Mostrar mensagens com a etiqueta encarnado. Mostrar todas as mensagens
Mostrar mensagens com a etiqueta encarnado. Mostrar todas as mensagens

terça-feira, dezembro 29, 2020

Rubro

 




Durante anos, quando pensava numa cor era apenas no encarnado que pensava. Encarnado rubro carmim vermelho carne sangue fogo alma loucura flama paixão.

Com o tempo fui tentando conter-me.

No entanto, se me vejo perante uma tela em branco é para as tintas incandescentes que a minha mão espontaneamente se dirige. Posso tentar moderar-me. Mas não consigo. É a fogosa exaltação que se derrama sobre a tela. Sou feita de extremos e o extremo para que sempre me inclino é o da paixão. 


Mas tento a contenção. Abro a mente e o coração aos mil aromas de verde: o verde musgo, o verde oliveira, o verde pinheiro, o verde cedro, o vedro eucalipto, o verde bosque, o verde fundo do mar. Deixo-me envolver pelos verdes e sinto que estou em casa. Mas a vibração de uma alma tingida de paixão continua presente. Tento também a claridade do azul céu, a profundidade do azul veludo, a insolência do azul klein, a inocência do azul alfazema. Gosto do azul. Mas há no azul uma elegância conservadora ou uma pureza, não sei bem, que não me acolhe. E há o branco. Os mil tons de branco. A luz. A ilusão da luz. Não me identifico totalmente. Prefiro os reflexos, as sombras; a luz, sim, mas quando matizada de pecado, de dúvida, de excesso. Claro que poderia ser o preto, o negro, o breu, o infinito, o eterno labirinto. Mas há no negrume a maldição das trevas e eu não gosto de antecipar o funesto destino de tudo o que um dia viu a luz. O amarelo, sim, claro, poderia ser. É alegre, festivo, irradia mel e ouro, sol sobre a pele, calor, afago, doçura. Gosto do amarelo. Mas o amarelo é superficial, fica na pele, não desce onde a carne se verga ao sobressalto da paixão.

Encarnado, sim, não há como fugir-lhe. Encarnado rubro carmim escarlate fogo vermelho chama. Chamamento.


___________________________________________________________________________

Pinturas de  Zhu Wei, Hyung Ju Park, Igor Tishin e Ligyung na companhia de The Paper Kites em For All You Give 

__________________________________________

Desejo-vos um bom dia

terça-feira, agosto 22, 2017

Olha... tantos tomatinhos...!


Contei-o na altura: estávamos a preparar a janta. Eu estava a fazer umas coisas, depois interrompi para deitar um olho ao mais velho que estava a tomar banho sozinho enquanto a minha filha ficou a tratar da salada, depois ele foi para o quarto para se limpar e vestir e a minha filha foi para a casa de banho, ajudar no banho do mais novo.

Voltei à cozinha e, vendo uma tigela com os tomates cherry, de lá gritei à minha filha: 'Olha lá, lavaste os tomatinhos?'.

Para nosso espanto, acto contínuo, responde o pimentinha mais velho lá do quarto: 'Claro!'

Desatámos as duas numa risota e ainda hoje, quando vemos 'tomatinhos', nos rimos.

Lembrei-me disto (confesso que a despropósito) ao ver, no The Guardian, a fotografia abaixo, uma fotografia magnífica. Explico o que é, transcrevendo:
Villagers put tomatoes under the sun, creating a blanket of deep red, to dry them in Hejing county in the Mongolian autonomous prefecture of Bayingolin. (Photograph: Xinhua)

Estamos na altura do tomate maduro e eu, que sou uma meditarrânica dos quatro costados (apesar de ter um avô que parecia nórdico e de um outro que sempre achei que tinha uns certos traços asiáticos), gosto de o comer de todas as maneiras: em salada com cebola temperada com azeite e orégãos, em sopa de tomate, em ovos mexidos com tomate, em arroz de tomate, em ensopado de enguias e sei lá que mais.

