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terça-feira, setembro 09, 2025

Considerará o indigno Moedas que o Paulo Portas e a Mariana Leitão são seus sicários?
-- A palavra ao meu marido --

 

O Moedas, na entrevista à SIC, esquecendo-se que estava a fazer-se de coitadinho, e após dizer que nem pensava nas eleições, atirou-se com ignomínia ao PS, chegando, entre outros "mimos", a chamar a quem o atacava, sicário da Alexandra Leitão. 

Seguindo essa analogia, será que o Moedas também considera que quem tem tentado salvar a sua pele -- com argumentos estapafúrdios, é certo --, como, por exemplo, o Paulo Portas e a Mariana Leitão, são seus sicários, certo? 

O Moedas tem demonstrado ser reles e ignorante, mas, como já deve, entretanto, ter sido esclarecido, sicários são criminosos contratados que, no início, usavam adagas escondidas debaixo das togas com as quais perpetravam os assassínios. É óbvio que não são os métodos usados em democracia mas vê-se bem o calibre do personagem quando é capaz de fazer este tipo de afirmações. Pior ainda e de uma baixeza insuportável é o que afirmou sobre a demissão do Jorge Coelho quando ocorreu o acidente em Entre Rios. Um tipo que mente descaradamente e que mostra ser tão reles não é confiável e não merece qualquer tipo de consideração ou respeito. Não vale tudo, certo?

quinta-feira, julho 24, 2025

Dicionário made in silly season

 

Futilidade: sondagens sobre as Presidenciais quando ainda não se conhecem todos os candidatos e quando os portugueses ainda estão muito longe de se ralarem com tal coisa.

Cábulas de primeira: deputados do Chega que, de cada vez que abrem a boca, revelam que não sabem do que falam

Cábula de segunda: Luís Montenegro que vai para a Assembleia da República armado em bom, em erudito, a citar Sophia de Mello Breyner, quando, afinal, a frase referida era da autoria de José Saramago. Ou o tipo que lhe escreveu o texto quis divertir-se à sua custa, colocando-lhe uma casca de banana debaixo dos pés, ou foi outro cábula que nem se lembrou de confirmar o que escreveu. Seja como for, ele próprio, o Luís, deveria ter tido a lucidez de confirmar o que ia dizer para evitar fazer um papelinho mais do que triste

Cábulas de terceira: alguns dos comentadores deste blog que aparecem aqui não para referirem factos concretos ou para rebaterem, factualmente, o que aqui se diz, se limitam a 'mandar' bocas ou, mais calinamente ainda, vêm revelar que têm uma bizarra fixação em Sócrates. 

Incompetente em expoente máximo: Ana Paula Martins. Não há dia em que as notícias não nos deixem estupefactos com as cavalices que se passam sob a égide de Madame Aparelhista

Ridícula: a defesa atotozada dos Anjos que não se calam com a cena do acne. Agora entregaram fotografias que atestam a borbulhagem

Embuste: quando eu trabalhava, sempre que havia actualização das tabelas de retenção de IRS, o que o Departamento de Recursos Humanos fazia era 'carregar' essas tabelas na aplicação informática de processamento de salários e escrever a data a partir da qual a nova tabela vigorava. Se a tabela fosse carregada em Agosto mas com incidência a Janeiro, automaticamente a partir de Agosto apareceria já a nova taxa de IRS e, nessa altura, o sistema calculava retroactivamente o IRS que deveria ser retido, devolvendo o que tinha sido retido a mais. Não havia ciência oculta. O valor retroactivo resultava de uma conta simples: o valor a mais em cada mês vezes o número de meses. Acontece que nada disto acontece com o Ministério das Finanças agora faz: o valor devolvido em Agosto e Setembro é muito superior ao valor resultante daquele referido cálculo. Verifica-se que a partir de Outubro (ordenados a pagar no fim de Outubro, ie, depois das eleições) a diferença no imposto retido é cagagesimal, alcagoitas. Mas o que vão devolver em Agosto e Setembro (antes da data das eleições) são valores simpáticos. Se isto não é manipular as pessoas ou comprar votos, que venham todas as virgens rasgar as vestes e me expliquem qual a lógica matemática desta jogada. 

Escapista: Marcelo Rebelo de Sousa, o palrador-mor, o omnipresente e ubíquo  Presidente que, depois de ter feito a vida negra a António Costa, com bocas encapsuladas e bocas directas ou indirectas, usando-se a si próprio ou usando a so-called fonte de Belém, e de ter feito o possível e o impossível para correr com o PS e para pôr o PSD no governo, agora, haja o que houver, remete-se ao silêncio. Não é apenas que se tenha tornado discreto, é mais que isso, praticamente desapareceu, emudeceu, empalideceu, quase se tornou um fantasma.

domingo, maio 25, 2025

Modo de pausa

 


Depois de ter esperneado com o resultado das eleições, ter espremido os neurónios tentando pôr em equação o ensarilhamento em que estamos metidos, depois de ter lido mil opiniões e ouvido cinquenta mil sapientes veredictos, o que tenho a dizer é o mesmo que sempre fiz em situações de berbicacho: bola para a frente porque para a frente é que é caminho.

Enquanto muitos dos meus colegas adoravam enfronhar-se em cansativos meas culpas ou em intermináveis sessões de lições aprendidas, eu sempre fui mais de me reunir rapidamente com quem tinha alguma coisa de inteligente a dizer (opiniões de burros ou de papagaios dispenso), tirar meia dúzia de conclusões, com essas conclusões e mais o que há pela frente traçar um caminho e... bora lá antes que se faça tarde.

Portanto, por mim já chega de andar a tentar a pisar e a repisar sobre o mesmo assunto.

É certo que continuo a achar que o Montenegro é um chico-esperto e que, nos 11 meses em que governou, não fez nada de jeito -- e o que pareceu melhorzinho foi a continuação do que vinha do anterior governo ou a distribuição de ma$$a, pois tinha folga (herdada) e sabia que as eleições estavam ao virar da esquina. Mas, enquanto a Spinunviva ou outras argoladas do género não o derrubarem, só espero é que faça aquilo para que foi eleito.

Quanto ao PS, sempre disse que achava que o Pedro Nuno Santos não era a pessoa certa para suceder a António Costa. O PS pela mão de Pedro Nuno Santos quase me levou a não votar no PS. Pedro Nuno Santos foi um erro de casting, como os resultados eleitorais mais do que demonstraram. 

Na altura, pareceu-me que José Luís Carneiro seria a pessoa certa. Mas, na altura, o Chega ainda gatinhava. Agora, os do Chega já andam em duas patas e já convenceram milhão e tal de pessoas que são os melhores para governar o País. Orwell cheirou-os a léguas (a eles e a todos os outros que têm feito o mesmo percurso). Não sei se, para a presente circunstância, José Luís Carneiro tem o carisma, o punch e a visão para levantar o PS e, ao mesmo tempo, para atirar o Chega ao tapete. Não estou a querer dizer que acho que não. Estou apenas a dizer o que disse, que não sei. Não o conheço suficientemente bem. Mas espero que sim. Espero bem que sim.

Face a este panorama, se eu fosse o Marcelo o que faria, antes de mais, em paralelo com as conversas oficiais com os partidos e off the record, seria chamar os directores de informação dos diferentes meios de comunicação social para os desafiar a fazerem um pacto (de regime) para que parem de andar atrás do Ventura. O Chega é o Ventura. E o Ventura é um demagogo, sem ética, sem vergonha. Mas é também um excelente comunicador. Criativo e bom comunicador. Consegue lançar ossos para a praça pública a toda a hora, mobilizando a agenda dos media. Só que os canais de televisão -- ou de rádio ou os jornais -- não são cães para irem atrás de qualquer osso, pois não? Se a Comunicação Social deixar de dar palco ao Ventura, o Chega esvazia-se. Provavelmente deveria ser a ERC a ter um papel pedagógico junto da Comunicação Social. Mas a ideia que tenho é que a ERC não risca, não serve para nada. Portanto, penso que deve ser o Marcelo (que tem muitas culpas no cartório em toda a instabilidade que atravessamos) a atravessar-se.

Identicamente, alguém deveria andar em cima das redes sociais dos partidos, em especial do Ventura e do Chega. Contas falsas devem ser denunciadas. Incitamentos ao ódio ou insultos devem ser denunciados. Há mecanismos legais para lidar com tudo. Não deve haver complacência.

Tirando isso, penso que, com toda a humildade, deve tentar validar-se se as percepções de tanta gente estão erradas ou se, pelo contrário, são legítimas. 

Dou alguns exemplos:

Como são atribuídos os subsídios? Como é que isso é auditado para verificar se não há abusos? Há gente que não faz nenhum e que vive, ao após ano, à pála de subsídios?

Há mesmo milhares e milhares de imigrantes que não trabalham e que recebem subsídios? 

Há mecanismos para acolher e integrar os imigrantes, em especial os que não falam português? 

E, pelo que se tem visto em algumas reportagens, os abusos que se têm detectado no SNS são altamente lesivos das contas públicas e, também pelo que tem visto, os processos administrativos, para além de permitirem toda a espécie de abusos, são manuais, precários e não há auditorias. Será que isto acontece generalizadamente? 

Tenho lido que em Portugal há mais médicos por habitante do que na maioria dos outros países. E, no entanto, há muitos milhares de pessoas sem médicos de família, é preciso esperar muitos meses por uma consulta banal (e sobre as de especialidade acho que ainda é pior). Parece que há sempre falta de dinheiro. E, no entanto, na volta o que há é dinheiro a mais, esbanjamento, aproveitamento, muita ausência de gestão, muito regabofe. Tenho defendido que a gestão de hospitais deve ser entregue a gestores profissionais. Não a médicos, não a gentinha dos partidos. Hospitais que gerem orçamentos de milhões têm que ser entregues a gestores competentes e profissionais. Numa altura em que a Saúde está tão mal, com Urgências fechadas, com tantos atrasos, se entregassem a gestão a profissionais não apenas se poupariam muitos milhões como os serviços melhorariam rapidamente. Se as pessoas começarem a ver 'saneamento' de gastos abusivos e melhoria no atendimento com certeza o paleio populista será esvaziado.

