Algum afecto para Lídia
Radu Marian, um soprano masculino interpreta a área de Bononcini Affettusoso-Rittornello
Na noite desse dia em que se foi encontrar com Paulo, Lídia afundou-se em desânimo, em arrependimento, em tristeza. Quando Nita chegou já ela se tinha deitado. Nem conseguiria falar-lhe no que tinha acontecido, Nita iria rir-se e concluir que não tinha acontecido nada. Mas tinha, tinha acontecido tanta coisa. Os sentimentos estavam exacerbados e contraditórios. A cabeça não retinha o mesmo pensamento por mais que escassos segundos, tudo se atropelava. Sem sequência, sem lógica, sem sossego, Lídia lastimava-se, acusava-se, e ora era por ter feito tão pouco, ora era por ter feito demais, ora sorrindo, ora chorando, ora querendo, ora temendo. Uma mulher solitária perdida dentro de um interior em remoinho. Tanto ouvia as vozes das colegas, os homens não prestam, é tudo farinha do mesmo saco, como as vozes que sonhavam com noites de amor, com gestos de carinho. E depois vinha o lado prático. Tudo impossível com uma mãe assim. Qual o homem que quereria meter-se ali em casa com uma mãe que grita, que insulta, que mente, que chora, que não sabe quem é, com quem está a falar, que usa fraldas, que tem que ser lavada, deitada, levantada? Ela, numa situação inversa, não o quereria, nem pensar.
A meio da noite acordou sobressaltada, uma vez mais não tinha pago o dinheiro que devia a Paulo. Tinham-se despedido à pressa, como se estivessem ambos a fugir de qualquer coisa. Mas, acto contínuo, agarrou-se a isso, podia ser o pretexto para voltar a vê-lo. Mas, nessa altura, reprimiu-se, um homem divorciado com uma filha, um mulherengo, amigo da pouca-vergonha, horários esquisitos. Para mais problemas, estava melhor assim, sozinha, sem chatices.
Mas a expressão séria de Paulo, quase dobrado na sua direcção, conversando em voz baixa, os braços fortes de Paulo tão perto dos seus, tudo aquilo não lhe saía da cabeça, e a atenção dele, o cuidado persistente que mostrava, tudo a enternecia. E excitava. De repente, o seu corpo parecia despertar de uma longa letargia.
No dia seguinte foi ao médico, a consulta estava marcada. A baixa estava prestes a acabar e Lídia queria voltar ao trabalho mas, ao mesmo tempo, estava receosa.
Quando se estava a preparar para sair, reparou no papel com o número de contacto daquelas voluntárias de que Paulo tinha falado. Sem pensar, quase se sentindo afoita, ligou. Atendeu-a uma voz feminina que lhe fez umas perguntas. No fim, combinaram que Lídia passaria por lá para conversarem melhor.
Quando se estava a preparar para sair, reparou no papel com o número de contacto daquelas voluntárias de que Paulo tinha falado. Sem pensar, quase se sentindo afoita, ligou. Atendeu-a uma voz feminina que lhe fez umas perguntas. No fim, combinaram que Lídia passaria por lá para conversarem melhor.
Antes de entrar no consultório hesitou, não sabia se estava em condições de ter alta. Não sabia, tinha medo.
O médico insistiu em mais duas semanas de baixa, que ela não se recriminasse porque não era descanso, era tratamento, que ela tinha que repor as reservas emocionais, tinha que organizar a logística da sua vida, só queria que fosse trabalhar quando a sua vida decorresse em velocidade cruzeiro, sem permanentes excessos de trabalho e de preocupação, quando as crises de choro já fossem apenas esporádicas, quando a vida tivesse um propósito para além do de cuidar da mãe. Queria também começar a preparar a redução e substituição da medicação.
