1. Os maravilhosos enigmas da matemática e a minha relação de amor com a dita
Li um post, escrito por José Ferreira Borges, um filósofo (acho eu que ele é filósofo; se não é, parece), que começava assim: Dividindo por zero a unidade, Bhaskara obtinha o imperceptível infinito.
Encantei-me logo. A matemática tem mistérios muito atraentes, acho que é isso que tanto me faz gostar dela.
De facto, não é apenas a divisão de um por zero que dá infinito: qualquer número a dividir por zero dá infinito. Pensemos no enigma maravilhoso que é isto: um número ao ser dividido zero vezes transformar-se em infinito... Não é extraordinário? Era um número simples, banal, um 3, por exemplo e, de repente, só porque tentou repartir-se zero vezes, agigantou-se e transformou-se num imenso infinito. Mas o que significa dividir por zero? O enigma começa logo aí.
Se eu tiver seis laranjas e as dividir por 3 pessoas, cada pessoa fica com 2 laranjas. Se as dividir por seis pessoas, cada uma ganha 1. Se, pelo contrário, as dividir apenas por 1 pessoa, essa pessoa fica com as laranjas todas. Mas se as dividir por 0, eis que as laranjas se transformam em infinito. Talvez um imenso mar de laranjas, sem princípio nem fim.
Em matemática não há um único infinito: há o mais infinito e o menos infinito. Consegue alguém visualizar o que será isso? Um em expansão, qualquer coisa imensa, crescendo, crescendo sem parar, sem limites, para além do que materialmente imaginável. O outro, o menos infinito, a desaparecer, a regredir, quase nada, mas sem atingir esse inacessível nada.
Toda a matemática é assim. Tão depressa é uma coisa normal, própria para pessoas normais, como se transforma em matéria quase inatangível (... vagamente acessível mas só a poetas, a sonhadores, a loucos).
O texto acima referido acaba assim: O desejado instante copiara o infinito: surgira sem o dizer, durara sem se mostrar, partira sem ser notado.
Que maravilha.
Objectos sem limites, leis que regem comportamentos abstractos, movimentos invisíveis, instantes indizíveis. A beleza em estado puro.
Há quem tenha em relação à matemática uma aproximação estudiosa, seguindo a lógica, encadeando raciocínios na tentativa de demonstrar o que alguém estabeleceu (ou sonhou). Nunca foi essa a minha abordagem. Sou muito intuitiva, não gosto de seguir o raciocínio dos outros, gosto de percorrer os meus próprios caminhos. Perante tratados enormes, cheios de teorias, eu espreito em diagonal. Antes, tal como agora. Prefiro, antes, conhecer a vida de quem fez as descobertas. Gosto de perceber como pensavam, como viviam, os fracassos, as decepções. Gosto de perceber a utilidade prática das descobertas, a lógica intrínseca das coisas. E depois o assunto fica por minha conta, reinterpreto-o, deixo-me levar pela minha intuição. Mas tem que ser na hora, se houver motivo para isso.
Claro que, enquanto estudava, esta minha maneira de ser trouxe-me alguns amargos de boca. Quem estudava comigo, frequentemente passava-se, parecia que eu não estudava. Toda a gente a estudar, dias a fio fechados em casa a estudar, e eu a laurear, a namorar. Depois, nos intervalos, espreitava os calhamaços, tentava descortinar alguns enigmas mais obscuros. De véspera sentia-me aterrorizada, achava que não sabia nada, arrependia-me, jurava a mim mesma que, da próxima, ia estudar, marrar, fazer directas, essas coisas que eu nunca fiz.
Quando recebia os testes, tinha muitas vezes a sensação de ser chinês de uma ponta a outra. Mas depois, recompunha-me, respirava fundo, e deixava-se imbuir pelo espírito do momento, entrava em fluxo, tal como quando estou aqui a escrever. As ideias a fluirem directamente da cabeça para a ponta dos dedos e eu, no meio, a assistir.
Quando saía da sala onde decorriam os testes, não era capaz de me lembrar com precisão do que tinha feito nem sabia se me tinha corrido bem ou mal.
