Bom, agora que, no post abaixo, já me babei à vista de todos vou falar de outra coisa. A ver se consigo que não me parece nada fácil.
No outro dia, a seguir a um evento profissional, raspei-me para o Museu Colecção Berardo para ver a exposição O Olhar do Colecionador / The Collector's Eye. Ia sobretudo pelo Pano de Cena para A Flauta Mágica, de Mozart (2.º Acto, 3.ª Cena), 1965, de Chagall.
Fui indo pelos minimalistas, conceptualistas, etc, andando, andando, e já pensava que às tantas já tinham escondido o pano ou que, por artes mágicas, me tinha passado ao lado, ou que afinal estava dobrado e parecia pequenino e eu nem tinha dado por ele, e já desconsolada, pessimista, pus-me a tentar encontrar entusiasmo a ver as outras obras, quando, já sem nada esperar, me vejo numa sala enorme e, olhando para o fundo, tive uma das experiências mais avassaladoras de que tenho memória. Senti uma comoção que não sei traduzir por palavras. Quase tive vontade de cair de joelhos. Imaginam talvez que é um dos meus exageros. Não é, juro que não é. A minha vista não era capaz de abarcar uma beleza tão imensa, uma tal vastidão preenchida com as cores de Chagall.
Deixei-me estar ali, parada, a olhar de um lado a outro, de alto a baixo e, de repente, estava com lágrimas nos olhos, o peito apertado, numa comoção irreprimível. Soube depois que a isto Borges chama, creio, acto artístico. A obra a envolver quem a vê. Tive vontade de me sentar no chão e deixar-me ali ficar, tomada pela emoção de estar como que dentro do mundo mágico de Chagall.
Pelas circunstâncias, não tinha podido ir equipada com a minha máquina fotográfica. Por isso, deixei-me simplesmente estar. Quase como se estivesse em estado de adoração.
Depois, porque não podia ficar ali até ser noite, vim-me embora. Então lembrei-me que podia usar o telemóvel e voltei atrás e fotografei. Não ficou nada de jeito mas, ainda assim, aqui vos deixo com duas dessas fotografias.
Se puderem, não deixem de ir. Não se paga. E é daqueles momentos que nos convocam para o que há de mais espiritual dentro de nós. Ou dentro dos outros, não sei. Uma vontade de ser tolerante, generosa, infinitamente boa com os outros, com o mundo. Há ali uma inocência, uma luz, uma beleza, uma paz que parece apelar ao que de melhor temos dentro de nós. Não sei explicar. Não digo mais nada.
(Eu tinha dito que talvez não soubesse dizer o que tinha sentido)
Deixei-me estar ali, parada, a olhar de um lado a outro, de alto a baixo e, de repente, estava com lágrimas nos olhos, o peito apertado, numa comoção irreprimível. Soube depois que a isto Borges chama, creio, acto artístico. A obra a envolver quem a vê. Tive vontade de me sentar no chão e deixar-me ali ficar, tomada pela emoção de estar como que dentro do mundo mágico de Chagall.
Pelas circunstâncias, não tinha podido ir equipada com a minha máquina fotográfica. Por isso, deixei-me simplesmente estar. Quase como se estivesse em estado de adoração.
Depois, porque não podia ficar ali até ser noite, vim-me embora. Então lembrei-me que podia usar o telemóvel e voltei atrás e fotografei. Não ficou nada de jeito mas, ainda assim, aqui vos deixo com duas dessas fotografias.
Se puderem, não deixem de ir. Não se paga. E é daqueles momentos que nos convocam para o que há de mais espiritual dentro de nós. Ou dentro dos outros, não sei. Uma vontade de ser tolerante, generosa, infinitamente boa com os outros, com o mundo. Há ali uma inocência, uma luz, uma beleza, uma paz que parece apelar ao que de melhor temos dentro de nós. Não sei explicar. Não digo mais nada.
(Eu tinha dito que talvez não soubesse dizer o que tinha sentido)
O que aparece em primeiro plano não tem nada a ver com o imenso pano pintado por Chagall que está na parede do fundo |
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Marc Chagall
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Lá em cima é: Tölzer Knabench (Tölz Boys' Choir) Magic Flute, Mozart (Die Zauberflöte)
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E desçam, por favor, até ao post seguinte para verem como fico, quando fico toda orgulhosa.
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1 comentário:
Na “Flauta Mágica” (como noutros exemplos também) é requerido ao Soprano/a “to negotiate a stratospherically high line featuring several tops Fs”, diz-nos John Stanley, num excelente livro sobre Música Clássica (sobretudo no seu papel de “Rainha da Noite”). Ora, aquilo é conseguido através de um diafragma mais largo do que o normal dos comuns (devidamente treinado para o efeito) que lhes possibilitará exprimir as suas vozes de acordo com o que o autor compôs. Wagner e Richard Strauss (entre outros) escolhiam os cantores sopranos em função capacidades vocais, ainda de acordo com o que nos refere J.Stanley. E escreviam, como outros, as suas obras, ou composições, tendo em conta aquelas qualidades vocais (e peitorais). É curioso.
A ver se arranjo tempo para lá dar um salto, embora, minha cara UJM, não me veja a emocionar-me assim tanto, "graças" a uma menor sensibilidade da minha parte para com Chagall. Mas, é uma boa proposta, sem dúvida.
P.Rufino
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