O médico insistiu em mais duas semanas de baixa, que ela não se recriminasse porque não era descanso, era tratamento, que ela tinha que repor as reservas emocionais, tinha que organizar a logística da sua vida, só queria que fosse trabalhar quando a sua vida decorresse em velocidade cruzeiro, sem permanentes excessos de trabalho e de preocupação, quando as crises de choro já fossem apenas esporádicas, quando a vida tivesse um propósito para além do de cuidar da mãe. Queria também começar a preparar a redução e substituição da medicação.
Quando saíu de lá, Lídia dirigiu-se à Junta de Freguesia cujas instalações serviam de ‘poiso’ às voluntárias. A conversa correu muito bem e a senhora com quem falou combinou passar por casa dela no início da semana seguinte para poder avaliar melhor a situação. Lídia saíu de lá mais animada e, com o sol que estava, o ar de outono suave no ar, apeteceu-lhe estar vestida de cores claras, apeteceu-lhe ter um vestido de renda ou de flores, uma saia que esvoaçasse com a aragem, um decote alegre, apeteceu-lhe sorrir. Mas já mal sabia sorrir.
Durante todo o tempo, as palavras do médico não lhe saíam da cabeça, deixe de ter pena de si, deixe de se pôr para trás, esforce-se por ser dona da sua vida, perceba que tem que viver a sua vida e não apenas a da sua mãe, perceba que o tempo não anda para trás, se não se apressa quando perceber isso já pode ser tarde demais.
Mal chegou a casa, foi ver a mãe, então mãe, como está? e a mãe, esteve aí uma senhora, acho que era a minha mãe, deu-me o lanche e disse que não queria mais gatos cá em casa, por isso você, se faz favor, feche aí a janela. Lídia encolheu os ombros, deu-lhe o lanche, ajeitou-lhe a manta sobre os joelhos.
A seguir descalçou-se, abriu a janela de par em par e ficou a olhar a rua, a respirar o ar da rua.
Depois virou as costas ao ar de liberdade que vinha de fora, triste, que vida a minha. Fechava os olhos e inspirava profundamente.
E as palavras do médico a martelarem, tem que viver a sua vida e não apenas a da sua mãe, perceba que o tempo não anda para trás, se não se apressa quando perceber isso já pode ser tarde demais.
Então, sem pensar, ligou a Paulo, o coração logo em sobressalto. Ele não atendeu. Suspirou, felizmente…! Mas era decepção que sentia quando foi beber um copo de leite, comer uma bolacha, estava com fome. E sempre aquela vaga ansiedade como se alguma coisa de mal estivesse para acontecer.
Ainda estava com a roupa da rua, foi mudar-se.
Quando chegou ao quarto, abriu a porta do roupeiro, viu-se ao espelho. Magra, com olheiras, sem graça, triste, cada vez mais cabelos brancos.
Despiu a blusa. Descarnada, os ossos à vista, a pele muito branca. Depois despiu o soutien. Os pequenos peitinhos quase de menina pareciam-lhe infelizes, inúteis. Deu-lhe pena, lamentou em pensamento, nunca foram tomados por uma mão de homem. Pensou, como será que os homens mexem no peito de uma mulher? E com as suas mãos agarrou os seios, sentiu-os, leves, frios. Olhava-se ao espelho enquanto as mãos acariciavam os seios, tentava olhar os próprios olhos querendo perceber se denotariam alguma excitação. Mas os seus olhos fugiam de si.
Depois despiu as calças e ficou assim em frente do espelho. Imóvel, silenciosa, corpo de adolescente, um corpo cheio de inocência. Depois reparou que, em cima, junto às virilhas, as pernas tinham já alguma flacidez. Lídia sentiu pena. Não seria capaz de se despir em frente de um homem, sentiria vergonha, um corpo já sem brilho, as ancas sem viço. Então, reparou que os mamilos estavam erectos, rosados, cheios de vida. Fechou as mãos em volta de cada seio e sentiu os mamilos impacientes na palma das mãos.
Retirou as mãos, que parvoíce, e sentiu vergonha.