Quanto à habitação, também é preciso arranjar soluções urgentes: aproveitem edifícios públicos, adaptem-nos, alojem o máximo de pessoas. Rapidamente. Com assertividade. Com pouco paleio. E favoreça-se e apoie-se o ressurgimento de cooperativas de habitação. Apareçam com soluções concretas, rápidas, bem articuladas, bem acompanhadas, bem divulgadas. Esvazie-se o populismo.

Já disse e repito-me: é tempo de juntar esforços contra o populismo. E, enquanto a legislatura for avançando, o PS terá tempo para se reorganizar. Ou haverá tempo para aparecer um novo partido (caso o PS não consiga livrar-se do anquilosamento aparelhista, não consiga regenerar-se assimilando com inteligência o ar do tempo).

Mas, dito isto, agora vou continuar na mesma onda em que tenho estado nestes últimos dias: a ler, a curtir, regando, cozinhando, caminhando, estando em família, na boa. Agora nem tenho escrito. Tem-me apetecido descansar, estar em modo de pausa.

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Desejo-vos um belo dia de domingo

sexta-feira, maio 23, 2025

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício

 

Dia de intervalo, de pausa, de descanso, de folga. Hoje não quero dissertar, pensar, reflectir, equacionar. Zero, por favor. 

Durante o dia quase não conversámos sobre o que se passou pois não gostamos de falar sobre percepções que não temos como fundamentar. Pelo contrário,  somos racionais, tendemos a ser analíticos, frequentemente assentamos os nossos raciocínios em números. Ora, no caso vertente, tudo o que aconteceu desafia a lógica, a razão, a objectividade. 

Ouvi, há pouco, no Eixo do Mal, o Luís Pedro Nunes dizer que em Rabo de Peixe, terra em que mais gente usufrui de subsídios de subsistência, ganhou o Chega, partido que faz campanha contra os subsídios. Ou seja, os subsidiados votaram em quer acabar-lhes com os subsídios.

E li que em pequenas aldeias em que grande parte da população emigrou, que estão meio desertificadas e sem mão de obra local e que sobrevivem graças aos imigrantes, votaram contra o Chega porque não gostam de imigrantes. Se calhar, preferiam viver em terras desertas, solitárias, sem trabalho, só com velhos à espera da morte. 

E o meu marido viu uma reportagem, numa vila piscatória, em que um homem dizia que, se não fossem os imigrantes, não arranjava gente para poder sair com os barcos e, ao mesmo tempo, que tinha votado no Chega porque estava farto dos imigrantes. Ouve-se isto e só podemos concluir que, para pessoas assim, a lógica é uma batata.

Portanto, num tal quadro de irracionalidade, mais vale pendurar os neurónios ao sol, a ver se arejam, se se vitaminam, e, ao mesmo tempo, dar tréguas ao que sobra da minha inteligência.

No entanto, deixem que junte ainda uma informação. No outro dia, a minha filha dizia que muita gente só tem contacto com a 'informação' -- e vamos pôr aspas e mais aspas a embrulhar a 'informação --, através das redes sociais. E, enquanto falávamos, disse: 'Deixa cá ver como é a presença deles no Instagram'. E lá está: branco é, a galinha o pôs. É que os números falam por si. André Ventura está em todas, gera conteúdo, dá tração ao algoritmo, e, como resultado, tem 581.000 seguidores. Os outros estão a milhas. Por exemplo, Luís Montenegro tem apenas 59.900 seguidores. Pedro Nuno Santos ainda menos, 40.500 seguidores. 

Uma investigação, creio que da CNN, que contratou uma empresa israelita especialista nestas coisas, divulgou que no X, ex-Twitter, cerca de 50 % das contas que promovem o Chega e minam com comentários negativos o PS e o PSD são falsas. Mas, entre falsidades e verdades, o que se pode concluir é que se as televisões andam permanentemente com o Ventura ao colo, nas redes sociais são as vozes dos apoiantes do Chega, sejam eles verdadeiros ou falsos, que se fazem ouvir. E quem não aparece esquece. 

Mas, retomando a minha trégua, antes que os meus fusíveis se queimem todos a tentar encontrar uma solução para isto, hoje resolvi que era holiday. Tenho esperança que, depois da borrasca, venha a bonança e é com essa esperança (uma esperança abstracta e congénita) que vou ter que me alimentar.

E, nesse comprimento de onda, viro-me para as leituras. Como sempre, navego em águas marginais. 

Só o que é diferente satisfaz a minha necessidade de alimento intelectual ou estético. O meu prazer na leitura é encontrar o que me deixe a pensar, o que me divirta ou me enterneça, o que me faça pensar: 'olha, está bem visto', o que me interrompa porque está tão bem escrito que me apeteça fazer uma vénia.

Agora são estes:

Uma última pergunta - Entrevistas com Mário Cesariny (organização, introdução e notas de Laura Mateus Fonseca com um belo prefácio de Bernardo Pinto de Almeida)

A longa estrada de areias - Pier Paolo Pasolini

Hojoki - reflexões da minha cabana - Kamo No Chomei

Tenho constatado, no Instagram (where else?), que há muitos clubes de leituras. Vejo que as pessoas se juntam para comentar o que leem. Mas o que vejo é que comentam livros banais. E, de certa forma, compreendo-as. É que estes livros que estou a ler, por exemplo, seriam diminuídos se um conjunto de pessoas se pusesse a dizer banalidades sobre eles. Mesmo que não fossem banalidades... É que são livros para a gente ler com vagar, apreciar, quando muito ler uns trechos para outra pessoa ouvir também. Mas é para a gente sentir prazer com eles. Só isso. Não é para explicar, descodificar, perceber. Não, não.   

Enfim. Que sei eu? Se calhar sou eu que sou atípica, bissexta, escalena, um número primo, uma letra de um abecedário ainda por desenhar. 

Termino transcrevendo uns versos de Pastelaria, do Cesariny

(...)

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício
e cair verticalmente no vício

(...)

Que afinal o que importa não é haver gente com fome
porque assim como assim ainda há muita gente que come

Que afinal o que importa é não ter medo
de chamar o gerente e dizer muito alto ao pé de muita gente:
Gerente! Este leite está azedo!

Que afinal o que importa é pôr ao alto a gola do peludo
à saída da pastelaria, e lá fora – ah, lá fora! – rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta
ter lavados e muitos dentes brancos à mostra

Mas vou ainda catrapiscar melhor para depois repiscar um pouco mais (talvez até abusivamente, não é...?), deixando agora apenas o que me dá jeito:

Afinal o que importa é não ter medo: fechar os olhos frente ao precipício

Que afinal o que importa é não ter medo

Que afinal o que importa é rir
de tudo

No riso admirável de quem sabe e gosta

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 E hoje o que me apetece ouvir (e ver) é isto:

Bruce Springsteen - Dancing In the Dark


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Boa sexta-feira

quinta-feira, maio 22, 2025

Um reborn de nome André

 

Desde que, há três meses, comecei a frequentar o Instagram todo um mundo desconhecido se abriu frente aos meus olhos inocentes. Vejo e ouço coisas que me deixam perplexa. Antes das redes sociais apenas quem tinha algo de relevante a dizer era chamado a opinar em público. Era a quem detinha o poder editorial que incumbia a responsabilidade de identificar os melhores e levá-los ao púlpito maior, televisão, rádios, jornais ou revistas. Com as redes sociais, qualquer um -- qualquer zé-ninguém, qualquer maria-vai-com-as-outras, qualquer burro encartado, qualquer tarado, psicopata, narcisista, marginal, ignorante & ordinário, qualquer gentinha sem noção -- tem o púlpito à sua disposição e canal aberto para o mundo. E qualquer um, tendo a sorte de ter audiência, consegue viralizar, monetizar a sua 'mensagem', catequisar. Influenciar. É o tempo dos influencers. Dos políticos influencers. E qualquer um pode ser influencer. 

Tenho a sorte de o algoritmo ter percebido mais ou menos os meus gostos e, por isso, há o lado bom de me ser dado a conhecer o que muitos escritores, editores, pintores, escultores, galeristas, jornalistas, pessoas de bom gosto têm a dizer ou a mostrar. Mas, certamente porque me detenho a ver, também me aparecem cabeleireiros, maquilhadores, cozinheiros, nutricionistas. Muitos brasileiros.

E, no meio, por vezes, não sei a que propósito, coisas estranhas que não percebo se são paródia ou mera parvoíce e que não me fazem parar. Mas tão frequentemente me têm aparecido que agora prestei atenção. Sendo eu novata nas redes sociais (ie, no Instagram) se calhar estou a achar estranho o que, para quem anda há anos pelo facebook, instagram ou tik tok, já deve ser banal. Mas, ainda assim vou falar de um fenómeno que desconhecia e que está a deixar-me perplexa.

E estou a falar em concreto de uma coisa que dá pelo nome de reborn. Bebé reborn. Eu via mulheres com uns bebés meio estranhos ao colo. Depois, prestando atenção, percebi que eram bonecos. Mas as mulheres andam com eles ao colo como se fossem bebés de verdade, levam-nos a passear, fazem festas de anos. Inclusivamente vi uma a chorar, revoltada, porque tinha ido com o reborn ao médico e o médico tinha-se recusado a atendê-lo. E depois vi que já havia várias pessoas a fazer vídeos a discutir se sim ou não e até uma advogada a aconselhar os médicos a quem apareçam 'mães' de reborns, dizendo como devem agir.

E eu, perante tudo isto, fico como se levasse uma pancada na cabeça. Como é que é possível?!

Fui ao chatgpt confirmar o fenómeno, ver se esta maluquice existe mesmo.

Transcrevo o que escreveu:

Um bebé reborn é uma boneca feita com extremo realismo para se assemelhar a um recém-nascido ou a um bebê de poucos meses de vida. Esses bonecos são criados a partir de kits de vinil ou silicone, que são moldados, pintados e montados manualmente por artistas — conhecidos como "reborners" — que dedicam várias horas (às vezes dias) a cada peça. Os detalhes vão desde a coloração da pele com veias visíveis, até o enraizamento fio a fio dos cabelos e a aplicação de peso interno para que o boneco tenha o peso e o toque de um bebê real.

