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sexta-feira, janeiro 13, 2023

Um robot igual à mãe do mundo às bolinhas

 

Tenho que confessar que, porque as coisas não andam fáceis, chego a esta hora e falta-me energia. Tenho uma fotografia de um esquilinho na minha casa que queria conjugar com outra fotografia com pinhazinhas roídas e com um vídeo de um mini-mini-esquilinho muito fofo.

Mas teria que passar as fotos para o computador e para isso já não consigo força para levantar nem um dedo. 

À noite, todas as noites, tenho pensado que, no dia seguinte, terei tempo para responder a mails e a comentários, para fazer transvase de fotografias, para apagar mil coisas que deverão ser apagadas (mil não: milhões). E chego ao fim do dia e constato que o dia não rendeu nada daquilo que queria.

Estou num momento diria que charneira e, mesmo sem querer, parece que qualquer coisa me atrofia as ideias e me tolhe os movimentos. Toda a vontade que tenho de fazer mil coisas parece estar a ser travada e não sei bem explicar porquê. O tempo, que sempre me chegou para fazer o que queria, cinquenta coisas ao mesmo tempo, agora não chega para nada.

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Não falo, pois, do que me apeteceria mas do que me é possível. Abaixo mal consegui falar quando partilhei o vídeo do presidente mais patife de que há memória a destratar um enfiado primeiro-ministro.

E agora, nos antípodas mas igualmente dispensando-me de acrescentar o que quer que seja, partilho vídeos igualmente espantosos mas por razões que nada têm em comum com o do estupor-mor.

Aqui é um robot em forma de gente. A Louis Vuitton tem ligação àquela japonesa fofinha de 93 anos, a Yayoi Kusama, que vê o mundo às bolinhas coloridas. Mas agora a colaboração foi elevada a outro patamar. Vê-se e também não se acredita.

Um robot mais realista que Yayoi Kusama em pessoa na montra de Louis Vuitton

Mas isto aqui abaixo é bonito, bonito mesmo

Louis Vuitton x Yayoi Kusama Collaboration | LOUIS VUITTON


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domingo, outubro 15, 2017

Onde estão as mulheres?




Fomos, por pouco tempo, até à nossa casa no campo. Éramos para almoçar num restaurante onde, volta e meia, paramos. Estava fechado. Fomos então até a um outro numa pequena aldeia lá perto. Quando o dono do restaurante nos veio atender, com duas ementas na mão, naturalmente devo ter-me mobilizado para a receber. Não senhor, muito respeitosamente entregou-a ao meu marido e, só depois, a outra a mim. Quando ele se afastou, o meu marido riu-se: 'Pensavas que te ia dar a ti... querias...'. De facto. E foi assim durante todo o almoço. Depois reparei que, nas outras meses, a regra era sempre essa: primeiro os homens.

Também já aqui referi a impressão que me faz quando, nas aldeias do país profundo, vejo os cafés cheios de homens, grupos de homens conversando nos passeios, e nunca nenhuma mulher. Se uma pessoa quer um café ou uma água tem que penetrar, não sem alguma ousadia, naquele exclusivo espaço masculino. Disse ousadia mas não. Quando o faço, não é ousadia que sinto. É curiosidade. Mas penso: se eu não fosse uma turista acidental mas sim uma habitante local, talvez tivesse que ser ousada para ir contra os hábitos da comunidade.


Habituada que estou a que nenhum espaço me seja vedado, a frequentar espaços em que não existe qualquer diferenciação de género e a que me seja dada a primazia de passagem, de atendimento, etc, fico sempre admirada quando me acontece o contrário.

Ainda no outro dia, por exemplo, estávamos num grande almoço numa certa guest house. Na minha mesa, era eu e mais onze cavalheiros. A comida estava em travessas numa bancada. Estávamos sentados à mesa, na conversa, tasquinhando azeitonas, pão, azeite, queijo. Às tantas, ouvi chamar o meu nome. Era o dono da casa que me chamava, dizendo-me: não é serviço à mesa, é self-service. Se não pára de falar e não vai servir-se, temos que ficar todos aqui à sua espera. Estava tão distraída que nem tinha dado por isso. Mal me levantei, logo todos os outros me seguiram. E, para mim, isto é o normal.

Contudo, o que hoje me aconteceu não foi inédito. Especialmente nas pequenas terras de província, a prioridade da deferência é, muitas vezes, reservada aos homens.


Mas, se falo em gestos de elegância que me são reservados nos meios mais cosmopolitas, também é verdade que, em cargos de gestão, sou uma mulher entre uma larga maioria de homens. E quanto mais se sobe na hierarquia mais rareia o género feminino. Estive, no outro dia, numa reunião na qual participavam os mais altos responsáveis de um grande grupo empresarial. Numa sala imensa, equipada com a melhor tecnologia, com belíssimas pinturas nas suas paredes, à volta de uma mesa da melhor madeira e de uma dimensão imensa e sentados em belos e confortáveis cadeirões de pele, era eu e mais catorze homens. Conhecendo-os como os conheço, percebo: uma mulher ia desestabilizar aquele discreto equilíbrio em que ninguém ousa dar um passo dissonante ou pronunciar uma palavra desalinhada.

