Não sei se já vos contei.
Já devo ter contado que, desde que aqui lhe ganhei o gosto, a minha vida é um livro aberto.Gosto muito de espelhos. Tenho muitos espelhos. Espelhos amplos, muitos com moldura em talha ou em simples madeira dourada. Por cima da minha cama tenho mais de uma dúzia de vários tamanhos e molduras. Nem faço ideia, ao todo, quantos espelhos terei. Quer na cidade quer in heaven. E não é para me ver neles. O que não quer dizer que não me veja neles. Volta e meia, vejo. Mas não é por isso, é para que reflictam a luz, é para reproduzirem o que neles se reflecte. Gosto. Há nos espelhos a génese da ilusão, da aparência feita realidade ou vice-versa, e a ambiguidade, a este nível, agrada-me. Por exemplo, em certo ângulo, no corredor que dá acesso à sala em que agora me encontro, consegue ver-se o rio. Está no comprido espelho que acompanha o corredor mas é como se viesse lá de baixo para aqui vir fazer uma coquetterie, colocando-se, azul, à altura do meu olhar.
Um dia faço uma reportagem fotográfica com os meus espelhos como protagonistas para que vejam (ainda melhor) a minha pancada.
Já agora.
(Já agora, uma vez mais, porque isto aqui mais parece um confessionário -- e logo eu que abomino confessionários...).Quando digo que nunca faço selfies não é completamente verdade. De vez em quando, fotografo a minha imagem num espelho. Contudo, nunca é para me mostrar mas o oposto, para me insinuar no meio das coisas, como se fosse tão (ir)relevante quanto qualquer outro objecto cuja imagem lá se reflicta.
Hoje tirei uma fotografia a um espelho redondo que tem dentro dele uns quantos espelhinhos convexos. É um espelho muito bonito. Quando agora, ao escolher algumas para aqui, vi a fotografia, reparei que a minha imagem aparece lá muitas vezes mas não igual pois cada pequeno espelho apanhou-me de sua maneira. Fiquei encantada. Não vos mostro porque sim (ou melhor, porque não) -- mas é uma pena pois é, de facto, uma fotografia muito curiosa. Acho que devia usar esta fotografia como meu ex libris: eu = muitas -- e todas diferentes.
Mas, então, indo ao que interessa: sabendo da exposição na Gulbenkian, claro que tinha que lá ir. Fui. Belíssima exposição. Do melhor que lá tenho visto. Obras maravilhosas, montagem fascinante.
Felizmente deu para tirar fotografias à vontade e isso é, para mim, um duplo prazer pois não apenas desfruto do encantamento de lá estar como posso ver as coisas através da lente, o que me traz sempre um grau de leitura mais atento e um prazer suplementar.
Parte da família juntou-se-nos para aproveitarmos o (infelizmente) ainda bom tempo e para um lanche no self, mas à exposição fomos só nós. Por isso, ao contrário de outras vezes em que é uma odisseia manter as crianças caladas e sossegadas de forma a não perturbarem os demais observadores ou a não fazerem perigar as obras expostas, desta vez andámos tranquilamente, sem aflições.
Não sei se com as fotografias que agora para aqui escolhi estou a ser capaz de transmitir a grande qualidade da exposição mas, se acharem que não é nada de especial, acreditem que é falta de jeito da minha parte. Quem tenha possibilidade de vir a Lisboa ver a exposição Do Outro Lado do Espelho não deixe de fazê-lo. Está até 5 de Fevereiro. Não é uma exposição gigante, tem apenas 69 peças (curioso número, diria o outro, mas é que 69 é, justamente, um número espelho) mas é mesmo especial. Há uma elegância e uma sofisticação que se adaptam que nem uma luva ao tema dos espelhos. Vá por mim, Caro Leitor: mesmo sendo de longe, tente conseguir dar uma saltada até Lisboa e venha ver-se do outro lado do espelho.
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Vídeo com a montagem da Exposição Do outro lado do espelho
Um cheirinho da exposição em vídeo
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Depois, então, o Jardim, o maravilhoso Jardim da Gulbenkian, lugar de mil esconderijos, onde os meninos se encantam (e eu também).
Depois, então, o Jardim, o maravilhoso Jardim da Gulbenkian, lugar de mil esconderijos, onde os meninos se encantam (e eu também).
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