Linha d`Água (sem data). Autor: Mário Cesariny |
A primeira vez que ouvi falar de Mário Cesariny, que nessa altura ainda era de Vasconcelos, foi na antiga cidade de Lourenço Marques. O nome intrigou-me imenso. Intrigou-me ainda mais o facto de se tratar de um surrealista português. Surrealismo para mim, naquela altura, queria dizer Paris. Exclusivamente Paris. Estávamos no ano de 1957. Escrevi para Portugal, para a livraria Bertrand, a perguntar se o poeta Mário Cesariny de Vasconcelos tinha obra publicada e se me podiam enviar um livro, o que tivessem, à cobrança. O livro que chegou foi Pena Capital. Li-o com deslumbramento e escrevi logo outra carta, desta vez à Contraponto, a pedir mais, mais livros daquele poeta. E desta vez recebi, numa edição numerada e assinada pelo editor, Luiz Pacheco, Manual de Prestidigitação. Uma festa.
Figuras de Sopro, 1947, óleo sobre cartão, 37,5 x 24,5 cm. Mário Cesariny |
Li e reli os dois livros e decorei certos poemas para sempre. um desses, 'Julião os Amadores', saíu-me do princípio ao fim, a meio de uma conversa com Alberto de Lacerda. Quando dois poetas se encontram falam sempre de outros poetas. Falávamos do Cesariny que o Alberto conhecera na altura da formação do grupo surrealista português. O Alberto perguntou-me por que razão tinha eu decorado esse belíssimo poema que também tanto apreciava. 'Foi só de ler, Alberto. é um poema que me ficou.' E então o Alberto fez uma pausa especial, um gesto leve com a mão, e disse apenas: 'O Mário é o maior de todos nós.' Notei que disse o maior, não o melhor. Os critérios do Alberto exigiam grandes poetas.
Estávamos ambos em Londres. Na Londres que tanto amávamos. (...)
O Papá que veio de Leste, de Mário Cesariny . Lisboa, 1980 |
O que há para descobrir de Cesariny no mundo íntimo de Alberto de Lacerda excede em muito os contornos deste livro. Mas nesse mundo e sempre nos dois sentidos, resplendem admiração e amizade que o tempo nunca deixou de sustentar. Nenhum deles desejou que fosse uma amizade literária. O que a define é uma alta camaradagem marcada, muito ao contrário, pelo desejo de aventura e de magia com que Alberto e Cesariny sempre quiseram viver.
Peço a Mário Cesariny que nos venha aqui contar.
[in Introdução - Luís Amorim de Sousa, Oxford, Maio 2014]
(in 'Um Sol esplandecente nas coisas', cartas de Mário Cesariny para Alberto de Lacerda)
Já nada temos a fazer sobre a Terra esperemos de olhos fechados a
passagem do vento
dizia eu dizia eu
que é sobre a missa branca do teu peito que se erguem os palácios
rasos de água
no escuro no escuro
alguém nos levará tocando-nos com um dedo nós trémulos,
deitados, sem dizer palavra, morreremos de ter-nos
conhecido tanto
e depois? e depois?
depois o halo de uma fita azul o martelo esquecido sobre a pedra
de um sonho
mas os salões? e a casa?
e o cão que nos seguia?
o teu rosto meu rosto
este homem alto
o Sol
[Julião os Amadores]
Mário de Cesariny |
Mário Cesariny ''Ama como a estrada começa''
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Convido-vos hoje a virem de passeio até ao meu Ginjal e Lisboa, a love affair onde vou, ao luar, pela mão de Luís Filipe Castro Mendes e ao som de Catrin Finch e Seckou Keita
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E, caso não tenham lido o que ontem publiquei à hora de almoço, aqui fica o link:
(um post dedicado a falsidades, imitações, erros de casting e outros)
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