Já muito escrevi sobre as minhas estantes. Existem em diversas divisões da casa. São altares. As maiores e em maior número estão nesta sala. Algumas foram desenhadas por mim e feitas numa fábrica de móveis no norte. Duas outras são verdadeiras obras de arte (pelo menos assim as vejo). Outras são do ikea, cadeia de mobiliário do qual sou verdadeiramente fã (tanto mais que a parte complicada sobra para o meu marido).
De vez em quando, os amontoamentos de livros invadem cada canto e uma nova estante torna-se imprescindível. É o caso. Os não lidos e ainda à solta já são mais que as mães e, se quero encontrar algum, vejo-me aflita já que os montes estão por ordem de chegada e sei lá eu onde pode estar aquele do Raul Brandão ou aquele último da Maria Teresa Horta. Um desatino. Reviro monte atrás de monte e o que procuro nunca aparece. Impõe-se, então, uma nova reorganização do espaço.
Mas o tema não é pacífico tanto mais há que coabitar com um ser cujo sonho era viver numa casa despojada, quase sem móveis.
E, na verdade, há que reconhecê-lo, cada vez há menos espaço disponível para acolher nova estante.
Caso se desencante um espaço livre e caso se vençam as resistências do costume, lá acaba por aterrar cá em casa a solução para a crise e lá se recondicionam as anteriores de forma a que a nova estante se integre numa certa lógica organizativa. Pode, então, acontecer que parte dos livros das estantes velhas salte para o chão da sala, se formem pilhas por natureza, autor ou o que for e, enquanto não se redistribuem por forma a dar uso à nova estante, mal se consiga dar passo. Nessas alturas, a harmonia conjugal periclita. Não há consenso quanto aos meus métodos nem justificação que pareça suficientemente plausível para justificar o caos que parece imperar na sala, corredor, hall.
Caso se desencante um espaço livre e caso se vençam as resistências do costume, lá acaba por aterrar cá em casa a solução para a crise e lá se recondicionam as anteriores de forma a que a nova estante se integre numa certa lógica organizativa. Pode, então, acontecer que parte dos livros das estantes velhas salte para o chão da sala, se formem pilhas por natureza, autor ou o que for e, enquanto não se redistribuem por forma a dar uso à nova estante, mal se consiga dar passo. Nessas alturas, a harmonia conjugal periclita. Não há consenso quanto aos meus métodos nem justificação que pareça suficientemente plausível para justificar o caos que parece imperar na sala, corredor, hall.
Literatura portuguesa. Literatura brasileira. Literatura russa. Literatura americana.... Poesia portuguesa. Poesia brasileira. Poesia traduzida. Colectâneas de poesia. Diários. Cartas. Autobiografias. Ensaios sobre fotografia. Fotógrafos. História portuguesa. II Guerra Mundial. ... Colóquio de Letras, Revista Ler, etc., etc., etc. Tento que seja fácil descobrir o que pretendo caso me surja uma urgência, uma necessidade inadiável de procurar uma frase, um início de história, uma certa conjugação de palavras.
Mas depois há aqueles que não encaixam. Como em tudo na vida, há sempre os que não encaixam em qualquer ordem estabelecida.
Para esses há que encontrar um poiso inteligente para que, ao entrarem aí, não sejam devorados pelo esquecimento eterno.
Por isso, leio sempre atentamente quando alguém descreve como organiza a sua biblioteca ou sigo, com curiosidade, o fio condutor da lógica subjacente ao ver fotografias de estantes.
Mas depois há aqueles que não encaixam. Como em tudo na vida, há sempre os que não encaixam em qualquer ordem estabelecida.
Para esses há que encontrar um poiso inteligente para que, ao entrarem aí, não sejam devorados pelo esquecimento eterno.
Por isso, leio sempre atentamente quando alguém descreve como organiza a sua biblioteca ou sigo, com curiosidade, o fio condutor da lógica subjacente ao ver fotografias de estantes.
O chapéu da livreira |
As fotografias que acima mostrei não se referem a estantes caseiras mas a livrarias onde o sentido de humor dá um ar da sua graça. E são deveras inspiradoras. Talvez contenham a chave para a minha próxima reorganização. Chegaram-me, uma vez mais, pela mão do Panda Aborrecido e ao som da Natalie Merchant de quem hoje senti saudades.
[E pode não ser especialmente convencional mas, cá para mim, mais vale que a livreira que se senta atrás do balcão esteja de chapéu do que ande a fazer figurinhas, de melena ao vento, como o bufão do pato Donald]
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