A origem desse movimento remonta à década de 1990 nos Estados Unidos, com raízes na comunidade de colecionadores de bonecas. Desde então, a prática se expandiu significativamente, ganhando popularidade em diversos países da Europa e da América Latina, especialmente no Brasil, onde há feiras, cursos e lojas especializadas nesse tipo de arte. Além do público colecionador, os bebés reborn atraem também pessoas que os utilizam por razões emocionais ou terapêuticas — como mães que perderam filhos, pessoas com depressão, ou idosos com Alzheimer, para quem a interação com esses bonecos pode trazer conforto. 

O alcance dessa tendência vai além do simples colecionismo. A popularidade dos vídeos nas redes sociais — especialmente no YouTube, TikTok e Instagram — ampliou o interesse pelo universo reborn. Muitos criadores de conteúdo compartilham rotinas de "cuidados" com seus bonecos como se fossem bebês reais, atraindo tanto críticas quanto admiração. A indústria se profissionalizou: há artistas renomados internacionalmente, bonecos que podem custar milhares de dólares e até certificações de autenticidade.

Ainda que para alguns a prática pareça excêntrica ou até inquietante, para outros ela representa uma forma legítima de expressão artística, uma válvula emocional ou mesmo uma ferramenta terapêutica. Isso mostra que os bebés reborn são mais que uma moda passageira; eles fazem parte de um fenômeno social multifacetado que une arte, afeto e mercado.

Há influenciadoras que fazem parte de uma comunidade crescente que utiliza os bebês reborn não apenas como objetos de coleção, mas como parte de experiências emocionais e artísticas. Seja por motivos terapêuticos, expressão artística ou simples afeto, elas compartilham suas jornadas com autenticidade, atraindo tanto admiração quanto debates sobre os limites dessa prática.

Ou seja, o que vi foram pessoas não colecionadoras de bonecas realistas, nem idosos ou doentes com Alzheimer, mas mulheres que, por algum distúrbio ou sei lá porquê, agem como se fossem mães de verdade dos bonecos e criam páginas nas redes sociais para partilhar as suas experiências com aqueles 'filhos', mostram o quartinho dos bebés, os brinquedos deles, os cuidados que requerem, etc.

Em condições normais, eu diria que uma mulher que trata um boneco como se fosse um filho de verdade e se aliena a ponto de se esquecer que aquilo é um ser inanimado e não um ser vivo, é alguém que precisa de ser tratado. 

E, no entanto, não. Expõem-se, têm centenas de milhares de seguidores, formam uma comunidade, reivindicam, reclamam direitos.

E tudo como se fosse normal. E parece que ninguém acha isto doentio, sinistro, distópico.

Perante situações destas, eu penso: como se dialoga com pessoas assim, que acreditam no mundo paralelo em que se posicionam? Que conversa racional é possível ter com pessoas assim?

Sinceramente não sei. E isto inquieta-me.

Não quero fazer extrapolações abusivas mas quanta gente perturbada deste ou doutro tipo --, ou pessoas que acreditam que a terra não é redonda, ou que, sendo imigrantes, acreditam que quando um político se atira aos imigrantes não está a ameaçá-los a eles mas a outros e, portanto, o apoiam, ou pessoas que pouco têm mas que o maior medo que têm é que os que ainda têm menos venham roubar-lhes alguma coisa ou que se insurgem contra os desgraçados miseráveis que recebem uns trocos para sobreviver --, constitui o público alvo dos populistas? Quantas destas pessoas, tão distantes da realidade concreta, tão facilmente manipuláveis, votam nos populistas só porque sim, só porque os populistas dizem 'a verdade' ou prometem 'abanar isto tudo'?

E como podem os políticos decentes, que falam a verdade, com base em factos, em estatística, em dados históricos, reais, fundamentados, interagir com estas pessoas? Não sei. São línguas diferentes, comprimentos de onda diferentes. 

Claro que a análise que se pode fazer à população que vota em partidos populistas não é una. Uma análise a fazer tem que ser multifactorial. Uns votam porque são fascistas e estavam à espera de quem viesse resgatar o antes do 25 de Abril, outros são levados pelo que as igrejas evangélicas, maná, do 7º dia ou outras recomendam, outros são bolsonaristas e, aqui deslocados, seguem a cópia, outros acreditavam nos amanhãs que cantam do comunismo e agora viraram para uma realidade mais actual, outros não vão além do mundo dicotómico dos bons e dos maus e votam no que diz que vai atrás dos maus, outros são ex-combatentes, ainda com feridas a sangrar da guerra e votam em quem diz que é preciso não esquecer os ex-combatentes, outros votam em quem se ajoelha, tem crucifixos no bolso e fala pondo as mãos como se estivesse em prece, outros votam porque não gostam da cor dos imigrantes que agora aparecem lá na rua, outros votam porque acreditam que aquela pessoa que assim lhes fala ao coração é sincera e se preocupa de verdade. 

E isto é complicado porque se é fácil levar pessoas assim a seguir um líder carismático que parece falar para cada um (mesmo, de facto, nada dizendo de concreto), muito difícil é levá-los a perceber que fazem mal em escolher serem 'conduzidos' por um populista que nada mais faz do que alimentar-se da sua ignorância, do seu medo, do seu distanciamento da realidade.

Pessoas assim mais depressa aceitam dar o seu voto a um político reborn, fake, do que a um político sério, decente.

E isso é um perigo. Ou, sendo eu uma optimista, um desafio. 

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Para que tenham maior visibilidade, transcrevo alguns comentários que eu e o meu marido temos recebido e que muito agradecemos. Não transcrevo um dos comentários, excelente, pois vejo que é uma transcrição e não consegui identificar ao autor original para aqui atribuir os créditos. Mas transcrevo outros. Não todos, para isto não ficar ainda mais extenso do que já está.

O SÍNDROME DE ESTOCOLMO

(Amar o agressor)

As eleições legislativas de 2025 trouxeram uma clarividência sombria: uma parte significativa da população votou contra os seus próprios interesses, com uma convicção que está paredes meias com a cegueira. Dá pena!

Mal informados e mal formados ainda acreditam no coelhinho da páscoa ou no "4 pastorinho" ou numa qualquer igreja maná ou outras, totalmente alienados politicamente.

É o velho ditado a ganhar nova vida - o povo descalço continua a votar em quem lhe roubou os sapatos.

E desta vez ainda lhe bate palmas!

.....

JAMAIS CONFUNDAM O POVO, com os inimigos do povo. Nunca caiam na tentação de ODIAR O POVO. Amilcar Cabral

A política é o meio através do qual homens sem principio dirigem homens sem memória. Voltaire

Uma nação que tem medo de deixar seu povo julgar a verdade e a falsidade em um mercado aberto é uma nação que tem medo de seu povo. – John F. Kennedy

A maioria dos males que o homem infligiu ao homem veio do facto de as pessoas se sentirem bastante certas de algo que, na verdade, era falso. BERTRAND RUSSEL

O servo ideal de um governo totalitário não é o nazista convicto ou o comunista convicto, mas pessoas para quem a distinção entre facto e ficção e entre verdadeiro e falso não existem mais. – Hannah Arendt

Esta mascarada enorme-com que o mundo nos aldraba-dura enquanto o povo dorme-quando ele acordar acaba . Antonio Aleixo

quarta-feira, maio 21, 2025

Ainda as eleições
-- A palavra ao meu marido

 

O grande problema dos partidos tradicionais, nomeadamente, de esquerda é que não entenderam as mudanças do eleitorado. Para uma maioria significativa dos eleitores -- e o caso dos mais jovens é paradigmático --, a esquerda e a direita não significam nada e estão-se absolutamente nas tintas para os valores aceites pela comunidade nas últimas décadas. 

O que interessa é o que aparece nas redes sociais. Não interessa se a informação que lhes é apresentada corresponde à realidade ou é mentira. Apenas procuram notícias que correspondam às suas aspirações, que sejam muito sucintas, sensacionais e facilmente compreensíveis e sobretudo disponibilizadas pelos seus gurus nas redes sociais.  Notícias que digam mal do "inimigo" seja ele qual for,  geralmente aquele que dá mais jeito ao "guru" de estimação naquele momento: imigrantes, ciganos, políticos...

O que é preciso é que existam inimigos que permitam mobilizar a massa anónima para que os gurus possam atingir os seus fins. 

A esquerda não percebeu a mudança. Não conseguiu denunciar os embustes, utilizando a nova forma de comunicar, nem apresentar objetivos agregadores que correspondam às aspirações dos que têm mais dificuldades e que lhes permitam perspectivar a célebre mudança por que tanto anseiam, seja ela o que for no imaginário de cada um deles. 

Os dirigentes do PSD, a começar pelo Montenegro, que tem uma enorme tendência para se esquecer dos aspectos éticos e que, nalguns casos parece que estão em cima de uma linha muito ténue entre o que é ou não admissível em democracia adaptaram-se melhor e transmitiram uma mensagem mais fácil de perceber para os que não estão para se chatear com essa maçada de ter que perceber os factos e tirar conclusões. 

Mas, atenção, a subida do Chega também resulta de outros factores como aqui escrevi na noite das eleições. Como é possível que os vários canais noticiosos tenham estado horas e horas a falar do Ventura, nomeadamente, horas a filmarem as traseiras do carro da frente quando ele era transportado para o hospital. O Bernardo Ferrão veio justificar-se dizendo que era notícia. Que notícia? Estavam à espera que o Ventura se atirasse da ambulância em andamento para darem em direto? 

Diversos analistas confirmam que, no período eleitoral, os media  ampliaram e deram grande relevo aos assuntos favoráveis ao Chega: segurança, imigrantes, corrupção, promovendo assim esta gentinha. Tenham um pouco de clarividência e reflictam no papel que tiveram na ascensão meteórica do Chega nos últimos anos. Se forem jornalistas sérios não ficarão certamente orgulhosos do papel que desempenharam. 

