quarta-feira, março 31, 2021

Massajar o cérebro: extremely fucking satisfying

 



O meu dia foi, outra vez, cheio como um ovo. Hoje o meu marido, ao ver-me a colocar a roupa na máquina, referiu uma toalha que estava em cima da mesa. Perguntei-lhe de que mesa estava a falar. Disse-me que na mesa grande. Perguntei-lhe de que toalha estava a falar. Não estava a ver. Ele encolheu os ombros e disse: 'Não deves viver cá em casa'. Depois elucidou: uma toalha que eu própria tinha posto na mesa quando os miúdos cá estiveram para evitar que a riscassem já que, sem pensarem duas vezes, lá pousavam o que quer que fosse que tivessem na mão. Depois acrescentou: 'Trabalhas de mais, esgotas-te no trabalho'. E eu não disse nada. Penso que ele deve ter razão. De facto, este meu trabalho actual é esgotante. Mas, se calhar, sou eu que faço tudo tão intensamente, querendo resultados imediatos, querendo alcançar a meta para logo traçar outra, que não consigo trabalhar (e viver) de outra maneira.

Deste que me levantei até há pouco estive a trabalhar apenas com um breve intervalo para uma curta caminhada e um rápido almoço. Confesso que nem consegui tomar o pequeno-almoço pois, quando ia fazê-lo, recebi uma chamada que se prolongou até me deixar apenas tempo para colocar uns brinquinhos, prender o cabelo com um travessão e sentar-me, airosamente, em frente do computador para a primeira de várias reuniões. 

Por isso, se aqui estou não é que esteja descansada e precise de me entreter ou que me sinta inspirada ou porque tenha que aqui estar a pagar alguma promessa: é mesmo só porque me descansa a cabeça. E porque, também, faço o gosto aos dedos que gostam de se portar como inconsequentes bailarinos, saltitando sobre o teclado, indiferentes a cansaços, motivos ou descasos. O espírito espairece, os dedos brincam.

Já o contei muitas vezes: em tempos idos fazia tricot (camisolas, mantas), crochet (toalhas de renda), bordados (quadrinhos bordados a ponto pé de flor), tapetes de arraiolos, pinturas, colares e pulseiras. Pelo meio, durante uns tempos escrevi um livro (que se evaporou). Tudo noite adentro. Agora, e desde há uns anos, escrevo aqui, palavras que solto ao vento, sem fazer ideia do paradeiro que escolhem mal se soltam de mim. Mas penso que o motivo é sempre o mesmo motivo: arejar a cabeça, libertar as mãos.

Claro que, se fosse só distrair a mente, poderia deixar-me ficar a olhar para o líquido colorido ou o pó dourado escorrendo pelas ampulhetas ou pelas clepsidras que tenho aqui em casa mas não me dá muito para isso. Gosto imenso destes belos e delicados objectos mas vejo, viro, vejo e está visto. Também gosto de dar corda às duas caixinhas de música: ouço, vejo o mecanismo a rodar, gosto mas, quando a corda chega ao fim, está feito. Mas falta-me qualquer coisa: a minha interacção, as minhas mãos em acção.

Contudo, lembro-me do fascínio que alguns objectos de movimento infinito com imaginativo design me despertaram quando, na companhia de um casal amante de design, visitei galerias e lojas em Amesterdão. Quanta imaginação, quanta arte e engenho. Que surpresa eu sentia perante cada um.

Hoje descobri no The Guardian outro fantástico designer: Andreas Wannerstedt.

E leio: 

‘It can be quite meditative’

Scrolling through Andreas Wannerstedt’s Instagram is the digital equivalent of walking into a spa. There are soothing soundscapes and pastel tiles. It’s a curated escape from the mess and stress of the outside world.

This is all deliberate. The Swedish artist posts each animation – from a slowly twisting velvet rope to two halves of a brass ball clicking into place – with hashtags like #relax #calm, #satisfying and #sleep. He has nine volumes of a series called Oddly Satisfying, which fans lovingly describe as “soothing”, “hypnotising” and “extremely fucking satisfying”.

Vejam, por favor, o vídeo e, se quiserem ler o artigo completo, é só clicar no link: Hypnotic loops and self-soothing sounds: the rise of #OddlySatisfying and visual ASMR


The Swedish artist creating oddly satisfying visual ASMR



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Imagens das peças de Andreas Wannerstedt ao som de Mari Samuelsen a interpretar Fragment de  Max Richter

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Um dia feliz

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