Dia de chuva e tranquilidade. Uma vez mais o meu corpo chegou ao fim da semana a pedir descanso. Na noite de sexta-feira, reclinada no sofá, o computador ao colo, ia escrevendo e adormecendo. Tenho um trabalho para fazer e enquanto pensava que seria preferível fazê-lo logo e tirar daí o sentido, o meu corpo recusava o esforço adicional. Sábado está a chegar ao fim e ainda não lhe peguei.
Queria responder aos comentários e adormecia. Fui para a cama mais cedo do que o habitual e dormi, de seguida, até às nove e tal da manhã.
Quando acordei fui à janela e vi que chovia a bom chover. Liguei a televisão e vi que tinha morrido El Comandante. Pensei que o Marcelo tinha tido pontaria. Não que o tiro fatal tenha sido disparado por ele mas, enfim, conseguiu, por um triz, apanhá-lo ainda com vida. Pensei que a anciã Isabel II -- a tal que já era rainha quando Marcelo ainda era uma criança -- deve estar a pensar que, graças a deus, ainda está bem de saúde.
Fiz papa de aveia, arrefecia-a, misturei um diospiro aos bocados e um iogurte e comecei o dia em beleza. O bem que isto me sabe só eu sei. Rematei com um cafezinho bem quente e cheiroso.
Entretanto, o meu marido disse que tinha caído um botão da manga do casaco de bombazina castanho. O botão é daqueles redondos, forrados a pele. Tirei outro para servir de amostra.
Entretanto, o meu marido disse que tinha caído um botão da manga do casaco de bombazina castanho. O botão é daqueles redondos, forrados a pele. Tirei outro para servir de amostra.
Fomos os dois dar a nossa caminhada mas, antes, passámos pela retrosaria da rua. Já não existia. Lembrámo-nos, então, de ir ao chinês. Tinha botões (tem tudo o que se possa imaginar) mas nada que se parecesse com o pretendido. Aproveitei para comprar uma embalagem de alfinetes de dama e outra de alfinetes de cabecinha. Volta e meia é preciso fazer bainhas nas calças e já me reareavam os alfinetes para fazer as marcações. O meu marido trouxe também um frasquinho de plástico com óleo lubrificante. Já pôs num fecho de um blusão que estava meio emperrado e agora o fecho já fecha bem e experimentou pôr também numa máquina de aparar a barba que tinha deixado de funcionar e a verdade é que, com o bendito óleo, ela ressuscitou.
Lembrei-me, então, de uma retrosaria atafulhada de tudo e mais alguma coisa que havia num fundo de um pequeno centro comercial. Lá fomos. Ainda lá estava. O dono é um silencioso indiano já de alguma idade. A empregada, portuguesa, talvez da idade dele, pelo contrário, fala pelos cotovelos, ri, mete-se com os clientes e dá ordens no patrão. Mostrei o pequeno botão e de uma parede forrada a caixas de botões, saíu uma caixa de cartão com botões daqueles, de todos os tamanhos.
Quando saíamos o meu marido disse: O senhor Inesh é amante da empregada e ela é que é, na verdade, a gestora da loja. Achei que talvez fosse verdade.
Depois fomos fazer outras compras, incluindo, claro está, diospiros na loja dos outros indianos. Trouxe dos redondos, rijos, e dos ovais, moles e suculentos.
Despachadas as obrigações, fomos então às devoções. Andar: uma caminhada de cerca de uma hora. Chuva, frio, as ruas molhadas mas, de quando em vez, alguma luz quase dourada. Fotografar, um dos prazeres maiores. O meu marido retarda o passo, chama-me, queixa-se, 'assim não dá'. Gosta de andar de seguida, a ritmo certo, mas também não quer seguir viagem e deixar-me para trás, deve ter medo que algum mergulhão me envolva nas suas asas negras e mergulhe comigo até ao fundo das águas.
Almoçámos tarde. Durante o almoço, liguei aos meus filhos a perguntar se queriam lanchar cá a casa. Uma semana sem os ver a todos e já me dá umas saudades que só visto. Quiseram. Por isso, depois de almoço, fomos ao supermercado.
A seguir, ainda tive tempo de escrever um post sobre Fidel Castro no qual mostrei um vídeo com um discurso 'poético' que merece ser visto.
Quase logo a seguir chegaram eles. Primeiro fomos a um lugar onde os miúdos gostam de brincar. Depois viemos para cá para casa.
Quase logo a seguir chegaram eles. Primeiro fomos a um lugar onde os miúdos gostam de brincar. Depois viemos para cá para casa.
