quarta-feira, setembro 07, 2016

Amor silencioso








E se numa silenciosa noite de verão, sem ninguém por perto, sem risos, palavras, movimentos que pertubem a ordem natural das coisas, a rendição for iminente?

De que servem as prudências e os avisados conselhos de uma consciência triste se o apelo do perigo é tão forte?

A falta do longínquo olhar, a falta do beijo intenso, a falta, tanta falta, como fora a falta de um chão, como fora a falta de um céu. Como silenciar uma falta tão tamanha?

Princesa, rainha, senhora

Mas de quem que não do único amor? 

Pode o canto de um pássaro, podem mil flores, pode um mar imenso apagar a saudade extrema de um amor assim?

A sombra de uma árvore, um fruto que enche o côncavo da mão, um odor que se adivinha sôfrego, o perfume de uma pele que sufoca - a inquietação do que se quer e se não pode confessar. Ai, ai de mim, que dor um amor estrangulado no peito, assim.

Esquecer? Mas como? Encher os olhos de ondas, de nuvens, de cores em brasa? Esfregar sal nas mãos já em sangue? Rasgar a pele, deixar que o coração voe para bem longe? Deixar um buraco escancarado no peito, a céu aberto?

Ou dormir de dia e de noite até que o tempo passe, até que o vento traga outros tempos, até que o corpo seja pó e nada mais que pó?

Ah, como curar um amor silencioso assim? 

Ah, como chorar sem lágrimas, em silêncio, um tão, tão grande amor?

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As pinturas são de Chul Joo Suk. 
Sobre pinturas de,Alfredo Palmero, L'Arpeggiata - Silenzio d'Amuri, música e texto de Alfio Antico

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E, no mesmo comprimento de onda, palavras ficcionadas, inspiradas pelas imagens e pela música, o Lamento de uma Ninfa.

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1 comentário:

bea disse...

As pinturas são uma beleza. Mas agora não tenho mesmo tempo para mais espiolhar. Vou-me à contemplação deveras contemplativa.
Um bom dia para si