Um silêncio abafado. Um corpo dormente.
Se as palavras se diluem e o ar se rarefaz, onde a força? Se o calor desfaz a carne e a água desaparece e pouco mais resta do que cores sem nome, onde o ânimo?
Nem mar nem rios nem sangue. Apenas o vazio, a espessa secura, a vida ausente.
Onde a luz, onde o fluir, onde os contornos que contêm as formas? Onde a música que oculta o olhar para melhor tocar a alma?
Um pássaro diz: nuvem, névoa, neblina.
Ninguém o ouve.
O pássaro murmura: sombra, segredo, penumbra.
Ninguém o ouve.
Passa, em silêncio, a memória de alguém. Depois pára, espera que uma mão a colha. Ninguém a colhe, ninguém a sente.
Cobre-se de lágrimas mas não sente que um frescor a cubra.
O pássaro diz: lamento, carícia, sonho.
Ninguém o ouve.
Esperar perante o imenso vazio? Nada mais querer senão a loucura branca do intangível infinito?
O pássaro diz: luz, vulto, sublime.
Ninguém.
Ninguém.
O silêncio persiste. O calor. A dormência.
O pássaro diz: o vazio vai começar a rasgar-se.
E voa.
Depois uma tremura.
_____________
Pinturas de Fernando Zóbel
A soprano Núria Rial e o grupo "L'Arpeggiata", interpretam o "Lamento della Ninfa" de Monteverdi
___
Sem comentários:
Enviar um comentário