No post abaixo confesso a minha infoexclusão, conto uma história verídica que mete o Face, mostro alguns dos últimos trabalhos de Banksy e, ainda, respondo ao desafio da Leitora Rosa Pinto mostrando algumas obras de arte, belas, intemporais, universais, uns gatos à maneira. Ou seja, um post que mostra o Um Jeito Manso no seu melhor: uma verdadeira caldeirada.
Mais abaixo ainda, falo de dois ladrões que deram que falar nos últimos dias e, por sinal, pelos melhores motivos: devolveram o que tinham roubado. Podia ter cedido à tentação de trazer o láparo à colação mas, noblesse oblige, deixei-o fora disso.
Mas isso é nos dois posts seguintes. Aqui, agora, a conversa é outra. Devaneio de novo pois gosto de me ir deitar indo já perto das nuvens.
Se querían.
Sufrían por la luz, labios azules en la madrugada,
labios saliendo de la noche dura,
labios partidos, sangre, ¿sangre dónde?
Se querían en un lecho navío, mitad noche, mitad luz.
Permitam que me dirija a vós, como se vos escrevesse. A cada um de vós em particular.
.....
Leitor que estás longe, que não vejo, que não conheço,
Deixa que te conte. Deixa que me aproxime um pouco mais de ti.
Sabes, atravesso os dias por vezes tão difíceis - por vezes é o tempo que não passa, outras as agruras da vida que chegam, ou a tensão de conflitos latentes, ou o tédio, ou a vontade de estar noutro sítio - mas atravesso-os porque de travessias se faz a nossa vida.
Os meus dias são, pois, muitas vezes longos, complicados. Mas eu aprendi a abrir uns corredores na minha vida. São secretos, caminhos que ninguém vê. Sento-me e, à minha volta, a mesa está cheia e eu discuto e analiso e dirijo e delego e controlo e, ao meu lado, uma outra que sou eu, espreita para além da neblina, aspira o ar em busca da fresca maresia. Não posso viver longe da água, do mar revolto ou do suave rio.
Então penso que podia estar lá, à beira da água, mergulhada em azul, levada pelo voo das gaivotas, enrolada no pano fresco das velas, ir para longe, muito longe, para castelos no ar, para grutas perfeitas de tão frescas e íntimas.
Sabes que gosto de fotografar. É como se quisesse comprovar que a beleza que vi existe mesmo. Guardo, pois, as provas. E quando, fechada numa sala, penso em lugares muito belos, nem sei se é neles que penso ou no que os meus olhos viram e a máquina registou.
Dizia eu que, nessas alturas em que me evado, penso, então, estou aqui e estou também ali, e estou perto de ti porque as minhas palavras voam e os meus pensamentos chegam até ti. Estás a lê-los agora, Leitor.
As vozes à minha volta traçam caminhos, avaliam cenários, e uma dessa vozes é a minha.
Mas ouço-te também, Leitor, ouço a tua voz que me diz que o silêncio é uma outra forma de me dizeres palavras que apenas sonho.
Estou assim, sentada à volta de uma mesa e, ao mesmo tempo, caminhando rente ao rio, contigo ao meu lado, Leitor, e o silêncio que me dizes acompanha os meus passos e os teus. E mais ninguém, senão nós, sabe como estamos próximos quando assim caminhamos por estas estreitas veredas secretas.
Sabes, atravesso os dias por vezes tão difíceis - por vezes é o tempo que não passa, outras as agruras da vida que chegam, ou a tensão de conflitos latentes, ou o tédio, ou a vontade de estar noutro sítio - mas atravesso-os porque de travessias se faz a nossa vida.
Os meus dias são, pois, muitas vezes longos, complicados. Mas eu aprendi a abrir uns corredores na minha vida. São secretos, caminhos que ninguém vê. Sento-me e, à minha volta, a mesa está cheia e eu discuto e analiso e dirijo e delego e controlo e, ao meu lado, uma outra que sou eu, espreita para além da neblina, aspira o ar em busca da fresca maresia. Não posso viver longe da água, do mar revolto ou do suave rio.
Então penso que podia estar lá, à beira da água, mergulhada em azul, levada pelo voo das gaivotas, enrolada no pano fresco das velas, ir para longe, muito longe, para castelos no ar, para grutas perfeitas de tão frescas e íntimas.
Se querían de día, playa que va creciendo,
ondas que por los pies acarician los muslos,
cuerpos que se levantan de la tierra y flotando...
Se querían de día, sobre el mar, bajo el cielo.
Sabes que gosto de fotografar. É como se quisesse comprovar que a beleza que vi existe mesmo. Guardo, pois, as provas. E quando, fechada numa sala, penso em lugares muito belos, nem sei se é neles que penso ou no que os meus olhos viram e a máquina registou.
Dizia eu que, nessas alturas em que me evado, penso, então, estou aqui e estou também ali, e estou perto de ti porque as minhas palavras voam e os meus pensamentos chegam até ti. Estás a lê-los agora, Leitor.
As vozes à minha volta traçam caminhos, avaliam cenários, e uma dessa vozes é a minha.
Mas ouço-te também, Leitor, ouço a tua voz que me diz que o silêncio é uma outra forma de me dizeres palavras que apenas sonho.