Também o Marcelo devia reflectir na forma como atuou e contribuiu para que a possibilidade de que, quando sair de Presidente, o líder de oposição possa vir a ser o Ventura já não seja uma abjecta ficção. Foi, como disse o Júdice, o pior presidente dos últimos cinquenta anos. 

Os dirigentes do PSD, que para salvarem o Montenegro e os seus lugares, não se importaram de provocar eleições e trazer os temas preferidos do Chega para o debate, sejam eles relevantes ou não, também deram para o mesmo peditório. 

A contínua intromissão do MP na política, fazendo passar a ideia de que os políticos  são, por natureza, corruptos, chegando ao extremo de fazer cair um governo com maioria absoluta, cozinharam um caldo pastoso que o Chega  aproveitou para fazer passar as ideias que mais lhe convinham. 

É verdade, o mundo mudou e o Ventura é um líder carismático que faz muito bem o seu trabalho, mas teve ajudas de monta para chegar onde está e, implícita ou explicitamente, a comunicação social, o Marcelo, o MP e o Montenegro ajudaram um bom bocado. A esquerda, por inépcia, também contribuiu.

Hoje li a notícia de que o Chega quer proibir a atuação do Nininho Vaz Maia na Azambuja e, apesar de envolver o comunicado num palavreado pretensamente tradicionalista, a verdade é que os motivos são absurdos e não é difícil perceber que, por trás, há uma motivação racista. É a tentativa de voltar à censura que acabou há cinquenta anos e é perigosamente parecido com o que se passou na década de trinta do século passado nos regimes fascistas. Parece-me tão grave que, antes que esta prática se expanda e o revanchismo e a arrogância anti-democrática comecem a fazer caminho, o Presidente devia ter uma palavra pública de repúdio. 

terça-feira, maio 20, 2025

Reflexões na ressaca

 

Isto não está fácil, confesso. Não me apetece escrever. No domingo à noite deitei-me tarde, atordoada. Os resultados das eleições viraram-me do avesso. Eram seis da manhã e ainda não dormia. Já o dia clareava e eu sem sono. Depois acordei às oito e picos e parecia-me que já não tinha sono. Forcei-me a dormir mais um pouco. Mas pouco mais. Íamos ao ginásio e depois ainda tínhamos várias coisas a fazer. Ou seja, mal dormi.

Por isso, de tarde, lá para as cinco, deitei-me ao sol, na espreguiçadeira, e adormeci. Não muito pois as nuvens passavam a vida a cobrir o sol e ficava frio. 

Há pouco, estávamos a ouvir o Paixão Martins, adormeci de novo. Micro-adormecimentos mas o suficiente para não ter conseguido acompanhar com seguimento.

Ainda não recuperei do entorpecimento, do estupor catatónico em que, interiorente, fiquei.

Do que me chega, há pessoas bem na vida, instaladas, umas que ainda guardam ressentimentos do 25 de Abril e que votam no Chega pois acham que o Ventura vai ajustar contas com esse passado. Outras, quadros em boas empresas, querem simplesmente rebentar com 'isto tudo'. Se calhar, pessoas mal sucedidas na sua vida pessoal (mas isto já sou eu a dizer). Quando pergunto a quem conhece essas pessoas o que é que, na verdade, elas acham que o Ventura pode fazer por elas, a resposta é que isso não é questão que se ponha. Não pensam tão longe, limitam-se a querer rebentar com as coisas. O que vem a seguir é tema que não lhes ocupa o pensamento. Outro caso, nos antípodas, um conhecido que não estudou muito, que começou a trabalhar, trabalho pouco qualificado, faz uns 'ganchos' ao fim de semana para compor o ordenado. Vota no Chega porque diz que os 'outros' não fazem nada por ele, acredita que o Ventura é capaz de fazer. Pergunto: mas fazer o quê, em concreto? A resposta é a mesma: o pensamento dele não vai até esse ponto.

No outro dia, vi na televisão uma dessas que vive certamente numa realidade pobre, suburbana, mas que deve sentir que vive numa realidade alternativa ao viver permanentemente nas redes sociais. Percebe-se que, certamente, tem como ídolos algumas conhecidas influencers. Usava várias vezes a expressão: 'quero tudo a que tenho direito'. Ao ver as influencers andarem pelos hotéis, pelos ginásios, institutos de beleza e restaurantes, sonha, certamente, atingir esse patamar. Pela conversa, acredito que vote Chega. Deve ser daquelas que acha que o Ventura diz tudo o que tem a dizer, não tem medo de nada, tentam calá-lo mas ele não se fica. Ou seja, veem-no como um líder que merece ser seguido. Claro que se lhe perguntarem o que é que o Ventura pode fazer por ela, não saberá dizer. Isso já é uma segunda derivada e o raciocínio não vai tão longe. Se lhe perguntarem também em que é que os 'poderosos e corruptos' de que o Ventura tanto fala a prejudicam, claro que também não saberá o que dizer. 

O Ventura navega nestas águas turvas da ignorância, do ressabiamento, da ilusão. Em bom rigor, de concreto ele não promete nada. Aliás, de concreto, ele não diz nada. Limita-se a apresentar-se como um líder, o que está aqui para salvar os descontentes, o enviado de Deus, o que vai vingar os que se sentem prejudicados. As pessoas acreditam nele sem precisarem de provas, tal como acreditam em Deus sem precisarem de provas ou tal como, antes, acreditavam no PCP sem cuidarem de saber em que país é que aquele modelo comunista funcionava. As pessoas que votam no Chega, em larga maioria, fazem-no por uma questão de crendice, de fezada.

Numa reportagem de há pouco tempo, um pastor evangélico, no Seixal, um que aluga quartos num armazém sem condições, dizia que recomendava o voto no Chega. Os iguais reconhecem-se.

Porque é que nestes subúrbios há tantas igrejas maná, evangélicas, do sétimo dia e coisas assim? O que é que aqueles pastores fazem pelas pessoas? Nada. Ficam-lhes com o dinheiro e prometem coisas, umas divinas, outras estratosféricas. E as pessoas acreditam, gostam.

Não sei como se combate isto. As pessoas com ética, com sentido de responsabilidade, honestas, não recorrem à mentira, às promessas vãs, não se prestam ao papel de fazerem vídeos estúpidos, manipulados ou falsos, apelando à vingança ou  difundindo mensagens xenófobas ou racistas, nem usam a ignorância das pessoas para explorarem as suas emoções, os seus medos, os seus anseios. Ou seja, as pessoas decentes não são capazes de usar as mesmas 'armas' que os populistas. No fundo, o terreno está livre para que os do Chega, os das igrejas alternativas ou outros movimentos do género, possam ocupá-lo e aproveitar a crendice, a ingenuidade ou os ressabiamentos de quem ali se sente entre iguais.

Como se explica a uns e a outros, ao milhão e trezentos mil que votaram no Chega, que o que está a ser feito no País é isto e aquilo, que há contas e orçamentos, que, no caso dos que ganham menos, não pagam impostos e podem usufruir de tudo (hospitais, escolas, policiamento nas ruas, etc.) sem pagarem nada. ou que há um défice demográfico no País e os imigrantes são necessários, úteis e deveriam ser recebidos de braços abertos? 

Como falar com pessoas que não querem ouvir coisas 'complicadas', cujo tempo de atenção se esgota com uma frase de cinco palavras, que não querem saber da ética dos líderes que adoram? Que apenas querem imaginar um eldorado em que elas serão tratadas como princesas com tudo a que têm direito e eles serão machos, viris, ricos, com grandes carrões?

Aqui, em França, na Alemanha, em Itália, nos Estados Unidos... agora ou há cem anos... como se combate o populismo? 

Acresce a isso, a circunstância presente, ubíqua, desregulada: como se combate o efeito nefasto das redes sociais?

Não sei.

Ou será que nem vale a pena matar a cabeça a tentar matar a charada? Será que é esquecer esta franja que sempre votará irracionalmente? Ou não? Será que deve é haver um pacto entre a comunicação social para não dar cobertura aos populistas? Ou quem está no Governo deve, simplesmente, focar-se em resolver problemas concretos e divulgar eficazmente a sua resolução? Ou não é bem isso e o melhor mesmo é ser-se capaz de criar uma utopia -- mas uma utopia realizável -- e deixar que as pessoas que precisam de acreditar em miragens tenham algo com que sonhar... e depois concretizar esses sonhos?

Em paralelo, enquanto se pega pelos cornos (ou de cernelha) o populismo, tentando impedir que cheguem mesmo ao topo, há que construir uma alternativa. Vi na TVI uma caracterização do eleitorado do Livre e da Iniciativa Liberal: um alinhamento entre escalões etários (gente mais jovem do que nos outros partidos) e formação académica (largamente com formação superior). Reforçou a minha convicção de que o futuro passa por aqui. Tivesse eu menos uns quantos anos e era bem capaz de fazer de tudo para explorar as convergências entre eles e tentar arranjar uma plataforma que fosse o motor de um movimento progressista, dinâmico, arejado, que atraísse mais gente, que gerasse iniciativas agregadoras, que avançasse com propostas de melhoria nos diversos sectores da sociedade, que mobilizasse mais gente para participar na construção de novas propostas de acção.

Enfim. Ando para aqui às voltas, preocupada com o mundo cada vez mais estúpido, disfuncional e distópico em que vivemos.

Vou ver se durmo melhor esta noite. E vou ver se, durante o dia, me entretenho mais a olhar e a fotografar as florzinhas que estão por todo o lado. Estão viçosas, lindas, os campos estão cobertos, felizes da vida como se a os temas da política lhes passassem totalmente ao lado.

segunda-feira, maio 19, 2025

E agora...?
Agora é tempo para o pragmatismo

 

Depois de ouvir o discurso revanchista de Ventura, copiando o estilo ameaçador de Trump, depois de ver a esperada renúncia de Pedro Nuno Santos e ao ver o discurso de Montenegro que falou como se tivesse tido a maioria absoluta, fico com a sensação que o caldinho pode estar seriamente armado. Contudo o País tem que ser posto em primeiro lugar. Há prioridades que devem ser postas em cima da mesa e, uma vez identificadas, ir em frente e agir em conformidade.

