Amachucado, traído, aos empurrões de todos, sucedeu-lhe a pior coisa que pode acontecer à matéria: veio-lhe fastio.
Grotesco, feio, com a existência aos baldões, sem um bocadinho de ternura (a morte leva-lhe todos os amigos), rei ainda por cima, as suas anedotas, a sua vida, a sua figura, são ainda hoje motivos de grotesco...
E no fundo, sob essa capa ridícula, por baixo da barriga, da papeira, da beiça, do olhar desconfiado, havia, houve sem dúvida uma ternura enorme.
A mulher traíu-o; os filhos enganaram-no e mentiram-lhe; teve de fugir, de se livrar do veneno, das revoltas, da intriga, sempre a encostrar-se à amizade deste, daquele, dos generações, dos embaixadores, dos ministros, dos criados.. Não foi uma grande inteligência nem um grande carácter, mas foi uma extrema bondade. Passou a vida a afligir-se.
Por qualquer lado que se encare é um motivo de chacota.
É o senhor D. João VI -- é o pataco -- é o rapé -- é a beiça...
É -- mas é também o melhor homem da sua época, e, sob o grotesco, encontras uma grande beleza escondida, sumida, escarnecida.
Sofria -- sofreu.
[in 'El-Rei Junot' de Raul Brandão]
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[E agora, depois de tanta maldade -- sim!, que, francamente!, não é bonito troçar do aspecto físico de tão clemente e régia figura -- aliviemos a consciência bailando uma chaconnne. E nada de trazer para a dança a memória desse herege do Raul Brandão que aquilo não são modos de falar, em especial a propósito de um rei tão determinado e formoso, tão gastronomicamene alavancado em coxinhas de galinha.]
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E depois deste meu momento bem comportado, de cariz histórico/literário, queiram, por favor, descer até onde esclareço um ou outro ponto relacionado com ilusões de óptica e outras cenas.
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1 comentário:
Conheço um D. João VI, tem essa cara e tudo. E também é uma bondade de pessoa. Qualidade que só lhe trouxe problemas sobre problemas. Como não é rei e arrisco que além dos pais não haja quem o goste seriamente, é bem capaz de, por vezes, se afligir. Ainda que se não aflija, creio bem que é um bocadinho infeliz.
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