O lanche foi: paezinhos escuros com sementes várias e pão alentejano às fatias levemente torrado. Queijo limiano às fatias, fiambre, queijo fresco de ovelha e queijo fresco de cabra. Para uma tijela cortei, aos bocadinhos pequenos, dois tomates bem maduros, depois desfiz grosseiramente com um garfo e misturei azeite. Bom para colocar sobre fatias de pão torrado. Tinha também manteiga com flor de sal. E iogurtes líquidos, sumo de laranjas algarvias e bongos.
Como acompanhamento, muito conversa. Depois do lanche fomos para a sala e os três rapazinhos andaram a brincar uns com os outros, a maior parte do tempo às lutas. A menina, sentou-se num cantinho e disse que ali era a sua casa e começou a brincar às comidinhas. Ela e um dos primos andam agora com um dentinho a menos. Estão todos crescidos, sempre muito bem dispostos: uma alegria pegada. E um desatino quando estão juntos num espaço confinado. No fim, foram para o quarto do meu filho, o mais pequeno pegou na guitarra do pai, que ficou cá em casa, sentou-se na cama, os outros à sua volta, e tocou e cantou com energia e boa voz. Os mais crescidos ficaram de pé a assistir ao espectáculo.
Quando se foram embora, fomos os dois a casa dos meus pais. O meu pai, como sempre, muito queixoso por ter estado no cadeirão. Diz que na cama é que está bem, que não suporta a tortura de passar a tarde no cadeirão. Digo que é o médico que quer, que é bom para a circulação, para a respiração, para não perder completamente a massa muscular. Fica todo zangado, diz que não é verdade. Recordo a pneumonia que teve o ano passado, que esteve internado, que os médicos disseram que devia estar levantado para as secreções não se acumularem nos pulmões. Diz que me cale, que não é verdade, que não teve pneumonia nenhuma, que não esteve no hospital, que estou a inventar. A minha mãe diz que não vale a pena. De tarde, refila horas a fio, zanga-se com ela, dá-lhe cabo da cabeça. De vez em quando, vai-se um bocado abaixo, ela. Não quer sair para se ir distrair porque lhe custa deixá-lo em casa, se calhar aflito, a chamar por ela, mas, por outro lado, está saturada, muitas vezes com os nervos à flor da pele. Mas como é como eu (ie, eu é que sou como ela), tem uma facilidade enorme em pôr os problemas para trás das costas e, por isso, logo depois já estava a queixar-se que não conseguia ir à internet no telemóvel. Estava com os dados desligados. Nunca sabe o que faz para desactivar aquilo mas, volta e meia, as coisas estão desactivadas. Liguei. E estive, outra vez, a ver com ela como fazer pesquisas ou ver imagens via google (decoração de bolos, mantas de lã, etc). Também estive a mostrar-lhe como enviar fotografias tiradas no telemóvel por sms. Para exemplificar tirei-lhe fotografias a ela e à senhora que trata da higiene do meu pai que, entretanto, tinha chegado. Ficaram as duas todas divertidas a verem-se nas fotografias.
Depois, à vinda, pelo caminho, como tantas vezes acontece, resolvemos encomendar uma piza grande, metade com alcachofras e presunto e a outra metade vegetariana com queijo feta.
Passámos a buscá-la e quando chegámos, já um bocado para o tarde, estivemos a jantar. Não estava com fome pelo que comi pouco e acompanhei com um chá de erva cidreira.
Agora estou de regresso ao meu sofá aconchegante. Claro que já está a dar-me o sono. Tenho que fazer algum esforço para me manter de olhos abertos. Se os fechar, tenho a certeza que adormeço instantaneamente. Eu estou num sofá e o meu marido está deitado noutro e temos um aquecedor a óleo ao pé de nós. Ouço a chuva, sinto o calorzinho bom, estou a escrever. E sinto aquela paz tão boa que me faz sentir agradecida.
Quando se foram embora, fomos os dois a casa dos meus pais. O meu pai, como sempre, muito queixoso por ter estado no cadeirão. Diz que na cama é que está bem, que não suporta a tortura de passar a tarde no cadeirão. Digo que é o médico que quer, que é bom para a circulação, para a respiração, para não perder completamente a massa muscular. Fica todo zangado, diz que não é verdade. Recordo a pneumonia que teve o ano passado, que esteve internado, que os médicos disseram que devia estar levantado para as secreções não se acumularem nos pulmões. Diz que me cale, que não é verdade, que não teve pneumonia nenhuma, que não esteve no hospital, que estou a inventar. A minha mãe diz que não vale a pena. De tarde, refila horas a fio, zanga-se com ela, dá-lhe cabo da cabeça. De vez em quando, vai-se um bocado abaixo, ela. Não quer sair para se ir distrair porque lhe custa deixá-lo em casa, se calhar aflito, a chamar por ela, mas, por outro lado, está saturada, muitas vezes com os nervos à flor da pele. Mas como é como eu (ie, eu é que sou como ela), tem uma facilidade enorme em pôr os problemas para trás das costas e, por isso, logo depois já estava a queixar-se que não conseguia ir à internet no telemóvel. Estava com os dados desligados. Nunca sabe o que faz para desactivar aquilo mas, volta e meia, as coisas estão desactivadas. Liguei. E estive, outra vez, a ver com ela como fazer pesquisas ou ver imagens via google (decoração de bolos, mantas de lã, etc). Também estive a mostrar-lhe como enviar fotografias tiradas no telemóvel por sms. Para exemplificar tirei-lhe fotografias a ela e à senhora que trata da higiene do meu pai que, entretanto, tinha chegado. Ficaram as duas todas divertidas a verem-se nas fotografias.
