sexta-feira, dezembro 27, 2013

Um dia de férias (e, se quiserem adivinhar como foi, acho que não vão acertar )




Quando ando em reuniões, para cima e para baixo e com os dias preenchidos como um ovo, penso - como se fosse uma fantasia distante - nuns diazinhos sem nada que fazer, sossegadinha em casa, estendida no sofá a ler ou a arrumar os meus livros, ou a preguiçar, ou a fazer arrumações.

Pois bem.

Como se só soubéssemos andar no farrobodó, metemos este pós-Natal como dia de férias e... aí vão eles todos para mais um programa de grupo. De manhã, ainda tentei dormir até mais tarde mas ou foi a Sephora a mandar-me sms a anunciar descontos nos perfumes, ou o toque de mails a chegarem ou alguém a tocar à porta, a verdade é que os deuses se uniram para me arrancarem da cama. 

Depois, como se quisesse dar corpo àquela ambição de ficar em casa a fazer de dona de casa aplicada, ainda me deitei a arrumar o sítio onde as crianças tinham feito maior devastação e a arrumar o meu roupeiro mas o tempo passou e logo tive que me apressar porque tínhamos combinado ir todos ao Oceanário. A ideia era ir logo a seguir ao almoço, às duas, para apanhar os mais pequeninos antes de lhes dar o sono da sesta.

Por isso, ala que se faz tarde.

Afinal adoraram, não tiveram sono nenhum, e vibraram de tal maneira que só saímos de lá às cinco.


Os 4 pimentinhas completamente encantados
Tinha ido o carrinho a pensar que ao bebé lhe daria o sono. Mas qual quê? O carrinho serviu foi para transportar os casacos. O bebé quis foi andar a pé, encantado, a rir, a apontar os peixes, dando gritos de alegria, apontando para tudo, uma alegria esfuziante. Mas todos eles andavam maravilhados, os quatro encostados aos vidros, chamando a atenção uns aos outros para a grande raia, os tubarões, as tartarugas, as estrelas do mar, as medusas, os pinguins.

Já lá não ia há algum tempo e, de facto, aquilo é mesmo uma coisa fantástica. O Oceanário é caro que se farta, 16 euros por pessoa (salvo erro a partir dos 4 anos). Felizmente eles desencantam sempre vouchers e, por isso, saíu a metade do preço. Mesmo assim, é pesado. Mas percebe-se que seja caro pois manter uma infraestrutura daquelas requer, certamente, um orçamento que não deve ser brincadeira.



Mar,
Metade da minha alma é feita de maresia

(de Sophia de Mello Breyner Andresen)


No entanto, apesar do preço elevado, estava cheio: muitos turistas mas, também, muitos portugueses. Se algum dos meus Leitores ainda não o conhece, recomendo vivamente que o venha conhecer. Fica no Parque das Nações, vulgo Expo, num local privilegiado, sobre o rio, com um enquadramento paisagístico muito bem conseguido, onde se fazem belas caminhadas.


Os 4 com a mãe de 2 deles
Mas, ia eu dizendo, que todos nós adorámos, mas as crianças, claro, estavam delirantes. 

Contudo, vocês são grandinhos o suficiente para saberem que não há bela sem senão.

Qual o senão?, perguntarão alguns de vocês.

Senhores...! Grande parte dos corredores é às escuras. Às escuras! A iluminação vem dos aquários gigantes. Claro que isso contribui ainda mais para a beleza mágica daquilo. Mas imaginem o que é andar com quatro pimentinhas que querem correr por todo o lado, que querem ir ver o próximo vidro, subir a um banco, espreitar ali, ver o cavalo marinho ali à frente, e aquilo com imensa gente e tudo às escuras... Estão a ver, não estão?

O bebé e a mana
O meu filho dizia que era melhor montarmos a táctica do quadrado, encurralá-los. Mas como? Se a gente se distraía a olhar para alguma coisa, logo havia um que se esgueirava. Eu prendia pelas golas aquele de quem tivesse sido nomeada responsável para não o deixar fugir, já que me sacudiam se eu lhes tentasse dar a mão. A minha nora dizia que, para a próxima, os levamos presos por correntes e com bolas de ferro para os impedirmos de fugir. De facto.

