O que em geral se vê nos olhos das pessoas raras é a mais comum das fantasias: estar só e descalçar os sapatos. No limite do seu romance neura e belo como tudo, Anna Karenina disse: "Agora só quero estender um pouco as pernas."
As mulheres trocam de repente a glória mais invejável pela identificação com a sua solidão primordial: aquele momento entre a declaração de amor e a vista de Nápoles ao escurecer, e que é um momento sem sensualidade, quase vazio de sentido, mas em que a eternidade é uma coisa de todos os dias.
Mulheres-raparigas-mulheres, quem não sabe desse espaço subitamente vazio nos sentidos, onde não entram as vozes habituais, onde de repente se recupera um gesto, um olhar desconhecido, e se faz deles uma espiral de desejos? Escapa-se da sólida conversa de tias e parentes, entra-se no quarto e no leito onde, com os joelhos contra o estômago, o peito carregado de medo obscuro, se reanima o dia passado; e, com ele, os pequenos indícios de amor e morte, os fantasmas de amor e morte. Tudo mais belo do que as realidades que um dia se irão convidar a fazer par com essas aventuras impossíveis de trazer vivas à luz do dia. Tão delgadas são, como cabelos, tão feitas de teias e de orvalho. Tudo as quebra e tudo as faz entrar outra vez no tempo curvo e eterno.
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O texto em itálico (bem como o título do post) é de Agustina, ainda em 'Longos Dias têm Cem Anos' -- livro que tomara que seja infinito para eu ter sempre novas páginas para ler -- que talvez tenham lido ao som de Agnes Obel a interpretar Riverside
Tom O'Bedlam lê Figs de D H Lawrence
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E queiram, por favor, descer porque, nos dois posts a seguir, há encontro com Kabir
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