1 - O País não pode correr o risco de estarmos sempre dependentes dos ajustes de contas, das ameaças, das provocações do Chega

2 - Ou seja, tudo deve ser feito para que o Ventura não tenha a última palavra. E essa preocupação tem que estar sempre presente.

3 - O País deve ser governado com inteligência, assertividade, com visão estratégica, tendo em conta os riscos internacionais e os riscos internos. Se o governo que vai nascer não conseguir bons resultados, nas próximas eleições o Ventura conseguirá melhores resultados e, se agora foi o PS que levou uma banhada, nas próximas eleições pode ser a AD a levá-la. E aí será o País, no seu todo, que estará nas mãos do Ventura (tal como os Estados Unidos estão nas mãos do Trump). E aí, adeus minhas encomendas.

4 - Há muitas reservas em relação ao 'centrão' e há certamente muita gente do PS que jamais vai querer dar uma 'mão' à AD. Percebo tudo isso. Mas as circunstâncias são o que são. Não vale a pena ir buscar exemplos do passado para provar os danos dos abraços de urso ou os malefícios do pântano dos centrões. Tudo isso pode ser verdade. Melhor, tudo isso foi verdade. Não tenho dúvidas. Mas, neste momento, o circo está a arder e é nesse cenário que devemos situar-nos. Chegámos aqui e é aqui que devemos situar-nos. 

5 - Ou seja, face aos riscos e face às circunstâncias, neste momento penso que o mais inteligente será barrar o caminho à influência crescente do Chega. Para isso, penso que o mais racional será o PS estabelecer um entendimento com a AD no sentido de criar condições para entregar à população resultados rápidos, palpáveis, demonstráveis. Têm que ser encontradas soluções rápidas (em gestão, chamamos quick wins, pequenos ganhos que fazem ganhar a adesão das pessoas) nas áreas problemáticas que geram mais descontentamento junto da população e sobre as quais o Chega cavalga. Ainda hoje o meu filho dizia que têm que se encontrar soluções rápidas nas áreas da Saúde, da Educação, da Habitação e da Segurança Social. Concordo. Encontrem-se soluções rápidas, sem dogmas. Se o mais rápido for, aqui e ali, fazer acordos com privados, que se façam. Não se diabolizem os privados. Como se vê pelo resultado das eleições, a maioria da população já não está nem aí. Seja-se pragmático: desde que os contratos sejam regulamentados, não há drama. Encontrem-se soluções: consultas e cirurgias rápidas, mais escolas, mais creches, residências para idosos e clínicas para doentes que precisam de reabilitação ou de cuidados paliativos, casas públicas, financiamento a cooperativas de habitação, etc. Seja-se criativo. Seja-se rápido.

6 - Pode dizer-se que, se o PS der a mão ao Governo AD, isso vai desvirtuar a sua linha ideológica. Talvez, sim. E dar a mão a Montenegro, um fulano que é um chico-esperto, chateia. Pois chateia. A mim chateia-me como nem imaginam. Detesto chico-espertices, habilidades no limiar da legitimidade, manhosices. Detesto. Mas o País tem que estar acima disso. E, de resto, seja como for, o PS tem mesmo que mudar. Por isso, não tem muito a perder em 'vergar-se' para ajudar a AD a governar bem - pelo contrário, o País reconhecerá o sacrifício, se for a bem do País. 

7 - Em paralelo, vejo espaço para um grande partido e era bom que esse partido fosse o PS, pois tem uma base matricial na formação da democracia em Portugal e tem grandes democratas no seu historial. Mas, se não for o PS, paciência. Já o disse, faz falta em Portugal um partido que aponte no sentido das democracias do norte da Europa, um partido civilizado, culto, moderno, desenvolvido, inspirador, mobilizador. Se o PSD não fosse um partido que tem enraizada uma matriz de videirinhos, de patos-bravos, de chico-espertos, poderia evoluir para um partido como o que antevejo. Mas a sua matriz não o deixará evoluir. O PSD tem a 'filosofia' dos esquemas, dos interesses, dos jobs for the boys metastizada em toda a sua rede de concelhias e distritais (e, se calhar, o PS também) pelo que duvido que consiga alguma vez desempoeirar-se. Por isso, antevejo que, mais dia menos dia, teremos um novo partido a adquirir pujança e a fazer uma frente eficaz ao populismo. Mas isso leva tempo. Enquanto essa alternativa não nasce e não se impõe, a prioridade -- e volto ao tema das prioridades - tem que ser travar o Chega. Por isso, para concluir, para mim, neste momento, pondo em primeiro lugar o bem do País, acho que tudo (tudo, tudo) deve ser feito para reduzir a base de apoio do Chega -- e, para tal, é preciso entregar bons resultados à população no que é determinante, ou seja, é preciso governar bem.

8 - Há um outro aspecto: qual o papel da Comunicação Social? Vai continuar a querer competir com as redes sociais? Vão continuar a andar com o Ventura ao colo? Vão continuar a alimentar a maledicência, o desgraçadismo, a levar misérias e crimes aos programas generalistas de dia, assim alimentando a ideia da insegurança de que o Chega se alimenta? Marcelo, que é um dos grandes culpados pela situação em que estamos, faria bem em chamar os responsáveis das televisões e apelar ao sentido de responsabilidade no sentido de preservar a democracia do nosso País.

9 - Há ainda o Ministério Público que tem actuado como um contrapoder, deveria também ser chamado à responsabilidade. Andar a queimar políticos, deixando-os a serem derretidos em lume brando ao longo de anos, é do pior para a democracia. O populismo alimenta-se da ideia da corrupção generalizada, o populismo diz que 'isto é uma bandalheira'. E o MP não pode ajudar a essa festa. Marcelo deveria também ter uma acção nesse sentido.

10 - Termino, repetindo-me: penso que é tempo de todos, todos, todos -- todos os que amamos a democracia -- nos unirmos para que o País e a democracia sobrevivam à chaga populista que está a alastrar perigosamente. 

Os resultados eleitorais
-- A palavra ao meu marido --

 

Os resultados eleitorais de hoje são chocantes. 

O Ventura teve 25 por cento dos votos. Embora seja difícil entender como é possível que tanta gente vote no Chega é para mim óbvio que as redes sociais, o bota abaixo, a incapacidade de análise, a vontade de acreditar só no que interessa foram preponderantes na escolha que fizeram. Também a frustração por não terem atingido os padrões das redes sociais e as reais dificuldades que enfrentam no dia a dia terão contribuído para esta votação. 

Mas, mesmo assim, como é possível votar num tipo que sai do hospital cheio de pensos com ar de criança mimada, que só diz mentiras e cujo partido é ele e só ele? 

Por mais que tente listar razões, continuo sempre a ficar pasmado com a estúpida opção que um quarto dos votantes fez. 

Mas é preciso recordar que chegámos aqui também porque, durante vários anos, o Marcelo andou a desestabilizar o País, o MP fez cair o governo e o Montenegro preferiu ir para eleições do que dar o lugar a outro. 

O Marcelo, o MP e o Montenegro são também relevantes na posição alcançada pelo Chega. E a Comunicação Social também não é isenta de responsabilidades pois tem andado com o Ventura ao colo. Veja-se a vergonha do outro dia, quando estiveram a dar, em direto, o percurso do Ventura para o hospital. 

Nesta altura de crise, Portugal podia ainda estar a ser governado por um governo eleito por maioria absoluta e, assim, ter melhores condições para enfrentar os problemas. 

Hoje, os laranjas podem estar satisfeitos por terem ganho, mas, com o novo impulso do Chega, ainda lhes vai ser mais difícil governar. 

A esquerda perdeu em toda a linha. A derrota do PS é um desastre. A esquerda tem que aprender que a união faz a força e que os verdadeiros objetivos são, como diz o Sérgio Godinho, a habitação, a saúde e a educação, a segurança social. Transmitam uma mensagem de esperança sobre a resolução destas questões -- e sobretudo resolvam-nas quando forem poder --, e conseguirão voltar a ter preponderância na política portuguesa. 

Caso contrário, vão acabar numa posição residual e a extrema direita -- em coligação ou não com a direita -- vai ser poder por muito tempo. 

Tenhamos esperança que as coisas mudem.

Muita apreensão, muita tristeza

 

Na altura das eleições internas do PS, não me pareceu que Pedro Nuno Santos fosse a melhor opção para o PS. As pessoas de que se rodeou não me pareceram uma opção inteligente. A campanha que fez também não me pareceu inteligente. Ponderei não votar PS. Ponderei votar em branco. Mas, perante as perspectivas, achei que não deveria juntar o meu voto a quem baixa os braços e deixa, indiferentemente, que a direita e o populismo acéfalo progridam. Portanto, com pouca convicção mas por um sentimento de dever democrático, votei no PS.

Mas este PS notoriamente não dá resposta aos anseios de uma parte significativa da população. Aquelas pessoas descontentes, umas com razão e outras apenas porque gostam de ser do contra, muitas mal informadas que aceitam ser iludidas, muitas pessoas que gostavam de ser como os seus ídolos do Tik Tok e do Insta, os que votavam contra e que davam o seu voto ao PCP (ou, mais tarde ao Bloco), essas maioritariamente agora votam Chega. Se juntarmos os que votam AD, temos que o PS já é marginal face ao total AD+Chega.

É, portanto, mais do que óbvio que tem que haver uma revolução dentro do PS. E uma revolução não se faz a pensar da mesma maneira com que se tem pensado até aqui. Há que arejar a cabeça, deixar entrar novas ideias.

Por muito absurdo que possa parecer, o que venho defendendo no meu inner circle é que vejo como necessário um partido que saiba apontar a uma política aberta, com visão estratégica, em que haja justiça social, igualdade de oportunidades, mas tudo sem dogmas, uma fusão inteligente entre o que norteia o Livre e o que norteia a Iniciativa Liberal. Liberdade económica, sim, mas balizada por liberdade inclusiva, moderna, desempoeirada, sem preconceitos, respeitando a matriz democrática da justiça social. Tem que haver quem tenha visão, pulso, determinação... e ir adiante, trilhando esse novo caminho.