Ou seja, diga-se o que se disser, apesar de tudo, é ainda um mundo de homens.

Aquilo de que no vídeo abaixo se fala não tem a ver com a sociedade rural ou com o misógino mundo dos negócios. Tem a ver com mulheres artistas e do longo caminho que têm percorrido para poderem afirmar-se como mulheres.

Na pintura como na literatura ou na música, quantas mulheres anularam a sua identidade para que a sua obra se pudesse impor? E quantas não ficaram pelo caminho? Quantas não viram a autoria da sua obra atribuída a homens, nomeadamente aos homens com quem viviam?

Os tempos têm vindo a mudar, é certo. Mas, infelizmente, não em todo o lado e não tão celeremente quando devido.

Mas aqui fica o vídeo.

Jemima Kirke – Where Are the Women? | Unlock Art

Girls actress Jemima Kirke (known as Jessa Johansson in the HBO series) addresses the topic of women in art (or the lack them). She looks at the changing role of female artists in a male dominated art world over the centuries - and how some of them eventually took on the establishment in the 1970s.


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Uma mulher artista

Yayoi Kusama – Obsessed with Polka Dots


The nine decades of artist Yayoi Kusama’s life have taken her from rural Japan to the New York art scene to contemporary Tokyo, in a career in which she has continuously innovated and re-invented her style. 
Well-known for her repeating dot patterns, her art encompasses an astonishing variety of media, including painting, drawing, sculpture, film, performance and immersive installation. It ranges from works on paper featuring intense semi-abstract imagery, to soft sculpture known as ‘Accumulations’, to her ‘Infinity Net’ paintings, made up of carefully repeated arcs of paint built up into large patterns. 
Since 1977 Kusama has lived voluntarily in a psychiatric institution, and much of her work has been marked with obsessiveness and a desire to escape from psychological trauma. In an attempt to share her experiences, she creates installations that immerse the viewer in her obsessive vision of endless dots and nets or infinitely mirrored space. (...)

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sábado, outubro 14, 2017

Vítor Gonçalves entrevista Sócrates e entaipa-o com resmas de folhas do processo Marquês.
[A Inquisição Espanhola e outras cenas]





Ora, então, muito bem. Não vi em directo. Andei passeando à beira-mar, respirando o ar fresco da noite, ouvindo o rebolar manso das ondas. Depois, aqui chegada ao meu sofá de estimação, encostei-me e, de imediato, adormeci.

Vinha com a incumbência mental de, mal aqui chegasse, escrever um mail profissional da máxima importância mas, com o sono, esvaíu-se a importância. O costume. Penso que era a isto que Einstein se referia quando teorizou sobre a relatividade. E, se não foi a isto, foi a algo parecido. O sono dilata o espaço e, com a dilatação do espaço, minimiza-se o que tem dimensão limitada. Ou o tempo. Ou encurvam-se os planos em que nos deslocamos, tendendo tangencialmente para o infinito. E aí entrarão, quase divinas, os acordes das ondas gravitacionais. A poesia potenciada pela teoria das probabilidades. E, claro está, tudo isto é pseudo ficção. Ou talvez não. Tanto faz -- não interessa.


Mas para dizer que, agora que acordei, vi referências à entrevista por todo o lado. Sócrates tinha ido à televisão e parece que foi mais uma performance daquelas. Ora bolas. Gostava de ter visto. Lembrei-me: posso ver. Portanto, peguei no comando e, estremunhada, pus-me a manobrar a coisa. Vi-me e desejei-me para atinar com esta coisa de pôr a box a andar para trás no sítio certo.

Mas lá consegui. Já cá estão os dois. O tal jornalista que, segundo me contaram, um dia, numa reportagem algures, fora do país, se assustou de morte e, perante uma coisa de nada, se atirou de uma janela, partiu uma perna e fez cocó nas calças como um menino assustadiço -- para gozo de quem assistiu a tão ridícula cena. Não sei se é verdade mas garantiram-me que sim. No entanto, olhando para ele, estou capaz de o imaginar a atirar-se para debaixo da mesa, assustado com a banhada que está a levar de Sócrates.

Mas, então, Sócrates.

Admito. Se calhar sou eu que sou burra mas vejo Sócrates a falar e parece-me seguro no que diz. E vejo o Vitinho e até me dá pena. Fraquinho, fraquinho, fraquinho. 

E ouço as perguntas do dito Vítor e tudo aquilo que ouço (e que reproduz as acusações do despacho), me parece pífio, frouxo. Parece conversa de chacha. Mas pode o processo ser extraordinário e o Gonçalves é que ser um totozecas.


No entanto, se isto é para funcionarmos na base da fezada, então, cá para mim, aquelas perguntas e toda aquela acusação me parece coisa de crianças ou de detectives falhados, ou uma investigação na base dos meus amigos monty. E Sócrates, com uma perna às costas, desmonta aquela conversa em três tempos. 

