domingo, junho 30, 2024

É uma tristeza quando as pessoas não percebem que está na hora de sair... e não saem pelo seu próprio pé...
Pela parte que me toca gostava que o próximo Presidente dos Estados Unidos fosse mulher e fosse negra.

 

Nem é só o estado frágil em que já se apresenta: é a gente pensar como é que Biden estará doravante... daqui por quatro ou cinco anos... Como? E nem tem a ver com a agilidade mental, que já parece muito condicionada, para fazer face ao trapalhão e idiota Trump: é pensar como, neste estado, poderá fazer face aos Putins, aos Netanyahu, aos Kim Jong Un deste mundo ou, internamente, ao obscurantismo, à negação da ciência, à influência de religiões perigosíssimas, ás guerras com os republicanos.

Pode ser tarde, pode parecer que é um risco, que pode não haver tempo. Mas, a bem do mundo, seria bom que os democratas fossem ágeis, criativos, corajosos -- e que alguém de força se chegasse à frente. Trump não pode ganhar. Seria um risco demasiado grande para o mundo.

Tenho ouvido falar em dois nomes e qualquer dos dois me parece um bom nome. Kamala Harris ou Michele Obama. Hilary Clinton já não deve estar para isso e é pena.

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Jon Stewart's Debate Analysis: Trump's Blatant Lies and Biden's Senior Moments | The Daily Show


sábado, junho 29, 2024

Jogos de sedução

 

Nada de muito novo. É sabido que, nisto, é sempre a fêmea que escolhe e que resolve quando dar o ok. Da mesma forma, é sabido que o macho tem que saber seduzir, tem que ter calma, tem que ter arte e, sobretudo, humildade. E tem que saber perceber o momento de avançar para a conquista. Tudo, sempre, sabendo que nada é definitivo pois a fêmea pode sempre mudar de ideias.

Mas, quando ambos compreendem sempre o seu papel e sabem interpretar o momento com graça e mestria, é uma maravilha digna de ser festejada.

Ostrich Gives the Performance of His Life | The Mating Game | BBC Earth

The end result might not be as smooth and slick, but this ostrich does have some moves… 


Será que os artistas do Ministério Público continuam a escutar António Costa?

 

Depois de tudo o que têm feito, pergunto. 

Ou será que, como não conseguiram o que queriam, desistem...?

Mas não sei... Anos, meses a escutarem conversas sigilosas, críticas, íntimas, tudo, anos e meses a guardarem escutas para depois as irem deixando sair quando acham conveniente e sabe-se lá a fazer mais o quê (já aqui o disse mas eu se fosse do SIS punha alguns desses meninos debaixo de olho...), gostava de saber se, mesmo depois de ele ser Presidente do Conselho Europeu, vão continuar o seu exercício psicopático de voyeurismo e coscuvilhice. Só por curiosidade, gostava de saber.

Quer-me cá a mim parecer que ainda se haverá de fazer algumas descobertas escabrosas acerca desses artistas.

sexta-feira, junho 28, 2024

António Costa no Conselho Europeu. Salve.
Num patamar cá em baixo, muito em baixo, muitos jornalistas e comentadores-minions das televisões portuguesas.
Como antídoto contra a mediocridade de grande parte da comunicação social, a poesia de Manoel de Barros

 

Estou contente com a eleição de António Costa para a Presidência do Conselho Europeu. Penso que a sua inteligência, a sua capacidade de trabalho, a sua energia, a sua boa atitude, a sua determinação e a sua visão serão muito úteis na gestão das suas novas funções. Estou em crer que vai dinamizar e recentrar as atribuições e as responsabilidades do Conselho Europeu.

Mas com tanto comentário em todo o lado a toda a hora nas televisões, maioritariamente com observações entre o ressabiado, o invejoso e o cínico por parte de gentinha que dá ideia que é contratada apenas pela sua mediocridade, já não consigo dizer muito mais. Tem sido uma overdose. Uma pessoa foge e, para onde quer que fuja, lá estão as vizinhas na má-língua. Dá ideia que quem contrata comentadores quer lá ter gentinha maledicente, parva, gentinha que se dá ares de importante, de superior, e que parece que está ali apenas para menorizar quem tem dois dedos de testa.  Claro que aqui e ali lá aparece alguém decente. Mas é uma minoria e, lamento, não justificam o sacrifício da estucha que é ouvir os outros.

Além do mais, levei a segunda dose da vacina contra a pneumonia e estou com o braço muito inchado, encarnado, quente, ultra dorido. Estou com gelo mas, sinceramente, estou bastante incomodada. É que não é apenas no lugar da picada: vai até ao cotovelo. Um desconforto grande. Nem consigo mexer o braço. Caraças. Levei a vacina à hora de almoço de quarta-feira e à noite até estive febril. Quando me deitei, até batia o dente. Um disparate. Agora febre não tenho mas mal mexo o braço. Dói-me, está inchado, quente. A enfermeira avisou que isto podia acontecer mas como avisam sempre e, até agora (vacina contra a gripe,  contra a covid), nunca tal tinha acontecido, nem pensei nisso. Afinal vai lá, vai... Portanto, tenho andado assim e, portanto, não consigo inspiração e disposição para mais que isto.

Agora o que me sabe bem é ouvir palavras humildes, genuínas, bondosas. Poesia de Manoel de Barros.

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Maria Bethânia lê Manoel de Barros - Ruína


Carolina Muait | Tratado Geral das Grandezas do Ínfimo | Manoel de Barros


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Boa sorte a António Costa

Dias felizes a todos

quinta-feira, junho 27, 2024

Adélia Prado, o feliz Prémio Camões 2024

De vez em quando fico mesmo contente com o Prémio Camões do ano. Este ano foi uma dessas escolhas felizes. Como bem sabe quem por aqui me acompanha, Adélia Prado tem uma voz que muito me agrada. Gosto de escritas desarrumadas, espontâneas, em que as vísceras e as mãos e tudo fala para que as palavras se ajeitem, seja em prosa seja em poesia. Parece que escreve o que lhe ocorre, sem preocupação em 'fazer bonito'. Se calhar até é uma escrita burilada, não faço ideia, mas sente-se que as palavras vieram motu proprio, ninguém as chamou. Escolheram-se umas às outras, e imagino que ela pare para perceber se fazem sentido e, se à primeira vista, parecem não fazer, acredito que ela as deixe lá estar na mesma pois, se não faziam sentido, passarão a fazer.

Já aqui o tenho confessado. De leitora assídua de poesia, agora ando mais distante. Parece que, na actualidade, a poesia perdeu a genuinidade, perdeu o viço, há muita banalidade, muita coisa disparatada sem ponta por onde se pegue.

O meu marido, pouco ou nada dado a poesias, há pouco ia a passar e ouviu na televisão a notícia do Prémio Pessoa. Perguntou-me: 'Essa não é aquela de que gostas muito?'. Disse-lhe que sim. Ele confirmou: 'Uma que escreve umas coisas que não fazem sentido...?'. Confirmei. 

Justamente. A beleza de uma escrita assim está na capacidade de escrever o que os outros não dizem, na originalidade de escrever o que a mais ninguém ocorreria dizer, ou, pelo menos, dizer dessa forma.

Tenho na minha secretária um livro dela. Tenho na mesinha ao lado do cadeirão que está ao lado da janela uma pilha de livros e um deles é dela. Tenho no parapeito da janela ao lado do sofá em que estou outra pilha de livros e um deles é dela. De vez em quando parece que sinto vontade de ler uma coisa inédita. É que posso ler muitas vezes o que ela escreveu que me parece sempre inédito.

Que Prémio Camões tão bem dado, tão feliz.

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No meio da noite

Acordei meu bem pra lhe contar um sonho:
Sem apoio de mesa ou jarro eram
as buganvílias brancas destacadas de um escudo.
Não fosforescia nem cheirava nem eram alvas.
Eram brancas no ramo, brancas de leite grosso.
No quarto escuro a única visível coisa, o próprio ato de ver.
Como se sente o gosto da comida eu senti o que falavam:
«A ressurreição já esta sendo urdida, os tubérculos
da alegria estão úmidos vão brotar sinos».
Doía como um prazer.
Vendo que não mentia ele falou:
as mulheres são complicadas. Homem é tão singelo.
Eu sou singelo. Fica singela também
Respondi que queria ser singela e na mesma hora,
singela, singela, comecei repetir singela.
A palavra destacava-se novíssima
como as buganvílias do sonho. Me atropelou
— O que foi? — ele disse:
— As buganvílias…
Como nenhum de nós podia ir mais além,
solucei alto e fui chorando, chorando,
até ficar singela a dormir de novo.