Não sei o que vai dar isto que hoje está a passar-se. Só ver a sala vazia do Altis me dá ânsias. Para onde foi toda a gente que antes enchia aquela sala? Fugiram? Tudo gente cobarde? De facto, com gente assim não se consegue modernizar o regime.

Já volto.

sexta-feira, maio 16, 2025

Sobre os chiliques do Ventura, sobre uma conhecida que me apareceu uns anos mais nova e sobre uma japonesa que tem saudades de algumas coisas de Portugal

 

Presumo que, nesta sexta-feira, o meu grupo de amigos apareça com piadas diversas sobre mais um chilique do Ventura. Pode até acontecer que os que são médicos lancem suposições, umas mais benévolas, outras nem tanto. O Ricardo Araújo Pereira já deu o mote, gozando à cara podre e, no Eixo do Mal, o Pedro Marques Lopes falava em gases e a Clara Ferreira Alves falava em histeria ou em paroxismo.

Entretanto, já me chegou o que um médico meu conhecido (super experiente e sempre certeiro nos seus diagnósticos) pensa ser a causa mais provável da maleita do Ventura. Mas ele acha isso com base no que viu e ouviu na Comunicação Social e em explicações que alguns colegas foram avançando. Ou seja, não conhece os resultados dos exames para além do que é público (isto é, que não há nada de cardíaco e que não teve que ficar em observação). Por isso, seria imprudente da minha parte partilhar essa opinião até porque poderia ser lesiva da imagem do Ventura e não que me importe com a imagem do Ventura mas porque gosto de ser justa e objectiva. 

Contudo, seja isso que o meu conhecido acha, sejam ataques de pânico, crises agudas de ansiedade, refluxo, gases ou o que for, talvez não seja mau que se retire (da política, de preferência) e faça uma cura. Descanse, pense na vida, se calhar ingresse, de novo, num seminário. O País só terá a ganhar com isso. Como se viu, na ausência de Ventura, o Chega mostra o que é: um saco cheio de coisa nenhuma.

Tirando o acontecimento do duplo chilique do Ventura, posso dizer que nos encontrámos com um casal que não víamos há três anos. Eu quase não a reconhecia: mais nova, mais bonita. Fiquei tão admirada que me saiu: 'Está tão diferente... Fez alguma coisa?'. Ela parece ter ficado admirada e disse que não. Mas alguma coisa foi. Ou está um pouco mais gordinha e o rosto ficou mais 'preenchido' ou estava maquilhada segundo todas aquelas boas práticas em que se escondem as rugas, se disfarçam as rugas e a flacidez ou usou botox. Mas fiquei francamente admirada. Estava a conversar com ela e a tentar perceber o que se passava ali. Até a forma como estava vestida me surpreendeu: arrojada, moderna, impactante. Ele estava normal, praticamente igual. Às vezes, quando menos esperamos, somos surpreendidos.

Mas, enfim, nada de mais.

Importante é que estamos mais perto das eleições e continuo desconfortavelmente hesitante. Esta gente não me inspira. Não vejo rasgo, não vejo visão estratégica e determinação. 

Em contrapartida, ao ver o gasolineiro de Braga e as respostas que deu à CNN, fiquei francamente incomodada: é, então, aquele o principal cliente do Montenegro...? Senhores... E fiquei sem dúvidas: se Montenegro continuar a pairar pela nossa vida política, é mesmo relevante que haja uma CPI. 

Mas, ainda assim, o nosso País, para além de lindo, é um lugar muito bom para se viver. Que o diga Mako, a jovem japonesa que, depois de ter estado a viver em Portugal, regressou ao país natal e sentiu falta de algumas coisas a que se tinha habituado por cá.

Things I MISS the most about Portugal when I'm back in Japan.

Uma boa sexta-feira

Be happy

quinta-feira, maio 15, 2025

Então, afinal, o que o caguinchas teve foi apenas... azia?
E sai de lá todo descomposto, com uns pensos que devem ter sido feitos pelo seu nº 2, para ver se engana quem...?

 

Sou boazinha. Crédula. Ingénua. Perante aquele esgar, mão agarrada ao peito e ao pescoço, pensei que o 'pobre coitado' ainda estava para ali com alguma crise cardíaca. Em situações assim, a Santa Empática desce em mim e já só queria que o infeliz se pusesse bom.

Ora, já tenho idade para ter juízo. Hoje a realidade encarregou-se de me deitar a língua de fora e de me chamar totó (que é a versão fofa de otária): afinal aquela grande cena que, por pouco, mais parecia um atentado, não passou de azia. Na volta comeu carapaus de escabeche e a cebolada caiu-lhe mal. E, em pânico, escaganifou-se para li todo como se um lobo mau lhe tivesse cravado os caninos na jugular. Só visto.

Mas o ridículo maior, um ridículo sem tamanho, foram as imagens que hoje vieram a lume. 

Aquele tipo é mesmo um caguinchas, uma mariazinha, um fiteirolas. Aquela cena de sair de braço ao léu, com pensos feitos à três pancadas, uma gaze com um bocado de adesivo, coisa de brincadeira, foi simplesmente ridícula. Deve ter sido essa outra grande figura de Estado, o bem alimentado número dois, que, para dar credibilidade à grande crise, atamancou para ali aqueles pseudo-pensos. 

E depois, não contente com aquela cena, voltou a aparecer-nos, desta vez no sofá, de camisa aberta, com um nano-pensinho no peito... Uma imagem mais que patética, pateta mesmo. Só lhe faltava aparecer com o quadro do menino da lágrima atrás.

Não consigo sintonizar a minha cabeça para conseguir perceber como desfuncionam os descrérebros dos animais (calma, não quero ofender ninguém, os seres humanos são animais) que votam na criatura mas, se lhes restar algum neurónio funcional, talvez percebam que um caguinchas destes não merece um voto que seja. 

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Nota: o senhor da imagem (imagem by IA) tem uns pensos todos bem feitinhos, nada a ver com os pensos feitos com fita-cola de que falo acima

quarta-feira, maio 14, 2025

Sobre este dia 13 de Maio

 

Depois de um dia de galdeirice, apetecer-me-ia reportar essa actividade. Mas, noblesse oblige, face à indisposição do Ventura, não me parece que haja clima para grandes bordejos. 

Direi apenas que o almoço foi composto de petiscos em versão comida de autor e que, de cada vez que vinha o prato, eu pensava: 'já foste'. Coisinhas pequeninas cuidadosamente dispostas, circundadas por nano-caules ou nano-folhinhas, tudo em versão lilliput. Muito bem confeccionado, tudo saboroso e bonito. 

Curiosamente, saí de lá bem, confortada, e, mais curiosamente ainda, cheguei à hora de jantar sem fome.

Enquanto lá estávamos -- numa mesa junto ao vidro que dá para a rua --, fui à casa de banho. Contou-me o meu marido quando voltei que, nesse ínterim, tinha passado uma conceituada jornalista, conhecida pela sua pretensa sabedoria e pela sua conhecida animosidade, diria até mau feitio, contra alguns ódios de estimação. O meu marido estava um pouco desconfortável com o que viu, disse que a senhora, a andar, quase parece meio trôpega (embora não tenha idade para isso), que tem uma figura um pouco embaraçosa, nada a ver com a pose algo superior com que se apresenta ao balcão do comentário televisivo. Cada um é como é e ninguém tem nada a ver com isso nem tem que alvitrar palpites sobre o tema. Mas, na verdade, já não é a primeira nem a segunda nem a terceira vez que, vendo ao vivo os temíveis jornalistas ou comentadores televisivos, penso: 'coitados... na verdade não metem medo a ninguém...'. É a televisão que é a arma temível, não as (por vezes) fracas figuras que por lá peroram.

Não há muito, íamos no passeio atrás de um que tem a mania que pode demolir políticos, em especial se forem mais à esquerda. Escreve e fala sempre assanhadamente como se tivesse na manga segredos e podres capazes de atirar os seus alvos para a sargeta. Ia ao telefone, a trocar informações com alguma fonte. E eu, que tenho um ladozinho um bocado infantil, ao vê-lo com ar de totó, só pensava: agora era tão fácil passar-lhe uma rasteira... e lá ia o temível jornalista com os cornos ao chão. Mas, claro, a minha mente policia-me e impede-me de concretizar essas inocentes diabruras. Aliás, acérrima polícia de costumes que também é, até me impede de verbalizar expressões mais vernaculares. Fica tudo dentro da minha cabeça.

Posso também acrescentar que, de regresso a casa, passámos pelo supermercado. Havia choquinhos na bancada do peixe e não resisti a trazê-los para os cozer com tinta. O meu marido perguntou se não ficariam bons assados no forno. Não me pareceu, eram miúdos demais. 

Lavo-os bem. Por acaso estavam carregados de areia, lavei e lavei e lavei. Não arranjo, cozo-os com todas as suas vísceras e tentáculos. Cozo-os só em água, não muita. Nem sal ponho pois eles mesmos se encarregam de salgar a água. A água fica negra, claro. Quando estão macios, junto batata doce cor de laranja e roxa, com casca, cortadas às fatias grossas. Ficam tingidas e saborosas. Depois é que arranjo e tempero.

Só que, depois de ter colocado as batatas, ligou a minha filha, ligou o meu filho, e as chamadas foram mais longas. Quando vim ter com o meu marido à sala, deu-me o cheiro. Sempre acabou por ter chocos assados. 

Felizmente, no tacho, coloco-os sempre com a prancha calcária para baixo. Por isso, o que foi à vida foi a membrana fina. Essa desapareceu, derretida no fundo do tacho. Depois as placas dos chocos ficaram castanhas, de queimadas que ficaram. Daí para cima ficou tudo bom, mas quase desfeito. Claro que o pior foi lavar o tacho. Tudo queimado, tudo negro, um cheiro a choco assado que nem vos digo nada. Caraças.

Mas estavam bons, embora quase tudo transformado em puré.

