelas que quer Washington, quer os seus aliados europeus têm hoje para coma Rússia.
Como dizia e muito bem no seu Post, já somos suficientemente crescidos para nos deixarmos enganar e ludibriar.
__________________________________________________________________
Este texto foi-me enviado por Leitor a quem muito agradeço