Depois, à vinda, pelo caminho, como tantas vezes acontece, resolvemos encomendar uma piza grande, metade com alcachofras e presunto e a outra metade vegetariana com queijo feta.
Passámos a buscá-la e quando chegámos, já um bocado para o tarde, estivemos a jantar. Não estava com fome pelo que comi pouco e acompanhei com um chá de erva cidreira.
Agora estou de regresso ao meu sofá aconchegante. Claro que já está a dar-me o sono. Tenho que fazer algum esforço para me manter de olhos abertos. Se os fechar, tenho a certeza que adormeço instantaneamente. Eu estou num sofá e o meu marido está deitado noutro e temos um aquecedor a óleo ao pé de nós. Ouço a chuva, sinto o calorzinho bom, estou a escrever. E sinto aquela paz tão boa que me faz sentir agradecida.
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As fotografias foram feitas de manhã.
Lá em cima, é Judy Collins e Graham Nash interpretando - "I Think It's Going To Rain, Today"
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E ainda não é hoje que vou responder aos comentários (que agradeço!) nem aos mails pois vou agora começar a fazer o meu TPC.
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E ainda não é hoje que vou responder aos comentários (que agradeço!) nem aos mails pois vou agora começar a fazer o meu TPC.
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9 comentários:
Que voz bonita tem Judy Collins! Nem parece que os anos passaram, talvez que os agudos menos agudos e por menos tempo, mas a melodia é toda ela. A mesma voz.
Os seus dias são bem mais interessantes que os meus. Faz muita coisa. E com muita gente:).
Como foi o meu dia ontem? sei lá, acho que acordei cedíssimo e me deixei ficar preguiçando até ser menos cedo. Quando me fartei de as horas não passarem, acordei a gata e parte da casa e desci a tomar o pequeno almoço. Tirei e estendi duas máquinas de roupa. Voltei à cama e, no quente, andei pela net. Levantei-me quando já a casa estava de novo só ela e fui correndo ao estendal debaixo de uma chuvada inclemente que nos encharcou - a mim e à roupa - e que apostrofei de tudo enquanto deixava cair as molas e, a esmo, atirava mangas e pernas para os alguidares. Estendi parte no alpendre e voltei a casa. Mudei de roupa e limpei a cabeça. Comecei o almoço intervalando com idas ao alpendre a pendurar os restos engalfinhados que chiavam por dentro da misturada de pernas, braços, mangas e etc. Quando o almoço ficou pronto e me puseram a mesa, sentei-me - já tudo à mesa em preliminares de queijos e mais não sei quê que nem reparei -. E parece que sim, estava a gosto. Entretanto lembrei-me que me esquecera de pôr as castanhas a assar e levantei-me. Enquanto assavam e no meio de alheias conversas, fiz um tempinho breve no tricot. Comemos as castanhas, levantei parte da mesa, lavei parte da loiça e sentei-me de novo ao tricot a conversar com os meus filhos, o calor da salamandra em agradável fundo. Depois de passarmos em revista todos os canais de TV, optei pelo computador e terminei Viagem a Tóquio - de auscultadores para ninguém ficar prejudicado -, um filme que apreciei deveras. Entretanto, eles viam futebol. Comecei a pensar no jantar, fiz sopa e preparei os cogumelos para o forno - recheei. Subi ao sótão e arrumei umas roupas que tinham ficado esquecidas aquando da chuvada da manhã. Quando terminei a sopa, o jogo de futebol já era outro e aguardava-se um próximo. Sentei-me e duas ou três voltas depois no tricot fui de novo para a cozinha: fiz os cogumelos no forno, fritei batatas, aqueci o frango de cebolada, cozi umas massinhas frescas chegadas directamente de Itália via Lidl e pedi mesa posta. Entretanto, o pai chegou. Fui lavando loiça e enchi nova máquina de roupa. Jantámos. Dediquei mais um bocadinho pequeno ao tricot, ensonei, mas ainda estivemos na discussão de filmes e realizadores e etc. Subi meia zonza. Estive uma réstea de tempo a blogar sem saber muito bem o que fazia e desisti. Adormeci na hora. E acordei às cinco. Fiquei um bocado a fazer tempo para acordar cedo e começar tudo de novo.