Afastou o cabelo da testa como se quisesse afastar da ideia o que tinha estado a fazer mas pensou que era bom se tivesse sido um homem a fazer isso, um pequeno gesto de carinho, um suave toque no cabelo. Ou na pele. Ou nos seios. Ou nos mamilos, agora rosados como rebentos de rosa, como pequenos botões atrevidos.
Vestiu-se. Sentia-se ainda vagamente envergonhada, ainda vagamente excitada. E ali se deixou ficar sentada, sem conseguir fixar-se num pensamento, perdida.
Passado um bocado, o telemóvel e Lídia de novo com as pulsações a mil. Ligou-me, não foi? perguntou ele, a sua bela voz forte. E Lídia, já hesitante, pois foi, é que ontem esqueci-me outra vez de lhe pagar, até já tenho vergonha. Paulo riu, ah sim, é caso mesmo para isso. Até já tinha pensado em vestir um fraque e aparecer-lhe aí à porta. Lídia teve vontade de sorrir. Mas o medo, sempre o medo, tolheu-lhe os movimentos. E ouviu-se a dizer, se quiser dizer o número da sua conta, eu vou ao banco e deposito. Paulo riu, acho muito bem, vai ao banco e faz um depósito de quarenta euros. Sim senhora. E veja se diz lá no banco que é uma coisa urgente. Mas já agora a ver se se engana e escreve uns zeros a mais, dava-me mesmo jeito. Lídia quase sorriu.
A seguir descalçou-se, abriu a janela de par em par e ficou a olhar a rua, a respirar o ar da rua.
Depois virou as costas ao ar de liberdade que vinha de fora, triste, que vida a minha. Fechava os olhos e inspirava profundamente.
E as palavras do médico a martelarem, tem que viver a sua vida e não apenas a da sua mãe, perceba que o tempo não anda para trás, se não se apressa quando perceber isso já pode ser tarde demais.
Então, sem pensar, ligou a Paulo, o coração logo em sobressalto. Ele não atendeu. Suspirou, felizmente…! Mas era decepção que sentia quando foi beber um copo de leite, comer uma bolacha, estava com fome. E sempre aquela vaga ansiedade como se alguma coisa de mal estivesse para acontecer.
Ainda estava com a roupa da rua, foi mudar-se.
Quando chegou ao quarto, abriu a porta do roupeiro, viu-se ao espelho. Magra, com olheiras, sem graça, triste, cada vez mais cabelos brancos.
Despiu a blusa. Descarnada, os ossos à vista, a pele muito branca. Depois despiu o soutien. Os pequenos peitinhos quase de menina pareciam-lhe infelizes, inúteis. Deu-lhe pena, lamentou em pensamento, nunca foram tomados por uma mão de homem. Pensou, como será que os homens mexem no peito de uma mulher? E com as suas mãos agarrou os seios, sentiu-os, leves, frios. Olhava-se ao espelho enquanto as mãos acariciavam os seios, tentava olhar os próprios olhos querendo perceber se denotariam alguma excitação. Mas os seus olhos fugiam de si.
Depois despiu as calças e ficou assim em frente do espelho. Imóvel, silenciosa, corpo de adolescente, um corpo cheio de inocência. Depois reparou que, em cima, junto às virilhas, as pernas tinham já alguma flacidez. Lídia sentiu pena. Não seria capaz de se despir em frente de um homem, sentiria vergonha, um corpo já sem brilho, as ancas sem viço. Então, reparou que os mamilos estavam erectos, rosados, cheios de vida. Fechou as mãos em volta de cada seio e sentiu os mamilos impacientes na palma das mãos.
Retirou as mãos, que parvoíce, e sentiu vergonha.
Afastou o cabelo da testa como se quisesse afastar da ideia o que tinha estado a fazer mas pensou que era bom se tivesse sido um homem a fazer isso, um pequeno gesto de carinho, um suave toque no cabelo. Ou na pele. Ou nos seios. Ou nos mamilos, agora rosados como rebentos de rosa, como pequenos botões atrevidos.