Adélia Prado, Bagagem

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Documentário Adélia Prado: uma mulher desdobrável


Adélia Prado - a vida é mais tempo alegre do que triste



Adélia Prado, a simplicidade de um estilo


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Salve Adélia Prado

quarta-feira, junho 26, 2024

Borboletas, flores, pedrinhas, brilhozinhos

 

Sempre fui muito dada a trabalhos manuais como bordados, tricots, crochets. Escrever é apenas uma outra forma de ter as mãos ocupadas enquanto a cabeça vagueia. Quando vejo algumas artes que impliquem trabalho de mãos (se calhar todas implicam...) tenho sempre vontade de experimentar. O problema é que fico viciada, desato a produzir em larga escala e depois não tenho o que fazer às coisas.

Já pensei algumas vezes em meter-me nessas coisas dos instagrams e pôr as coisas que faço à venda, nem que seja só para perceber a adesão. Mas como não quero vender à candonga e não me estou a ver a meter-me em trapalhadas de registar actividade nas Finanças, a passar facturas, etc (senão, às tantas, ainda teria que ter contabilidade organizada), não faço nada. E, não querendo continuar a encher a cave de coisas, fico-me pela contemplação e pela imaginação.

Isto que hoje partilho é o tipo de coisa que me daria um gozo brutal a fazer, desde a procura de materiais à concepção, à execução. Mas, já viram, onde é que eu ia depois colocar quadros, caixas, jarrões? 

Uma pena.

Mas vejam. Eu acho uma maravilha, uma graça. 

Creating Masterpieces for Steve Jobs, Bill Gates and The Pope

South Korea, Yangpyeong-gun. Mother-of-pearl art with Kim Young-Jun and Gabe Sin - embark on a journey as they revive the ancient Korean art of Najeonchilgi. Kim, a former financier turned master craftsman, has created intricate mother-of-pearl masterpieces for icons like Steve Jobs, Bill Gates, and even designed a chair for the Pope. Alongside him is Gabe Sin, a visionary hairstylist who draws inspiration from these timeless designs, integrating them into elaborate creations showcased on the cover of Vogue. Discover how Kim and Gabe are redefining Korean art for the modern world, blending heritage with innovation in mesmerizing ways.


Dias felizes

terça-feira, junho 25, 2024

As muitas Meryls
-- com orégãos e com um animal-mistério a despropósito

 

Não me lembro se a primeira vez que a vi foi no Kramer vs Kramer ou se foi em A amante do tenente francês. Sei que, desde sempre, fiquei fascinada com a sua capacidade de encarnar personagens, sempre com uma intensidade tal que parece que ela é os personagens que representa. Mas, ao mesmo tempo, parece haver nela uma leveza extraordinária, uma graça, uma espontaneidade. Podem ser exigências díspares, pode ser necessário ser o oposto do que foi na última vez mas, em todos os seus papéis, ela está inteira, de corpo e alma.

E agora que estou a escrever, lembrei-me do The deer hunter (que em Portugal acho que era 'O caçador') que creio que também foi dos primeiros. Ou em Manhattan?

Lembrar-me-ei sempre dela no pungente A escolha de Sofia ou no terno e romântico As pontes de Madison County ou no maravilhoso Africa minha ou no divertido O Diabo veste Prada. Ou a fazer a incrível Margaret Thatcher na Dama de Ferro.

E noutros.

Além disso, Meryl Streep, 75 anos feitos esta semana, não é apenas um nome grande do cinema (e também canta...): ela tem sabido usar o seu prestígio para divulgar causas como a da democracia e da cidadania informada ou a dos direitos das mulheres no cinema e não só.

O vídeo abaixo mostra-a em diversas actuações e numa gostosa entrevista.

(Dá para pôr legendas, claro, mas, neste caso apenas daquelas geradas automaticamente o que, já se sabe que, por vezes, são sai lá muito bem)

Meryl Streep: "The Many Meryls" | 60 Minutes Archive


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Enquanto ando, não resisto a ir apanhando mais uns pezinhos de orégãos. Tão bonitos. Hoje até me lembrei de que se um dia voltar a casar-me poderei levar, como bouquet, um molho de orégãos (e, no copo de água, servia caracóis, claro).


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Já agora um mistério. O meu marido, quando andou a caminhar de manhã, encontrou outra vez um esquilo. Estava a andar. Por aí, começa a ser normal. Mas diz que, quando ia a passar ao pé de uma casinha de arrumos que temos cá em cima, não muito longe da casa, ouviu um barulho e, quando se virou, viu o vulto de um bicho grande que se enfiou no meio dos arbustos. Diz que lhe pareceu maior que esquilo ou gato mas não conseguiu perceber o que era.

Foi numa altura em que o nosso cãobeludo de guarda estava em casa pelo que não houve perseguições. 

Resta saber, pois, que bicharada por aqui anda. 

Hoje, por exemplo, estava a cozinhar e no tronco da figueira que está à frente da janela passeava-se um animal que parecia vindo dos Galápagos, nem sei se seria lagarto, se big lagartixa esbranquiçada e escamosa com umas patas de impor respeito. Ou, quando ia lá em baixo, senti o que me faz arrepiar, uma bicha a rabiar no chão, ondulando: uma cobra.

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Dias felizes

segunda-feira, junho 24, 2024

As CPI são uma vergonha
-- a palavra ao meu marido


Uma vez que ontem estava num registo zen e não me apeteceu desenvolver temas que a ambos têm indignado, o meu marido achou que os temas não deviam passar com a ligeireza com que ontem os aflorei. Por isso, hoje, enquanto ainda estávamos apenas os dois em casa, dei por ele a escrever o que, depois, como é hábito, me enviou por mail.

Transcrevo, pois, o texto que escreveu:

Assisti na sexta feira a uma parte do interrogatório a que foi sujeita a mãe das gémeas. Já tinha assistido  a uma parte do interrogatório ao Lacerda Sales e a interrogatórios efetuados em outras comissões de inquérito.

Em nenhum dos interrogatórios me senti próximo dos verdadeiros inquisidores que são os deputados que fazem os interrogatórios, nomeadamente, quando são da oposição e estão nas comissões por pura luta politica sem qualquer interesse em saber a 'verdadeira' verdade.

No entanto, na sexta-feira tive vergonha do que se passou. Independentemente da mãe das crianças estar ou não a esconder quem a auxiliou, que sentido tem esta comissão de inquérito? Parece que o objetivo é descobrirem se alguém marcou indevidamente uma consulta? Os deputados não têm nada de útil para fazer? Por uma merda destas -- e a palavra é esta --, humilham as pessoas desta maneira, enquanto gastam o dinheiro dos contribuintes? A inquisição já acabou há alguns séculos e a PIDE há cinquenta anos. As pessoas têm direito à sua dignidade e não podem ser sujeitas a humilhações só porque o André Ventura está interessado em "levar tudo atrás" e a AD precisa do André Ventura.

E da CPI ao MP "vai o passo de um anão". Então, agora mandaram 50 inspetores da Judiciária investigar as faturas de refeições da Câmara de Oeiras? Mas não existe um orçamento na Câmara e um conjunto de eleitos para verificarem a atuação de executivo? Então os restaurantes não têm programas de faturação auditáveis? Ou será que o MP também se acha no direito de definir a dieta dos autarcas? Por exemplo, à segunda-feira podem comer entrecosto mas não entrecôte, à terça que venha  a sardinha mas nunca  o linguado e, assim, sucessivamente...? E quem paga estes desvarios são sempre os mesmos, os contribuintes. Não têm emenda. Mas numa democracia tem que haver escrutínio e não há nenhum órgão que possa fazer o que quer sem estar sujeito ao escrutínio democrático e às regras da democracia. 

