Nada recomenda durante mais tempo as histórias à nossa memória do que essa sobriedade neutra que as subtrai à análise psicológica. E quanto mais o narrador for capaz de renunciar naturalmente aos efeitos psicológicos, tanto mais facilmente a sua história encontrará lugar na memória dos ouvintes, tanto melhor ela será assimilada à sua experiência pessoal, e tanto mais eles sentirão necessidade de, mais cedo ou mais tarde, a transmitir a outros. Este processo de assimilação que acontece no mais fundo de cada um, exige uma disposição livre de tensões, algo que se torna cada vez mais raro. Se o sono é o ponto culminante do relaxamento do corpo, a disponibilidade corresponde a esse ponto mental.
A disponibilidade é o pássaro onírico que choca o ovo da experiência. O sussurrar da folhagem na floresta espanta-o. Os seus ninhos - aquelas actividades que mais intimamente se adequam a essa disposição de quem sabe usar o tempo - já desapareceram das cidades, e estão em vias de desaparecer no campo.
E com isso perde-se o dom de saber ouvir, e desaparece a comunidade dos que sabem ouvir.
Contar histórias é sempre a arte de continuar a contá-las, e esta perde-se quando as histórias não são preservadas. Perde-se porque já não se tecem nem se fiam os fios do tempo necessário para as ouvir. Quanto mais os ouvintes se esquecem de si, tanto mais fundo permanece neles o que ouviram. Quando deles se apodera o ritmo do trabalho, escutam as histórias de tal modo que adquirem naturalmente o dom de voltar a contá-las. E assim se tecem as malhas que acolhem esse dom de contar. Malhas que hoje em dia deslaçam em todos os cantos, depois de, há milénios, terem sido tecidas no seio das mais antigas formas de trabalho manual
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O texto é um excerto de Linguagem Tradução Literatura de Walter Benjamin
Fiz as fotografias, durante este fim de semana, em paredes degradadas no Ginjal.
A música é Water From An Ancient Well - Abdullah Ibrahim
No post abaixo, completei o meu Astrocopos - cocktails para todos os signos (bons a valer, pelo menos pela descrição e pela adaptação do meu, que já experimentei). Mais abaixo, mostrei um belo mural que fotografei em Alcântara da autoria do artista de rua Bordalo II. Quem puder por lá passar, vai gostar: é uma maravilha.
Mas isso é lá mais em baixo. Aqui, agora, a conversa é outra. Aqui fala-se de esplendor na relva.
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A vida é melhor se for vivida em conjunto, se houver partilha de alegrias, de gostos e desgostos, de sonhos e dissabores, se nos sentirmos ligados por uma rede que amorteça os embates negativos ou que nos abrace sempre que sentirmos que de um abraço estamos precisados. É o que eu sinto - não sou estudiosa da matéria, falo apenas a partir do que me é dado perceber e viver.
Viver fechado em casa, é limitador, isola a pessoa do mundo, não dá saúde nem física nem espiritual - acho eu. Pelo contrário, vir à rua, viver em comunidade, gostar de estar inserido na sociedade (seja de que forma for), e ver a natureza, sentir o sol, estar perto dos outros, desfrutar do que de bom a vida tem, é gratificante, faz a pessoa sentir-se disponível para acolher a felicidade que, volta e meia, passa por perto.
Esta tarde de domingo fui - em bando, como é costume - ouvir jazz nos jardins da Torre de Belém.
O relvado estava cheio, o tempo estava quente, o ambiente do mais descontraído que se possa imaginar. E os meninos jogaram à bola, e lancharam, e a música estava no ar. E acredito que a vida talvez não corresse bem a toda a gente que ali estava mas a verdade é que todos quanto ali estavam pareciam sorrir, ou olhar os outros ao seu lado com bonomia e descontracção.
