Não gosto de transcrever artigos na íntegra pois pode parecer que quero usurpar o mérito alheio. No entanto, dois artigos que acabo de ler merecem-me tal apreço que me permito transcrevê-los quase na íntegra. Ou melhor, o primeiro deles, o de Paulo Baldaia, vou mesmo divulgá-lo todo pois tenho dificuldade em extrair parágrafos sem lhe retirar a força.
Lidos pela ordem que aqui vos mostro, talvez fique clara a explicação para a estupidez e desumanidade, para a canalhice política que tem o seu corolário na situação descrita por Paulo Baldaia: talvez tudo resulte, sobretudo, da maneira de ser dos fautores de toda a demencial e sangrenta estratégia que, tão laboriosa e insensivelmente, vem sendo levada a cabo, fautores esses de quem Pedro Marques Lopes fala no seu artigo.
Lidos pela ordem que aqui vos mostro, talvez fique clara a explicação para a estupidez e desumanidade, para a canalhice política que tem o seu corolário na situação descrita por Paulo Baldaia: talvez tudo resulte, sobretudo, da maneira de ser dos fautores de toda a demencial e sangrenta estratégia que, tão laboriosa e insensivelmente, vem sendo levada a cabo, fautores esses de quem Pedro Marques Lopes fala no seu artigo.
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Para acompanhar a leitura destes dois textos, que venha Yo-Yo Ma e interprete Bach
(Sarabande of the Six Suite for Unaccompanied Cello)
Dança sobre o gelo a cargo de Jane Torvill e Christopher Dean.
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Sexta, às nove - por PAULO BALDAIA
Sexta-feira, às nove da noite, estava em casa a ver um programa de reportagem na RTP com o nome que dá título a esta crónica. A essa hora fiquei com a certeza de que a sociedade faliu por decisão política. Há crianças pobres com necessidades especiais e com deficiências a quem o Estado está a recusar subsídios, que até aqui fornecia.
Para que não pareça apenas mais uma crónica contra a austeridade, devo recordar que eu sou dos que entendem que Portugal viveu acima das suas possibilidades, dos que entendem que o Estado tem de deixar de ter défices para poder pagar o que deve, dos que entendem que os cidadãos não podem exigir do Estado o que Estado não for capaz de pagar.
Mas não é do pagamento em auto-estradas que um dia foram grátis que estamos a falar. Nem sequer de cortes nas pensões e nos salários ou da brutal carga de impostos que queima em lume brando a classe média. É pior, muito pior. É a desistência de seres humanos que, pela sua fragilidade, mais precisam da nossa ajuda.
Eu pago impostos e pago-os com gosto por ver neles a vantagem de estar a contribuir para uma melhor redistribuição da riqueza, mas, acima de tudo, porque sei que há determinadas coisas que só o Estado pode resolver e que para isso precisa de dinheiro.
Na reportagem da RTP havia, por exemplo, uma criança de seis anos que estava a dar os primeiros passos no mundo das palavras (apenas dizia carro). A família, com um rendimento de 900 euros, viu recusado um subsídio de 300 para pagar uma das terapias de que a criança precisa. E a outra família com um rendimento de 620 também foi retirado o subsídio. Não estamos, portanto, a falar de o Estado recusar ajuda a uma família que tem rendimentos que dispensam esse apoio.
Sexta, às nove, fiquei a pensar em jornalismo e a desejar que aquela reportagem seja suficiente para os governantes corrigirem o tiro. Não consigo perceber como alguém consegue dormir tendo responsabilidade nesta matéria, nem entendo como pode algum político aceitar como opção cortar nos subsídios a crianças que, tendo nascido com necessidades especiais ou deficiência, vivem em famílias com carências financeiras.
Sim, eu sei, sabemos todos, que o dinheiro não chega para tudo.
Num país que tem mais de 300 mil desempregados sem qualquer rendimento ou subsídio do Estado, é evidente que, pelo menos temporariamente, deixar pessoas para trás e sem qualquer apoio é uma opção política que alguns consideram válida. Incluir neste pelotão de deserdados crianças que tiveram a dupla infelicidade de nascer com deficiência e em famílias carenciadas não é apenas uma questão política, é uma questão civilizacional.
E ainda querem falar de natalidade? Haja vergonha!
No DN
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A alma gémea - por PEDRO MARQUES LOPES
O Congresso do PSD da semana passada não teve propriamente muitas novidades.
