Depois de nos dois posts abaixo ter dado palco à matemática na poesia, ao amor expresso graficamente, ao humor na matemática e tudo à boleia dos meus queridos Leitores, aqui, agora, mudo e comprimento de onda e, dando de novo a palavra a um Leitor, desta vez ao Leitor P. Rufino, deixo-vos um conto suculento. O candidato Vieira junta-se à festa para a abrilhantar já que o assunto tem a ver com eleições presidenciais. Temos, pois, assuntos de Estado. A vossa atenção, por favor.
Aniceto Silva, sentado na sua sala de estar, em casa, ouvia atentamente o que o Presidente dizia, sobre as características e perfil que o seu sucessor deveria possuir.
Tinha sido um apoiante de Cavaco e depois de Passos, pessoas que admirava, pela perseverança, coragem, idoneidade, isenção, inteligência e capacidade de diálogo, que ambos possuíam, em sua opinião.
Era Presidente da Câmara de Arrabaldes-de-Baixo, eleito pelo PSD, de que era militante quase desde que nascera.
Em comum com Cavaco tinha o facto de o seu mandato também estar a expirar.
Mas, havia uma diferença entre os dois, que importava registar: enquanto que o PR no fim do mandato iria para casa, ele, Aniceto, tinha ainda uma vida à sua frente. Até pela diferença de idades. Contava apenas 57 anos, embora (“uma chatice!”) um pouco gastos. O clima gélido no Inverno e insuportavelmente quente no Verão tinha-lhe estragado o “carão”, como dizia para consigo.
Ora, Cavaco enumerara um conjunto de requisitos que ele, Aniceto, entendia possuir. Era um tipo viajado, pois visitara as várias comunidades portuguesas originárias do seu Concelho, a viver por esse mundo fora, na Europa, Venezuela, Brasil, Canadá, Austrália, em Angola, no Dubai e até na Tailândia (onde provara as famosas massagens, por ocasião de uma visita que ali fizera uns anos atrás, para se encontrar com os conterrâneos que ali trabalhavam, em número de 4). Arranhava algum inglês, francês e desenvencilhava-se razoavelmente em espanhol. E sabia cumprimentar em alemão. Nessas ocasiões, mantivera contactos com algumas das autoridades dos países que visitara. “Ora, se isto não era experiência em Política Externa, em Relações Internacionais, vou ali e já venho”, pensou o bom do Aniceto.
Outra coisa em comum que possuía com Cavaco era o facto de também ser casado (“um Presidente tem de ter uma mulher que o acompanhe, faz parte!”, pensava). A Maria Reguengas era uma mulher apresentável, que não ficava a dever nada à Maria Cavaco, de forma nenhuma, embora de aspecto mais rude. Pouco, todavia. Mas isso até era uma qualidade a explorar, visto ser uma mulher do povo e quem mais ordena é o povo, lá diz a canção! Reguengas não falava línguas, mas para isso lá estava ele.
Havia apenas um pormenor que o afligia, que era serem ambos, ele e a sua Senhora, baixotes. Mas, bolas, também o Vitorino do PS era e nem por isso desdenhava ser candidato a PR, se o convidassem! E depois, um homem não se mede aos palmos, mas pelo que vale, pelo que provou. E ele, Aniceto Silva, que era Presidente daquela Vila e sede de Concelho há 4 mandatos seguidos, tinha provado o seu valor. Mandara construir piscinas, creches, autorizara Centros Comerciais, permitiu a construção de muito prédio (embora quase desabitados, por causa da crise), captara investimento do Bangladesh, da Venezuela, concedera uma licença para uma grande casa de massagens tailandesas (que era um sucesso!) e até tinha conseguido vender uns terrenos a chineses, russos e angolanos, sabe-se lá para o que eles os queriam, não importa, era dinheiro estrangeiro ali investido! Ora isto era Diplomacia económica, ou não?
E, assim pensando, enquanto via a Casa dos Segredos (aquela Teresa Guilherme mexia com ele! O que ele dava para uma noitada com a referida!), decidiu-se em avançar com a dita candidatura, visto, como julgava, o seu perfil se encaixar na perfeição no modelo idealizado por Cavaco Silva (“até no apelido tinha semelhanças com ele, que engraçado!”, cogitava).
E pôs o seu plano em marcha. Contactou todos os grupos de conterrâneos da Diáspora e, com promessas de loas, lá obteve o apoio necessário. Conseguidas as assinaturas indispensáveis e após o “sim” do Tribunal Constitucional, Aniceto anunciava ao Mundo o seu Programa de Candidatura.
A seu lado, Maria Reguenga escutava-o embevecida. Já se via “Presidenta”. Até uma lagrimita lhe escorreu pela face gorducha e vermelhuça, indo depositar-se nos beiços. Lambeu-a. O anúncio foi feito no largo da Câmara de Arrabaldes-de-Baixo, para gáudio da população. E teve honras de TV, pois todos os canais ali estiveram (embora a convite dele, instalados no hotel da terra e pagos pelo orçamento da Câmara).