E se gosto de ver campos de tomates ou ir atrás de atrelados cheios de tomates... Lembro-me também do meu avô cultivar tomates alongados, uma coisa meio rara naquela altura, e entrelaçar com a rama umas résteas que não eram de cebolas ou alhos mas de tomates, que ele deixava suspensos numa casa pouco iluminada que havia no quintal e onde ele guardava alfaias, cebolas, alhos, batatas e onde tinha também as galinhas a chocar ovos. Lá se aguentavam os tomates ao longo de meses, tendo nós tomates frescos e maduros todo o ano. Também o meu pai, quando lhe deu para ter uma horta, entusiasmo que não durou muito, cultivou uns pés de tomateiro nuns canteiros. Armava-os com umas canas fininhas, tal como armava os pés de feijão verde. E eu gostava de ver as frutinhas a crescerem e gostava de os ir apanhar para sentir aquele belo perfume. Ainda hoje, se compro tomate de rama, quando os arranco, cheiro-os para ver se trago de volta aquele perfume tão bom dos tomates recém-apanhados.


Claro que, apesar de gostar imenso de tomate, não gosto a ponto de me imaginar mergulhada num banho deles como acontece em Espanha, Buñol. Mas, enfim, vendo a alegria dos banhistas completamente tingidos pela bela cor da tomatina não posso dizer que daquele sumo não beberei.


______________

E, por falar em encarnado (e já nada a ver com tomates, claro está), que entre a música do mestre Ernesto Lecuonano colada ao corpo do casal do Grupo Corpo que aqui interprta uma coreografia de Rodrigo Pederneiras




Ou o Encarnado da bela trilogia de Kieślowski


E os belos rouges de chez-moi ao  pôr-do-sol


_________________

E uma bela terça-feira a todos quantos por aqui me acompanham

_________________

quinta-feira, junho 15, 2017

Mais do que uma questão de moda, uma questão de gosto





Alguns testes, daqueles que se encontram em sites com testes de personalidades ou nos sites femininos (lugares que, volta e meia, me acolhem, em especial quando a realidade me dói ou me cansa) dizem que a minha cor é o encarnado, a cor da paixão, do vibrante e intenso fogo.

Outros dizem que é o amarelo, a cor da luz, a cor dos que, mesmo sem querer, atraem e iluminam o que os rodeia.

Não sei de nada disto: não faço ideia se há rigor nestas conclusões ou se isto tem a ver com psicologia ou com estatística -- ou se é treta pura e dura.

O que sei é que, indubitavelmente, estas são, de longe, as cores que predominam no que pinto ou nos bordados que faço (ou melhor: no que pintava ou bordava pois, como é sabido, tenho andado a ser infiel para com essas duas minhas fontes de prazer) ou com que, em geral, mais me identifico.

E o que também sei é que, este ano, posso com tranquilidade dar bom uso aos meus felizes outfits em encarnado já que é a cor mais fashionable deste verão. 
Claro que, dizendo isto desta maneira, terei que contar com a vossa perspicácia para darem o devido desconto pois, como é bom de ver, visto o que calha, consoante a disposição ou as circunstâncias por onde terei que passar durante o dia. Mas, se uns dias posso ir na base do angelical, branco e azul claro, por exemplo, outros dias irei inflamável da cabeça aos pés. 
Agora uma coisa posso eu aqui jurar a pés juntos: nunca na vida devo ter usado fato preto e camisa branca, daquelas camisas de corte masculino com colarinho, punhos. Nunca. Ou saia preta e camisa branca. Ou calças pretas e camisa branca. Que me lembre, o mais parecido foi calça fina em antracite com quase imperceptíveis riscas finíssimas, apenas um risco fino, em pérola, com blusa fina em seda também cor pérola clara e, bem entendido, um colar comprido de pérolas. Mas, de resto, parece que se não há um toque de cor já não sou eu. Ou seja, provavelmente, quando vesti o acima descrito, tive que usar um rouge abusador nos lábios.