Vestiu-se. Sentia-se ainda vagamente envergonhada, ainda vagamente excitada. E ali se deixou ficar sentada, sem conseguir fixar-se num pensamento, perdida.
Passado um bocado, o telemóvel e Lídia de novo com as pulsações a mil. Ligou-me, não foi? perguntou ele, a sua bela voz forte. E Lídia, já hesitante, pois foi, é que ontem esqueci-me outra vez de lhe pagar, até já tenho vergonha. Paulo riu, ah sim, é caso mesmo para isso. Até já tinha pensado em vestir um fraque e aparecer-lhe aí à porta. Lídia teve vontade de sorrir. Mas o medo, sempre o medo, tolheu-lhe os movimentos. E ouviu-se a dizer, se quiser dizer o número da sua conta, eu vou ao banco e deposito. Paulo riu, acho muito bem, vai ao banco e faz um depósito de quarenta euros. Sim senhora. E veja se diz lá no banco que é uma coisa urgente. Mas já agora a ver se se engana e escreve uns zeros a mais, dava-me mesmo jeito. Lídia quase sorriu.
E então ouviu, como num sonho longínquo, a voz de Paulo que dizia, amanhã é sábado, dia em que costumo ir a casa dos meus pais, como lhe disse não é longe daqui, vou lá tratar da horta, regar, apanhar uvas, desbastar o mato. O que diz a ir comigo, dar-me uma ajuda? e lá logo acertamos contas. Lídia sentiu o coração quase a saltar-lhe do peito, a cabeça a latejar, um medo frio a percorrer-lhe o corpo. Não foi capaz de dizer o que quer que fosse.
Paulo continuou, ia distrair-se, aquilo é ar puro, é saudável, ia fazer-lhe bem. Lídia pensou que nem pensar, não podia aceitar o convite, o que iam dizer na rua? e a mãe? quem é que ficava com ela? que ideia mais disparatada, o homem é mesmo descarado. Nem pensar, nem pensar. Mas não tinha força para dizer que não e já as lágrimas lhe assomavam aos olhos pelo não que ia acabar por conseguir dizer.
Paulo continuava, eu é que costumo levar as coisas para o almoço, antes de ir passo no mercado, amanhã compro peixe a contar consigo, vou ver se arranjo peixe para assar lá no fogareiro. Gosta de peixe assado? E já a Lídia as lágrimas escorriam pela face, há quanto tempo não comia peixe assado no fogareiro, assim em família? Mas nem pensar, ia lá meter-se num carro com um desconhecido, um homem divorciado com uma filha, um maluco mulherengo, um sabido, nem pensar, nem pensar.
Paulo continuava, olhe até vou dizer à minha mãe para fazer arroz doce que ela faz um que é do melhor que há. Gosta de arroz doce? E Lídia sorriu por entre as lágrimas, a mãe, antes, fazia um arroz doce tão bom, com corações desenhados a canela. Mas não disse nada.
Paulo continuou, leve é um casaco que aquilo lá às vezes esfria. Mas olhe, veja lá aí com as suas ajudantas se podem tomar conta da sua mãe.
Lídia pensava, não preciso de ver coisa nenhuma porque não vou, é um convencido, julga que me tem na mão, julga que me dá a volta; nem pensar, nem pensar.
Depois Paulo disse, pronto, agora não diz nada... mas, olhe, quem cala consente. Sendo assim, passo por aí para a apanhar às dez da manhã. E esperou. Lídia tinha um nó na garganta, um nó no coração, as mãos geladas e trémulas, não foi capaz de falar. Paulo concluiu, está certo: calou, consentiu. Está combinado, então. Esperou um pouco. Lídia muda, coração acelerado, aflita, tenho que dizer que não, tenho que dizer antes que desligue. Mas não conseguiu dizer.
Paulo desligou.
