Depois dos blind dating, dos speed dating e, mais recentemente, do slow dating. eis que chega ao meu conhecimento uma nova moda: o shhh dating.
Leio e acho que tem pernas para andar.
Tento ver-me num filme desses e imagino a ansiedade em que estaria ao ir na direcção do desconhecido. Eu que, para mim, o primeiro filtro tem a ver com o aspecto físico, haveria de estar aflita: e se ele é horroroso? e se é feio todos os dias? e se tem ar entre o bimbalhão e o gorduroso? (confesso: aqui ocorreu-me o Assis). Haveria de ir a ensaiar mentalmente o plano B, maneira de fugir a sete pés antes que o pobre coitado se apercebesse que estava a fugir dele.
Mas, enfim, supondo que até não era assustador ou completamente desagradável e que eu me aproximava: de que se iria conversar?
Enfim, se já antes tivéssemos falado através do site, talvez a conversa decorresse com alguma fluidez mas, se nunca antes tivesse havido qualquer contacto, de que se iria conversar? Apresentarmo-nos um ao outro como naqueles almoços em conferências em que ficamos com gente desconhecida e em que há sempre um despachado que resolve fazer a despesa e apresentar-se, sugerindo que todos façam o mesmo? Que falta de naturalidade, credo... E se o sujeito se saía com um quaisqueres, hádem, faria-se ou coisa do género? Fazia o quê? Levantava-me sem dar explicações? Despejava-lhe o copo de água na cabeça? Dizia que tinha que me ir embora, que tinha outro compromisso?

De resto, confirmo o poder do olhar por parte de quem nos agrada. Se não agrada, um olhar insistente é desagradável, é uma melguice, uma afronta, uma invasão de privacidade. Agora se fisicamente a coisa agrada, um olhar bem aplicado é um acto de sedução, especialmente se conseguir transportar aquela irresistível mistura de devoção e insolência.
Acho que já uma vez aqui o contei: há cerca de vinte anos, um psicólogo, o Dr. Arthur Aron, fez uma experiência: punha duas pessoas frente a frente com a indicação que deveriam estabelecer contacto visual enquanto respondiam a 36 perguntas, perguntas estas que eram progressivamente mais pessoais. A seguir deveriam ficar a olhar-se durante quatro minutos. Pois bem: tiro e queda.
Presumo que só resulte para quem, à partida, perceba ter a tal química. Se me puser em frente do Assis ou do Abreu Amorim ou do Diogo Feio ou do Passos Coelho ou da Teresa Leal Coelho - e isto só para referir alguns - acho que nem pintados. Aliás, acho que abalava a correr completamente espavorida e nunca mais parava com medo que alguém me obrigasse a repetir a experiência.
Como apaixonar-se por um desconhecido
- ou isso ou como aumentar a intimidade com quem já se conhece
TED Sydney
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A música é It's oh so quiet numa interpretação de Björk. As fotografias que usei para vos distrair do texto mostram Candice Swanepoel pela lente de Mert e Marcus e não têm a ver com a experiência em si mas, talvez, com o que se lhe segue.
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