A seu lado, Maria Reguenga escutava-o embevecida. Já se via “Presidenta”. Até uma lagrimita lhe escorreu pela face gorducha e vermelhuça, indo depositar-se nos beiços. Lambeu-a. O anúncio foi feito no largo da Câmara de Arrabaldes-de-Baixo, para gáudio da população. E teve honras de TV, pois todos os canais ali estiveram (embora a convite dele, instalados no hotel da terra e pagos pelo orçamento da Câmara).
Uma vez concluída a apresentação programática, esfregando as mãos papudas e peludas, com as unhas limpas (resultado do esforço hercúleo da sua Reguenguinha, como lhe chamava carinhosamente em privado, com recurso a uma escova de arame), bateu as palmas, que todos de imediato imitaram, seguindo-se uma almoçarada bem regada, para todos ali presentes (suportada pelo orçamento camarário).
Após o pesado repasto, sentia-se capaz de desfiar o Mundo! E, enquanto tagarelava com alguns jornalistas e gente importante do Concelho, coçando a grossa e rotundíssima pança, começou a pensar nos debates que mais tarde teria de enfrentar. Não os temia! Trucidaria todos os seus opositores. Tinha o dom da palavra! Estava confiante.
Passos Coelho é que lhe estava atravessado, pois não o reconhecera como candidato do PSD, preferindo Rui Rio, que afinal não se candidatara (“e ele que o apoiara tanto! Ingrata criatura!”). Já o Professor Marcelo fora simpático com ele, num comentário que fizera, num Domingo, perante Judite de Sousa, ao dedicar-lhe 30 segundos e designando-o como o candidato das Berças. Até lhe enviara um cartãozinho, a agradecer a atenção.
Agora, pensava, era só esperar por Fevereiro de 2016 e tomar posse!
E quando na rua se lhe dirigiam e chamavam de “Senhor Presidente”, já confundia essa designação com a futura, uma vez instalado em Belém.
Os cartazes da sua candidatura eram sóbrios e transmitiam uma mensagem que o povo compreendia. De dedo espetado, sorriso na boca e umas breves palavras: “vão por mim, que vão bem!”
Parou um momento, a olhar-se, num cartaz, junto a Câmara.
Depois, entrou ali, subindo as escadas e abriu a porta do seu gabinete, onde ao fundo se encontrava pendurada uma grande fotografia sua, em caixilho dourado.
Depois, entrou ali, subindo as escadas e abriu a porta do seu gabinete, onde ao fundo se encontrava pendurada uma grande fotografia sua, em caixilho dourado.
Acabara de se sentar na sua poltrona, quando a sua secretária, abrindo a porta, lhe anunciou estarem ali, à sua espera, duas pessoas da Segurança Social que queriam falar com ele. Tremeu, mas lá os recebeu.
Afinal, não vinham com más intenções. Estava em falta com algumas declarações, “que se esquecera de fazer” para a Segurança Social, uns anos atrás, mas tendo em vista o procedimento que tinha existido para com o Senhor Primeiro-Ministro, de lhe ter sido facilitado o pagamento praticamente sem penalizações, ali estavam para o ajudar também a limpar o seu anterior historial em falta, a fim de poder manter a candidatura à Presidência imaculada. Agradeceu-lhes, ofereceu-lhes um almoço, custeado pelo orçamento camarário e lá se resolveu tudo, para seu descanso.
Ainda teve um outro aborrecimento, igualmente resolvido a contento, quando se veio a descobrir que tinha comprado umas acçõezitas do ex-BPN a preço de saldo, que depois revendera por valores superiores, obtendo um ganho considerável. Prometeu ao director da sede do antigo BPN, que lhe facilitara esse negócio (a troco de financiamento de umas obras autárquicas que mandara construir) um lugar como assessor económico, uma vez eleito e o caso foi desmentido.
E, após uma campanha difícil, bem debatida, Aniceto Silva, acompanhado pela sua Maria Reguenga tomava posse como PR deste imaginário país.
Autor do conto: P. Rufino
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Candidato Vieira recomenda lavagem das partes baixas
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A inclusão das fotografias e dos vídeos do Candidato Vieira é da minha responsabilidade.
Como é sabido sou devota do Manuel João.
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E sigam, por favor, para os dois posts seguintes que são ambos altamente educativos.
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3 comentários:
Belo candidato. De continuidade... Parabéns.
As imagens estão o máximo!
P.Rufino
Magnífico e assertivo texto do seu Leitor, P.Rufino ,a quem aproveito para cumprimentar por este e outros textos já publicados.
As fotografias estão excelentes, de oportunidade.
Melhores Cumprimentos , estimada UJM.
Vitor
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