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Apareceu Marcelo Rebelo de Sousa, que fez questão de se rir na cara de Passos Coelho, como quem diz: "Podes-me chamar cata-vento e tudo o que tu quiseres, mas não tens outro remédio senão apoiar a minha candidatura à presidência." Assim se encerra definitivamente o dossier candidato do centro-direita, para desgosto dos barrosistas e dos assessores políticos mais próximos de Passos Coelho que adorariam criar uma espécie de Sarah Pallin à portuguesa.
E, claro, o regresso de Miguel Relvas à política. Imagino que para quem teve tanto trabalho a tornar minimamente interessante um congresso sem assunto, a dar-lhe dinâmica e a tentar criar factos políticos, será duro perceber que o grande tema do evento foi o regresso de Relvas. Mas foi. As más notícias batem sempre as boas, já se sabe.
Há quem tenha dito, com alguma piada, que Passos Coelho está tão preocupado com uma eventual derrota, ou vitória demasiado curta, de António José Seguro, nas eleições europeias, que trouxe Miguel Relvas de novo para a política.
De facto, o antigo ministro é, para todos os portugueses e para grande maioria dos congressistas do PSD presentes no Coliseu - como se percebeu pela votação na lista que ele liderava -, o símbolo de algo que ninguém quer na vida política.
Ao contrário do que o primeiro-ministro possa pensar, ninguém se esqueceu das mentiras ao Parlamento, do patético processo da licenciatura, da inexistência dum pensamento político minimamente elaborado, dos truques, da RTP, da TAP, dos ditos por não ditos, dos negócios mal explicados.
Francisco Assis talvez não o faça, mas nada melhor para que Paulo Rangel perca votos do que recordar amiúde que Miguel Relvas o está a ajudar na campanha.
De facto, o antigo ministro é, para todos os portugueses e para grande maioria dos congressistas do PSD presentes no Coliseu - como se percebeu pela votação na lista que ele liderava -, o símbolo de algo que ninguém quer na vida política.
Ao contrário do que o primeiro-ministro possa pensar, ninguém se esqueceu das mentiras ao Parlamento, do patético processo da licenciatura, da inexistência dum pensamento político minimamente elaborado, dos truques, da RTP, da TAP, dos ditos por não ditos, dos negócios mal explicados.
Francisco Assis talvez não o faça, mas nada melhor para que Paulo Rangel perca votos do que recordar amiúde que Miguel Relvas o está a ajudar na campanha.
Agora parece que, afinal, estávamos todos enganados. Miguel Relvas encabeçou a lista, patrocinada por Passos Coelho, ao Conselho Nacional do PSD, principal órgão do partido entre congressos, mas não está de regresso à política.
Foi o próprio ex-ministro que o afirmou, na última sexta-feira, ao semanário Sol.
Foi o próprio ex-ministro que o afirmou, na última sexta-feira, ao semanário Sol.
A pergunta impõe-se: se Miguel Relvas vai para primeira figura dum órgão político mas não vai fazer política, vai para lá fazer o quê?
Há um lado quase ingénuo nas declarações do ex-político mas principal figura dum órgão político, atual consultor de empresas mas sem que se saiba que tipo de consultoria faz. Sim, obrigado pela lembrança, nós sabemos que há muita gente que está na política para tudo menos para fazer política.
Homens e mulheres para quem a política é uma maneira de arranjar contactos, oportunidades de negócio, empregos. Até para vender consultoria, às tantas.
Homens e mulheres para quem a política é uma maneira de arranjar contactos, oportunidades de negócio, empregos. Até para vender consultoria, às tantas.
(...)
O que mais perturba, porém, é ter um primeiro-ministro que tem como principal aliado, como alma gémea, como compagnon de route, alguém que está na política para fazer outra coisa qualquer que não política.
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As três últimas imagens são, como é fácil ver, da autoria do responsável pelo inspirado blogue We Have Kaos in the Garden
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1 comentário:
Isto é, no mínimo, miserável. Criminoso! Este governo, no seu todo - porque todos concordam, caso contrário demitiam-se, perante este tipo de medidas de barbárie – é um bando de criminosos. Isto não se faz! É aviltante! Mas, infelizmente, nem Belém está atento, nem quer saber. Nem a o Oposição, sobretudo do PS (por ser Poder amanhã) – que não tem reacção.
Este Governo bateu no mais fundo da lama. É asqueroso! Abjecto. E quem o apoiar é igualzinho a eles.
Isto dói!
P.Rufino
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