Lídia deixou-se cair pesadamente numa cadeira. E agora? E tapou a cara com as mãos, cheia, cheia de vergonha; e muito assustada.
Depois, foi de novo até ao quarto e, enervada, trémula, começou a escolher a roupa que levaria. Mas hesitava, já tinha a cama cheia de calças, blusas, casacos: não sabia; desistia, perguntaria a Nita.
Antes de sair do quarto, puxou o cabelo para trás, olhou-se ao espelho e, então, com surpresa viu que sorria.
Pela primeira vez desde há muitos anos, Lídia sorria.
Era apenas um esboço de sorriso mas, sem saber bem porquê, sentia que tinha razões para sorrir.
Relembro que se quiserem ler esta história (que já vai longa) desde o início, podem procurar aí do lado direito, lá mais para baixo, a etiqueta que diz 'Lidia - a mulher triste'.
Permito-me, ainda, convidar-vos a deslocarem-se até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje inicio a semana dedicada a Corelli e as minhas palavras vestem-se de noite e nem me perguntem porquê, em volta de um poema de Manuel Alegre.
Paulo desligou.
Lídia deixou-se cair pesadamente numa cadeira. E agora? E tapou a cara com as mãos, cheia, cheia de vergonha; e muito assustada.
Depois, foi de novo até ao quarto e, enervada, trémula, começou a escolher a roupa que levaria. Mas hesitava, já tinha a cama cheia de calças, blusas, casacos: não sabia; desistia, perguntaria a Nita.
Antes de sair do quarto, puxou o cabelo para trás, olhou-se ao espelho e, então, com surpresa viu que sorria.
Pela primeira vez desde há muitos anos, Lídia sorria.
Era apenas um esboço de sorriso mas, sem saber bem porquê, sentia que tinha razões para sorrir.
**
Relembro que se quiserem ler esta história (que já vai longa) desde o início, podem procurar aí do lado direito, lá mais para baixo, a etiqueta que diz 'Lidia - a mulher triste'.
Permito-me, ainda, convidar-vos a deslocarem-se até ao meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair. Hoje inicio a semana dedicada a Corelli e as minhas palavras vestem-se de noite e nem me perguntem porquê, em volta de um poema de Manuel Alegre.
**
E nada mais. Apenas desejar-vos um dia muito feliz.
13 comentários:
Amiga:
Conseguiu que eu visse Lídia, como alguém vivo. Penso nela, em modos de a ajudar, até penso em lhe dar conselhos. Tornou-se uma amiga querida, cheia de problemas. Vai ser difícil esquecê-la, quando a história acabar (ou começar?).
Vai Lídia! Agarra um pouquinho de felicidade! Não te feches na amargura em que vives.
É, Amiga. Sou boa a dar conselhos, mas não a aproveitá-los para mim.
Abraço para si e para a Lídia.
Maria
Olá amiga,
Faz tempo que não a abraço,mas não deixo nunca de a visitar. Por vezes a vida está mais complicada e não há tempo para dar a quem merece o tempo necessário.
Tenho adorado, como sempre, tudo o que escreve. Escuso de lhe dizer que os seus comentários à vida nacional são sempre muito elucidativos e ao desvendarem o seu estado de alma, dão-nos a possibilidade de captarmos os seus vastos conhecimentos. Sensível, concisa e precisa. Quem dera que estes sentimentos fizessem parte do perfil dos nossos governantes.
Quanto à Lídia, estou a adorar. Embora não interiorize o seu isolamento, tive a má mas grata experiência de acompanhar minha mãe até ao fim da sua vida e digo-lhe, é desgastante e confrangedor, mas devo dizer-lhe que, por outro lado, se tem uma sensação do dever cumprido, quando os seus olhos por vezes, deixavam a tristeza e revelavam o amor e carinho com que sempre nos tratámos mutuamente.
Espero que a sua esperança para o nosso país se torne a nossa realidade bem depressa, porque também eu vivo na expetativa de poder ainda ver um futuro mais risonho, se não para nós, para os nossos filhos e netos.