A talhe de foice, os diversos pacotes do Governo também não têm emenda. Ou, pasme-se, referem-se a politicas do Costa que tanto criticaram ou apresentam ideias que não conseguem consubstanciar. Aconteceu mais uma vez com pacote anti-corrupção, isto é, com o pacote "vamos dar a mão ao Ventura". Então o Montenegro, quando é interrogado sobre  as medidas propostas, diz que ainda têm que pensar sobre como serão elas de facto? Será possível que isto seja verdade ou, quando estavam a definir as medidas do pacote anti-corrupção, foram interrompidos, isto é, requisitados para analisar as faturas do Isaltino? Só pode ter sido.

Uma brincadeira, isto tudo. 

Ainda a propósito do pacote anti-corrupção, quero dizer que sou absolutamente contra o confisco dos bens sem que tenha havido condenação. Parece-me um atentado a tudo o que tenho de mais sagrado: a liberdade, os direitos e garantias individuais. Ainda por cima, quando se vê o comportamento anti-democrático, persecutório, leviano e vingativo do MP. Começa-se por este tipo de medidas e qualquer dia ainda se vai estar a falar de medidas que privem os cidadãos da  liberdade de expressão e de manifestação... Acho muito perigoso que se vá por aí...

domingo, junho 23, 2024

Quem é que enfia o chapéu, quem é...?

 

Sei que há temas relevantes que deveriam ser abordados 

(por exemplo: 

a pose majestática de Madame Gago montada nos seus sumptuosos casacos que mostra à saciedade que se está a caguar para dar explicações à malta sobre o regabofe que por lá grassa, 

ou a trupe de investigadores que entram aos cinquenta de cada vez para vasculharem facturas em Oeiras, como se não houvesse auditoria às contas, e como se o custo deles não superasse em muito o custo dos almoços, 

ou as calhandreiras do Ministério Público que andam anos e anos e anos a bisbilhotar a vida das pessoas como se o dinheiro dos nossos impostos não tivesse destino mais decente, 

ou os justiceiros de trazer por casa, gente a fazer-se passar por inspectores da Pide, que gostam de humilhar e atormentar a cabeça aos pobres coitados que se veem atirados para as luzes da ribalta, inquiridos em frente às câmaras para saciar a insaciável fome de espectáculo dos populistas e dos cobardes que, sob pretexto de serem deputados, ali estão a gastar inutilmente o dinheiro dos nossos impostos, etc, etc). 

Assuntos não faltam.

Só que eu ando mais numa de apanhar orégãos, de os dispor à sombra a ver se secam, limpinhos, cheirosinhos, continuo numa de varrer e deixar os caminhos em volta da casa arranjadinhos, voltei a pôr água na banheira que era das crianças quando eram bebés para que os esquilinhos tenham o que beber, depois a ver futebol em família (com o sector masculino a não querer que eu fale ou puxe pela equipa ou bata palmas ou sofra em voz alta pois dizem que os desestabilizo), a conversar ou a rir com eles. 

Por isso, neste registo peace and love, não consigo posicionar-me para falar de coisas que me desagradam. Toda eu estou longe de MPs, PGRs, Venturas e Comissões tóxicas ou outros deputados que, não sendo populistas ou sabujos não são capazes de bater o pé e não aceitar que a sua presença quase normalize as poucas vergonhas que ali se passam, populismos, ignorâncias, invejosices, ingerências indevidas, ou leviandades, conversas incongruentes e tontas (como as do Sarmento, por exemplo). Longe, longe. 

Por isso, agora ao fim do dia, ao passar os olhos pelas notícias, não me apeteceu falar sobre nada do que para ali vi. 

Apeteceu-me foi pôr-me a ver chapéus. Adoro chapéus. Tomara que um dia ainda possa ir a um sítio onde um chapéu lindão como estes do Royal Ascot 2024 não fique descabido. 










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Desejo-vos um belo dia de domingo

sábado, junho 22, 2024

Demissexual...? Ele há com cada uma...

 

Eu acho que até sou uma mente aberta. Acho... Mas, às tantas, acho mal. Na volta, tenho o meu ladinho de conservadora... 

Por exemplo, quase me parece que isto de haver tantas orientações sexuais já é fantasia... Qualquer coisinha agora dá origem a uma nova orientação. Por exemplo, se eu só me sentir atraída por homens que usam capachinho, quem me garante que um dia destes não chego à conclusão que me encaixo numa nova orientação sexual, a dos capachinhossexuais?

Eu pensava que era (relativamente) normal as pessoas só quererem ter relações sexuais quando se sente qualquer coisa, pode ser até coisinha, pela outra pessoa. Pensava eu. Afinal hoje fiquei a saber que isso são os demissexuais. Demi. A meio caminho da pessoa ser assexuada. Na volta, num extremo estão as pessoas-bonobo que saltam para cima de qualquer um que passe pela frente. Na outra ponta, os assexuados. E a meio, essa estranha casta das pessoas que só estão a fim de truca-truca quando sentem algum afecto pelo trucado. 

Acho tudo isto uma coisa do além.

Mas, enfim, vejam com os vossos olhos e ouçam com os vossos ouvidos. O Bial é um charme e uma graça (para além de um belo homem) e o casal entrevistado é uma animação.

Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso falam sobre Surubaum, sexo, carreira e família | Conversa com Bial

Giovanna Ewbank e Bruno Gagliasso são uns dos casais mais falados da internet. No papo com Pedro Bial, o casal fala sobre o Surubaum, o novo programa comandado pelos dois, sexo, família e carreira! 😍


sexta-feira, junho 21, 2024

Trabalhar muito

 

Já fez um ano que deixei de trabalhar. Gostava de ter conseguido reformar-me mais cedo mas um dos meus colegas mais próximos de quem eu era backup e vice-versa adoeceu com gravidade e quis que não se soubesse pois uma das empresas estava a atravessar um processo em que a sua doença poderia cair como uma bomba e criar uma desestabilização desnecessária. Por isso, trabalhei mais uns quantos meses para além do que tinha previsto. Foi um esforço enorme pois, por um lado, já me tinha preparado mentalmente para fazer o corte e, por outro, foi um período muito conturbado e atravessado por grandes preocupações, em que, ainda por cima, tinha que ocultar das pessoas com quem lidava diariamente toda a situação.

Muitos colegas achavam que eu ia estranhar muito a inactividade da reforma por comparação com a  minha sobreocupação permanente. Achavam que eu não conseguiria parar, que não saberia viver sem a adrenalina de resolver mil problemas por dia. Mas eu sempre soube que iria adaptar-me lindamente. Trabalhava muito não por vício ou por prazer mas porque parece que os problemas caiam em cima de mim. Trabalhava horas a mais e tinha férias a menos apenas porque não conseguia furtar-me ao que esperavam de mim e a que eu, por um sentido de responsabilidade que devo ter herdado dos meus pais, nunca tive habilidade para escapar.

Conheci muitas pessoas que diariamente estavam na empresa até às quinhentas ou que marcavam reuniões que começavam às cinco ou seis da tarde sabendo que iam prolongar-se até às tantas não se importando com o sacrifício que isso implicava para a vida familiar dos participantes e que, mesmo quando eram reuniões improdutivas, as prolongavam para além do aceitável. Em especial muitos homens pareciam querer chegar a casa fora de horas, provavelmente dizendo em casa que o trabalho a isso obrigava.  E, com isso, obrigavam as secretárias ou as pessoas que convocavam a também saírem tarde. Um egoísmo imperdoável. Quando os confrontava com isso ficavam indignados, por vezes pareciam até magoados como se eu fosse a última pessoa que poderia condená-los por fingirem que trabalhavam quando, notoriamente, eram uns escravos do dever. Treta. Faziam render. Se calhar já nem davam por isso ou já não sabiam fazer de outra maneira. 

Nunca fiz nada disso e se ficava a trabalhar até tarde era porque tinha mesmo muito que fazer ou porque havia empatas que eram um atraso de vida para todos, incluindo para mim.

Durante grande parte da minha vida acumulei funções, trabalhei simultaneamente em empresas diferentes (embora do mesmo grupo), aceitei liderar projectos complexos ao mesmo tempo que mantinha funções correntes. Gostava disso. Sempre gostei de fazer muitas coisas ao mesmo tempo, de preferência de cariz distinto, com diferentes equipas, com 'chefes' distintos. Esse stress, que para a maior parte das pessoas seria insuportável, para mim era muito motivador. Desafiavam-me, pediam-me, e eu aceitava. Por isso é que tinha tanto trabalho.