Nem sempre me dei bem, claro. Nos cursos, mesmo no meu, há matérias que têm que ser memorizadas. Isso para mim é fatal. Nessas matérias, o que ficava, ficava, o que não ficava paciência. Já no liceu era a mesma coisa. Aliás tive a mesma média desde que entrei no liceu até que acabei a licenciatura. Nas matérias que requeriam estudo aturado, tive catorzes, se tinha algum quinze já era uma festa, tive mesmo um ou outro treze e, creio, um doze. Nas outras estava nas minhas sete quintas, tinha dezassetes, dezoitos, um ou outro dezanove, dois vintes.
Pouco me ficou, acho eu, porque, de facto, nem na altura, alguma coisa lá estava. O que está e sempre esteve é o gosto por apanhar as ideias no ar e ir atrás delas, tentar percebê-las, tentar reinventá-las, captar a essência das coisas, imaginas a beleza invisível das coisas.
Adiante.
2. Os enigmas da actual (des)governação. O que se passa é normal? Ou estamos a ser umas inofensivas (e, até, amorosas) cobaias?
Leio que Estado tem 5,5% do PIB disponíveis no banco central. Uma reserva de liquidez é uma almofada de segurança que chegaria para financiar o défice orçamental deste ano.
Claro que fico admirada com o volume de poupança numa altura em que o país ajoelha, rendido. Não sei se esta verba é normal, nem sei quanto era antes deste governo de predadores amorais ter chegado ao poder. Tenho que tentar saber. Mas vejo que Pedro Lains também está admirado.
Transcrevo: Quanto dinheiro tem o Estado português depositado no Banco de Portugal, na Parpública ou no Tesouro? Quantos fundos têm sido postos de lado por este Governo, pelo Ministro das Finanças? A comparação histórica é só uma: Salazar acumulou ouro durante anos, sendo muito criticado por isso por muitos economistas, alguns ainda vivos, embora no silêncio da censura. E embora nessa altura não fosse muito grave, pois a economia crescia e muito. Agora não se pode acumular ouro. Mas, e este Governo, tem ou não entesourado? Se sim, para quê? Poderão ser várias as razões, incluindo para gastar em eleições. Mas posso estar completamente enganado (...).
Assunto a seguir. Com muita sorte descobriremos a explicação para este mistério.
3. As décimas da recessão que o benfiquista Gaspar não valoriza. Décimas? A quem é que umas míseras décimas tiram o sono? ... sobretudo se nos abstrairmos que as décimas são milhares de pessoas desempregadas, empresas falidas, velhos sem dinheiro para a comida e para os medicamentos, crianças que vão para a escola cheias de fome.
Ora, o facto de o Estado português ter no final de Abril nove mil milhões de euros depositados no Banco de Portugal é tanto mais estranho quando se conhecem as previsões da OCDE: recessão mais profunda, derrapagem no défice nominal e dívida acima de 130%. E no dia em que a Governadora do Banco de Portugal, Teodora Cardoso, alerta para a trajectória explosiva da dívida.
Mistérios.
Claro que o Gaspar, que é o que se sabe, desvaloriza as previsões da OCDE tal como desvaloriza os alertas de toda a gente. São décimas de diferença, diz ele, são décimas que ele diz que não valoriza. Razões tinha o outro para dizer que o Gaspar é um psicopata social. Para ele uma recessão mais grave do que o previsto são décimas - não são pessoas desempregadas, empresas falidas, toda a gente mais pobre.
Há uma dúvida que eu tenho: um sujeito que arruina um país, que destrói milhares de milhões de euros, que desgraça a vida de tanta gente, persistindo nisto apesar de estar bem visível o descalabro e apesar de estar avisado por toda a gente, que endivida o país de forma explosiva (e não é por ter feito obras, que essas ficam), não deveria ser objecto de um processo crime? Se alguém roubar dinheiro a outra pessoa não é julgado e, se for provado, não é acusado? Então este que nos rouba a todos, que destrói tudo, que o faz com dolo, com intenção, não deveria ser acusado, julgado?
Se a justiça não actua num caso destes, em que há um flagrante à vista de todos, então que raio de justiça é esta?
4. Os negócios com fundos comunitários da empresa do Relvas, a ONG do amigo Passos Coelho, debaixo de investigação. Amigos são para as ocasiões e as administrações e as comissões e as assessorias estão cheias de gente assim
Ficámos também a saber que União Europeia investiga negócios de Relvas e Passos. Empresa Tecnoforma e a ONG Centro Português para a Cooperação estão a ser investigadas pelo Gabinete da Luta Antifraude da União Europeia por má utilização de fundos comunitários.