Não parece nada interessante, mas foi descansado.
Olá bea,
Gosto sempre imenso de ler a descrição dos seus dias. Eu também gosto de fazer tricot. Gostava de saber o que está a fazer. E fico sempre a perceber que também tem um blog mas nunca diz qual é. Também gostava de saber.
E vejo que faz coisas elaboradas como cogumelos recheados. também gostava de saber como os faz.
E parece-me tudo bastante interessante, bea.
Uma boa semana para si!
Tenho gostado muito de ler os textos dos seus fins de semana, pelo que muito exprimem e se entreve por detras dos detalhes.
JM
não goze comigo, tá?
Estou a fazer prendinhas de Natal:). Prometi às minhas amigas uma coisa feita por mim. Em cada Natal calha a uma ou duas que não me posso esticar muito no tempo de tricot. Este ano faço gorros e capas. Mas tenho uma écharpe mais ou menos pensada até final de Dezembro (uma prenda especial). E há umas almofadas para alfinetes bordadas a ponto cruz que são muito queridinhas e também gostava de oferecer, mas não sei
Nunca lhe disse que tenho um blogue. Mas posso ter.
Cogumelos recheados é a coisa mais fácil e menos elaborada que existe:). E a receita é capaz de estar na net (a minha é a olho - uns restinhos de carne desfiada (sobras), os pés dos ditos partidos miudamente, cebola...e o que mais se lembre); vai a lume com uma pinga de azeite até a cebola ficar cozida - refogada (mais ou menos transparente); em seguida deita-se salsa picada e está feito; Depois de lavados, enchem-se os cogumelos (grandes); cobrem-se com queijo laminado e vai ao forno por 15 a 20 minutos talvez. No meu forno ponho na prateleira de baixo mais ou menos a 200º (é um forno pequeno e com calor em baixo e em cima). E não sei bem o tempo porque vou olhando e logo se vê.
Boa semana, JM:)
Olá Ana Vasconcelos!
A sério que gosta? Quando me ponho a escrever aquilo penso sempre que é um disparate pois são banalidades sem qualquer interesse. Mas gosto de escrever aquilo, quer crer? Ainda bem que gosta de ler.
Obrigada.
E uns dias felizes para si, Ana Vasconcelos.
Olá bea!
Pois esses cogumelos devem ser bem bons! A ver se os faço.
Houve uma altura que eu fazia bordados em bastidor, em cetim. Desenhava os contornos e depois enchia. Gostava de fazer em cetim preto e os motivos muito coloridos. Por vezes motivos abstractos, outras vezes flores meio abstractas. Em pequenino, para aí com 10 cm de diâmetro. Depois emoldurava em moldurinhas redondas. E também houve alturas em que fazia tricot. Camisolas. Inventava. Mas desisti, tanta camisola tão bonita à venda e a preços tão razoáveis. Passei para os Arraiolos. E para a pintura. Agora é isto do blogue.
Mas conte lá, bea, deixe-se de mistérios. Diga lá o nome do blog!
E obrigada pelos votos de boa semana. Para si também!
Gosto mesmo muito, UMJ, porque a vida e feita destes detalhes, e poucos sabem exprimir os sentimentos por que passamos quando os vivemos, por detras duma aparente descricao. A sua escrita toca-me, especialmente quando fala dos mais velhos - e dos mais novos, tambem.
Peco desculpa pela falta de acentuacao, mas nao tenho um teclado Portugues a mao.
Uma semana feliz para si.
Ana
Gracias, Ana. As suas palavras agora também me tocaram. Que bom saber que as minhas palavras chegam a quem me lê (a alguém, pelo menos). Gracias.
JM
Nenhuma camisola tem o calor das que a gente faz para quem gosta se as souber fazer e ficarem de jeito. E houve uma altura em que era uma forma de vestir barato e com alguma graça, mas copiava de revistas e pouco inventei. Nesse tempo, tricotava à velocidade da luz, horas e horas a ver crescer os desenhos:). Mas satisfaz-me bastante ver as fotos dos meus filhos e do meu mano mais novo vestidos com o que lhes fiz. E quantas se gastaram sem uma foto! Estudei sempre com um tricot dentro da pasta:).
Arraiolos experimentei mas faz-me alergia e desisti no acto. Gostaria bastante de aprender esse bordado de Castelo Branco com linha de seda. Um ano em que me sinta mais abonada inscrevo-me no curso e aprendo. Quanto a pintura...gosto das cores e de misturá-las, mas nunca soube desenhar:). Olhá-la gratamente nos museus é o que sei fazer melhor.
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