Ou seja, poderia ter tido uma vida bem mais fácil. Como, ao mesmo tempo, sempre quis estar presente para a família, em particular quando os meus filhos eram pequenos, o meu dia a dia era uma luta. Mas realizava-me puxando a minha capacidade ao limite.

Mas sempre tive muito claro que seria assim, velocidade ao máximo até ao último dia mas, quando parasse, seria de vez e numa boa.

E assim foi. Não me arrependi nem por um minuto de ter deixado de trabalhar antes do que poderia (por exemplo, muitos colegas meus trabalham até aos setenta), não senti nem por um minuto saudades daquela tremenda azáfama. Não. Adoro a minha vida de reformada.

E, não sei como, parece que continuo sempre atarefada. Mas não tenho horários, não tenho a agenda preenchida de manhã à noite, faço o que quero quando quero. 

Não tenho conselhos a dar. Cada um que faça aquilo que lhe der mais prazer mas desde que com isso não esteja a estragar a vida dos outros. Ou seja, se uma pessoa gosta de sentir a adrenalina de ter muito que fazer pois que lhe dê bom uso. Mas se simplesmente gosta de chegar tarde a casa, arranjando pretextos para parecer que está muito atarefado, digo-lhe que acho que alguma coisa não está lá muito bem nessa cabeça. E, se não consegue  deixar de fazer coisa tão parva*, pelo menos então que o faça sem empatar a vida dos outros.

[Claro que estou a omitir deste raciocínio os que, para fazerem face às exigências da sua vida, têm que recorrer ao pluri-emprego ou têm que se sujeitar a fazer muitas horas extraordinárias. Aí é outra conversa, é uma questão de necessidade e não de gosto ou de patologia.]

E o que posso dizer é que, da minha parte, aqui chegada, depois de tantos anos de trabalho e pressão, sinto-me muito bem, tranquila, feliz da vida, tentando saborear bem cada momento, mesmo os de pura ociosidade.

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A quem apeteça uma reflexão sobre as razões para se trabalhar tanto, aqui fica um vídeo que pode dar uma ajudinha.

The Real Reason We Work So Hard

We work as we do because – of course – we need to; because nothing is cheap, because the bills are incessant; because of all the good and wise and sensible reasons that we’ve been highly aware of since mid adolescence at least. But that is too neat and we know it deep down; we know that there is also – alongside this – something more complicated that we use the idea of necessity to avoid. 


quinta-feira, junho 20, 2024

Azul que te quero azul

 

Há momentos feitos de sonho, há recordações douradas pelo sol. Há imagens que nos chegam em fragmentos, há o que não sabemos se são sonhos, desejos, doces memórias. Há sorrisos suspensos no tempo, há palavras que nos chegam como suaves melodias. Há danças que são inventadas, gestos que ficaram por cumprir, subtis movimentos desenhados com as cores dos mistérios escondidos na luz.

Não há melhor, mais suave, mais dócil manto para envolver os segredos mais preciosos do que o que é feito de silêncio e de azul, dos muitos tons de azul. 

The Rarest Pigment in the World | Colour the Spectrum of Science | BBC Science

Lapis blue rocks are equivalent to the price of gold and can mainly be in the mountains of Afghanistan. The unique combination of sulphur with other elements produces this deep rich blue we call ultramarine.


De leitura obrigatória

 

A merecer reflexão. Séria reflexão. 

De facto dá que pensar. Sendo como são, verdadeiras calhandreiras como o Der Terrorist muito bem define, que confiança podemos ter na sua discrição, no sentido de Estado, na reserva, no uso cauteloso, prudente, reservadíssimo, de toda o imenso manancial de informação a que têm acesso?

"Aguardente? Ouvi perfeitamente!"  -- a não perder e à atenção do Ministério da Justiça, do SIS, do Presidente da República. Não falo da PGR pois não vale a pena (ela mesmo o diz, não sabe de nada, não é responsável por nada, não há nada que lhe assista).

quarta-feira, junho 19, 2024

O Ministério Publico continua com o bullying
-- A palavra ao meu marido --

 

Desde há muito que digo -- e já várias vezes aqui o escrevi -- que quem causa mais problemas ao País, que gera uma enorme instabilidade e potencia o crescimento da extrema direita são o PR, o Ministério Público e os órgãos de comunicação social. Felizmente já ouço alguns comentadores a partilharem total ou parcialmente esta tese. 

Nos últimos tempos, mais uma vez, estamos perante uma situação absolutamente nojenta que resulta da disponibilização cirúrgica de informação sobre os processos aos órgãos de comunicação social que, sem qualquer pudor, noticiam o que interesses obscuros pretendem que se noticie nesta altura. 

Naturalmente que me refiro às buscas que foram efetuadas dois dias antes das eleições (azar não conseguiram os objetivos que pretendiam) e às notícias, que nada tendo a ver com António Costa, aparecem sempre anunciadas como se tivessem, envolvendo o seu nome, e isto quando se discutem os lugares da Europa. 

E que não venham alguns pretensos jornalistas e vários comentadores televisivos dizer que são apenas coincidências. Só quem não quer ver, e o pior cego é o que não quer ver, ou não tem dois dedos de testa é que pode acreditar que isto são acasos e coincidências. Não são. Acasos e coincidências são situações que ocorrem ocasionalmente e estas situações são uma prática corrente. 

A reportagem da TVI, que mostra a estante, a secretária, os envelopes ou o dinheiro encontrado na busca ao gabinete de Escária mete nojo e não acrescenta absolutamente nada. No dia a seguir vêm a CNN e o Expresso com mais "coincidências". Isto cheira pior que uma lixeira. Já basta de tanta impunidade. 

Já não é só a agenda política, muito evidente, e os exacerbados ódios de estimação do Ministério Público, nem o desavergonhado conluio com parte significativa da comunicação social: é também o atropelo dos mais elementares direitos dos cidadãos, é o desrespeito pelo mais elementar comportamento cívico, é um atentado ao direito de qualquer cidadão ao respeito e ao seu bom nome, é o abuso reiterado do poder para achincalhar as vítimas na praça pública.

Como é possível que estes tipos continuem, em total impunidade, a fazer o que querem sem terem que prestar contas ou justificar-se? Não são escrutinados? Não são chamados à razão? Não são punidos quando violam a lei?

Já basta! 

O Prof. Marcelo que, provavelmente assolado pelo complexo de culpa e para tentar ver-se livre do António Costa, tanto tem, aparentemente, pugnado para que ele tenha um lugar na Europa, não acha "maquiavélico" o que está a acontecer? 

E mais uma vez não diz nada sobre o que de facto é importante? 

Depois de tantas asneiras, Sr. Presidente, faça alguma coisa de que se possa orgulhar e que os portugueses aplaudam. Acabe com este regabofe. 

terça-feira, junho 18, 2024

Covid a flutuar aí pelos ares, borboletas amarelas, fadinhas douradas

 



Na minha família, nos últimos dias, duas pessoas com covid. Há umas duas ou três semanas, outras duas. Li agora que, na realidade, a bicheza anda outra vez em força, por aí, e provavelmente em maior quantidade do que se pensa. É que, não havendo a obrigação de comunicar, pelo menos do que sei, a maior parte das pessoas não comunica a ninguém. Anti-piréticos ou analgésicos, anti-histamínicos, muitos líquidos e descanso. E, assim, grande parte da malta vai-se orientando sem precisar de ir ao médico. Portanto, os números de que se fala devem ser apenas os dos casos mais graves. Só espero não apanhar pois se me dá outra vez para o sono, não estando eu ainda restabelecida do anterior, não sei como vai ser. 

Quando digo que ainda não me restabeleci é porque, na altura em que tive covid, dormia horas a fio e, um ou dois ou três meses depois, ainda tinha um sono incomum. E agora, um ano depois, tenho ainda mais sono do que me parece normal. Se, depois de almoço ou depois de jantar, me sentar comodamente, sem estar a fazer alguma coisa, é certo e sabido que, daí a pouco, estou a dormir. Mas isto acontece comigo e acontece com o meu marido. Por exemplo, ainda hoje, estava à minha espera para irmos fazer uma caminhada antes de almoço. Sentou-se e, como me atrasei, passado um bocado estava a dormir.

