sexta-feira, novembro 16, 2012

Sobre uma carpete de Arraiolos feita por mim, os meus últimos livros. Aqui refiro em particular Kafkiana de Agustina Bessa-Luís com prefácio do marido, Alberto Luís.


Quem não esteja para ler sobre os meus últimos livros, pode descer mais um pouco e ir já até ao meu post seguinte onde vos falo de um sonho do além e vos falo das últimas de Passos Coelho, Gaspar e Cavaco e, ainda, de uma teoria da conspiração que por aí corre envolvendo Rui Rio, quiçá Rui Moreira e, ainda, o já referido Presidente.

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Fui à procura de um livro sugerido por uma Leitora, Botas do sargento, um livro de contos de Vasco Graça Moura com imagens de Paula Rego. Não havia mas não estava esgotado pelo que o encomendei. De caminho, passei outra vez pelos escaparates. É uma tentação. Quando conseguirei eu ler todos os livros que vou comprando?

Ainda no outro dia, tinha comprado uns quantos, até vos mostrei. Depois fui atrás do último do José Riço Direitinho, o Breviário das Más Inclinações, conforme sugestão de uma certa Leitora Fantástica e acabei trazendo, para além desse, também Contos Escolhidos de Carson McCullers, numa tradução de Ana Teresa Pereira, Rómulo de Carvalho/António Gedeão, Príncipe Perfeito de Cristina Carvalho e o Ruben A., Uma biografia, de Liberto Cruz e Madalena Carretero Cruz.

Gosto imenso de biografias, correspondências, diários.

Hoje, foi outra vez a mesma coisa, uma incapacidade de resistir a uma tentação que é forte demais. Trouxe o 2º volume da Poesia Completa de Vasco Graça Moura, o Kafkiana de Agustina Bessa-Luís e o Próximo Outono de João Miguel Fernandes Jorge e Pedro Calapez, um diário. E, ainda, a última Ler que já comecei a digerir (digo 'digerir' para não repetir a palavra 'ler') na fisioterapia. Mas hoje não foi um bom dia para leituras. O gabinete em que eu estava enquanto me aplicavam os ultra-sons e as ondas-curtas estava à meia luz e eu ali, deitada, sossegada, parte do tempo a levar uma massagem... Pois, estão a ver, não é? um sono... por pouco não adormeci. Por isso, hoje não progredi muito na leitura.

A ver se não volto à livraria nos próximos tempos. O que me alivia a consciência é pensar que mais vale comprar já carradas de livros - mesmo que nem tão cedo os consiga ler - do que esperar para o ano que vem e o dinheiro me ir todo para o Gaspar-não-acerta-uma. Assim como assim, mais vale ficar já com os livros.




Desta vez, na instalação que fiz para a fotografia, não usei écharpes. Comecei por escolher duas, e agora estão aqui ao meu lado deixando um cheirinho a Nº 5 na sala. Mas acabei por optar por colocar os livros em cima de uma carpete de Arraiolos que aqui tenho, feita por mim, claro, um modelo original do século XVII, com 1,70 m de largura por 2,5 m de comprimento. Esta é a da águia bicéfala, cujo original está no Museu das Artes Decorativas em Paris.

Mas o que queria era dizer-vos que o livro da Agustina, Kafkiana, me enterneceu. Tem a abrir uma 'Advertência à presente edição' de Alberto Luís, o marido de Agustina.

E como há pouco gostei de ler o que ele escreveu... Objectivo mas de uma ternura implícita que me tocou, tanto mais quanto se sabe o cuidado que ele sempre pôs na revisão dos originais da mulher, das brigas que tinham, ele querendo que ela limasse as incongruências e ela sem paciência para esses pormenores.

(E só estou a escrever no passado porque é sabido que Agustina já não escreve.)

Transcrevo apenas um parágrafo desta advertência.

Um menu souvenir que Agustina guarda deste encontro memorável de Kafka com os actores é a fotografia que eu lhe tirei nos princípios de 1974, entregue à leitura dum livro do futuro Prémio Nobel Isac Bashevis singer, Um amigo de Kafka, onde um velho actor da trupe nómada lhe conta, nos primeiros anos trinta, a história da paixão de Kafka pela bela Tchissik.

Afinal vou transcrever também os dois últimos parágrafos:

Assim, não estamos impedidos de remeter as reflexões fragmentárias, quer de Kafka, quer de Agustina, para o Aggadah talmúdico, no seu livre questionamento do estado do homem no mundo.