Gente fina. Uma vergonha para o País estar a ser governado por um sujeito destes e que tinha por braço direito um Relvas que era o que se sabia.
Esta é a nata do PSD que ocupa como um vírus nefasto tudo onde toca.
Outra: Gestores propostos pelo Governo para a Parque Escolar foram chumbados, um por ter “um percurso profissional assente na rede de contactos pessoais” e outro por evidenciar preferência pela “autovalorização pessoal”.
Nata? eu disse nata? Qual nata: isto é a borra, uma borra infecta.
***
Fico-me por aqui. Esta quinta feira tenho que me levantar cedo. Vou estar dois dias fora em trabalho. A esta hora já devia estar a dormir para aguentar a viagem e as maratonas de reuniões, almoços e jantares que me esperam. Não sei se à noite consigo escrever alguma coisa. Logo vejo.
Não vou reler o texto porque me saíu muito longo e porque também já estou com sono. Relevem qualquer coisinha, ok?
***
Desejo-vos, meus caros leitores, um belo dia.
Saúde, alegria e amor seria bom mas, não podendo ter de tudo com fartura que, ao menos, haja sorte e disponibilidade para ver o lado belo da vida.
2 comentários:
A matemática é, de facto, um mar de mistérios e o infinito é um deles; até quando o 8 de deita se transforma em infinito, o mesmo acontecendo com dois zeros copulando!
Beijinho
Levanta aqui uma questão bastante pertinente e interessante, do ponto de vista jurídico e, até, do âmbito judicial, que é o da responsabilização criminal, ou penal, de um político, que, no exercício, ou desempenho das suas funções, possa, serenamente, levar um país á ruína, económico-financeira. Como é o caso de Victor Gaspar. O conteúdo, ou substância, do articulado do nosso Código Penal, que prevê e pune a Administração (ou gestão) Danosa (Artº 235º), foi redigido de uma forma que dificulta, em princípio, ou em teoria, mas não torna impossível (na minha interpretação) - de ser de considerar a hipótese da acusação de "administração danosa", contra o Ministro das Finanças e, assim, ser passível de uma participação criminal. Há várias opiniões (jurídicas e constitucionais), pareceres e acordãos, não a pensar, naturalmente, na actuação de Gaspar, que, pelo interesse que revestem, merecem ser avaliadas e estudadas. Todavia, ao ler tudo aquilo e com o devido respeito que tão Doutas (e relevantes) opiniões nos devem merecer, a conclusão a que se chega é de que, o caso Gaspar, apesar de tudo, poderia vir a configurar uma situação particularmente diferente, no plano jurídico e, nesse sentido, judicial e, assim, passível de poder vir a integrar o crime de gestão/administração danosa. Uma Participação criminal deste tipo deveria, em minha opinião, após a necessária fundamentação de carácter penal e jurídica (o que não é assim tão difícil como possa parecer), ser entregue no DCIAP, ou na própria Procuradoria-Geral da República e não no DIAP em Lisboa. Em princípio, visto o Denunciado ser de um membro do Governo, a exercer as funções de Ministro e Estado, deveria a dita Participação ser entregue na PGR – todavia, nada impede, no caso vertente, que possa, igualmente, ser, porventura, encaminhada ao DCIAP. Enfim, fica o “desafio”, ou pergunta, a partir de uma ideia curiosa e interessante aqui levantada. E que subscrevo – inteiramente. Na verdade, a destruição do País, da responsabilidade de Victor Gaspar, o Ministro das Finanças, como igualmente escreveu e muito bem MST, outro dia no Expresso (sobre se pode um homem sózinho destruir um país), sobretudo com a dimensão social, económica e até financeira que é conhecida (os números falam por si) deveria, por que não, ser objecto de apreciação do Ministério Público, com vista a uma eventual constituição de arguido de V.G. Os políticos, quando as suas decisões são transformadas em Decretos-Lei e as mesmas vêm a ter consequências catastróficas e gravíssimas no plano económico e social, arruinando uma esmagadora maioria de pessoas, singulares e igualmente colectivas, deveriam ser colocados perante a Justiça. A Islândia, embora com contornos diferentes, assentes na actuação da Banca, não hesitou em julgar os responsáveis políticos pelo que lhes sucedeu.
E em Portugal como é?
P.Rufino
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