Não sei se é por isso mas também parece que estou mais preguiçosa. 

Nos últimos dias, trabalhei bastante. Andei a varrer, a toda a volta da casa, os caminhos que circundam a casa. Numas zonas, há folhinhas secas de azinheira e bolotas que não acabam; noutras, há caruma, há pinhas secas e roídas; e, por todo o lado, há outras folhas. E há outra coisa que complica imenso a varredura: a folhagem agrega poeiras e terras e, às tantas, já começam a despontar aí ervas ou, mesmo, pequenos pés de azinheiras.

Portanto, arranquei ervas e pontas de coisas que nascem por todo o lado, e varri e varri e carreguei não sei quantos contentores, pesados. Claro que, em primeiro lugar, temo sempre que o esforço continuado perturbe as minhas articulações dos joelhos. Por isso, tentei ser comedida no seu transporte e, sobretudo, airosa no acto de pegar neles, pesadões, e os despejar em zonas em que mais matéria orgânica dará jeito.

E, se por aí, até ver (e deixa cá bater três vezes na madeira), ainda me parece que estou bem, a verdade é que desde ontem ao fim do dia e até hoje, só tenho vontade de dormir. Esforcei-me por não adormecer de tarde não fosse de noite ter alguma insónia. Mas, caraças, que soneira.

Por isso, não vou comentar o espectáculo que são as comissões parlamentares com as pessoas a serem espremidas em directo, com as televisões em cima, nem vou comentar as expulsões da Sónia Tavares e da Bárbara Guimarães por terem sido apanhadas a comer num local destinado a quem pagou bilhete (ou o recebeu de presente) para isso e não a pessoas que ali estão a trabalhar. E não o faço não apenas porque tenho mais que fazer mas porque estou cheia, cheia de sono.

Há bocado, depois de ter acabado o jogo de futebol, o meu marido resolveu ir dar uma volta com o dog mas eu não fui, já tinha dado para esse peditório. O dog também não queria ir, achava que já estava mas é na hora de se encostar para descansar. Regressaram algum tempo depois e o pobrezinho vinha feito um pinto (e refiro-me ao dog pois não trato o meu marido por pobrezinho). Há um lado bom nisto: a terra fica regada. Por isso, apesar de ficar um bocado desconfortável com este tempo, não consigo insurgir-me. O que me vale é que lavei a roupa hoje de manhã. Estava vento, secou bem. 

E agora, antes de desligar o computador, só me lembro de vos dizer que nestes dias em que andei a varrer e a deixar que a minha pele assimilasse vitamina D ao máximo, fui acompanhada por uma maravilhosa borboleta amarela. Não sei se alguma vez tinha visto uma borboleta tão linda. Vários tons de amarelo, quase reluzente. Como andava mais do que à paisana, desprovida de quaisquer equipamentos que não a vassoura, uma pá metálica e um contentor, não tive como registar tamanha beleza. A fotografia lá em cima foi obtida na internet e não tem nada a ver com a formosura da que esvoaçava à minha volta. Não sei, de resto, se era sempre a mesma ou se, tal como há esquilos, agora também há borboletas que, se calhar, são fadinhas douradas.

Ah, é verdade, já me esquecia de dizer que, para além da vida ser uma coisa fantástica, há ainda outra: é que a linha mais curta entre dois pontos é uma linha entre nós (isto é, eu e vocês aí desse lado).

The shortest distance between two points
Is a line from me to you
The shortest distance between two points
Is a line from me to you, me to you, you, you, you, you

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Dias felizes para si que está aí desse lado

segunda-feira, junho 17, 2024

Fazer o quê para viver uma vida longa e feliz?

 

Ela tem 103 anos. Ri enquanto fala. Arranjada, com um penteado fantástico (deve ficar incrível quando tem o cabelo solto), com um belo colar, brincos, anéis, com uma blusa de uma cor vibrante, vê-se que tem prazer em viver. Física e intelectualmente activa, esta bela mulher diz o que, em sua opinião, é preciso para se ter uma vida longa e feliz. 

Talvez não haja, no que ela diz, novidades espectaculares. Não há. Mas há a confirmação de que o é necessário é simples. Algumas pessoas é que parece que não conseguem deixar de complicar. Estragam tudo.

Não ficar agarrado ao que não interessa, avançar no dia a dia sempre com um propósito, sentir amor, encontrar coisas ou pessoas de que se gosta, rir, rir, rir, ouvir os outros, prestar-lhes atenção, olhar para frente em vez de estar a arranjar, lá atrás, pretextos para não avançar -- são alguns dos 'segredos'. Mas não são segredos, são coisas que toda a gente sabe.

Não tenho 103 anos mas já tenho os suficientes para saber que ela tem toda a razão. Muitas vezes aqui recebi comentários de quem se queixa de que parece que só vejo o lado bom da vida. É verdade. Por natureza sou dada a não ligar a quem ou ao que não me agrada, sou dada a encantar-me com pequenas coisas, arranjo sempre o que fazer, levanto-me sempre a pensar que tenho isto e aquilo e aqueloutro para fazer, interesso-me por tudo, presto atenção, ouço, leio, debato, contraponho. E rio-me muito, adoro divertir-me. Claro que tenho problemas como toda a gente mas, se forem daqueles que não interessam para nada, nem me dou ao trabalho de lhes prestar atenção. Tenho passado por fases complicadas e já me fui um bocado abaixo. Mas a vida continua. Agarro-me ao que de bom a vida tem para nos proporcionar.

Leveza, alegria. Nada disto é contraditório com a rebeldia ou com o gosto em bater o pé ao que está errado ou em lutar pelas nossas razões. Mas que o façamos com alegria.

E bola para a frente porque para a frente é que é caminho.

103 Year Old Shares Her Secrets for a Great Life


Desejo-vos uma bela semana

E haja saúde. 

E alegria.

domingo, junho 16, 2024

Filho de Betty Grafstein ainda não pagou conta hospitalar de cerca de 50 mil euros e está a tentar negociar a dívida
Diz o bem informado Correio da Manhã. E a turma da Noite das Estrelas comenta

 

Ao pesquisar uma coisa no google no meu telemóvel, aparecem-me notícias. Desta vez, a primeira, nem que de propósito, era que a Teresa Guilherme estava muito admirada por Lady Betty ter deixado uma dívida de 60.000€ na CUF

Nem de propósito. Quando entrou, certamente, Lady Betty, ou alguém por ela, teve que pagar uma caução. Provavelmente qualquer coisa na ordem dos 2.500€. Portanto, dos 50.000€, na volta, a CUF apenas viu esses 2.500. Isto, a propósito do Caro Comentador Ccastanho ter dito, e eu percebi que estava escandalizado com isso, que, quando foi internado, solvo erro para uma cirurgia, teve logo que pagar uma caução. Pois.

Agora, segundo li, o filho da Senhora Dona Lady está a tentar negociar... Não sei o que é que há para negociar numa conta de hospital. Na volta quer pagar a prestações ou está a pedir desconto. E este é um dos problemas com que os hospitais (tais como muitas outras empresas) se debatem: os calotes.

Abri o vídeo que me aparecia mas, salvo erro, só consegui ouvir até um comentador, de nome Rui Figueiredo, falar pois não consegui ouvir mais. Tirando a Teresa Guilherme que conheço e a apresentadora Maya, não sei que dois são aqueles que ali estão. Qualquer gato-sapato é chamado à televisão para opinar. Assim se (de)forma a opinião pública. Mas, então, dizia o rapaz que não compreendia porque é que a CUF não tinha cobrado logo à saída ou a tinha deixado sair sem pagar. Falava como se quem fosse de censurar não fosse quem se prepara para deixar uma dívida mas, sim, quem vai ficar a arder.

Ora bem.

