Escreve à mão ou no computador?
Embora pareça uma contradição com a imagem que as pessoas têm de mim, sou extremamente competente em informática. Resolvo 90% dos problemas que aparecem aqui em casa com o meu namorado e com amigos. Gosto muito de máquinas, desde que estejam paradas porque num carro não entro por implicar perigo para outros seres.
Olho de gato (fotografia de Andrew Marttila) |
Relaciona-se bem com a máquina?
Tenho uma relação muito autoritária e muito arrogante com elas, é uma coisa que está ali para eu mandar nela.
Quanto a escrever, faço-o no computador já há muitos muitos anos. Preguiçosa como sou, faço um esforço tremendo para escrever qualquer coisa à mão.
Se tenho de tomar uma nota , comida para a Emily [a gata], por exemplo, faço só o "C" [de comida] e o desenho do gato. Só que depois não sei o que escrevi.
St. Florian Monastery, Austria |
E a investigação?
É na internet, porque é uma coisa fabulosa. Eu continuo a apreciar as grandes enciclopédias na Biblioteca Nacional mas agrada-me ter as bibliotecas do mundo todas ao alcance da mão. É uma coisa extraordinária e maravilhosa isso.
O que não pratico e nem nunca farei, porque odeio e assusta-me, é a interacção das redes sociais. Ter o espaço invadido por não sei quantas pessoas.
Já os e-mails endoidecem-me, tanto que mudo frequentemente de endereço e deixo tudo esquecido no anterior. Se alguém me manda um e-mail é como uma agressão. E não lhes respondo.
E o fim do livro tradicional por causa do livro digital...
Não me faz impressão porque o texto é o texto e o livro é um suporte que tem poucos séculos. Se o suporte vai mudar não me preocupa. O texto é o texto, esteja onde estiver. O livro tem o tempo do Gutenberg, é muito recente. Gostaria imenso de folhear livros de papiro ou de pele de carneiro.
Herb garden book sculpture
(Julija Nėjė)
Principalmente, gosto do grande livro imaterial -- esse está a desaparecer --, o livro oral que é quase aquele sonho de Fahrenheit do Bradbury: ter um livro na cabeça. Os actores têm Shakespeare na cabeça. Não é impossível a pessoa ter livros na cabeça.
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Extracto da entrevista concedida por Hélia Correia a João Céu e Silva no Diário de Notícias de 20 de Agosto de 2015
[Hélia Correia recebeu o Prémio Camões 2015. Escritora e com um livro de poemas que é um dos livros de poesia da Língua Portuguesa (A Terceira Miséria), Hélia Correia é também uma mulher que exprime as suas opiniões políticas de forma desassombrada]
As fotografias que usei para ilustrar o texto foram obtidas no Bored Panda.
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Já agora, por falar nisso,
A Book trailer made by High School Students for their AP English Literature class. This is an interpretation of Ray Bradbury's "Fahrenheit 451"
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No post abaixo poderão ver dois vídeos que espelham os contrastes gritantes da realidade angolana. Imagens chocantes que retratam uma realidade chocante. E focam apenas uma parte do que lá se passa.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo fim-de-semana.
Que descansem, que se divirtam, que estejam bem - é o que vos desejo.
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5 comentários:
Quanto à sra. Hélia,respeito a opinião que tem,e ainda bem que avisa. Segue carta. Quanto a Angola,deixem esse país em Paz! Não basta o que basta,ainda ouvis os canhões do Cuito Canavale? Têm tantos problemas para resolverem e ainda levam com o vosso ruído em cima? Quem tem saudades da Jamba?
Uma pessoa exótica, esta Hélia. Discordo inteiramente, embora respeite, a sua opinião sobre o livro digital. Nunca ouvi falar da criatura. Mas, também não fiquei preocupado.
P.Rufino
Olá P. Rufino,
Sim, tem razão, Hélia Correia tem um lado de exotismo. Mas é também uma grande escritora (e é o Prémio Camões 2015). Já incluí essa referência no final do texto porque a verdade é que, na realidade, Hélia Correia continua a ser relativamente desconhecida. Penso que isso se deverá também ao facto de ser avessa a publicidades ou aparições mediáticas.
Um bom fds, P. Rufino!
Pensando....voltando a pensar. Então não querem lá ver que sou bipolar! É que há mails que eu gosto e outros que nem por isso..
Cara UJM,
Ontem tentei colocar um pequeno comentário aqui, mas se calhar não consegui. Seja como for, a questão é que desde há algum tempo a esta parte, não leio um único romance, uma única obra de Literatura, pela simples razão de que perdi interesse por tal. Leio outro tipo de livros, compro muitos, mas de índole totalmente diferente. Hoje, sou incapaz de comprar um qualquer Prémio Camões, ou o que seja, do género. Leio porque gosto bastante de ler e para obter o máximo possível de informação (cultural e de conhecimentos), embora o deleite do que leio esteja presente. Tem de estar. Passo, por exemplo,actualmente ao lado da Literatura. Enfim, interesses e gostos de leitura são muito pessoais.
Resto de bom Domingo,
P.Rufino
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