Ora bem. Adiante. Vamos a coisas concretas.

Leio na Harpar's Bazaar que o verão vai ser red-hot e os exemplos que até aqui viram comprovam-no. Olho e caio logo de amores, imaginando-me assim, sem tirar nem pôr.

Penso que já vos contei que tenho dois pares de sapatos encarnados e que a primeira coisa que me lembro de querer quando comecei a ter voto na matéria foi um par de sapatos encarnados. E, de cada vez que ia com a minha mãe comprar sapatos, era uma peregrinação a ver se encontrava sapatos encarnados. Para mim o sonho começava quando me era anunciado que íamos comprar sapatos. Sapatinhos de veludo encarnados. Lindos, lindos. Geralmente, para minha frustação, não os encontrava (ou, então, a minha mãe combinava-se com o vendedor para ele dizer que não tinha). E lembro-me de um vestido num tecido macio em vermelho escuro com uma golinha de renda branca. E o meu vestido do baile dos finalistas também em encarnado, desta vez em encarnado-tijolo, sem costas até à linha da cintura e com um folho plissado a toda a volta do amplo decote, um escândalo que me fazia sentir uma perigosa princesa (daquelas tresmalhadas).

Mas, portanto, a moda deste ano sanciona este meu gosto.


(No entanto, calma aí, nada de exageros). 

_____________

Claro que, a esta hora, já algumas leitoras mais recatadas devem estar a torcer o nariz. 
Acessórios em red-hot? Credo, que coisa mais incendiária... Diz-se santa mas, com gostos destes, a UJM não conseguiria ser admitida em nenhum convento! Está bem, está.
Pois bem. Torçam o nariz à vontade que a mim nada me demove dos meus gostos. Além disso, há pior.

Por exemplo, o fato de banho aqui abaixo. Pode ser original mas a mim nem que me pagassem milhões eu era capaz de ir para a praia nestas figuras.  

No entanto, há que ver sempre o lado bom das coisas: se algum dos meus leitores tiver pena de não ser parecido com o Tony Ramos e quiser passar por ser altamente felpudo, pode recorrer a este modelito.


E, para os meus Leitores homens, em geral, aqui fica, desde já um sério aviso. Se quiserem render-se aos ditames da moda, não vão na conversa daqueles estilistas que parece que gostam de vestir os homens como se fossem abichanados, camisinha estrelicada preta às bolinhas prateadas ou às estrelinhas às cores, calcinha justa à peixe-peixe (isto é, curtas, a deixar o tornozelo de fora), sem meias, sapatinho bicudinho marado.

Nada disso: aqui a vossa Sta UJM abomina isso. Homem que se quer homem (seja qual for a sua orientação sexual) deve vestir-se à homem e não à bichona maluca.

E nada de irem na conversa de que rendas é o que está a dar na moda masculina. Se algum costureiro vos disser isso, fazem o favor de o mandar ir dar banho ao cão. Se vos sei nestas figuras, de uma coisa podem estar certos: aqui não entram. Podem crer. E olhem que não brinco em serviço. Era o que me faltava estar aqui a escrever e aí, desse lado, um marmanjão vestido de calçonete e camisinha de rendinha rosa bebé ou azul-cueca. Era, era...! 


__________________

Aquele tango está lá em cima apenas porque sim. E também porque gosto daquela música e daquela forma de dançar e porque a bailarina (do Grupo Corpo) está vestida de encarnado. Ou seja, parece-me que há fundamentadas razões para aquela escolha.

Contudo, quem não aprecie o género poderá optar por fazer acompanhar-se na leitura da minha pobre prosa desta música bem mais pia:


_______________

Até já.

____

domingo, julho 03, 2016

O fogo, a ardência, o sangue, o vinho bem tinto, a carne viva, o vermelho, carmim, encarnado, rouge, red.
Estas são as minhas cores preferidas
Faça também o teste baseado na teoria Lüscher da cor e descubra os traços dominantes da sua personalidade


O meu Barnett e eu



Se vejo o mar em azul-sedutor ou em azul quase verde-atraente ou mesmo em azul quase chumbo, sombra e suspeita -- eu gosto.