Isto já para não dizer que ela quis fazer chichi, depois cocó, e depois todos tinham fome, e depois sede (felizmente os pais foram com bolachas e água e pacotinhos de leite), e isto tudo enquanto andavam por tudo o que era canto e esquina.

As fotografias com eles ficaram imprestáveis porque sem flash, eles sem pararem um segundo e eu a ter que lhes prestar atenção, ficou tudo desfocado. As únicas que se salvaram foram algumas dos aquários em si ou as poucas de exterior. Enfim, coisa de somenos.

No final, já todos cansados, passámos por uma área que, segundo me pareceu, era dedicada à reciclagem e à economia de água e energia mas que era uma cozinha à escala infantil, com frigorífico, forno com botões para ligar e que acendiam luz, lava-louças, uma casa de banho de brincar, depois uns jogos com bolas, etc. Quem é que diz que os arrancávamos de lá? Ai senhores, nós já quase de gatas e eles outra vez na maior animação, só a quererem descobrir a função de cada coisa, a mexerem em tudo, a brincarem uns com os outros.


Mãezinha... que tareia... !

É que não é só andar com mil olhos a segui-los, é também pegar-lhes ao colo para verem melhor, é responder a perguntas em catadupa, algumas que requerem uma erudição na ponta da língua, numa altura em que uma pessoa já está com a cabeça esvaída.

Ó Tá, porque é que ele está ali deitado sem se mexer?
  - Está camuflado, não vês que é da mesma cor da rocha? 
Ó Tá, mas porque é que ele está camuflado?

  - É para passar despercebido, para se proteger melhor dos perigos.
Ó Tá, mas onde é que estão os perigos?


 - (...Upsss... onde é que estão os perigos...?) Pois, agora aqui não há, não iam aqui ter peixes que os atacassem, senão já viste...?
Não, o que é que acontecia?

 - ... Sei lá, havia bulha, um ainda comia o outro e depois já não havia alguns para os podermos ver. Mas vá, vamos andando, anda ver aqueles ali à frente.
Mais à frente,
Ó Tá, como é que ele se defendia se fosse atacado?
 - Acho que libertava um líquido que provoca comichão.
Ó Tá, mas não dava choque eléctrico?

 - Acho que não.


As enguias é que dão choque eléctrico, não é Tá?
- Talvez, não me lembro bem se é a enguia ou um outro que é parecido com uma enguia.
Como é que esse se chama?
- Não me lembro. Moreia. Será?
Acho que não, Tá, nunca ouvi falar nesse.
- Vá, daqui a nada já não sabemos onde andam os outros.

E assim sucessivamente. Às escuras. 

Este a querer ver tudo e a fazer mil perguntas e a ficarmos para trás, deixando de ver os outros. Ou, quando os via, dando uma corrida e eu a ter que correr atrás dele, depois de nos zangarmos mil vezes para não fugirem. 

Jesus...! 


Felizmente, no intervalo destes labirintos no fundo do mar, há espaços ao ar livre e aí respirávamos de alívio, até parecia que estávamos de férias.

3 deles com as mães
(O bebé estava com o pai)

A zona das morsas ou dos pinguins foi, para nós, um verdadeiro oásis.

Podíamos ver as crianças e, além disso, já que os motivos de interesse estavam bem identificados, eles ficavam mais focalizados nisso.


Depois ainda fomos lanchar e outra vez chichi, e o bebé a querer pôr e tirar a tampa da garrafa de sumo e depois a querer esconder-se e deitar-se debaixo de uma mesa e já nem sei bem o quê.

No regresso, caíram a dormir, claro. Mas, senhores..., estava um trânsito do caraças porque parece que tinha havido qualquer coisa no IC19 que, qual efeito da borboleta que bate as asas no cu de Judas e dá cabo do clima no Restelo, parece que entupiu os acessos de Lisboa de uma ponta a outra. Resultado: cheguei a casa às seis ou depois, nem sei, já de noite.

