Contei-o na altura: estávamos a preparar a janta. Eu estava a fazer umas coisas, depois interrompi para deitar um olho ao mais velho que estava a tomar banho sozinho enquanto a minha filha ficou a tratar da salada, depois ele foi para o quarto para se limpar e vestir e a minha filha foi para a casa de banho, ajudar no banho do mais novo.
Voltei à cozinha e, vendo uma tigela com os tomates cherry, de lá gritei à minha filha: 'Olha lá, lavaste os tomatinhos?'.
Para nosso espanto, acto contínuo, responde o pimentinha mais velho lá do quarto: 'Claro!'
Desatámos as duas numa risota e ainda hoje, quando vemos 'tomatinhos', nos rimos.
Lembrei-me disto (confesso que a despropósito) ao ver, no The Guardian, a fotografia abaixo, uma fotografia magnífica. Explico o que é, transcrevendo:
Villagers put tomatoes under the sun, creating a blanket of deep red, to dry them in Hejing county in the Mongolian autonomous prefecture of Bayingolin. (Photograph: Xinhua)
Estamos na altura do tomate maduro e eu, que sou uma meditarrânica dos quatro costados (apesar de ter um avô que parecia nórdico e de um outro que sempre achei que tinha uns certos traços asiáticos), gosto de o comer de todas as maneiras: em salada com cebola temperada com azeite e orégãos, em sopa de tomate, em ovos mexidos com tomate, em arroz de tomate, em ensopado de enguias e sei lá que mais.
E se gosto de ver campos de tomates ou ir atrás de atrelados cheios de tomates... Lembro-me também do meu avô cultivar tomates alongados, uma coisa meio rara naquela altura, e entrelaçar com a rama umas résteas que não eram de cebolas ou alhos mas de tomates, que ele deixava suspensos numa casa pouco iluminada que havia no quintal e onde ele guardava alfaias, cebolas, alhos, batatas e onde tinha também as galinhas a chocar ovos. Lá se aguentavam os tomates ao longo de meses, tendo nós tomates frescos e maduros todo o ano. Também o meu pai, quando lhe deu para ter uma horta, entusiasmo que não durou muito, cultivou uns pés de tomateiro nuns canteiros. Armava-os com umas canas fininhas, tal como armava os pés de feijão verde. E eu gostava de ver as frutinhas a crescerem e gostava de os ir apanhar para sentir aquele belo perfume. Ainda hoje, se compro tomate de rama, quando os arranco, cheiro-os para ver se trago de volta aquele perfume tão bom dos tomates recém-apanhados.
Claro que, apesar de gostar imenso de tomate, não gosto a ponto de me imaginar mergulhada num banho deles como acontece em Espanha, Buñol. Mas, enfim, vendo a alegria dos banhistas completamente tingidos pela bela cor da tomatina não posso dizer que daquele sumo não beberei.
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E, por falar em encarnado (e já nada a ver com tomates, claro está), que entre a música do mestre Ernesto Lecuonano colada ao corpo do casal do Grupo Corpo que aqui interprta uma coreografia de Rodrigo Pederneiras
Ou o Encarnado da bela trilogia de Kieślowski
E os belos rouges de chez-moi ao pôr-do-sol
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E uma bela terça-feira a todos quantos por aqui me acompanham
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