Lembro-me de que, quando andava no liceu, achava as professoras umas senhoras já de alguma idade. A esta distância, lembro-me delas muito aperaltadas, muito compenetradas. Não sei que idade teriam mas não é provável que fossem todas já meio velhas; contudo, é assim que as recordo.
Apenas de três tenho ideia de serem diferentes.
Uma talvez não fosse, de facto, muito nova mas recordo-a sem idade. As aulas dela eram diferentes e eu adorava-as. Era professora de Português e não se entretinha a esfacelar a literatura com a ferramentaria da gramática. Foi também por ela que me inscrevi numa actividade circum-escolar que a tinha como professora, creio que se chamava Introdução à Poesia ou Leituras de Poesia, não sei. Íamos para a rua, sentávamo-nos no chão, em roda, debaixo de árvores, e líamos. E ela chamava-nos a atenção para alguns pormenores. E eu adorava, sentia-me em estado de fusão com a natureza e com as palavras. A professora chamava-se Joana Meira e amava a Língua Portuguesa. Tenho ideia que o seu cabelo era grisalho mas, para mim, era uma fadinha boa que me trazia toadas mágicas, histórias de outros mundos, encantamentos vários.
Outra era a professora de Educação Física e era ágil, jovem, divertida. Nós éramos adolescentes, éramos irreverentes e aluados e namorávamos por todos os lados e ela achava graça, nunca havia censura ou repressão nas suas atitudes. Lembro-me de uma excursão que fizemos e em que todos nós lhe pedimos encarecidamente que nos acompanhasse. Acompanhou. E foi uma companheira atenta, cúmplice, amiga. Ao contrário das outras professoras que usavam penteados mais produzidos, ela usava o cabelo curtinho e eu achava o aspecto dela o máximo.
A terceira era professora de Psicologia e era mesmo nova. Penso que era formada em Filosofia. Vivia no Estoril, aparentava ser uma típica menina da Linha. O marido estava a fazer a tropa no Ultramar e ela tinha muitas saudades dele. Era uma jovem muito moderna, com uma visão aberta do mundo. Falava-nos de autores de que nunca eu tinha ouvido falar, falava de assuntos que eram, para mim, janelas abertas sobre o desconhecido. E eu olhava para ela, com aquele ar tão jovem, e que parecia transportar um conhecimento tão imenso, muito mais do que as outras tão mais velhas.
Por essa altura, eu achava que a minha mãe era também uma senhora com ar igual aos das outras professoras. Olho para ela agora e parece-me mais jovem do que era nessa altura.
Eu, por mim, acho que nunca fui muito em conversas, em modas, em andar como os outros esperam que eu ande. Quando eu era adolescente, o meu pai zangava-se todo quando me via maquilhada ou vestida de forma mais produzida, dizia que eu ainda não tinha idade para aquilo. Mais tarde, era bem capaz de torcer o nariz por achar que eu já não tinha idade para andar a fazer qualquer coisa que ele achava que era para miúdas. Paciência. A idade não me condiciona. Claro que tenho a noção do ridículo pelo que, por exemplo, não me apresento no supermercado de shorts curtinhos e t-shirt de alças como ontem vi uma, com os cabelos pela cintura, que mais me parecia ter idade para minha mãe. Mas corro, salto, sento-me no chão, rio à gargalhada, vibro com um belo texto, com um sol dourado, com uma lua transparente, com um olhar, com um abraço. Vivo sentindo-me entusiasmada perante o futuro como se tivesse ainda a vida inteira pela frente. E tenho. O que me falta viver é a viva inteira.
E vem esta conversa toda a propósito do vídeo aqui abaixo: Act any age.
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1 comentário:
Ai..
Seremos sempre uns velhos para os jovens. Mas já agora - uma "velha jeitosa", de mente "aberta" e quando nos perguntam a idade - se dissermos a verdade - até ficam admirados!!!!!
Pior...pior...pior é conhecer os pais dos ditos e verificar que já foram alunos....nossos!!!
Felizmente há sol, mar e vida.
Bom dia.
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