No meio do lago, uma casinha de vidro. Escura. Lá dentro o homem tem ao colo o peixe grande. Afaga-o. O peixe recebe as carícias, respirando com alguma dificuldade. O homem abraça o peixe com ternura.
Digo: 'Que coisa maluca. E o peixe nem se mexe'. O meu marido responde: 'Querias o quê? Fora de água.'
À volta do lago, o jardim cresce para os lados e para cima, jardim bonito. Em alguns socalcos ele é oriental, noutros ele é francês, noutros ele é muito british e é perfumado e íntimo.
E lá mais ao fundo há um relvado mas não é relvado, que relvado é frescura de golf ou de jardim de princesa: aqui é erva, é pasto. E ao fundo há um celeiro. E a vaquinha anda descansada. Ela não sabe de trânsito nenhum, não sabe de prédios altos e de barafundas. Nem sabe de pinturas, esculturas, instalações, não sabe de peixes grandes ao colo de homens carinhosos ou tarados, não alinha nisso de discussões sobre o valor da arte. Sabe só que se está bem.
Explico melhor.
Antes do jardim, houve o museu. A exposição. Fotografei mas afinal tinha deixado o cartão no computador, as fotografias ficaram na máquina, e agora não tenho aqui cabos nem nada que me permita tirá-las de lá.
De resto, também não ia falar. Não sou crítica de arte. Se gosto, falo, gosto de elogiar. Se não gosto assim tanto, prefiro não dizer nada. Não sou entendida e tenho que admitir que, se os entendidos e o 'mercado' em geral valorizam, é porque algum valor tem. E gostei de um ou outro. E assim-assim de outros. E nada de muitos outros mas isso é problema que é meu.
Espanto-me com a a gastação de prosa com que alguns mimoseiam outros. O Alf do Elogio da Derrota, que escreve bem que se farta e tem montes de graça e que é insolente de dar gosto, gasta a sua inspiração e talento em textos longos a criticar os críticos e os maus escritores, com isso cansando a minha beleza. O agora incensado Luís Miguel Rosa escreve textos chatíssimos, daqueles que parecem os discursos de oito horas do congresso americano, em que diz mal de meio mundo e onde, pelo meio, tece considerações em que mostra que é letrado -- e meia bloga cai-lhe aos pés; mas eu não que, se acho que a minha vida é curta demais para gastar um dia inteiro fechada no Louvre, imagina se ia gastar essas tantas horas a ler longas e chatas prosas (e agora até em inglês) do jovem que faz babar os eruditas e os eremitas e faz ranger os dentes ao Alf que não gosta de concorrência. Nem pensar.
Portanto, olha lá se ia eu, leiga e rústica, desdobrar prosa frouxa e ignorante para falar da obra de Álvaro Lapa.
Mas dos trabalhos de Marisa Merz gostei de alguns. De outros não. Uns quantos têm qualquer coisa de Chagall. O meu marido é menos polido que eu. Disse dela: 'Uma vida inteira a fazer coisas para as quais não tem jeito'. Censurei-o. Falta de alma sensível.
Mas pronto, o gosto é subjectivo.
Fomos para o jardim, que o jardim nunca desilude. Aí tirei fotografias com o telemóvel. Tão bonito. Olho agradada, com vontade que o meu heaven um dia seja assim, árvores a roçar o céu, tudo muito frondoso, verde e húmido, com obras rodopiantes ao vento, com uma ordem discreta e elegante.
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E só depois fomos à procura da livraria.
Como este sábado temos que madrugar -- porque o senhor da máquina ameaçou estar a postos para limpar o terreno lá ao fundo, do lado de fora da vedação, logo ao nascer do dia (e claro que tenho que estar disponível para me atravessar caso pretenda arrasar mais do que o suposto) -- pode acontecer que apenas chegue à livraria durante o dia de domingo
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PS:
Enquanto escrevia, passava na televisão a reportagem sobre o Rio Rio, o Passos Coelho e o Santana Lopes no congresso do PSD. Não vou comentar. E nem é uma questão de disposição. É que tudo aquilo me parece vazio, destituído de interesse, uma seca. Portanto, não estranhem que passe ao lado
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E caso estejam para isso, queiram, por favor, descer para verem parte do que os meus olhos viram durante o dia.
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