Se o céu está azul e limpo, ou luminoso e tranquilo -- eu gosto. Ou, ao anoitecer, quando se transforma em azul quase submarino -- eu gosto.

Mas, se tenho que escolher uma cor, não é o azul que tantas vezes procuro que escolho. Eu escolho o fogo, a ardência, o sangue, o vinho bem tinto, a carne viva, o vermelho, carmim, encarnado, rouge, red.

Há pouco estive a ver o rio envolto em dourado, o casario suavíssimo, as serras banhadas pela luz do ocaso. A janela estava cheia de céu e rio. Lindíssimo. Entrava uma aragem fresca, que condizia com a brandura desta paz dulcíssima que se sente na minha sala. E, no entanto, se tivesse que escolher a cor desse instante, sem pensar, eu escolheria o fogo que se escondia por detrás do horizonte.

Antes, in heaven, eu tinha estado entre as portadas da sala a espreitar o calor ardente da tarde, aspirando o ar quente e docemente perfumado das flores do loendro.



Macias as pétalas, quase húmidas de doçura, um rosa forte que é encarnado temperado com pingos de branco, talvez um leve pingo de azul sentimental.
(Que saudades sinto de pintar, se temperar as cores, de misturar brilhos, caprichos)
Desta flor olorosa se desprende um perfume que atrai os pássaros, que prende os corações, que inspira poetas. A luz pousa nas flores, enche-as de reflexos luminosos e eu, na sombra da sala, entre os cortinados, espreito a luz e o calor e, quando reparo, é sobre os vermelhos que o meu olhar também pousa.

Quando começa a entardecer, como uma gata encalorada, vagueio pelo exterior, junto à sombra, procurando a frescura que transpira das grossas paredes.

A buganvília está florida. Não é de vermelho-puro: é fúcsia, as pétalas quase de papel, discreta não fora a cor coquette. Trepa pela parede, toda ela tão feminina, vestida de folhas verde e amarelo, pétalas chamativas.

[Tantas flores que vi e, no entanto, ao fotografar foram estes os tons que predominantemente escolhi. E se por lá há arbustos cobertos de flores brancas... Porquê?]


Já de manhã, na praia, tinha andado em busca dos pólens que, quais pós das estrelas, salpicam as pétalas que são sedas suaves das flores que tingem de cores vibrantes as dunas. Magentas, fúcsias, pinks. As dunas ardendo ao sol e brilhando em tons gritantemente coloridos.


Enquanto escrevo, olho à minha volta. Esta sala é grande. Um dia achei que a parede do fundo, onde estão os sofás em cor quente, precisava de estar pintada de cor de sangue. O assunto foi polémico. Deu muita luta. Mas aqui está ela, uma parede em cor de sangue bem forte. Linda. Sobre ela um quadro que pintei, todo ele cores de fogo, chamas petulantes, céus de perdição, um corpo nu de mulher atravessando uma noite quente.

Gosto de ver casas claras, de móveis claros, sofás claros. E, no entanto, onde vivo não há neutralidade. As cores impõem a sua presença. Há vibração, intensidade, calor. Confesso: não suportaria viver numa casa escura, preciso de viver entre cores quentes.

O encarnado e todas as suas derivações, a chama, a intensidade, a vibração plena de vida -- essas são as cores que correm dentro de mim.

____

E vem esta conversa a propósito de um teste que mão amiga, sabendo da minha gulodice por testes de toda a espécie e feitio, me fez chegar.

This Scientific Color Test Will Reveal Your True Personality Traits


Reza assim: Este teste é inspirado pela conhecida teoria Lüscher da cor, que teoriza acerca de os traços de personalidade de uma pessoa poderem ser identificados a partir das suas escolhas de cores


Fiz o teste, claro está. O resultado não me espantou.