Eis como interpreto o pensamento que se encontra suspenso nos textos de Agustina, à excepção do último, um passeio por Praga - gesto de verdadeira comunhão dela com o humor demoníaco de Kafka.


Promete, este livro. A ver se o consigo ler no fim de semana.


*

A música é de Jean-Philippe Rameau que esta semana tem estado presente no Ginjal, e o que ouvimos aqui, Chaconne, faz parte de Les Indes Gallantes. A interpretação está a cargo de William Christie e de Les Arts Florissants e é um prazer.

*

Já agora, porque não convidar-vos de novo a um passeio até à beira do rio? No meu outro blogue, o Ginjal e Lisboa, a love affair, as minhas palavras elevam-se sobre as águas acompanhando os que pensam viver para sempre, ao som da lira de Vasco Graça Moura. A música, como vos disse, é de Rameau e tenho gostado tanto que acho que vai haver prolongamento.

*

E já chega, não é? Já escrevi outra vez como se não houvesse amanhã, credo. 

Desejo-vos um belo dia. Saúde e alegria é o que vos desejo.

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Tal como se refere nos Comentários abaixo, aqui coloco, depois de devidamente autorizada pela Leitora Antonieta, imagens de livros seus que vêm a propósito do que acima se escreveu. Também estão sobre uma carpete de Arraiolos.







Obrigada!

14 comentários:

Anónimo disse...

Pois é, também gosto da Agustina!

Isto é o que tenho dela presentemente(*), A Sibila tinha uma daquelas letrinhas que eu já não consigo ler e dei-o à biblioteca.

Também tenho as revistas LER que lhe são dedicadas e são várias. Li muitos livros requisitados na bib, já nem me lembro quantos...

Da Carson McCullers tenho o que está à vista e muita vontade de comprar o que dela se for reeditando - não sei é se vai dar...

Do Isaac Bashevis Singer, Nobel em 78, apenas tenho um livro comprado em 1990, e também vi o filme no cinema, com a Anjelica Huston e a Lena Olin.

Não sei se existe em dvd.

Quanto ao 'Gémeos/Caranguejo' McEwan, é o problema das pessoas que nascem a 21/22, uns livros dizem uma coisa, outros outra.
Agora o Mia Couto (não sei se gosta, eu adoro!) é mesmo caranguejo, ele próprio me disse.

Eu sou Peixes de 11 de Março, ascendente Escorpião ou Balança (nunca me conseguiram confirmar) e Gato na astrologia oriental.

Beijinho grande Carangueja/Carangueja!


Antonieta

(*) Fotos enviadas por mail

jrd disse...

Gosto muito de Jean-Philippe Rameau e...por aqui me fico. com um abraço.

Bom fim-de-semana

Maria Eduardo disse...

Olá,
Que belos livros e ainda por cima emoldurados por uma linda carpete de arraiolos do Século XVII, e muito especial,feita pelos seus dedos de artista. Tem uns tons lindíssimos e o motivo também. É uma obra prima. Gostei muito que a tivesse mostrado.
Boas leituras e até sempre com um beijinho.
ME

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Gostei muito de ver as fotografias e estou capaz de as repescar e ir colocar no corpo do post. Vejo que tem pelos livros o mesmo afecto que eu. Tem mais livros da Agustina do que eu, acho, não sei. E nunca li nenhum livro do Isaac Bashevis Singer. Acho, até, que nunca tinha ouvido falar nele.

Acho que se não comprasse mais livros a partir de amanhã e vivesse até ser mesmo velhinha, não me ia falar leitura. Quando penso nos livros é a única altura em que penso na idade e na finitude da minha existência. Antes pensava descontraidamente que teria tempo para ler tudo o que quisesse. Agora olho à minha volta e sei que isso não vai acontecer.

A escrita aqui também me subtrai tempo à leitura. Várias vezes já pensei em não ligar o computador dia sim, dia não para poder ler mais. Mas gosto também tanto de escrever...

Gosto do Mia Couto, claro que sim. É um homem que gosta do que é humano e o afecto que dedica às pessoas é transportado para as palavras.

Não sou muito entendida em signos embora o tema já me tenha interessado, especialmente do ponto de vista físico e estatístico. Apenas sei sobre o meu (que é o de grande parte da minha família) e sobre o do meu marido e da minha filha. De resto, não faço ideia. Ou seja não consigo avaliar se Peixes é bom ou mau... Mas, do que tenho visto, deve ser bom! Além disso peixes e caranguejo movem-se nas mesmas águas, não é?