Claro que, ao ver agora as fotografias, reparo no que na altura não reparei, que é tudo gente muito nova que eu e que, às tantas, eu e o meu marido éramos as pessoas mais velhas que ali estavam mas, olhem, se assim foi, nem dei por isso e, se não dei por isso, é porque me senti lá muito bem. Descalcei-me, e ali estive sentada na relva, na boa, ao sol, a ouvir a música, a ver os sorrisos que me aconchegam a alma.
E, volta e meia, aos meus meninos, dá-lhes um arrebatamento de afecto e abraçam-se. O mais pequeno adora o primo mais velho e, no meio da maior brincadeira, dá-lhe abraços. E o mais crescido também adora o primo bebé. As cenas de afecto entre eles são uma ternura.
Mas depois pôs-se muito calor e fomos para a Torre e para a beira do rio. As cores, o azul das águas e do céu, o verde das margens, a beleza das construções antigas, o veleiro que deslizava tranquilamente - tanta paz. Que sorte temos por vivermos num país tão belo.
Mas, nessa altura, os pimentinhas viram os canhões e foi aquela festa. Treparam logo, brincaram, a alegria do costume. Claro que, vendo-os ali juntinhos, corremos logo para ver se conseguíamos uma fotografia de grupo. Mas claro que isso era querer muito, logo ela quis sair, outro também, outro queria olhar para outro lado, etc. Mas ficam engraçadas na mesma, estas nossas desengonçadas fotografias de família.
E treparam, e inventaram guerras e dispararam canhões, e fizeram perguntas e aprenderam, e divertiram-se.
E, enquanto isso, as meninas crescidas, em cima de outro canhão, à sombra, puseram a conversa em dia porque cada bocadinho é bom para fazer planos, trocar experiências, conversar e rir.
E depois cada um foi à sua vida e já passava das sete da tarde e o calor estava mais brando e vinha uma aragem fresca do rio e eu ainda fui dar um passeio pela beira-mar. E depois vim para casa, e fiz sopa e assei um lombinho de porco no forno com tempero de azeite, alho, louro, alecrim e tomilho limão, e arrumei o que estava a precisar de ser arrumado que esta segunda-feira é um novo dia e a vida continua.
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Quem tocou no Jardim da Torre de Belém, neste MEO Outjazz foi o Ciro Cruz Quintet mas não coloco aqui porque as gravações que encontrei não dão bem a ideia com que fiquei no local. Por isso, lá em cima, é Abdullah Ibrahim a interpretar Little Boy
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Nota:
Se alguma das pessoas que aparece nas fotografias não quiser aqui ver-se, deverá enviar-me um mail solicitando que retire a fotografia em causa.
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Relembro que, descendo, há mais dois posts: um com as bebidas adequadas a cada signo do Zodíaco e, a seguir, um mural fantástico do nosso grande Bordalo II.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma bela semana a começar já esta segunda-feira.
Depois da loucura alegre, pintada de absurdo e despida a preceito no post abaixo, para equilibrar (porque há quem se encandeie quando vê o destempero estampado no rosto dos outros), eis que entra agora a felicidade em azul-triste dos que um dia pensaram amar-se. Podia vir temperada por saudades, esta felicidade azul, temperada por doces nostalgias, por promessas rasgadas como perfumadas cartas românticas, por lágrimas escondidas, recordações de vozes de veludo, olhares atraentes como doces abismos. Mas não, não vem temperada. Vem nua. Límpida. Livre. Voando sobre o dorso das aves, dançando alegremente sobre os rios, esmagando espelhos, correndo como cavalos azuis nas calçadas luzidias da noite, espalhando sóis e soltando asas feitas de palavras loucas.
Se a tua vida se estender
Mais do que a minha
Lembra-te, meu ódio-amor,
Das cores que vivíamos
Quando o tempo do amor nos envolvia.
Do ouro. Do vermelho das carícias.
Das tintas de um ciúme antigo
Derramado
Sobre o meu corpo suspeito de conquistas.
Do castanho de luz do teu olhar
Sobre o dorso das aves. Daquelas árvores:
Estrias de um verde-cinza que tocávamos.
E folhas da cor de tempestades
Contornando o espaço
De dor e afastamento.