Também vi, depois, nas mensagens de um grupo de amigos, que um esteve doente e que ainda estará com um problema resultante da cirurgia, supostamente um mal menor. E fiquei como sempre fico quando sei de algum problema com os meus amigos, em especial os de longa data: parece que a modos que tolhida, talvez assustada. Tendo a pensar que eu e os que conheço de há séculos somos eternos, eternamente jovens, eternamente alegres, eternamente saudáveis. Quando constato que, de vez em quando, alguém adoece, fico triste, preocupada, com vontade de fazer ou dizer qualquer coisa para que se sintam animados, esperançosos, com optimismo, motivados para ultrapassar as dificuldades. Mas muitas vezes não digo nada com receio de que, ao transmitir uma mensagem de ânimo, deixe transparecer a minha preocupação. Mal comparado, foi o que aconteceu quando a minha mãe estava no hospital, muito mal, e, estando eu a querer animá-la, vejo aparecer um padre no quarto. Fiquei em pânico, com medo que ela percebesse que a morte estava a rondar. Lembro-me que enxotei o padre o mais educadamente que consegui mas numa aflição, receando que ele quisesse dar-lhe a extrema unção. E, de facto, no pouco que ele conseguiu dizer, houve lá umas palavras que me deixaram em transe, furiosa. Salvo erro, dirigindo-se a não sei que entidade, deus ou nossa senhora, não faço ideia, disse: 'recebe esta nossa irmã...'. Não sei se a minha mãe se apercebeu de alguma coisa mas eu fiquei traumatizada com isso. Mas, verdade seja dita, nem sei o que é que dá mais conforto a quem se sente menos bem, com incómodo físico, com receio do que por aí possa vir -- se é que tentem animá-los, tentem transmitir esperança e força, ou se é que lhes digam que se compreende o susto e o medo. Não sei. E acho que deveria saber pois posso agir desaquadamente numa altura em que alguém, estando mais vulnerável, precisaria do apoio devido.

Depois vi as imagens do André Ventura e também fiquei um bocado impressionada. Ainda por cima é bem mais novo do que eu julgava. Politicamente não posso estar mais distante dele. Tudo me separa do populismo. Mas se, a nível político, gostava que ele se estampasse nas eleições, a nível pessoal, não quero o seu mal. Se ele tem pais, imagino o medo que sentiram ao ver o filho agarrado ao peito e ao pescoço e a desfalecer. E depois o Chega é ele. Se ele se retirar de cena, nem que seja por uns dias, não há Chega para ninguém. E a ele, que de burro não tem nada, isso também deve preocupar. No seu íntimo, o seu sonho deve ser arranjar maneira de ainda chegar à liderança do PSD, um partido minimamente respeitável e não aquele aglomerado de gente desqualificada que é o Chega.

Mas, enfim, espero que melhore. 

E agora vou espreitar o instagram (@veramulanver) antes de me ir deitar. Aquilo é, verdadeiramente, um infinito caudal de cenas, uma janela de onde se vê o mundo (ou parte dele), uma imparável torrente de imagens e palavras efémeras. 

A minha filha no outro dia disse-me que deixar corações ou mensagens nas outras pessoas é importante para alcançar algum engagement -- e espero não estar a distorcer o que ela disse pois há ali uma lógica e uma semântica que ainda não domino bem. Acontece que, salvo raríssimas excepções, nunca me lembro de tal coisa. Aliás, sempre achei essa coisa dos likes uma puerilidade, uma fixação. As pessoas estarem a contar likes ou seguidores parece-me uma coisa tonta, um sinal de carência afectiva -- nem sei. Mas, na verdade, contra factos não há argumentos e tonta devo ser eu por estar tão fora destes tempos em que as redes sociais quase parece que tendem a substituir-se ao mundo real. 

Para já, tenho 251 seguidores, e, tal como ficava estupefacta por tantas pessoas descobrirem o meu blog, agora também fico admirada quando pessoas que não faço ideia quem sejam se tornam minhas seguidoras. Sinto-me agradecida. Comecei a ter conta de instagram em Fevereiro e não faço ideia se 251 seguidores é um número que não envergonha ou se é tão pouco que até dá pena. Mas, seja como for, é o meu ritmo. Não quero nem sei nem me apetece andar à pesca de seguidores. 

Também acontece que, acho eu, tudo o que ponho no Instagram vai também para o Facebook. Mas eu nunca vou ao Facebook, esqueço-me, parece que não me entendo com aquilo, parece-me antiquado, não sei. Mas, volta e meia, reparo que tenho mails a dizer que tenho notificações. Vou ver e são pessoas a quererem ser minhas amigas no Facebook. Mas, como aquilo é público, acho que não tenho que fazer nada. Se querem ser minhas amigas ou seguidoras, pois muito bem, que sejam. O pior é se eu tenho que as puxar ou dar algum ok e estou a deixá-las penduradas. Tenho que me informar. Não quero parecer desagradável ou que pensem que estou armada em coquette.

E é isto.

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Dias felizes

terça-feira, maio 13, 2025

Quais os 'melhores' países europeus para quem lá vive (segundo indicadores de riqueza, justiça social, inovação e felicidade), quais os partidos dos respectivos governos e quais os partidos equivalentes em Portugal?

 

Lá está, sinto sempre uma certa necessidade de ver as coisas por outras perspectivas. É da minha formação: não dar nada por certo até testar as diferentes hipóteses e verificar a validade de cada uma. Ainda assim, é falível pois testa-se em relação a um conjunto de parâmetros mas quem nos garante que não há outros ainda mais determinantes? Mas, ainda assim, podendo ser imperfeita, sempre é uma análise sistemática e racional.

Não sou dogmática. Não sou ortodoxa. Analiso, comparo. 

Por exemplo, hoje pedi ao ChatGPT que pegasse nos programas eleitorais e os comparasse área a área. A primeira surpresa foi que nem todos os partidos têm os seus programas eleitorais disponíveis. Por isso, nessas análises foram tomados os últimos documentos afins disponíveis, por exemplo, o das últimas eleições.

Quando penso em opções políticas, tento ter um modelo. Por exemplo, penso sempre em que género de sociedade é que eu gostaria de viver. Não tenho dúvidas: uma sociedade justa, civilizada, desenvolvida, culta, estimulante para todos, inclusiva, livre, em que as pessoas não receiem ter filhos, em que as ruas sejam seguras, cheias de crianças, em que haja condições dignas para os mais velhos, em que haja tempo livre para as pessoas desfrutarem o convívio com a família e com os amigos, em que haja um profundo respeito e amor pela natureza. 

Por exemplo, jamais quereria viver num país 'comunista'. Os questionários que faço confirmam isso: estou a milhas do PCP (e, logo a seguir, do Bloco). Ortodoxias, ideias feitas e antiquadas, estruturas mentais preconceituosas, dogmas, ausência de uma democracia saudável -- odeio tudo isso. Pelo contrário, os países escandinavos parecem-me bastante agradáveis. 

Contudo, para conseguir ajuizar sem subjectividade, tentei fazer uma análise mais estruturada. Pedi ao ChatGPT que me desse os países europeus com melhores indicadores financeiros, de inovação, de justiça social e de felicidade. E que, depois, comparasse os programas eleitorais ou de governo do partido dominante de cada um desses países e dissesse qual o partido português equivalente.

Não vou estar a trazer tudo para aqui mas, admitindo que o ChatGPT não se baralhou, é uma análise interessante. Pedi para não incluir o Luxemburgo e a Suíça pois são países que, pelas suas características, neste âmbito, não quero considerar.

Fui analisando, vendo para cada indicador, quais os países com melhores resultados. Ou seja verifiquei, para a riqueza, os melhores países, ordenados decrescentemente. Para a justiça social, idem. Idem para os outros indicadores. Depois usei a seguinte métrica: A cada país foram atribuídos pontos consoante a posição nos quatro indicadores (3 pts ao 1.º, 2 pts ao 2.º, 1 pt ao 3.º). Depois, os pontos foram somados para obter o ranking final. Desta forma teria um ranking dos países em que a vida será melhor segundo aquelas quatro vertentes.

Conferi algumas coisas mas, naturalmente, não tenho como validar tudo. Por isso, admitindo que não houve erros, aqui está o quadro com as conclusões, em que aparece em 1º lugar o país que obteve a melhor pontuação, Finlândia.

1º - Finlândia (6 pts) – KOK (Petteri Orpo) → Equivalente PT: Aliança (PSD/CDS)
2º - Islândia (5 pts) – Social Democratic Alliance (Kristrún Frostadóttir) → Equivalente PT: PS
2º - Suécia (5 pts) – Moderaterna (Ulf Kristersson) → Equivalente PT: Aliança (PSD/CDS)
3º - Irlanda (3 pts) – Fianna Fáil (Micheál Martin) → Equivalente PT: Aliança (PSD/CDS)
4º - Noruega (2 pts) – Labour Party (Jonas Gahr Støre) → Equivalente PT: PS
4º - Dinamarca (2 pts) – Socialdemokratiet (Mette Frederiksen) → Equivalente PT: PS
5º - Países Baixos (1 pt) – PVV (Geert Wilders) → Equivalente PT: Chega

Não aparecem aqui países como a França ou a Alemanha pois no ranking dos países mais ricos, mais justos, mais inovadores ou mais felizes não aparecem nos tops e, para uma análise mais simples, restringi a análise aos melhores países.

Claro que uma coisa são as políticas e outra é a competência, a credibilidade ou a honorabilidade de quem as aplica mas isso é mais difícil de traduzir em rankings objectivos.

Gozar com quem trabalha ou com quem vê a SIC...?
-- A palavra ao meu marido --

 

Ontem o Montenegro teve tempo e completa conivência do Ricardo Araújo Pereira para passar no "Gozar com quem trabalha" todas as mensagens que são importantes para a AD nesta campanha eleitoral. Parecendo colocar perguntas "difíceis" ao Montenegro o que o Ricardo Araújo Pereira fez, pela forma como conduziu a entrevista, foi permitir que o Montenegro passasse a sua versão dos factos relativos à sua atividade pessoal e aos resultados da sua governação sem qualquer contraditório e sem qualquer de comentário do Ricardo. Deixou o Montenegro falar à vontade, qual comício da AD. "Por acaso" isto passou-se no dia em que o programa terá mais audiência. O Ricardo prestou um bom serviço à AD, a SIC deve estar contente e a AD agradecida. Ser humorista não é com certeza seguir a voz do dono, muito menos ser acrítico. Não basta bater no Chega. Deve ser-se contundente e não apadrinhar pseudo verdades. Será que ainda veremos o Ricardo Araújo Pereira a fazer campanha pela AD?

segunda-feira, maio 12, 2025

A campanha eleitoral, o meu sentido de voto -- e o consolo que é estar num jardim

 

Não tenho acompanhado a campanha eleitoral pois, se calha o canal em que passamos estar a dar alguma coisa, só se veem parvoíces e, como é óbvio, desandamos rapidamente. Portanto, temos optado pelo condensado de parvoíces que o Ricardo Araújo Pereira prepara diariamente.