Quando cheguei a casa, atirei-me logo às minhas arrumaçõezitas, para ver se cumpria o tal desiderato. 

Desta vez, estive a arrumar papelada, junta-se-me papelada que não acaba, senhores, é dentro de carteiras é por todo o lado, credo, eu sei lá como, coisas para ver o que é para deitar fora, coisas para arrumar e, também, depois, organizar os montes de livros que tenho à minha volta aqui na mesa onde escrevo que a coisa estava caótica e periclitante. De organizar livros eu gosto, gosto de lhes pegar, de os rever, de lhes espreitar as entranhas. Ficou um monte para os de poesia que acabaram por ser três montes, outros três para a prosa lusófona, mais dois para os de língua estrangeira, mais um para livros de fotografia ou pintura (e um ou outro de arquitectura ou escultura).

Estes são os que ainda não li completamente ou de todo, nem estão catalogados (o meu marido anda em greve, diz que eu abuso), e que vou lendo, que gosto de ter aqui à minha beira. No momento em que forem para outro lado, receio perder-me deles, como se fossem meninos num recinto imenso, labiríntico, escuro.

Estou, pois, entrincheirada no recanto livre que aqui vêem. É assim que gosto de estar. Já para não dizer que a mesa está ela própria bem guardada, rodeada por estantes.

Resultado: um dia de férias sem um minuto de descanso. E agora, que já passa das duas da manhã, ainda aqui estou. Ai, credo, que maluqueira. Acho que já não sei estar descansada, é o que é. 

Mas fico com o coração cheio, feliz, feliz da vida. E o que a gente se diverte...? Haviam de nos ver. Os miúdos são muito bem dispostos, brincalhões, estão sempre a fazer-nos rir. Dão uma trabalheira mas, ao mesmo tempo, tiram-nos anos de cima.

*

E, por falar em oceanário e em mar, para dar a isto um toque de mais qualquer coisa, aqui vos deixo Andrea Bocelli e Dulce Pontes interpretando O mar e tu


*

Lá em cima, para ver se trazia para aqui a magia do fundo do mar, a música era Sirènes de Claude Debussy.


*

A ver se amanhã consigo tempo para responder aos comentários.

*

E, se me permitirem, ainda gostaria de vos convidar a virem até ao meu Ginjal e Lisboa onde hoje tenho Ana Luísa Amaral por ela mesma e por outros. E, por lá, as minhas palavras falam, justamente, de poetas, esses seres especiais.

*

E pronto. Por agora é isto.
Tenham, meus Caros Leitores, uma bela sexta feira! 
Já agora: se puderem divirtam-se, está bem? É bom.

6 comentários:

Anónimo disse...

Dois dias depois de ter iniciado umas merecidas férias, tendo ao seu lado o marido, cerca das 12h telefona-me uma amiga "ontem estive todo o dia com dor de cabeça e hoje ainda não me largou. Sabes, acho que é de não ter nada para fazer"

Um bom dia para si

Maria

Isabel disse...

Gostei muito deste relato!
Trouxe-me vontade de voltar ao Oceanário, onde já fui várias vezes, mas agora não vou há uns 2 ou 3 anos. Volto sempre com o mesmo entusiasmo.

Estes programas com crianças, têm outro encanto!
Continuação de Boas Festas!

jrd disse...

Muito bem!
A imensa ternura que as perguntas das crianças contêm e a sabedoria...
Chegará o dia em que elas saberão que os (peixes) canibais alimentam-se fora de água.
Bom fim-de-semana
Abraço

Anónimo disse...

o que eles pensam da sua amada Lisboa e por tabela de Portugal - http://www.hoy.es/v/20131222/sociedad/ruina-portugal-20131222.html

Anónimo disse...

http://video.who.int/streaming/NMH/MSD/COPR_depression_01OCT2012.wmv fanado daqui - http://www.who.int/topics/depression/en/

Anónimo disse...

isto é que é um pimentinha-https://www.youtube.com/watch?v=XFxjy7f9RpY