Há o lado bonzinho da questão: a sabedoria, a felicidade tranquila e contagiante. As rugas que são lindas, sinónimo de histórias de vida. Os cabelos brancos que são sinónimo de orgulho numa longa vivência. Claro que sim, é verdade. Termos na família pessoas que vivem até muito tarde, tendo eles a alegria de assistir à propagação dos seus genes, bisnetos crescidos e bem dispostos, a progredirem nos estudos, é uma alegria. E, para todos, termos respectivamente a mãe, a avó e a bisavó viva é uma bênção.
O problema é que, ao viverem muitos anos depois de se reformarem, passando a ser beneficiários líquidos da segurança social, as pessoas de idade tendem a deixar esse sistema exaurido.
O dinheiro que cada um desconta não fica guardado numa caixinha à espera que a pessoa precise dele. Não. Cada ano há os que descontam e, simplificadamente falando, com essa verba paga-se a quem se deve nesse mesmo ano.
O grave é quando a pirâmide começa a ficar distorcida, quando começa a haver poucos jovens e poucos contribuintes e muitos idosos a ganhar as pensões e a consumir muitos recursos, nomeadamente nos serviços de saúde.
Aqui chegados, quando a manta não chega para tapar todos os que precisam, quando estamos perante impossibilidades aritméticas, quando o edifício da democracia e da solidariedade intergeracional ameaça ruir há que começar a tomar medidas.
- A primeira medida será conseguir que a pirâmide tenha uma base sólida. Elementar. Para isso há que fazer de tudo para que haja condições para que as famílias tenham mais filhos. São necessárias mais crianças. Os jovens adultos tem que procriar mais abundantemente. Faça-se o que for preciso: licenças parentais longas sem quebra de rendimentos, creches gratuitas, livros e material escolar gratuito, redução no IRS, alargamento do período de férias, redução do horário de trabalho -- tudo o que for necessário.
- A segunda medida será 'injectar' contribuintes no sistema. Para tal, é fomentar a imigração. É bom para a cultura, é bom para a economia. É bom para tudo. Seja acolhendo refugiados, seja facilitando a integração de imigrantes, seja o que for (desde que o seja de forma controlada quer em quantidade quer em 'qualidade' -- mais concretamente, sem risco de importar casos que ponham em risco a segurança nacional)
- A terceira medida será conseguir que os trabalhadores sintam prazer em trabalhar (e descontar para impostos e segurança social) até mais tarde e estejam disponíveis para abraçar novos desafios, ter novas ocupações. Não apenas isso os ajudará a terem um envelhecimento de qualidade como ajudará a que tenham rendimentos para suportar os seus gastos não tendo, forçosamente, que viver apenas, durante tantos anos, apenas das pensões de reforma: e, desejavelmente, poderão também custear alguns dos seus tratamentos não tendo que recorrer exclusivamente aos serviços de saúde públicos (e gratuitos). Dirão alguns que isso irá ser bom para o negócio dos seguros privados de saúde. É verdade. E isso não é problema para ninguém. Será, também aí, uma ajuda à economia, criação de postos de trabalho, mais impostos pagos para ajudar a suportar os cuidados de quem não os pode pagar.
- A quarta medida é uma decorrência das anteriores e consiste em encarar o envelhecimento não como um pesadelo para a sociedade mas como oportunidade de trabalho para muita gente. Em vez de ter as pessoas de idade, especialmente as doentes e dependentes, fechadas em casa, sendo um 'peso' para a família, ou a definharem em lares e residências, passar a ter formas de ter as pessoas acompanhadas e tratadas, disponibilizando serviços de assistência ao domicílio ou, então, residências seniores de qualidade. Cada um pagará o que os seus rendimentos o permitirem mas, ao gerar emprego para muita gente, teremos essas pessoas a efectuarem descontos e, portanto, a ajudarem a equilibrar as contas.
The rich world is ageing fast. How can societies afford the looming costs of caring for their growing elderly populations?
00:00 The wealthy world is ageing01:17 Japan’s elderly population02:11 The problems of an ageing world04:01 Reinventing old age05:48 Unlocking the potential of older years07:09 Reforming social care08:20 A community-based approach11:08 A fundamental shift is needed
4 comentários:
A AI e a automatização de quase tudo vão tratar do assunto em 2 ou 3 décadas. Pode ser óptimo ou péssimo. Mas será, de certeza, muito diferente,
https://lishbuna.blogspot.com/search/label/tecnologia
https://lishbuna.blogspot.com/search/label/produtividade
(também se aplica ao "wishful thinking" de um post anterior)
A SS teria muito mais receita se fizesse com que todos os que têm empregadas domésticas, bem como todos os condomínios, pagassem a TSU. As taxas praticadas são exorbitantes. Se fossem mais baixas, mais pessoas pagavam voluntariamente. Seria muito maior a receita da SS.
A empregada que vem cá ao burgo fazer umas horas, dos 180 euros de ordenado, recebe apenas 160,20. E o empregador, para além dos 180 que paga, entrega mais 40,14 euros.
Resumindo, um ordenado mensal de 180 euros gera um desconto também mensal de 59,94 para a SS. Um exagero e uma grande falta de visão. Baixem as taxas (22,3% + 11%), pelo menos para metade, que mais receitas pagas voluntariamente terão. E, obviamente, aumentem a fiscalização
Também é de lamentar que a SS tenha aumentado os seus encargos em virtude de, em tempos, o nossos governantes se terem "apropriado" do dinheiro de alguns Fundos de Pensões ..
Olá João,
Bela antologia de textos ali tem sobre este admirável mundo novo em que vivemos... Parte da perplexidade que nos atravessa está ali documentada.
Infelizmente, creio que partilho o seu cepticismo: nem a Inteligência Artificial nem a Automação resolverão o que quer que seja. Nestas coisas, a política e o perceber as sociedades deveriam sempre preceder a tecnologia. Quando isso não acontece é o desastre.
Ter cromos a desenvolver 'cenas' sem que isso esteja articulado com o desenvolvimento que queremos para as sociedades dá no que se sabe: uns vão passear para o espaço, outros fazem plataformas onde as pessoas despejam a sua vida ou calúnias.
Enfim.
Vamos esperar que o 2022 seja um bocadinho melhor que o 2021.
Tudo de bom para si, João. Saúde e boa disposição. E que nos vamos vendo por aqui, né?
Abraço.
Olá Anónimo.
Seria uma ajuda mas não uma solução. Claro que todas as ajudas contam mas a situação carece de medidas mais abrangentes e estruturais.
São sempre medidas mal compreendidas pela generalidade das pessoas mas são indispensáveis. A nossa trajectória demográfica não nos está a levar por bons caminhos.
Desejo-lhe um feliz 2022! Sem muitas preocupações... E com saúde e boa sorte.
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