Em termos práticos. Verbas desta ordem (esteve internada mais de um mês, deve ter feito inúmeros exames, deve ter feito fisioterapia, foi acompanhada até aos Estados Unidos por um médico e por um enfermeiro, etc,, pelo que os gastos devem mesmo ter sido exorbitantes) frequentemente não se conseguem pagar via multibanco. Pode também acontecer que não se tenha toda essa verba à ordem e tenham que mobilizar depósitos a prazo ou outras aplicações. Claro que quem tem um familiar internado num hospital privado deve tratar de tudo isso antes que a pessoa tenha alta. Mas sabemos que este caso é atípico. De qualquer forma, com gente séria, é normal que mandem a factura para casa e que as pessoas as paguem. Mas há gente que não é séria.

Mas, voltando ao espanto, de terem deixado a senhora sair sem ela pagar... O que sugeriria o dito Rui Figueiredo? Que a CUF não lhe desse alta? Que a forçassem, se fosse preciso sob ameaça, a dar o código do multibanco... ? Que a forçassem a ficar internada? A fazer mais despesa...? 

Claro que não. Quando a pessoa tem alta tem que se deixar sair até porque as camas fazem falta para outros doentes e, de resto, nestes casos, ficar mais tempo é incrementar a dívida.

Acho que desliguei quando ouvi alguém a interrogar-se porque é que a senhora não tinha um seguro. Mais uma vez, uns pseudo-comentadores demonstrando que não têm vida, mundo, conhecimentos do que quer que seja. Não sei se a Dona Betty tinha seguro, se não tinha. Mas um seguro de saúde tem um tecto para cada tipo de despesa. Para algumas, nem sequer há cobertura. Se ela tivesse seguro, poderia, por exemplo, não cobrir internamento. Ou poderia ter e o limite já ter sido excedido com internamentos anteriores. Ou poderia excluir internamentos por certas condições como, por exemplo, por violência doméstica. Além disso, os seguros são caríssimos para pessoas de idade e algumas seguradoras nem têm sequer seguros para pessoas com mas de 60 anos. Podem ter planos de saúde, que dão descontos em algumas coisas mas não cobrem internamentos.

Ou seja, sabendo que uma pessoa de idade tem algumas probabilidades de ter internamentos e cirurgias o que pode vir a traduzir-se em muita despesa, as seguradoras, que também são empresas que não querem ir à falência, também se cortam.

Ou seja, só o SNS não se previne contra calotes, contra despesas desmedidas. Na prática, é sempre a abrir. De cada vez que há pessoas a fazer cirurgias caras, a fazer tratamentos muito caros, a ter que estar internadas nos cuidados intensivos durante muito tempo, etc, etc, aparece sempre dinheiro para fazer face a qualquer despesa, aparece sempre dinheiro para aumentar médicos, para pagar horas extraordinárias, para pagar fortunas pelos contratos de manutenção dos equipamentos médicos em especial os mais caros como os de imagiologia, para pagar medicamentos, alguns dos quais caríssimos. Mas, ao contrário do que muitos pensam, o dinheiro não sai de um saco sem fundo.  Os montantes de que o SNS dispõe para fazer face a todos os imponderáveis não são ilimitados. Parecem... mas não são. 

Não será por acaso que uma das maiores fatias dos impostos cobrados vai para a Saúde: 22% 


Com uma população envelhecida e felizmente a viver muitos anos (mas com pluri-patologias e a requerer frequentes cuidados médicos), se a área da Saúde não for criteriosamente gerida não apenas vai ter falhas permanentes e cada vez potencialmente mais graves como vai ser um incrível sorvedouro de dinheiro.

[A componente da Protecção Social também é preocupantemente alta. Aqui a demografia é também um desastre: com uma natalidade continuadamente muito baixa, com muita gente nova a emigrar e com uma população muito envelhecida, é imprescindível que haja mais gente a fazer descontos (TSU), mais imigrantes a trabalhar e a fazer descontos em Portugal, é preciso que a economia se aguente e dinamize para haver poucos subsídios de desemprego, é preciso que se auditem bem as actividades que não descontam para a Segurança Social (ou que descontam pelos mínimos dos mínimos) e que se traduzirão em pensões e subsídios para os quais não existiu a contrapartida dos descontos]

Enfim. Um tema inesgotável.

Mas é fim de semana e não vos maço mais. Conto apenas mais duas coisas:

1 - A andar por aqui, sempre encantada (embora levemente apreensiva pois a natureza, quando pujante, tem uma força difícil de controlar), encontrei uma flor inacreditável. 


Nunca tal tinha visto. Já coloquei o pé que veem numa jarra aqui na sala. Recorri à app que permite a identificação de espécies e aqui está: lomelosia stellata

A perfeição, a delicadeza, a beleza desta flor parece-me uma coisa do outro mundo

2 - E andava nisto quando vejo, a meu lado, um esquilo a descer do pinheiro ao lado do qual eu ia, depois a andar à minha frente e, logo, a subir o tronco de um cedro mais à frente. A meio do tronco parou, ao alto, e ficou a olhar para mim. Com a atrapalhação, levei tempo demais a desbloquear o ecrã do telemóvel e a encontrar o botão da  câmara. Quando estava a postos para disparar já ele tinha subido. Estava lá em cima a olhar para mim. Fofo. Ainda o chamei, bsch-bsch-bsch, como se fosse um gatinho. Mas não o convenci. Não desceu.


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Enquanto escrevo, vejo Marcelo na Suiça e, como sempre, está a dizer coisas. Atrás dele, um a imitar o emplastro. Não sei se viram. Se viram, digam-me se não parecia mesmo.

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Desejo-vos um belo dia de domingo
 

sábado, junho 15, 2024

Urgências noturnas de obstetrícia todas encerradas na Margem Sul de Lisboa na próxima semana
Este, pelos vistos, é o lindo serviço que a AD andava a apregoar para resolver os problemas da Saúde em Portugal
Este é o lindo serviço que a Ministra Ana Paula, mais uma das arruaceiras contratações de que Montenegro se rodeou, tinha para resolver os problemas da Saúde em Portugal?
E, na Educação, vamos ver como corre a grande solução de recontratar professores reformados que já não podem ver alunos nem pintados ou reter outros até estarem a cair da tripeça...
Só anedotas.

 

Transcrevo do Público: 

Na margem sul do Tejo, só há uma urgência de obstetrícia aberta até 5ª feira e nenhuma durante a noite

A maior parte das grávidas e algumas das crianças da margem Sul do Tejo terão que atravessar a ponte e deslocar-se aos hospitais de Lisboa e arredores para serem atendidas em serviços de urgência de ginecologia/obstetrícia e de pediatria, entre esta sexta-feira e a próxima quinta-feira, porque as unidades de saúde da região estão quase todas com as urgências destas duas especialidades fechadas ao exterior ou abertas apenas durante algumas horas por falta de médicos em número suficiente para assegurarem as escalas. No caso das urgências de ginecologia/obstetrícia, nenhuma das três da margem Sul vai estar aberta durante a noite. (...)

A senhora começou por hostilizar o Director do SNS, Fernando Araújo, pessoa cuja competência era geralmente reconhecida, até levá-lo à demissão. 

Contudo, pasme-se, não sei quanto tempo depois, aparentemente ainda não conseguiu substitui-lo pois, ao consultar o portal do SNS, ainda aparece Fernando Araújo. Para uma área tão crítica, pelos vistos a dita senhora ainda não conseguiu arranjar ninguém.  

Ana Paula Martins, farmacêutica, é incansável a mandar bocas para tudo o que é canto e esquina e a eficientíssima a desestabilizar as áreas que tutela. 

Não sei se percebe alguma coisa de medicina ou de administração hospital mas receio bem que não. Como também parece carecer de bom senso e de civismo, penso que é de se temer o pior.

E nem me apetece falar na estupidez de andar a apregoar mais de 9.000 cirurgias oncológicas atrasadas quando afinal pouco passam das 2.000. Era bom que fossem zero mas são números que nada têm a ver com o exagero da falsidade da ministra. Ou é uma embusteira, e é grave, tanto mais que é um embuste relacionado com uma realidade dolorosa, ou anda mal informada, o que não é menos grave.

Agora, a última é que agora levou à demissão da Comissão Directiva do Hospital de Viseu depois de mais umas das suas tiradas ofensivas e mal educadas. 