Um beijinho!

Um Jeito Manso disse...

Olá jrd,

Pois, e eu que agora é que o estou a descobrir como deve ser. E ando também encantada com Les Arts Florissants que tanto valorizam Rameau.

E, já que aqui se 'cortou', digo eu a quem estiver interessado em ir conferir: o clip do seu perfil é Rameau!

Bom fim de semana, jrd (e a ver se não vamos pelos ares...- estou a ver as imagens do que aconteceu em Silves e nem dá para acreditar, credo!)

Um Jeito Manso disse...

Olá Maria Eduardo,

As carpetes que faço são sempre a réplica do original, seguindo as cores originais. Como faço modelos do sec. XVII, os motivos são sempre complexos, muitos e de execução algo complexa. Os que vulgarmente se compram seguem modelos de uma época posterior, em que a 'feitura' de tapetes de Arraiolos se industrializou e em que, para render, se passaram a fazer desenhos de maior dimensão, de simples execução.

Também faço outros de desenho livre, de tipo pintura moderna.

Estou a escrever com o verbo no presente e, no entanto, agora, por causa dos blogues, há algum tempo que não lhes pego. Fazia sempre à noite e ao fim de semana e agora, com as crianças e com os blogues, não tenho tempo. Tenho dois grandes interrompidos.

Se quiser ver os que já aqui mostrei, pode ir às etiquetas aí ao lado direito, lá mais para baixo, e procurar 'tapetes de arraiolos'. Era um vício para mim. Gosto imenso de trabalhos manuais (... e, agora, escrever também é um trabalho manual).

Um beijinho, Maria Eduardo.

Anónimo disse...

Olá jeitinho.
estou a escrever para dizer a Antonieta que para saber o ascendente tem aue saber a hora a que nasceu, depois faz o mapa há alguns sites que fazem os mapas astrologicos de graça. O Astrodienst por exemplo. Depois querida jeitinho não há signos maus ou bons, tal como não há pessoas completamente boas ou más. Não há ninguém perfeito somos uma amalgama. Bom fim de semana a todos. Beijinhos Ana

Isabel disse...

Em matéria de livros está como eu: compro, compro e não leio nem metade, posso dizer nem a décima parte do que compro. Já o disse outras vezes, actualmente é a única coisa em que gasto dinheiro, fora as despesas obrigatórias. Isso e as prendas que gosto de oferecer. Deixei de comprar roupas, coisas para a casa (também tenho demais) perfume mais caro...enfim, restam os livros e os espectáculos. E mesmo assim, porque não tenho filhos. É triste pensar que as pessoas já viveram bem e agora por causa dos ladrões que nos desgovernam, chegam a perder as casas e tudo o que têm.

Enfim, voltemos aos livros: é um vicío, uma paixão. E ultimamente tenho tão pouco tempo...
Um beijinho

Anónimo disse...

Olá!

Claro que pode pôr as fotos, talvez tenham interesse para os outros Leitores.

O dvd da Agustina com a Maria João Seixas, depois de muito procurar, pedi-o directamente à Midas.

O livro 'Enemies, a Love Story' conta a história insólita de um sobrevivente do holocausto que, depois de chegar à América, se vê a braços com 3 mulheres: A camponesa polaca que o ajudou a fugir e com quem casou, outra por quem está apaixonado agora e, para cúmulo, a sua primeira mulher que afinal não morreu no campo de concentração!
Comprei o livro em Junho/90, gostaria de o reler, mas 'cadê o tempo'?

Biblioteca: No meu tempo das vacas magras, quando o meu pc de disquettes ficou obsoleto e antes de comprar o '7 polegadas', costumava ir à Bib e também ao IPJ navegar na net.

Aproveitava também para ver os livros e, às vezes, descobria coisas bem interessantes!

Quando a vida melhorou um pouco (as cows estão a ficar magras outra vez, I'm afraid!) voltei a comprar livros desalmadamente, e aproveitei para doar os que já não vou ler mais.

Falta-me espaço, faltam-me estantes, não quero ter livros em segunda fila nem prateleiras abauladas (estilo pala do Siza) devido ao excesso de peso.

Antigamente obrigava-me sempre a ler um livro até ao fim mas agora, se não me agrada, ponho-o de lado à espera de uma segunda tentativa.

Estou no Outono da vida e nunca vou conseguir ler tudo o que tenho em casa, quanto mais o que ainda quero comprar!