Não posso pronunciar-me, pois, sobre se, no geral, é mesmo tudo uma treta, sacos de vento, chachadas que até as crianças acharão infantilizadas ou palermas, ou se tem havidos bons momentos informativos ou reflexivos. 

Contudo, temo que o panorama geral seja mesmo inaproveitável. Duvido que alguém fique verdadeiramente a perceber qual o programa eleitoral a partir do que as televisões e as redes sociais mostram. Acabamos por aceitar tudo isto com naturalidade mas, na verdade, se pensarmos bem, é uma autêntica aberração. A vida do País depende, em grande parte de quem nos governa e, para nos explicarem porque devemos votar neles, os partidos fazem cartazes parvos, arranjam iniciativas apalhaçadas, uns tocam tambores, outros correm, outros dançam com idosas, outros andam de mota, outros jogam voleibol de praia, quase todos andam pelas tascas... e é isto.

Pelo meio, o Marcelo, que tem arranjado caldinho atrás de caldinho -- a ele devemos toda esta instabilidade --,  aparece-nos a dizer vacuidades a que já ninguém liga.

Uma desilusão. Dá ideia que a inteligência, a decência, a exigência está em acelerado processo de rarefacção na política -- e não é só por cá, aliás, com anormais como o Trump, tudo tende a acanalhar-se ainda mais. Estão a ser criados standards que deveriam envergonhar-nos. Gostava de poder dizer: 'Caraças, também não é bem assim, aproveita-se fulano de tal que tem sabido manter a cabeça no lugar e que tem mostrado estar à altura do cargo a que se propõe'. Mas, lamentavelmente, parece que a bitola está toda a querer alinhar-se por baixo. Claro que há algumas diferenças. De vez em quando, naqueles rápidos relances, enquanto o canal não é mudado, vejo algum peixe fora de água e imagino o sacrifício que deve estar a fazer. Mas, tirando as excepções, é a indigência total. Digamos que, se quisermos votar com alguma coerência o máximo que podemos fazer é fugir daqueles em que a bitola consegue estar ainda mais baixa do que noutros. Mas é uma tristeza. Confesso que me tem ocorrido votar em branco. Mas nunca o fiz. Só de pensar nisto me sinto arrependida, como se estivesse a trair o meu direito de cidadania, como se estivesse prestes a dar uma facada nas costas da democracia. Mas é o que me tem ocorrido.

Caraças. Ao que chegámos.

Consolo-me a ler. Mas também só leio livros mais ou menos marginais. A dificuldade está em descobri-los. Sempre que pego num livro badalado, hiperconceituado, só sai treta. No outro dia pensei que um certo, com tanta recomendação, tantas mediatização, e que já vai na n-ésima edição, talvez se aproveitasse. Folheei, folheei. E deixei ficar. Treta e da grossa. Como é que é possível?

E depois há a natureza, o jardim, os campos por onde passeamos. Isso, sim, é uma alegria. Estão lindos, os campos, a chuva hidratou a terra, as flores nascem que dá gosto. E a passarada, os chilreios, uma festa.

Vi um vídeo de que gostei bastante. Uma pessoa que desenha paisagens. Quando pergunto aos meus netos que profissões gostariam de ter, ficam-se pelas mais tradicionais. Gostava que tivessem acesso a tantas outras. Há tantas profissões fantásticas. Quem as exerce deve viver num permanente estado de motivação, de surpresa, de vontade de aprender e de experimentar. 

O paisagista Piet Oudolf fala sobre encontrar consolo no jardim

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De qualquer forma, desculpem lá o mau gosto de voltar ao tema da campanha eleitoral depois de estarmos no jardim mas o meu marido pediu para eu deixar a seguinte nota: o Ricardo Araújo Pereira, ao entrevistar este domingo o Montenegro, quis fazer-se passar pela Maria João Avillez?

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Uma boa semana

sexta-feira, maio 09, 2025

As espertezas saloias do Governo Montenegro -- ou os impostos como matéria de ilusão.
Agora é o IMI
-- A palavra ao meu marido --

 

Duas ou três perguntas. 

Quando há um apagão, não se pagam impostos ou apenas não se pagam impostos se isso acontecer no mês em que há eleições? A pergunta é retórica pois, como vem sendo claro -- já que usar os impostos como areia para os olhos parece ser vício do Montenegro --, a segunda hipótese é a verdadeira. 

Ou seja, mais uma espertice dos espertos do Governo: agora até adiam o pagamento do IMI e do IRC, com a desculpa do apagão, claramente para tentarem ganhar votos. Será que também vão adiar o pagamento do IUC para os carros de Maio?


segunda-feira, maio 05, 2025

Nem vale muito a pena falar nisto de ser Dia da Mãe. Todos os dias o são. Soa a banalidade mas é o que é.
Mas foi um feliz dia de domingo, lá isso foi.



Este domingo foi como devem ser todos os domingos: felizes. 

Entre nós dois decidimos o que seria a ementa e, como sempre, há um lado meu que puxa para a complicação. O resultado final parece simples mas a confecção é demorada. O que o meu marido fez, em contrapartida, é fácil e rápido. Com isto estive quase em contínuo das onze da manhã até às cinco da tarde a cozinhar, a preparar. Faço com gosto. 

Já agora, para não parecer que estou a fazer caixinha, digo o que fiz.

  • Canja (com carne desfiada, massinha de letrinhas e ovo)
  • Salada (com couve roxa, alface, maçã, bolinhas de mozarella)
  • Ovos recheados (foi o que o meu marido fez. Cozeu ovos, depois abriu ao meio, retirou a gema, misturou crème fraiche, sumo de limão e pickle e noutros, à gema misturou queijo cottage, filetes de salmão e sumo de limão. Com isso, voltou a encher a cavidade dos ovos)
  • Tortellini de ricotta e espinafre e de beringela e mozarela. Depois de temperado com azeite e vinagre balsâmico,  por cima, salmão fumado.
  • Cenoura à algarvia
  • Bola de carnes, segundo a minha receita mas não fiz só com frango do campo, juntei também rojões de porco, chouriço de carne e farinheira. Ficou enorme pelo que, no fim, levaram um bocado para as respectivas casas. 
  • Frutas diversas
  • Pasteis de nata (trazidos)

Depois, antes que chegassem, fui mudar de roupa, soltar o cabelo, pôr uma sombrazinha. E caí na asneira de pôr um puffzinho de perfume. O meu marido embirrou logo. Fui para a rua para arejar, a ver se não se dava muito por ela. Afinal a minha filha também se queixou. Portanto, fui mudar outra vez de roupa.

E, estando cá todos, depois de alguma convivência, passou-se à parte do repasto que é sempre uma festa, com muita conversa, muito apetite e boa disposição. Um dos meninos tinha vindo de ser apanha-bolas num jogo de futebol e ainda vinha com a pica toda. Outro tinha tido jogo de manhã. Outro tinha tido jogo no sábado à tarde. E o apanha-bolas tinha tido dois jogos no sábado de manhã. O mais novo, treino na sexta ao fim do dia. Portanto, como é bom de ver, o tema futebol está sempre muito presente. E sabem tudo o que há a saber: pontos, posições, opções do treinador, e não sei dizer mais o quê pois, quando o tema aprofunda, eu desligo.

A menina, também já mais alta que eu, não está nem aí para o futebol e trazia uns cadernos ou umas folhas ou uns moldes, uma coisa que, segundo ela, fui eu que lhe dei. Já não me lembro, já deve ter sido há bastante tempo. 

Fofos, mais lindos.

Quando se foram, eu e o meu marido fomos fazer uma pequena caminhada com o nosso cão. Ao regressarmos a casa, ele dirigiu-se imediatamente para o seu canto e foi dormir. Ele, o cão, claro.

Quanto ao meu marido, pôs-se a ver o Sporting, segundo disse o jogo era decisivo (aliás, dois dos meninos já me tinham dito isso) e eu fui para outro lado ver o debate... E, tiro e queda, ao fim de um bocado, adormeci. Depois lá consegui ir arrebitando -- intermitentemente -- mas sempre a querer deslizar para os braços do morfeu. 

Por isso, não será sério pôr-me aqui a tecer considerações sobre o desempenho dos debatentes. Do que vi melhor, gostei da frontalidade e das boas ideias do Rui Tavares e pareceu-me que o Raimundo estava invulgarmente claro e a dizer algumas acertadas. Da Mortágua não me lembro. Da Inês do PAN, do que vi, pareceu-me bem, sempre muito eficaz, sempre focada, mas se quiser aqui referir um tema apontado por ela, lamento, só me lembro da forma, não do conteúdo. Sinceramente não estou a lembrar-me da prestação do Pedro Nuno Santos nem do Montenegro. Do Rocha também nada me ficou. E, numa das vezes em que acordei, estava o Carlos Daniel à nora com o Ventura, que não se calava nem por mais uma.

Por isso, lamentavelmente perdi o único debate conjunto na televisão -- mas também não sei se me teria sido muito útil. Tudo muito chato. Falta na nossa política nacional gente com garra, gente ousada, verdadeiros líderes, gente que aponte ao longe e se atravesse por essas ideias, gente em quem a gente aposte e acredite de olhos fechados. Talvez por isso, o meu corpo aproveite para desligar o interruptor quando eles estão a falar.

Portanto, o que tenho a dizer é que já aqui temos uma nova semana. Parece que ainda não é desta que vamos ter bom tempo mas, se não estiver muito frio e muita chuva, se não houver vendaval, trovoada e granizo já me darei por contente. Espero que sejam dias felizes para todos.