Red

Based on this test, you were mostly drawn to the color red. Like a fire, you burn with passion and desire. 

Your dominant personality trait is your ardency. You are dynamic, powerful, strong, sexy, and exciting. 

Because you're so intense, you can be very aggressive. 

You are a determined and highly competitive person who invests 100% in everything you do.

__________________

Roll the Dice de Charles Bukowski

(lido por Tom O'Bedlam)

____


Lá em cima, uma vez mais a Habanera da Carmen de Bizet 
numa fantástica interpretação de Anna Caterina Antonacci (The Royal Opera)



.....

Convido-vos, agora, a irem de visita até ao meu outro blog, o Ginjal e Lisboa onde hoje vou pela mão de Fernando Pinto Amaral.

...

Desejo-vos, meus Caros Leitores, um belo dia de domingo.


sexta-feira, março 15, 2013

Eu e o encarnado vibrante de Rothko, que é um sangue de onde nasce a luz. E, com os meus muito sinceros agradecimentos ao Leitor que mo recomendou, Morton Feldman: The Rothko Chapel




Deixo de olhar em volta, deixo de ouvir o que me circunda. Procuro o silêncio, procuro-o no meu interior. Não fecho os olhos mas é como se os fechasse e olhasse o sangue que corre dentro de mim. Sinto o ar que procurou refúgio no meu corpo, ouço a minha respiração.

Ao ver sob o meu olhar que respira o sangue quente que corre em mim como um rio suave, é o meu corpo na sua pureza que eu sinto mas é, também, como se sentisse os corpos de todos, os corpos incorruptos de todas as pessoas boas, das pessoas que perfumam o ar com a sua existência e com a sua luz. Respiro.

Respiro devagar. Sinto a minha respiração e vejo, vejo mergulhando o meu olhar dentro de mim. As fronteiras entre mim e o que me é exterior esbatem-se.

A cor entra no meu corpo imaterial e mistura-se com o meu sangue e a doçura quente está em mim e está fora de mim e eu quero dormir para sonhar ou quero voar para dentro da luz que sai do encarnado carmim, cor de carne viva. Deixo que as minhas asas se soltem, deixo que os meus cabelos voem, deixo que o meu corpo se aninhe num ventre imaginado, talvez seja o meu próprio ventre. E, a seguir, recolho-me, recolho-me em mim, dentro de mim, e voo até ao cimo duma árvore inventada, recolho-me fora de mim.




E vejo o sangue que brota em golfadas e ele é, agora, fogo e vejo a luz que se desdobra como um imaculado, muito puro novelo, e sinto como são macias as sombras que se escondem do sangue iluminado, sinto o silêncio que os envolve como um sopro, como uma melodia que viesse de dentro da terra, do lugar onde ela é feita de chamas enlouquecidas, de uma massa quente de mênstruo doce, de férteis placentas, de paixões infinitas.

E depois.

E depois as palavras começam a caminhar sozinhas, andam e voam à minha volta, palavras sem nome, sem razão, palavras com carne, palavras com música, ou palavras mudas, das quais a música se ausentou, palavras sem cor, silenciosas, murmúrios, preces. E os anjos abstractos levantam-se de dentro da terra, rompem as telas, atravessam o encarnado de sangue, e, em coro, um coro silencioso, sublime, começam a cantar os sons mais densos, mais puros, a luz mais coada, mais ardente.

E um arrepio de emoção, de entrega, percorre o meu corpo imaterial, sem idade, sem fronteiras, e lágrimas de agradecimento rompem o meu olhar que se perdeu em deslumbramento.

Será isto rezar? Procurar a pureza mais pura? Procurar o silêncio, a essência, o princípio de tudo, o momento original, a inocência? A bondade mais leve, o voo mais livre, o sorriso mais verdadeiro? Será?