O Borges, no 'Este Ofício de Poeta', diz assim:

"Por vezes, ao olhar para os muitos livros que tenho em casa, sinto que vou morrer antes de chegar ao fim deles todos, mas não posso resistir à tentação de comprar mais livros."

Esta é especial para a Jeitinho, para mim, e também para a Isabel, cujo comentário acabei de ler.
É bom saber que não estou só!

Ainda do Borges, da Magazine Littéraire 376 Maio/99, retirei o seguinte:

"Que d'autres se vantent des pages qu'ils ont écrites; moi je m'enorgueillis de celles que j'ai lues."

Penso que todos compreenderão.

Beijinho,

Antonieta

Um Jeito Manso disse...

Olá Antonieta,

Já coloquei as fotografias dos seus livros.

Gostei de ler o que escreveu. Gosto de ler o que as pessoas que gostam de ler escrevem.

Concordo com o que diz e com as citações que refere sobre o prazer de ler e sobre a nossa limitação em lermos tudo o que queremos.

E estou também consigo quando refere a menor tolerância perante aquilo que não nos cativa totalmente, dado que temos que percebemos que o tempo é limitado e que temos que optar por aquilo que nos dá mais satisfação.

Obrigada e um beijinho, Antonieta.

Um Jeito Manso disse...

Ana,

Disse que era para a Antonieta mas, como sou cusca, li e vou também responder...

Vou ver o site que refere e vou ver o que dá para mim e para os meus. Obrigada pela dica!

Um Jeito Manso disse...

Olá Isabel,

Gostava de ser assim tão pouco consumista. Como o local onde trabalho e os meios onde circulo são meios onde 'desfila' muito mulherio vestido segundo o último grito da moda, e como também sou um 'bocadinho' vaidosa, deixo-me tentar por umas blusinhas, umas écharpes, umas capas, etc. Já para a casa estou consigo: tento já não trazer mais nada cá para dentro. Muita tralha é difícil de manter limpa, atrapalha.

Mas os livros... os livros, que tentação.

Um abraço, Isabel.

Anónimo disse...

Gostaria de agradecer à Ana o conselho que me deu a respeito do ascendente.

Obrigada Ana, e um beijinho.

Querida Jeitinho, eu também não percebo muito de astrologia, mas sei que, em princípio, os signos do mesmo elemento, neste caso a Água, dão-se bem.

Os Peixes geralmente são intuitivos, sensíveis, sonhadores, emotivos, muito virados para as artes, nada pragmáticos, enfim tudo características que não valem nada na selva urbana, logo é um signo assim para o fracote!

Dizem que o ascendente, assim como a posição da lua, vénus e outros planetas no momento do nascimento, são determinantes na personalidade de cada um.

Talvez, mas também o sítio onde nascemos e o modo como somos educados terá influência no 'produto final', digo eu.

Quando aos vinte e muitos anos me interessei pelo assunto não sabia os signos das minhas amigas, mas claro que sabia quando faziam anos.
E constatei com surpresa que tinha várias amigas caranguejo, escorpião, touro e capricórnio.
E amigos peixes, touro e capricórnio.

Tal e qual o que diziam os livros!
E alguma 'fricção' com aquário, gémeos e virgem.

Pode ser que sejam só coincidências, mas eu sigo alguns blogues há cerca de um ano e a primeira vez que enviei um e-mail com um comentário, recebi logo uma resposta super simpática, adivinhem lá de quem, de uma caranguejo com ascendente caranguejo!

Nada a fazer, tenho mesmo que acreditar!

Beijo

Antonieta

p.s. Tive um grande amiga caranguejo de 22 de Julho, com quem passei umas férias inesquecíveis na Grécia em 80, que era muito prendada, fazia camisolas lindas em tricot com montes de cores, e doces deliciosos.

Assim que chegámos da Grécia foi logo comprar beringelas para experimentar fazer moussaka, que nós tínhamos adorado comer lá.
As caranguejas são assim, não são?
Fadas do lar, fazem muitas coisas e tudo perfeito!

E a família é o mais importante!

Então não hei-de acreditar na astrologia?

Antonieta

Isabel disse...

Adorei a frase do Jorge Luís Borges que a Antonieta deixou. Obrigada. É mesmo assim.
(eu não me consigo desfazer de nenhum livro, como faz a Antonieta)
Bom domingo para a Antonieta e para a UJM (e para todos!)