Abraço apertado e um grande beijinho
Teresa
Percebo o Paulo.
A Kristin Scott Thomas tem uma beleza que não se explica, sente-se.
Abraço
Olá Mary,
Comigo acontece o mesmo: gostava de saber onde ela mora para me pôr em campo a tentar descobrir associações de apoio a idosos ou a doentes com a doença de Alzheimer, grupos de voluntariado, etc. Há cada vez mais grupos que praticam voluntariado.
No entanto, ainda não há assim tantos grupos dedicados a casos destes, de pessoas doentes dependentes.
Quando se fazem inquéritos a perguntar para que tipo de actividades estaria a pessoa para fazer voluntariado, a maioria das respostas vai para actividades ligadas as crianças ou jovens. Compreende-se. Tratar de idosos e, especialmente, doentes dependentes requer um grande 'estofo'. Mas, seja como for, há pessoas que dão algum do seu tempo e carinho na ajuda de casos assim. Por isso, quem tenha casos destes deve procurar ajuda.
De resto, sendo uma lutadores como sou, quero ver se consigo que Lídia se vá libertando dos seus 'travões' invisíveis e consiga arranjar forma de ter alguma disponibilidade para ela própria, para ser feliz.
Mas tem sido uma luta, Mary, porque, apesar de ser apenas uma personagem, vejo-me aflita para a conseguir largar as inibições e medos.
Gostei muito do que escreveu e, em particular, que tenha enviado um abraço também para ela. É um abraço para todas as mulheres na situação de Lídia.
Muito obrigada, Mary! Um abraço também para si.
Olá Teresa-Teté,
Ainda estou em estado de choque com a ameaça de novo roubo por parte deste Governo. Os tempos não estão fáceis. Temo por nós, pelos nossos filhos, pelos netos. Se esta gente não é posta aí num quarto fechado, sem comunicações, isolados, amarrados, açaimados, não sei o que será de nós.
Ando com vontade de escrever sobre a Lídia, farto-me de pensar em como tornar a vida dela mais leve, mais feliz. Mas 'cenas' como a conferência de hoje do Gaspar tiram-me do sério. Não sei o que fazer para reagir a uma destas, estou furiosa. Isto tudo é de uma tal estupidez que já passa dos limites.
Por isso, acho que hoje vou ter que falar nisto em vez de continuar a história de Lídia.
Tratar de um pai ou mãe doente, dependente, durante muito tempo é, como diz, desgastante. Mas quando o idoso é, também, demente, a coisa fica ainda mais pesada pois os trabalhos são redobrados e o reconhecimento é nulo.
Talvez por isso, escrever sobre Lídia é, para mim, também muito pesado. Compreendo que ela se sinta esgotada, sem vontade de qualquer outra coisa. Se a isto juntarmos inibições que vêm de trás, teremos uma mulher muito triste.
Mas, já que, sozinha, não consigo dar a volta à situação dramática do País, a ver se, ao menos, consigo dar a volta à vida de Lídia.
Agradeço o seu abraço e o seu beijinho, Teresa-Teté, e muito obrigada pelas suas palavras!
Olá jrd,
Comecei com as mulheres infelizes de Lucian Freud mas, agora que quero puxar a Lídia para o lado mais luminoso da vida, já não tinha mulheres felizes pintadas pelo mesmo pintor de forma a dar uma certa continuidade.
Por isso, optei por ir buscar a Kristin Scott Thomas, que muito admiro como artista, e que tem um rosto versátil que exprime muito bem a tristeza e o vazio mas que evolui 'bem' para outros estados de alma.
Já numa história anterior usei a sua imagem. Tem uma fragilidade prestes a derrapar para o pecado e isso agrada-me enquanto personagem.
Penso que a beleza dela, a que está a atrair o Paulo, vem daí (mas isto sou eu a falar, claro). Será que concorda?
Um abraço, jrd.
