quinta-feira, março 14, 2024

Tempo para os deixar poisar


Há coisas que a gente pode ser levada a pensar que são objectivas, inequívocas. Mas não. Do mais subjectivas e flexíveis que há. 

Para começar, a saúde. Perante a mesma situação, cada médico diz a sua coisa. Uma pessoa pode ficar sem saber para que lado se há-de virar. Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo. Já fiz artroscopia porque, segundo o ortopedista, era imprescindível, e já ouvi vários médicos dizerem que tinha sido uma estupidez, que não havia qualquer critério para isso. Sobre a conclusão que se retirou da observação lá dentro, as conclusões foram igualmente díspares, contraditórias. E as recomendações para a prevenção de crises são igualmente para todos os gostos. Parece mentira mas é verdade.

Outra coisa que é que tal e qual é a legislação. Dir-se-ia que deveria ser fraseologia destinada a regular a existência, sem desvio, sem equívocos. Mas não. Por cada frase é preciso ouvir um monte de juristas e cada um fará a sua interpretação. 

Perante a questão do dia, se o que vale é a coligação ou se é cada partido que a compõe, já ouvi de tudo. E confesso que não sei quem tem razão pois os constitucionalistas opinam como tendo conhecimento de causa, mesmo para defenderem posições contrárias e eu, pobre de mim, sou leiga na matéria.

Também há aquilo de ainda faltarem os votos dos emigrantes que, face à escassa diferença existente, poderem vir a alterar os resultados, em especial se o que valer for a contagem dos partidos e não a da coligação.

Contudo, entre as opiniões de uns e outros, Marcelo já começou com as audições. Não faço ideia se faz bem se faz mal. Diria que, uma vez mais, está a falar antes de pensar. Mas isso sou eu.

Mas que está aqui um caldinho, está. Marcelo, na ânsia de correr com o PS, fez de tudo para o concretizar. Sempre embrulhou as suas intenções na desculpa da estabilidade. Mas sempre foi ele o principal agente de instabilidade e, como se isso não fosse suficiente, este seu lindo serviço da dissolução da Assembleia da República conduziu ao que se vê, um resultado que é do mais assimétrico e instável que há. 

Tal como tenho aqui dito, face ao ponto a que chegámos, se entramos todos em histeria -- cada um a espingardar para seu lado -- não vamos a lado nenhum.

O PCP, como sempre sem perceber nada do que se passa à sua volta, já nos presenteou com uma rejeição precoce. Ainda a coisa não começou e já eles estão a (não direi a ejacular mas a...) disparar. 

É que, em termos concretos, ainda ninguém sabe a composição do Governo e, muito menos, o seu programa. Mas isso não é coisa que incomode o bom do Raimundo que, por via das dúvidas, já anunciou que vai avançar com uma moção de rejeição. Por causa das tosses, diz ele (ou se não é por causa das tosses é por causa de outra coisa qualquer).

A Mortágua, bem longe da imagem de sombria cruella, parecendo querer que a gente se esqueça dela armada em vingadora e dominatrix, aparece-nos agora toda sorrisos e vestuário colorido, patética, a bandear-se, armada em chefe das cheerleaders da esquerda. É vê-la por aí a lançar desafios aos que ela acha que podem, com ela à frente, animar os saudosos da geringonça. Caso para dizer que já o carapau tem tosse. Não percebe que, o mais que faz, é estatelar-se ainda mais perante o eleitorado que, em tempos, lhes deu algum crédito. 

O PS parece que lhe disse que sim mas espero que tenha sido só por uma questão de boa educação e, sobretudo, por inexperiência. É que não sei se o PNS já aprendeu a mandar banho ao cão por outras palavras ou se ainda tem que comer muito pão com broa. Mas o Raimundo, um fofo, tão naïf, parece que a levou a sério e disse que sim. Sim... mas calma aí. Sim mas só se a Mortágua não estiver a pensar passar-lhe a perna, dilui-lo. Essa é que era boa, diz o Raimundo a fazer biquinho de valentão. Ora. Aprendam com ele.

Atilado, como tem sido seu apanágio, o Livre. Valha-nos isso.