Parece ser típico do seu comportamento: quando confrontada com os problemas, sacode a água do capote e, à bruta, atira para cima dos administradores hospitalares. 

Tem em comum com a colega do Trabalho, Solidariedade e Segurança Social, a igualmente inqualificável Maria do Rosário Palma Ramalho, o serem mal educadas, trauliteiras. Quando se sentem apertadas, não olham a meios, revelando uma constrangedora deselegância.

Resolverem problemas não é com elas. Pelo contrário parece que os agudizam. Entram com espalhafato, fazem e acontecem. Mas, vamos ver o que fizeram, e não há uma que se aproveite. 

É isto o Governo do Montenegro, outro chico-esperto que desafia a paciência e o sentido democrático da Oposição (perante o olhar apatetado de um Marcelo, de boca aberta, que agora quer à viva força que a malta toda apare todos os golpes da Pestenegra).

Aliás, Montenegro mostrou logo ao que vinha com aquele perfeito nonsense, coisa à Monty Python, da primeira medida tomada, coisa que viria a revelar-se divertidamente simbólica: retirarem o logotipo do Governo (herdado, pois, do Governo de António Costa), um logo moderno, estilizado, que tem ganhos prémios de design. Só o facto de darem prioridade a esta mudança já é de gargalhada. Mas mais de gargalhada é o que se tem seguido, Logótipo do Governo sofreu várias trocas em poucas horas no portal do Executivo

Só chico-espertices, más criações, parvoíces, coisas sem ponta por onde se lhes pegue. Cá para mim, o destino deste Governo está traçado. 

sexta-feira, junho 14, 2024

Ainda o tema da Saúde
(enquanto a Ministra Ana Paula se entretém a pegar fogo a tudo o que tem à sua guarda)

 

Ainda sobre o Hospital de Braga. Se agora está a enviar doentes para S. João, não sei. Desde há uns anos que já não há PPP, ou seja, o hospital de Braga está, tal como os outros, a ser gerido pelo SNS. 

Enquanto foi gerido por uma PPP (concretamente, no caso, pela José de Mello Saúde) recebeu vários prémios pela excelência dos seus serviços, os inquéritos de satisfação feitos junto dos utentes revelavam uma satisfação considerável.

Contudo, por o SNS não querer pagar o que era suposto, a José de Mello Saúde perdia dinheiro com a gestão deste hospital. Não é, pois, verdade, tal como erradamente se diz em comentário ao post abaixo, que o Estado gastasse dinheiro e os 'Privados' ficassem com os lucros.

Ou seja, há por aí muita ideia errada, provavelmente alimentada por infundados preconceitos.

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Num hospital, em especial nos de média/grande dimensão, as Comissões Executivas (sejam quais forem os nomes que se deem aos órgãos de gestão), têm que dar resposta às seguintes vertentes: 

  • Compras (de consumíveis, de serviços, etc), 
  • Recursos Humanos (controlar presenças/assiduidades, escalas, trabalho extraordinário, pagar salários, contratar ou demitir trabalhadores, tratar da formação, comunicação interna, etc), 
  • Financeira (contabilidade, tesouraria, controlo de Orçamentos, etc), 
  • Sistemas de Informação (sistemas, equipamentos, segurança informática, etc), 
  • Serviços Gerais/Infraestruturas (gestão do edifício, limpezas, segurança do edifício, frota, arquivos, correspondência, etc), 
  • Operação/Direcção Clínica (óbvio), 
  • Jurídica (contratos, litígios, protecção de dados, etc). 
  • A coordenar estas vertentes, está o CEO (ou Presidente, ou Director-Geral -- chame-se o que se quiser)

De todas as valências, apenas a de Operação/Direcção Clínica requer conhecimentos na área da Saúde. Todas as demais requerem pessoas com conhecimentos específicos da área (economistas/gestores, advogados, engenheiros, informáticos, etc). 

Achar que a equipa de gestão de um hospital deve ser constituída por médicos é querer que a sua gestão seja um desastre. Pelo menos, não conheço nenhum que pudesse ser director financeiro, director de informática, director jurídico, director de infraestruturas. E mesmo um CEO que tem que lidar com todas estar vertentes, se não tiver umas luzes de gestão, jurídicas, etc, vai ver-se à nora para gerir a equipa de gestão.

Um Centro de Saúde é uma realidade mais singela a nível de gestão, aliás, não tem nada a ver, mas, mesmo assim, diria que deveria ter à frente um Gestor e não um médico, deixando a vertente Clínica para os médicos e enfermeiros, que trabalho não lhes falta, e libertando-os de tarefas que têm a ver com gestão de contratos de limpezas, de contratos de manutenção de elevadores, de controle de assiduidade, etc. 

Contudo, aquilo a que me referia no meu post de há dias é que é urgente que se faça uma análise a nível regional e nacional, uma análise macro, para analisar a procura (por exemplo, o brutal aumento de pessoas em algumas zonas que obriga forçosamente a que sejam necessários novas unidades e mais pessoal clínico) e que se tente encontrar a oferta optimizada, por especialidade e por local (e por altura do ano). Penso que o Ministério da Saúde (seja de que partido for) deveria formar um grupo de trabalho para fazer um trabalho nos moldes que sugeri. Neste grupo devem estar sobretudo matemáticos, mas também gente da gestão/economia, e, claro, também médicos e enfermeiros. 

Ou seja, não estava a falar a nível 'micro', isto é, hospital a hospital (no SNS). No entanto, nos grandes hospitais públicos penso que a gestão deve ser profissional nos termos que acima referi (se calhar já é -- mas não faço ideia). Nos hospitais privados, é assim, isso sei.

Um esclarecimento ainda sobre a cobrança que os hospitais privados fazem aquando da admissão para internamentos e cirurgias. Trata-se de uma caução. 

No SNS, gaste-se o que gastar, é o Estado que paga. Sejam gastos insignificantes ou da ordem dos milhares ou milhões de euros, o dinheiro sai dos cofres do Estado e é gerido via Orçamento de Estado. Se for preciso gastar mais, haja impostos que os cubram. É assim e ainda bem. Mas tratando-se de dinheiros públicos, diria eu que deveriam ser geridos com mão de ferro para evitar desperdícios, abusos (nomeadamente que pessoas se naturalizem de propósito para vir receber tratamentos milionários que no país deles não conseguem), etc.

Nos hospitais privados não há quem lá meta dinheiro de impostos. O dinheiro para pagar edifícios e equipamentos e respectiva manutenção, para pagar a médicos, enfermeiros, auxiliares, água, luz, comunicações, medicamentos, tratamentos, etc, etc, ... e impostos, só vem de um sítio: do que as pessoas ou as seguradoras lhes pagam.

Acontece que os seguros são limitados e nem sempre cobrem tudo. E, quando não há seguros, ainda mais arriscado há. Um problema grave que os hospitais enfrentam são as dívidas dos clientes. Quando são internados, pagam uma caução. Tenho ideia que, quando a minha mãe foi internada pela última vez, a verba da caução foi 2.500 euros. Tinha um seguro mas o plafond foi ultrapassado ao fim de umas semanas. No acerto de contas, descontando o plafond do seguro que foi esgotado e os 2.500 pagos de caução, ainda houve uma verba considerável a pagar. Paguei, claro. Mas, do que é sabido, há quem se queixe que não tem como pagar e, portanto, deixe uma dívida. Ou seja, a caução é uma forma de minimizar o risco de ser dívida total. 

Quando ouço falar nos Privados, algumas pessoas falam como se fosse um bando de bandidos. No entanto são empresas que têm que pagar ordenados (nomeadamente a médicos, a enfermeiros, a auxiliares, a pessoal administrativo, a pessoa de limpeza e de segurança, rendas, empréstimos bancários, licenças software ou outras, enfim, pagar toda a espécie de despesas). Se um hospital privado não conseguir fazer face às suas despesas, não há quem lhe valha, não há orçamento rectificativo, não há nada. Portanto, responsavelmente, têm que ser bem geridos.

