No outro dia, um amigo mostrou-me fotografias de um importante evento em que tinha participado. Cusca eu e não menos cusco ele, ali estivemos no corte e costura, a ver um por um, e ele a mostrar-me a mulher deste, acabada, acabada, a outra, tia, podre de tia, o outro já a cair da tripeça, a tal que é gira todos os dias. Às tantas pergunto-lhe se a mulher de fulano de tal não tinha ido. Que sim, que sim, poderia lá ela faltar a uma coisa daquelas. Mas nunca mais aparecia. E ali estive eu a ver uma que, gorda como está, já não tem corpo para se vestir daquela maneira, o outro que parece uma múmia bem conservada. E entre o espanto e o riso, lá fui vendo as mais de duzentas fotografias.
Até que me diz ele: 'Olhe. A sua amiga.'. Olhei, espantada, sem conhecer ninguém. Ao meio da fotografia uma desconhecida, de pé, sorria. Dos lados, outras. E ele: 'Mau. Então?' E eu: 'Não conheço ninguém...'. E ele 'Olhe bem'. Eu parva, a olhar: 'Não me diga...,' E ele: 'Ai digo, digo'. E eu: 'Não... impossível...' E ele, 'Ai não, não...?'. Era ela, a mulher do outro. Irreconhecível. Esticada por todo o lado. Nem se percebia onde acabava o nariz e começavam as maçãs do rosto que, por sua vez, estavam redondas e volumosas, lustrosas como maças saloias. A boca era outra desgraça. Umas beiçolas inchadas, reviradas, transbordando para o espaço entre o lábio superior e o nariz. Diz ele: 'Pois, estou a ver que partilha da minha opinião: não correu bem'. E eu: 'Nada bem. Fogo... que tragédia!'
E ali fiquei, perplexa, a olhar para ela, tentando reconhecê-la. Sem rugas, sem feições, sorriso pasmado, Parecia a mãe dela que também se recusa a deixar o tempo pousar sobre o rosto. Gastam fortunas, devem ter dores quando fazem aquelas obras de recauchutagem, e, acredito, acham-se bonitas nesta figura.
É o reino do faz-de-conta, do fútil, dos sorrisos a toda a hora, das selfies feitas para seguirem directamente para o Face ou para o Insta.
O pináculo deste fenómeno foi atingido por essa rabuda que dá pelo nome de Kim Kardashian.
É conhecida apenas porque se dá a conhecer -- e tão fenomenal é a sua figura e tão vazio o invólucro que milhões de pessoas a seguem como se fosse uma divindade.
Ela fotografa-se com as mamonas ao léu e é o furor, ela besunta-se de óleo e despeja champanhe na bundona e rebenta com a internet. Não passa disto. Já teve um programa de televisão e sei lá que mais. E, repito, não passa disto!
Se olharmos para ela rapidamente percebemos que a nossa bicha de estimação, o José Castelo Branco é uma Kim Kardashian avant la lettre. Criatura auto-construída, alimentada pelo jet set de trazer por casa, o Conde também dá o cu e cinco tostões por aparecer na televisão ou na capa de uma revista cor-de-rosa (nb: metaforicamente falando, claro). São quase iguais.
Ambos gostam de mostrar o corpo, ambos o mudam à medida do que lhes passa pela cabeça. Nus, de fato de banho, abraçados aos conjuges, o que calhar: é preciso é aparecer. Alimentam-se disso. Como se vivessem permanentemente ao espelho.
Kim Kardashian e as suas formas pronunciadas |
José Castelo Branco, a mana gémea da Kim, que não tarda também se vai pôr a enxertar toucinho nas nádegas |
Mas, enfim, mal também não faz. E ilustram bem o que são estes tempos que atravessamos, tempos de narcisismo e vacuidade. Ainda hoje uma jovem considerada de elevado potencial e uma estrela em ascensão, que conhece vários países e tudo o que é restaurante e bar da moda, me dizia, toda convicta, que não tinha tempo para ler. Nem gostava. Tudo muito chato -- dizia ela. E eu não a contrariei. Para quê? Falamos uma língua diferente, vivemos em mundos diferentes.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela quarta-feira.
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1 comentário:
Gente infeliz.
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