Olá,
Adorei este capítulo da Lídia. Ela está lentamente a vencer a timidez e as inúmeras barreiras de preconceitos que a têm impedido de se sentir um ser humano completo.
Está a descobrir tardiamente o seu corpo de menina e a despertar para a vida como se fosse uma flor a desabrochar, todos os seus desejos adormecidos e emoções estão a acordar e a exigirem ser felizes...
Lídia vai certamente seguir os conselhos do médico e do Paulo e agarrar a vida, porque ela vale a pena ser vivida.
Esta história está descrita com tanta sensibilidade, tantas emoções escondidas e a descobrir
que não há mais nada a acrescentar...
Apetecia-me dizer ao ouvido da Lídia, e de todas as Lídias tristes e infelizes deste mundo
para agarrem a vida, sem temores de natureza alguma, porque a nossa vida só a nós pertence, mas cabe à ilustre Escritora, dar-lhe o encaminhamento que achar melhor.
Muito obrigada por partilhar com os seus leitores esta história actual, tão real, sensível e
humana.
Um beijinho.
Claro que concordo a beleza dela a sedutora "sombra do pecado".
Um abraço
jrd,
Imaginei que concordasse. Eu gostava de conseguir que a Lídia conseguisse temperar a sua timidez ou reserva com essa sombra de pecado que é tão tentadora. Mas não sei se o vou conseguir já que ela é tão inexperiente, tão inibida, tão sofredora.
Vamos ver.
Hoje, que eu estava tão virada para aí, aparece-me aquele Gaspar a dar-me cabo da inspiração...
Olá Maria Eduardo,
Se tivéssemos mais do que uma vida, poderíamos viver uma ao gosto dos nossos pais, outra ao gosto dos nosso vizinhos, outra ao gosto dos nossos colegas de trabalho e, depois, então, viveríamos a nossa própria vida.
Mas tem razão, só temos uma. Então que a vivamos ao nosso gosto. Desde que não façamos nada que prejudique os outros, então deixemos que a nossa consciência e a nossa natureza nos guiem.
Eu acredito muito no amor, na sedução, no afecto em geral. Mas sei que, para tal, tem que haver disponibilidade emocional, tem que haver tempo, espaço. Sei que uma pessoa que viva uma vida de dificuldades, de sobrecarga física e emocional, dificilmente terá cabeça para poder alimentar um relacionamento.
Eu, tal como se Lídia fosse uma pessoa de verdade, estou a ver se consigo arranjar soluções que aliviem a sua sobrecarga, para ver se consigo que ela se descubra enquanto mulher. Vamos ver se consigo.
Obrigada, Maria Eduardo, e um beijinho.
Um bom dia para si!
Há-de ser difícil à Lídia ultrapassar a timidez, mas com a ajuda de Paulo, é possível, não é?
Dou comigo a torcer por um final feliz.
A vida não será um mar de rosas, mas pode ser mais feliz e menos solitária para os dois, se se entenderem...
Vamos ver.
Um beijinho
Isabel, olá,
Com estas coisas todas da política tive que interromper a história.
Eu, na minha vida, nunca me dou por vencida, luto até encontrar uma solução e aqui, nesta história, travo uma luta também. O realismo da situação puxa-me para as dificuldades. Mas a minha vontade puxa para um final feliz.
Vamos ver, quando retomar, o que vai suceder.
Um beijinho, Isabel e um bom domingo.
Lídia mais afoita, querendo ouvir e seguir as palavras do médico mas ainda assim recuando...Penso que agora a coisa tem mesmo de seguir para frente.
Paulo a convidá-la para ir com ele a casa dos pais e ela a aceitar, prevejo grandes avanços nesta história tão humana, em que traz até nós toda a complexidade da alma, dos recalcamentos que entravam a vida como um torniquete.
Ela já sente de novo o sabor das pequenas recordações,como é o recordar o arroz doce da mãe...Ela está no bom caminho.
Beijos
Olinda
Enviar um comentário