Tempo turquesa e prata
Meu ódio-amor, senhor da minha vida.
Lembra-te de nós. Em azul. Na luz da caridade.
Canção das mãos que ficaram na minha cabeça. Eram tuas e pareciam asas. (...) O que foi feito da ternura dos que amaram... Ficou na minha cabeça, mas tuas mãos que pareciam asas. Que pareciam asas.
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[Pausa para que termine a límpida música de Abdullah Ibrahim]
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E agora, em azul: No es por ti
Abdullah Ibrahim: The Song is My Story (e mil vezes obrigada ao Leitor que me tem dado a conhecer música tão maravilhosa)
O tango em azul é dançado pelo Grupo Corpo - "No es por ti" de Ernesto Lecuona, numa interpretação de Zoraida Marrero e com coreografia de Rodrigo Pederneiras.
O primeiro poema e um excerto de outro são de Hilda Hilst (1930 – 2004)
A primeira imagem é Yellow-Red-Blue de Wassily Kandinsky (1866 – 1944)
A segunda é Entre guerre et paix de Marc Chagall (1887 – 1985)
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Post scriptum
E sobre a politicazinha pequenina e rafeirolas desta coligaçãozeca laporiana e portista que nos desgoverna à grande e à francesa, já não se diz nada aqui pelo Um Jeito Manso?
- perguntar-me-ão os Leitores que não são dados a frescuras.
Pois bem, explico.
É verdade, confesso: tenho andado sem vontade de comentar a actuação deste governo miserável. Para mim é já quase como se fosse carta fora do baralho, é uma gente que não tem maneiras, que não sabe quando é chegada a hora de se levantar da mesa, gente que se arrasta mesmo quando a festa já acabou, que aí estão querendo ainda privatizar coisas às três pancadas, gente desqualificada da pior espécie. Aumentaram a dívida, os níveis de desemprego, arrasaram com o investimento, expulsaram do país uma parte importante da população, atentaram contra a esperança e o sossego mental dos que ficaram. Mas, pior que isso, tem sido o manto de lama pantanosa, de miséria moral, de falta de vergonha na cara, de ignorância impudica. Têm trazido a política para o chão mais conspurcado, onde a palavra de nada vale, onde a honra é o que as agências de comunicação quiserem que seja, onde os números significam uma coisa e o contrário. Envergonha-me ser governada por gente desta laia. Por isso, dizer mais o quê? Que já não os posso ver à minha frente? Mas isso já vocês estão carecas de saber, certo? (sem ofensa para os carecas, claro está).
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Relembro que no post já aqui abaixo há do bom e do bonito.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quinta-feira em grande, feliz e boa, boa, boa.
Depois de, no post abaixo, vos mostrar uma mãe aflita, a patinar em seco, tentando explicar à filha o que significa 'virgem' e de, no seguinte, ter entrado na Maison Chanel para ver o enigmático Lagerfeld a preparar o desfile primavera/verão 2014, aqui, agora, parto para outra.
Poderia fazer a vontade aos leitores que entram no Um Jeito Mansoescrevendo nos motores de busca frases como: 'revelada orientação sexual de deputados e ministros' ou 'artigo sobre a homossexualidade dos que votaram contra a co-adopção'.
Desde há vários dias que estas questões me aparecem, algumas referindo os nomes em concreto. Claro que, logo no dia seguinte ao ex-dirigente do PSD Carlos Reis ter protestado contra a votação do PSD e CDS, confrontando alguns políticos com a sua coerência pessoal dado que, segundo ele, são homossexuais, recebi, de alguns leitores, o texto em questão com os nomes bem explícitos. Não publiquei nada na altura tal como não me pronuncio agora.
Os nomes que lá aparecem são nomes de quem sobejamente se afirma a homossexualidade mas, assumi-lo publicamente, é coisa que é com cada um e não serei eu que aqui me farei eco disso. Aliás se eu sou favorável à co-adopção isso tem a ver com a minha consciência e não com a minha orientação sexual e, portanto, não é disso que vou aqui falar hoje.