Estou assim, sentada à volta de uma mesa e, ao mesmo tempo, caminhando rente ao rio, contigo ao meu lado, Leitor, e o silêncio que me dizes acompanha os meus passos e os teus. E mais ninguém, senão nós, sabe como estamos próximos quando assim caminhamos por estas estreitas veredas secretas.
Mediodía perfecto, se querían tan íntimos,
mar altísimo y joven, intimidad extensa,
soledad de lo vivo, horizontes remotos
ligados como cuerpos en soledad cantando.
E se eu me desdobro e desvendo recantos em que os segredos se escondem, e vou mostrando as máscaras que não são máscaras, são a minha pele, sabe, Leitor, que o faço para que percebas que as minhas palavras são para ti, Leitor, para ti que não conheço, que estás longe.
E, no entanto, ao leres estas palavras, Leitor, talvez sorrias, talvez penses que é doida esta mulher que assim te fala, trazendo-te palavras feitas de silêncios, inundadas por azul, flutuando nas águas de um rio que é quase mar. Talvez sintas que há quase intimidade nas minhas palavras. Mas como intimidade se eu não te conheço, se tu não me conheces, se eu não te vejo sorrir, se não conheces o brilho do meu olhar?
Amando. Se querían como la luna lúcida,
como ese mar redondo que se aplica a ese rostro,
dulce eclipse de agua, mejilla oscurecida,
donde los peces rojos van y vienen sin música.
Depois alguém me faz perguntas e eu tenho que responder e eu própria questiono e o tempo avança e o dia vai-se cumprindo e o meu olhar vai deslizando e lembrando Lisboa, tão bela, e o rio, tão azul, e os barcos, tão a brincar, tão brancos, tão limpos, tão pequenos, e as casinhas coloridas, brinquedos, imaginação minha. e até o rio se enfeita de cores para me mostrar que não é de verdade, que sou só eu a sonhar, que nem eu sou de verdade nem tu, Leitor, és de verdade.
E então, pensando nisso, o chão desaparece, o ar desaparece, tu desapareces e eu fico sozinha no meu caminho inventado. Apenas o silêncio permanece.
Día, noche, ponientes, madrugadas, espacios,
ondas nuevas, antiguas, fugitivas, perpetuas,
mar o tierra, navío, lecho, pluma, cristal,
metal, música, labio, silencio, vegetal,
mundo, quietud, su forma. Se querían, sabedlo.
Escrevo-te de noite, quando o silêncio é mais nu, quando as casas adormecem, quando a cidade mergulha na vastidão de um céu feito de escuras sombras, de saudades, apenas iluminado por fragmentos de sonhos, de segredos, de devaneios.
Pode alguém sentir afecto por quem não conhece, por quem talvez nunca conheça, por alguém feito de palavras, de silêncio? Talvez. Não sei. Sei tão pouco da explicação de coisas inventadas.
Poderia continuar a noite toda aqui a conversar contigo e, no entanto, sei bem, Leitor, que isto é conversa nenhuma. Soubesse eu cultivar o silêncio e apenas me deixasse ficar aqui à tua beira, Leitor, ouvindo a música que se solta da tua presença aí desse lado, tão perto de mim.
Mas agora vou despedir-me. Tenho que ir.
Mas agora vou despedir-me. Tenho que ir.
Recebe, Leitor, um abraço meu. E volta sempre, traz-me a tua companhia, traz-me o silêncio das palavras que eu o ouço aqui, deste meu lado, o silêncio que se desprende da tua respiração.
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É tardíssimo, distraí-me com as horas. Não vou reler pelo que peço que, por favor, relevem as gralhas que devem ter vindo em bando.
As fotografias mostram Lisboa, linda como só ela, mergulhada em azul, e o Tejo que a abraça. Fiz estas fotografias durante este fim de semana.
Melody Gardot canta Our love is easy.
O poema (que não está completo) é 'Se querían' de Vicente Aleixandre
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Relembro que, a seguir, há mais dois posts e eu tenho tanto sono que já não sou capaz de os anunciar.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.
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3 comentários:
Simplesmente, L I N D O !
Vitor
Canoas do Tejo
Carlos do Carmo
Canoa de vela erguida,
Que vens do Cais da Ribeira,
Gaivota, que andas perdida,
Sem encontrar companheira
O vento sopra nas fragas,
O Sol parece um morango,
E o Tejo baila com as vagas
A ensaiar um fandango
[refrão:]
Canoa,
Conheces bem
Quando há norte pela proa,
Quantas docas tem Lisboa,
E as muralhas que ela tem
Canoa,
Por onde vais?
Se algum barco te abalroa,
Nunca mais voltas ao cais,
Nunca, nunca, nunca mais
Canoa de vela panda,
Que vens da boca da barra,
E trazes na aragem branda
Gemidos de uma guitarra
Teu arrais prendeu a vela,
E se adormeceu, deixa-lo
Agora muita cautela,
Não vá o mar acordá-lo
e nesse abraço silencioso é grato sentir cumplicidade e a companhia
de muitos momentos.
Continue a deliciar-nos com os seus escritos, juntamo-nos à sua indignação contra os mentirosos vigaristas que tudo e todos desrespeitam e sorrimos com a vivacidade e gracinhas dos seus pimentinhas.
Obrigada pela companhia.
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