segunda-feira, janeiro 10, 2022

Numa tarde fria, avistei duas sereias mergulhando nas revoltas águas.
De se lhes tirar o chapéu

 


De manhã fomos passear à beira-mar com a minha mãe. Depois, porque a maré vazia nos convidava, descemos mesmo à praia, caminhámos na areia, mesmo, mesmo ao lado da água. Estava sol, um leve calorzinho, cheirava a maresia. Da água e das rochas forradas a limos subia aquele perfume que me é tão familiar. A minha mãe gostou e nós também. O urso felpudo também todo contente, correndo, saltitando, uma felicidade para ele. 

A minha mãe relembrou a sua juventude quando corriam por uma estrada estreita e inclinada, atravessavam a estrada, desciam uma escada de pedra e estavam na praia. Relembrou também quando andava a estudar e quando, para atalharem caminho, iam pelas praias. 

Pensei que dantes os jovens andavam bastante a pé enquanto hoje, em grande maioria, ou vão de carro levados pelos pais ou, mal têm a carta, vão no seu próprio carro. Se calhar, eram antes mais felizes, palmilhando e construindo os seus caminhos, sendo muito mais livres.

Quando estávamos a chegar a casa, o little teddy bear pôs-se logo de pé, a espreitar pela janela do carro. E aí... tamanha foi a surpresa, ia-se passando. Ladrava, saltava, queria atirar-se, uma loucura. É que aqueles que costumam chegar quando nós estamos em casa hoje estavam à nossa espera, dentro do jardim. 

O tempo, entretanto, tinha virado. O sol tinha desaparecido e tinha-se posto um frio muito desagradável. Cinzento, húmido, desagradável.

Mas o mau tempo não inquieta os lutadores. Por isso, depois de almoço (apesar do frio, na rua), uma vez mais para a praia. Os rapazes, de todas as idades, adoram jogar à bola na praia. 

Lá chegados, um gelo quase cortante. O mar revolto e bonito. Uma vez mais sem surfistas. 

Em terra, formaram-se as equipas. O avô ficou numa das balizas. A menina também quis participar. Ficou na outra baliza. E, como é costume, aproveita a guerra no meio campo ou os ataques à outra baliza para dançar. Ensaia coreografias enquanto trauteia em voz baixa.

Claro que os intrépidos futebolistas nem reparam na beleza do mar nem sentem frio. Estavam encalorados, transpirados. São aguerridos, ali não há tréguas.

A bola é de futebol normal, pesada e rijíssima. Não sei como aguentam jogar com ela descalços.

No fim, parte deles já estava apenas em tshirt,  corados como maças saloias.

Enquanto isso, as ladies fizeram uma pequena caminhada, levando o patudo felpudo que começa a apreciar a beira da água, as escavações na areia e a proximidade de outros cães. 

Não sei como será quando o calor apertar, não sei se ficará afogueado. Mas, agora, bem coberto de pelo, mantem-se fofésimo e bem quentinho.

Nós não. Enregeladas, quase tiritávamos.

Enquanto isso, para nosso espanto, aproximou-se um grupo de três jovens mulheres. Uma estava apenas envolta numa grande toalha, outra tinha um casaco comprido mas as pernas a descoberto. Apenas a terceira estava toda vestida. 

Chegadas à beira de água, a que tinha a toalha, destapou-se, depois a que tinha o casaco despiu-o. A terceira manteve-se vestida. 

Nós, vestidas da cabeça aos pés e bem agasalhadas, nem queríamos acreditar. O frio, o vento e a humidade tornavam difícil acreditar que alguém conseguisse entrar na água.

Mas as duas jovens avançaram. Ao princípio, hesitaram. Depois uma, a morena, avançou resolutamente e mergulhou. Aproximou-se depois da loura, certamente tentando convencê-la. Até que a loura também mergulhou.









Curiosamente, depois de terem mergulhado, não mostraram frio. Pelo menos, vistas de fora, pareciam bem.

Mesmo quando saíram da água mantiveram-se à vontade, sem se embrulharem, sem bater o dente. Pareciam estar bem.

Ao sentir o frio que sentia e ao vê-las tão descontraidamente molhadas e despidas pensei que das duas uma: ou tinham o termostato avariado ou o frio é uma coisa psicológica.

Uma coisa é certa. Pela coragem, pela graça e pela beleza só se pode dizer que é de se lhes tirar o chapéu.

Quando saímos da praia já o pôr-do-sol tingia os céus e escurecia mar. Não me canso de o fotografar pois a sua beleza é irrepetível a cada segundo que passa.




Depois, cá em casa fiz sopa de legumes e jardineira de novilho. Não que fizesse falta para o jantar pois, para a janta, tínhamos restos e eu, ao domingo à noite, gosto de ser minimalista. Mas, durante a semana, apesar de estar a trabalhar em casa, não costuma sobrar-me tempo para grandes cozinhados durante o dia. 

À noite, ao falar ao telefone com a minha mãe ela disse-me: e mais um fim de semana passado, daqui a nada estamos no fim do mês. E é. Não sei se há maneira de agarrar o tempo, impedi-lo de passar a correr. Se há, desconheço. 

Mas, enfim, não me queixo. Enquanto eu puder estar onde gosto, como gosto e com quem gosto estou bem. Aliás, muito bem. E, por isso, sinto-me permanentemente agradecida.

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Nota: Tentei que não se conseguisse identificar as pessoas que fotografei. Contudo, se os próprios não gostarem de aqui se ver, peço que me contactem e me peçam que retire as fotografias que logo o farei.

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Desejo-vos uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

Saúde. Coragem. Vontade de ir em frente. Boa disposição.

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