Mas, com tanto inteligente a decretá-lo culpado, admito a hipótese de ser eu que sou burra. Admito. A sério.


No entanto, deixem que volte à mesma. É a minha matriz. A minha formação. O meu gosto pela Lógica. O prazer em dissecar raciocínios, o prazer em detectar falácias. O prazer em construir modelos rigorosos que reproduzem a realidade. Fui aluna de 18 a Lógica. E se aquilo era exigente. Mas também pode acontecer que fosse aluna de 18 aos 18 e que agora, com os neurónios desgastados, se me apresentasse a exame, não fosse além de uma valente nega. We never know.

Mas, então, numa de rigor contextual. Estamos a avaliar o quê? A moral de Sócrates? A capacidade política de Sócrates? A culpabilidade, em termos criminais, de Sócrates?

É que o primeiro cuidado a ter é o de separar as águas. 

Há vários anos, era Sócrates primeiro-ministro. Rodeada de direitolas, alguns muito meus amigos, ouvia-os dizer cobras e lagartos de Sócrates. Eu dizia: o governo está a ter um bom desempenho. Eles diziam: é irascivel, é arrogante. Eu dizia: não estou  dizer que fazia dele um best friend forever, estou apenas a dizer que está a fazer um bom trabalho no governo. Eles diziam: é uma pessoa intratável. Eu dizia: não estou a avaliá-lo do ponto de vista pessoal mas político. 


Isto. Durante anos. Misturavam planos, contaminavam os juízos que formulavam, misturavam a avaliação política com a avaliação pessoal. 

Agora não é isso. Agora avalia-se o carácter (com base no que a comunicação social divulga do processo) e mistura-se com um tema criminal.

Admitindo que é verdade que Sócrates tenha pedido dinheiro emprestado ao amigo e que fazia vida de nababo à conta dele, isso permitir-nos-ia formar juízo de índole moral. 

Ora, o que está em causa é matéria judicial. É crime usar dinheiro emprestado? Não creio. 

Claro que a suposição é que o dinheiro não era do amigo mas, sim, dele. Ou seja, está-se perante uma suspeita. Ele diz que é falso e di-lo com absoluta convicção e prova-o documentalmente. Mas é aqui que devem entrar os tribunais. É aos tribunais que incumbe a responsabilidade de avaliar se as suspeitas colhem, se as provas existem e se são robustas -- e, então, formar um juízo.

de Yayoi Kusama

Não é ao vulgar cidadão, que não tem os instrumentos de que dispõem os tribunais, que incumbe a responsabilidade de julgar e condenar. Mal fora. Talvez o tal Ventura de Loures, que defende a pena de morte, vá por aí, de dizer que não vale a pena esta coisa dos tribunais. Mas acho que era bom que as pessoas normais não alinhassem neste primarismo de fazer justiça pelas suas mãos.

Do que estou a ouvir, todas as 'acusações' são refutadas por Sócrates e parece que com fundamentação, deixando o dito Gonçalves com ar completamente apalermado.

Sócrates fala e parece deixar claro que tudo o que ali está mais parece uma palhaçada mal alinhavada. No entanto, os tribunais o dirão. Os tribunais. Os tribunais -- e não os zés da esquina que somos nós. Os tribunais e não quem se deixe impressionar pelo tamanho de resmas de papel colocadas numa mesa, ao lado do arguido, numa tentativa de o querer mostrar enterrado entre milhares de linhas acusatórias..

Quanto a acharmos que Sócrates pode ser convencido, assertivo, vaidoso, autoritário, de ser isto, aquilo ou o outro, é outro assunto, e aí entramos no domínio do subjectivo. Cada um pode achar o que quiser e cada um pode ser como quiser. Não é tema para ser misturado com temas criminais.


E eu, para concluir esta divagação, o que lamento é que a justiça seja tão lenta. Andar uma pessoa a ser investigada durante quatro anos -- a vida devassada, exposta nos meios de comunicação social, os queixumes da mãe de que está depenadinha a serem objecto de títulos de jornais, a vida inteira a ser pasto de comentadores, jornalistas a metro e redes sociais -- parece-me um abuso indesculpável. Pensar que agora ainda pode demorar mais uma mão cheia de anos até que isto se resolva parece-me uma autêntica barbaridade.

A Justiça não deve servir para poder destruir uma pessoa antes sequer de se saber se é culpada de alguma coisa.

Se se vier a provar que é inocente, quem lhe devolverá todos os anos que lhe terão sido roubados?

E não o digo por ser Sócrates: digo-o porque é um cidadão português e porque uma tragédia destas, de alguém se ver enredada nas malhas da justiça, pode acontecer a qualquer pessoa.

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Tirando isto tudo, se é para haver inquisição, pois, então, que entrem os meus amigos:

Monty Python - Inquisição Espanhola


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As imagens que aqui usei provêm da Vogue parisiense e, claro está, não têm nada a ver com nada.

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