Morton Feldman, The Rothko Chapel


[La fin de "Rothko Chapel" pour alto, choeur, célesta et percussions, avec sa mélodie d'inspiration hébraïque, composée par Morton Feldman à l'âge de 15 ans - transcrição do texto que acompanha o vídeo]


*

Se ainda vos apetecer continuar comigo, venham, vamos até ao meu Ginjal e Lisboa, a love affair. Levada pela maravilhosa toada de Manuel Gusmão busco refúgio nos braços de alguém que dança em volta de uma árvore, mesmo para me atrair. A música é um exemplo de virtuosismo a dois. Mischa Maisky e Martha Argerich interpretam Grieg. Uma maravilha.

*

E, depois disto, só posso desejar-vos, meus Caros Leitores, um dia cheio de paz. 
Ela está dentro de vós.

quinta-feira, agosto 05, 2010

Encarnado ou vermelho eis a questão


(Batons, um bom exemplo dos muitos tons de encarnado,em https://blogger.googleusercontent.com/img/b/R29vZ2xl/AVvXsEjkuy2lj8SXK5_venjZftinGw4f_n1sdKXy3yi7An67n5fwVoRf8CEFw65_Ja48iXcJbcyBrF4nJxKEKC-4SWPxKTI0Usj19H6mdzkSEZaYIWlaT9FfuPFv-tO5BzgugnOvdM26IXJ2R0U/s400/applying+lipstick3.jpg)


Encarnado ou vermelho?

Segundo a tabela de dupla entrada dos nobres do império, quem diz encarnado está bem (ou melhor, é ‘bem’); quem diz vermelho é da plebe.

Mas vejamos o que consta dos dicionários e apenas no que se refere a cor (porque, por exemplo, encarnado pode também ser um tempo do verbo ‘encarnar’)

encarnado
adj.
1. De cor de carne.
2. Vermelho como carne viva.
s. m.
3. A cor encarnada.

vermelho
(latim vermiculus, -i, diminutivo de vermis, -is, verme - por causa da cochonilha, insecto vulgarmente chamado piolho-dos-vegetais, de que se extrai uma tinta escarlate, o carmim)
adj.
1. Encarnado muito vivo; rubro; escarlate;
s. m.
4. A cor vermelha ou rubra.

Ou seja, em linguagem corrente, vermelho é encarnado e encarnado é vermelho, ou seja, são sinónimos.

Contudo, em termos técnicos, poderemos dizer que Vermelho (em inglês, Vermilion), mistura de amarelo com magenta, é um dos vários Encarnados (Red) existentes, um vibrante, a meio caminho entre o encarnado e o laranja.

Em inglês, por exemplo, poderemos referir as seguintes expressões que traduzem variantes de red:

Alizarin crimson, Amaranth, American Rose, Auburn, Burgundy, Burnt sienna, Candy apple red, Cardinal, Carmine Carnelian,Cerise, Chestnut, Coquelicot, Coral red, Crimson, Dark pink, Falu red, Fire brick,Fire engine red, Flame, Fuchsia, Lava, Lust, Magenta, Maroon, Mauve, Mauve taupe, Orange-red, Persian red, Persimmon, Pink, Raspberry, Red, Red-violet, Redwood, Rose, Rose madder, Rosewood, Rosso corsa, Ruby,Rufous, Rust, Sangria, Scarlet, Sinopia, Terra cotta, Tuscan red, Upsdell red, Venetian red, Vermilion

Historicamente, existem contudo conotações políticas. A partir da Comuna de Paris, em 1871, o vermelho passou a ser conhecido como a cor da esquerda revolucionária.
Em Portugal, durante o período da ditadura, também existia a conotação entre os proscritos comunistas e a cor vermelha (em contraponto, os benfiquistas eram os encarnados).

Mas resumindo:

* Em português corrente, e em termos de significado, é indiferente dizer-se vermelho ou encarnado.

* Tecnicamente não é indiferente dizer-se uma ou outra palavra e, mais que isso, convém identificar qual o código RAL ou o Pantone.

* Quanto ao resto é história…

.