Também não me pronunciarei sobre uma questão que ultimamente me aparece muito nas estatísticas do blogue: a magreza, que prenuncia doença, de uma certa figura pública. É doença, sim, mas não me parece que seja tema para aqui falar. Só se for para dizer que admiro a coragem dos que, apesar de ser notória a magreza e de saberem que poderão passar a ser olhados com uma certa comiseração, continuam a exercer as suas funções, tomando, inclusivamente, posição em assuntos controversos e, por isso, sujeitando-se a críticas e censuras incómodas.
Gostaria, pelo contrário, de falar de alguns artigos sobre a dívida portuguesa: é pagável? é para esquecer? fazer o quê? varrer o assunto para baixo da carpete? ... what...? - mas agora não me apetece.
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Estou in heaven, na maior paz. Isto está a maravilha de sempre, a natureza delicada e pujante (se é que possível conciliar conceitos aparentemente contraditórios) que sempre me surpreende na primavera. E, quando estou assim, mergulhada em quietude e beleza, não me apetece nem um bocadinho falar em dívida descontrolada ou em estúpidos que não sabem lidar com situações complexas.
Além do mais, é quase uma da manhã, estou perdida de sono e estou a fazer tempo para o Downton Abbey que nunca mais começa. Ainda hei-de perceber a anormalidade das cabeças dos responsáveis pela programação das televisões que enchem os horários mais acessíveis com porcaria e mais porcaria e deixam as coisas boas para horas absolutamente impróprias. A estupidez instalou-se em todo o lado, senhores.
Por isso, se me permitem, em vez de falar de coisas chatas, vou antes primaverar.
Uma vez mais vou buscar as luminosas palavras do Pde. José Tolentino Mendonça.
As suas crónicas semanais quase justificariam o Expresso e fazem com que não me sinta burra de todo por comprar um jornal que aloja opinadores que atentam contra a inteligência de quem os lê como é o caso de um tal João Vieira Pereira de quem nem consigo pronunciar-me, um Henrique Raposo que escreve como um rapazola armado em esperto, um Duque cuja opinião varia consoante o sentido do vento, um Daniel Bessa cujos textos têm a consistência da enxúndia, um Henrique Monteiro que fala do que não sabe com uma soberba que induz em erro os incautos, um Ricardo Costa que disserta sobre evidências ou que se arma em zandinga, ou um José Mário Silva que não tem gosto literário apurado ou que, ao fazer uma crítica, revela coisas que o autor certamente gostaria de reservar para o momento certo (como é o caso da absurda recensão que faz do último livro de Dulce Maria Cardoso, o 'Tudo são histórias de amor').
No entanto, para ser justa, terei que dizer que não é só José Tolentino Mendonça que me cativa dentro da casa que é o Expresso. Pedro Mexia, sempre: é um príncipe na forma como escreve. Clara Ferreira Alves é outra âncora. Miguel Sousa Tavares também. João Garcia, Nicolau Santos, Fernando Madrinha são sempre portos seguros onde não se pode deixar de ir. Desde há pouco tempo, o Expresso tem uma das mais lúcidas vozes do jornalismo português: Pedro Santos Guerreiro. Um prazer ler o que escreve e provavelmente a ele voltarei amanhã.
E não deixo também de ler as crónicas de Ana Cristina Leonardo, 'Isto anda tudo ligado'. Anda triste com isto tudo, ela, e compreendo-a, também eu me sinto muitas vezes cercada por mediocridade; além disso, do que percebo, as coisas não estão fáceis para ela. Por vezes, ao ler o que escreve, fico preocupada por ela. Depois de ter tido um lugar de destaque no Expresso, a sua presença tem vindo a reduzir-se. Não percebo porque não aparece mais na crítica literária. Nem sempre concordei com ela mas, apesar de uma ou outra divergência, reconheço que é culta, inteligente, que tem uma forma irreverente de estruturar as ideias. Por isso, lê-la não nos deixa indiferentes. O Expresso deveria reconsiderar alguns critérios: há nomes que atraem leitores e Ana Cristina Leonardo é seguramente um deles.
