No post abaixo falo dos livros de Maria Filomena Mónica sobre o que se passa dentro das salas de aula. Antes, estive a dormir e, quando abri os olhos, estava ela a ser entrevistada. Pus-me logo esperta. Gostei imenso de a ouvir.
Sobre isso falo a seguir.
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Não foi feito em Portugal este vídeo que abaixo vos mostro até porque o que se passa em Portugal não é um problema especificamente português.
Talvez que a especificidade portuguesa resida na passividade bovina com que aceitamos tudo o que mesquinhas mas poderosas criaturas impõem a Portugal.
Enquanto nos outros países há uma revolta activa, quase uníssona, há um vigoroso cerrar de fileiras, aqui, bem comportados, doentiamente diplomáticos, criticamos quem se revolta, lamentamos quem ousa levantar a cabeça. Não é oportuno, não havia necessidade, dizem.
E, perante a boa educação, a gentileza e a cumplicidade das pias lusas almas, o mal vai alastrando.
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Afastada que estive do mundo durante dois dias, cheguei a casa com a cabeça a modos que esvaída e, ao cair no sofá, automaticamente apaguei.
Tenho esta facilidade. Trabalho durante horas impensáveis, suporto o stress, mantenho o ânimo mesmo perante a adversidade mas, quando me deito, o meu corpo desliga-se automaticamente. Ao fim de pouco tempo, acordo, fresca como uma alface.
Por exemplo, na quinta-feira à noite, no hotel, dormi como uma pedra. E dormi desde o preciso momento em que me deitei. De manhã, como usualmente, os meus colegas queixavam-se da cama, da almofada, da luz que entrava pela janela, do barulho do corredor. Eu nada. Acho que a cama devia ser maravilhosa bem como tudo o resto, dado que dormi de seguida, como uma pedra.
Apago: não dou por nada. Acho que deve ser a isto que se chama sono dos justos.
Mas, dizia eu, adormeci no sofá e acordei há pouco. Ainda deitada no sofá, vi a Filomena Mónica (e disso, como já referi, falo no post abaixo) e, depois, para saber a quantas anda o mundo, dei uma volta por alguns blogues. E, caraças, fiquei estupefacta.
Apela-se a que se ponha um travão nesta política criminosa (uma política de destruição de riqueza através de uma austeridade cega que suga a vida do país para a transformar em juros que são canalizados para bancos e que, ainda assim, não podendo ser todos pagos, se vão acumulando à dívida, atolando o país de uma forma que o deixam sem seiva, sem oxigénio, à mercê de golden visas a criminosos ou a quem quer que cá queira vir acoitar-se) - e algumas pessoas esclarecidas, em vez de apoiarem a iniciativa com ambas as mãos, põem-se com pruridos, tiques de tia controladora de bons costumes, remoques incompreensíveis.
Fico revoltada.
Um país em que os jovens ou emigram ou têm que se sujeitar a empregos escravizantes, em que os desempregados se sujeitam a todas as humilhações para poderem receber uma verba miserável, em que meio milhão de pessoas já não recebe qualquer verba, em que o trabalho é desprezado por um governo ultrajante, deveria unir-se e exigir respeito pelas pessoas.
As pessoas somos nós. As pessoas têm que ser respeitadas. As pessoas não são objectos descartáveis.
Já aqui o disse muitas vezes. Apesar de indecentemente esbulhada pelo fisco, sou uma privilegiada. Sei que sou e sinto-me abençoada e agradecida por isso. O que eu e o meu marido temos devemo-lo ao nosso trabalho - mas podíamos não ter sorte e, até aqui, temo-la tido. Mas não é por me sentir afortunada que deixo de imaginar o que é o sofrimento de quem é vilmente acossado, tendo que optar entre um livro ou comida, entre comprar medicamentos ou comida, ou que se levanta de manhã sem ter um objectivo na vida, uma ocupação, um trabalho remunerado.
Sou privilegiada sim e, por saber que o sou e por não suportar a ideia de que haja quem viva mal devido à estupidez, ignorância, maldade de um bando, não me cansarei de lutar contra o mal e a favor dos que pouco têm. Não me cansarei. Não me importarei que achem que sou pouco polida, que falo sem punhos de renda, que viro a mesa, que parto a louça, que bato com a porta. É verdade que sou assim mesmo e acho que ainda sou pouco. Soubesse eu o que mais fazer e mais faria.
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O filme que aqui vos vou mostrar é terrível. Terrível mesmo. Há uma solidão tremenda que se abate sobre aquelas tristes pessoas. Ou sobre nós.
É um filme que expressa bem a sociedade que estamos a permitir que se desenvolva sob o nosso olhar. Não podemos dizer que não sabemos. Sabemos.
Enfermeiras a recibo verde e em trabalho temporário que ganham uma miséria e que trabalham horas a fio, jovens licenciados que trabalham por uma miséria em call centers, tantos, tantos, tantos casos. Gente que fica desempregada aos 50 sem qualquer esperança mais na vida. Pessoas de idade que vêem as reformas cortadas e que, para sobreviverem, têm que ir de mão estendida aos filhos, apesar de saberem no sufoco em que eles também estão.
Que raio de país é este?
Que raios de portugueses somos nós que permitimos isto e em que alguns ainda se dão ao luxo de aparecer em público com remoques em relação aos que corajosamente ousam pedir o alívio para este sofrimento?
EL EMPLEO
'El Empleo' - Ganhador de 103 prémios internacionais
- Direcção: Santiago 'Bou' Grasso (argentino, desenhador, ilustrador e animador, formado pela Facultad de Bellas Artes da Universidad Nacional de La Plata)
- Ideia: Patricio Plaza
- Animação: Santiago Grasso / Patricio Plaza
- Produtora: Opusbou
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Relembro: sobre os livros de Maria Filomena Mónica com diários de professoras e alunas relativos ao que se passa nas salas de aula, é descer, por favor, até ao post seguinte.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, um bom fim de semana.
1 comentário:
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