Do outro lado, a IL já saltou fora do que poderia ser uma aliança alargada, AD+IL. Palpita-lhes que a coisa pode não ir longe e não querem ficar conotados.

E o Ventura, por seu lado, desdobra-se em entrevistas em que, perante a opinião pública, se mostra como o santo pronto a sacrificar tudo para o deixarem sentar-se à mesa dos grandes. Diz que, se for preciso, cede em tudo. Na prática, pretende encostar a AD à parede: ou a AD aceita negociar com eles ou chumbam-lhes os Orçamentos. Mas, claro, tudo a bem da estabilidade.

Felizmente o PS tem estado sereno, a ver no que isto vai dar. Só espero que aproveitem o compasso de espera para reflectir, para se reorientarem. 

Portanto, resumindo e repetindo-me. Moral da história: é deixá-los poisar. Isso é que é inteligente. 

Entretanto, partilho um vídeo que me parece interessante.

It doesn’t matter if you fail. It matters *how* you fail. 
| Amy Edmondson for Big Think +


Desejo-vos um dia bom

Saúde. Inteligência. Paz.

7 comentários:

Anónimo disse...

Resumindo: como as esquerdas têm, ou teriam, mais uns votos que a AD e a IL, e porque o Chega é fascista não conta, o PSD, centro-direita e PPE, devia entregar o governo ao PS, apoiado, sempre em minoria, pelo PCP marxista-leninista e pelo rancho folclórico trotskysta-maoista-lgbti do Bloco. É para já!

Anónimo disse...

Se querer meter o bedelho no seu joelho e sem saber o bem que lhe faria, eu aconselharia uma consulta de posturologia.

https://www.centroterapeuticomoisesferreira.pt/consultorio/especialidades/posturologia-corrigir-desiquilibrios-posturais-de-forma-eficaz/

Quanto ao “deixá-los poisar”, eventualmente nem terão tempo para isso.
A Unipessoal Ventura tem vindo a provar que não tolera quem pense ou quem aja diferente. Tantos e tão ilustres deputados vão desentender-se e vai ser feio de ver.
Na AD não será muito diferente na medida em que há demasiadas personagens com expectativa de ocupar certos lugares, às quais se somam as do ressuscitado “partido dos quadros", e as tais independentes convidadas para engrossar a desejada onda laranja. Para breve a onda laranja da frustração.
O Raimundo e a Mariana terão de se esforçar mais nas reivindicações salariais dos senhores doutores médicos, dos senhores doutores professores, e dos outros senhores doutores, senão ainda acabam com os proletários unidos contra eles.
Um bom dia!

Anónimo disse...

Quanto ao seu joelho, não há nada a fazer.
É a PDI...

Um Jeito Manso disse...

Primeiro Anónimo,

A sério..., é isso que depreende do que eu disse? Não quer ler melhor? Ou não quer pedir ajuda para o ajudarem a perceber o que leu...?

Vá lá... Um esforcinho de vez em quando... Ou, pelo menos, ponha os óculos...

Anónimo disse...

No seu caso, não. De todo. Mas anda por aí quem ande nesse delírio.

Anónimo disse...

Sobre os meus joelhos já ouvi de tudo.
É o que digo: PDI.

Anónimo disse...

O PS que aproveite e meta a mão na consciência: não há lá grande orgulho quando, apesar da redução do défice, dos aumentos de salário mínimo, do investimento qb em serviços públicos, no fim do dia, o resultado é uma região como o Algarve: com uma desigualdade crescente, empregos precários e desqualificados, um território de contrastes que alberga os mais pobres dos pobres paredes meias com os mais ricos dos ricos (para mais, quando os pobres doa pobres são excluídos de frequentar os espaços públicos dos ricos!), uma migração massiva, de contrastes, desorganizada e profundamente classista: "expats" vs "reformados ricos" vs "hippies" vs "migrantes".
O Algarve foi só onde isto se sente mais.
Foi tudo em nome de um país melhor? Que só não se concretizou porque a legislatura foi interrompido.
São sempre as mesmas pessoas a fazer sacrifícios. Mas são todos irracionais e só o PS tem o dom da sabedoria...