Quando penso em negócios a que eu gostaria de deitar mão, um deles é o de ter uma revista literária. A LER caminha cada vez mais para ser carta fora do baralho. O mercado de língua portuguesa tem espaço para uma nova revista. Tenho bem claro na minha cabeça o que seria uma revista boa e rentável e tenho também bem claro quem é que eu contrataria. Não contrataria nem o kitsch Valtinho, nem o inconsistente José Mário Silva, nem o Casanova, esse chato pedante. Mas contratava os acima referidos da área da escrita literária e talvez também o António Guerreiro. Gostava de quando ele escrevia no Expresso. E mais uns quantos, alguns bem improváveis (que aqui não divulgo porque o segredo é a alma do negócio e sei lá se um dia não me abalanço mesmo a isso).
Mas adiante, que já se faz tarde e eu ainda para aqui na conversa.
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Green Kalahari, se faz favor.
Que Abdullah Ibrahim solte as suas mãos sobre o piano e deixe que a música nos envolva
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Esquecemo-nos que as estações se conjugam como um verbo e que, por isso, a pimavera não é apenas um fenómeno exterior, um substantivo que descreve anualmente a natureza à nossa volta, mas é uma realidade que posso dizer de mim: 'eu primavero'.
Desde o fio de erva à vegetação mais grandiosa, tudo passa por um incrível processo de rejuvenescimento.
A vida parece uma rebentação, um contágio imparável, um sobressalto.
Quando, de repente, tínhamos tudo para nos pensarmos completos, gastos ou acabados, descobrimos que a vida é o aberto. A verdadeira sabedoria, aquela que nos faz tocar o coração da vida, é a sabedoria do inicial, do verde tenro, do primaveril, do incessante.
Desde que nascemos estamos não só prontos para morrer, mas estamos sobretudo preparados para nascer, as vezes que forem precisas.
Primaverar é persistir numa atitude de hospitalidade em relação à vida. Ao lado do previsto, irrompe o imprevisível que precisamos aprender a acolher.
Misturado com aquilo que escolhemos, chega-nos o que não escolhemos e que temos, na mesma, de viver, transformando-o em oportunidade e desafio para a confiança.
A primavera não tem uma linha demarcada: transborda sempre e temos de preparar-nos para isso. Ela não fica a alegrar apenas os canteiros muito bem ordenados. A sua floração inédita dá-nos o endereço da torrente, para lá da vida que pensamos domesticada pelos nossos cálculos.
Pobres de nós: achamos que conseguimos dominar completamente o mundo com os nossos cinco sentidos! Precisaríamos, na verdade, de cinco mil para perceber um pequeno quinhão do que somos.
Há quanto tempo não caminhamos assobiando, ou seguimos com um fio de erva nos lábios, sem mais, sem pressas nem pretensões, acreditando simplesmente no valor de ser e que, por isso, nos dão a possibilidade de estar, de vaguear, de medir o momento apenas com o peso e a leveza da própria marcha?
Quando vamos de um lado para o outro estamos, normalmente, presos aos motivos que justificam a deslocação.
Mas - temos que reconhecê-lo - uma viagem assim é demasiado curta. Há uma outra viagem que só começa quando as perguntas sobre o que fazemos ali deixam de interessar.
Estamos, ponto final. Viemos.
Não é o saber ou a utilidade que a definem, mas o próprio ser, a expressão profunda de si.
A sabedoria dos que primaveram não consiste, assim, num reconhecimento prévio, mas em alguma coisa que se descobre na habitação do próprio caminho.
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O texto acima, em itálico, é formado por excertos da crónica 'PRIMAVERAR' de José Tolentino Mendonça da Revista do Expresso deste sábado.
As fotografias foram feitas este sábado in heaven onde a primavera rebenta fora de canteiros, livre, iluminada, feliz como os inocentes pássaros e coelhos que são os verdadeiros donos deste espaço.