Os meus pais estiveram internados quer no SNS quer em hospitais privados. A nível de cirurgias e internamento, há algumas diferenças sobretudo a nível do apoio e da informação à família e a nível do conforto do doente. Mas, de qualquer forma, penso que o problema não está aí. O problema está em tudo o que está antes de se chegar à fase do internamento. A experiência que tenho nas Urgências é diametralmente oposta. No SNS passei horrores, horas e horas, noites inteiras sem saber o que se passava com eles, eles em macas nos corredores. Eu própria já passei uma noite e uma manhã num SO de um hospital público e foi uma experiência abaixo de terceiro-mundista, uma coisa indescritível, desumana. E a nível de ambulatório, é para esquecer (pelo menos nos grandes hospitais). E a nível de Centro de Saúde já ontem falei. Muito mau (pelo menos, nos caso que conheço).

Ou seja, há um problema dramático de gestão, de défice de oferta, de desorganização. Há regiões do país, talvez porque agora têm mais centenas de milhares de habitantes do que quando os hospitais existentes foram construídos, que não têm hospitais que cheguem.

Claro que não é suposto que haja hospitais ao pé de casa. Por isso, quando referi que num estudo há que definir objectivos, mencionei que uma dos parâmetros é a distância razoável a que deve situar-se um hospital. Falei em 50 km como distância máxima a título de exemplo mas é uma distância que me parece razoável. Mas se me disserem que pode ser outra distância, tudo bem, seja. 

Quando, há algum tempo, os médicos acharam que eu estava a sofrer um enfarte agudo de miocárdio e activaram o protocolo respectivo, me meteram numa ambulância e me enviaram para um hospital, vi-me numa ambulância a 'abrir', com sirene e luzes a piscar e, à chegada, a ser posta em cadeira de rodas e levada para uma sala de reanimação. Se estivesse mesmo em vias de 'patinar', penso que andar mais do que 50 km seria um risco. Mas estes parâmetros, que serão a chave para desenhar o mapa de hospitais e centros de saúde e para identificas as necessidades das respectivas equipas, são a chave para se obter uma solução equilibrada.

Num estudo destes, que acho que deve ser feito (aliás, que acho quase impossível que não seja feito), devem também ser equacionadas as acessibilidades e a adaptação das actuais infraestruturas às novas exigências. Por exemplo, ter um grande hospital como o S. José encavalitado naquelas ruazinhas ali por cima do Martim Moniz onde os carros quase não cabem e onde basta que alguém deixe um carro mal estacionado para o trânsito bloquear, parece-me um tremendo risco. Isto já para não falar em que, às tantas, nem a construção é resistente a sismos de grande magnitude. Mas, enfim, é um mero exemplo do muito que acho que há a equacionar.

O que acho dramático é ver a barracada permanente de ver tantas Urgências fechadas, de não se saber a quantas se anda, de ver pessoas, nas Urgências, à espera de ser atendidas ao longo de horas infindáveis, de não se conseguir uma consulta num Centro de Saúde, de tanta gente não ter médico de família... e não se pegar no touro pelos cornos, não pôr uma equipa de gente competente a equacionar estes problemas (que, relembro, são problemas típicos que se aprendem a resolver nos cursos de Matemática, nomeadamente no ramo das Aplicadas - Investigação Operacional e etc.).

E, sim, resolver estes problemas (de adaptar a oferta à procura e de optimizar a solução, garantindo o cumprimento de objectivos pré-definidos) tanto se faz na Saúde, nas Redes Logísticas (centros de Produção, Armazenagem e Expedição seja do que for, seja de medicamentos, seja de petróleo, de cimento, de adubo, de mantimentos, etc), nas Redes de Transportes Públicos (nomeadamente na definição de números de 'carreiras', nos locais das Paragens, na definição dos horários, na identificação da localização e número de Postos de Carregamentos Eléctricos, etc, etc. A Matemática, os algoritmos, os modelos, a estatística e as probabilidades têm isto de maravilhoso: aplicam-se a tudo nesta vida.

De qualquer forma, definir os locais ideais para ter unidades clínicas, a respectiva dimensão, as respectivas especialidades, etc, não requer conhecimentos clínicos. Os conhecimentos clínicos são, si, indispensáveis para traçar planos de saúde, para tratar e acompanhar doentes, para prevenir doenças, etc. A medicina é uma arte? Talvez, não digo que não... (embora nem todos os médicos sejam artistas... e embora haja outros que são uns verdadeiros artistas...). 

Mas a Inteligência Artificial já faz maravilhas e, em algumas áreas, já suplanta largamente a capacidade de análise humana. O diagnóstico precoce de algumas maleitas (por exemplo, neoplasias) através da imagiologia, por exemplo, parece estar a demonstrar que o facto de a brutal capacidade de computação permitir detectar desvios ao padrão com grande rapidez e precisão parece não ter paralelo com a 'visão humana'.

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Todos os vossos comentários são bem vindos e muito agradeço a vossa generosidade por partilharem as vossas opiniões. 

A todos os que não costumam ler os comentários, sugiro que visitem os do último post bem como os do post anterior pois tal como eu aprendo e fico pensar talvez também os considerem importantes.

E venham mais.

quinta-feira, junho 13, 2024

Então, Caros Comentadores, querem V. dizer que está tudo bem na Saúde em Portugal, nomeadamente no SNS?
Tempos de espera, como os de ontem em alguns locais, de 14 horas para pulseiras amarelas e 20 horas para pulseiras verdes, em V. opinião é do melhor que há?
Haver 25% pessoas, na zona de Lisboa e Vale do Tejo sem médico de família é coisa que não importa para nada?
Haver várias Urgências fechadas ao fim de semana, por vezes, também durante a semana não faz mal nenhum....?
Pergunto.



Não sei se ontem falei em chinês ou se é o facto de ter invocado a ajuda da matemática que assustou os meus Comentadores.

É que eu ontem referi quais as premissas que, em meu entender, devem ser fixadas como objectivo: tempos de espera razoáveis (e não o disparate e a desumanidade que é hoje), haver sempre um Centro de Saúde ou um Hospital num raio razoável (quando hoje ouço que, por estarem Urgências ou Especialidades fechadas, os doentes têm que ir à procura de atendimento a mais de 100 km... (ou seja, objectivos deste género que traduzam uma qualidade de serviço razoável, humana, aceitável)

Isto não é bom?

Ou os meus Caros Comentadores acham que as pessoas podem ser tratadas a pontapé para não arreliar os médicos que não querem que se equacione o problema no seu conjunto?

Quando falei em tempo médio por cada acto médico falei, repito, de uma média. Não faço ideia de quais são os valores médios. 20 minutos era um exemplo. Se for 30 minutos, é 30 minutos. Uma média é uma média e serve para estimar o número de doentes que podem ser atendidos por dia ou por turno. Claro que nuns casos, bastarão 10 ou 15 minutos, noutros casos será necessário 40 ou 50 minutos. Uma média é isso e serve apenas para não se navegar à vista. Não trabalhar com base em métricas é navegar à vista, é ter pessoas horas à espera ou ter vagas que não são aproveitadas.

Eu e o meu marido temos médico de família. Temos porque já o tínhamos. Contudo, mudámos de casa vai para 4 anos e não conseguimos mudar para um Centro de Saúde perto da nossa nova residência. E não conseguimos porque, por estas bandas, não há médicos de família disponíveis. Quando me dirigi a um Centro, com a documentação, riram-se da minha ingenuidade, perguntando-me se não sabia que tinha muitos milhares de pessoas à minha frente.

No Centro de Saúde que frequento, longe de casa, quando quero marcar uma consulta, só arranjo vaga para três ou quatro meses depois. Na última vez, a funcionária disse-me que tenho sorte pois há médicos que no mínimo têm seis meses de espera. Já por duas vezes, uma eu e outra o meu marido, precisámos de esclarecer uma situação com o médico de família, no caso do meu marido porque a medicação estava a dar para o torto e, no meu, porque estava com uma situação cuja medicação não estava a resultar. Das duas vezes tentámos falar com o médico, enviar mail, telefonar. Nada. Impossível. Incontactável em absoluto. A solução era ir muito cedo, não sei a que horas mas disseram-nos as funcionárias que às oito da manhã já está lá muita gente e nem todos conseguem vaga, para tentar uma consulta de urgência. Uma coisa terceiro-mundista que obriga as pessoas a faltarem ao trabalho, a não dormir, a ter que estar um dia inteiro para uma consulta de 10 minutos. Por isso, das duas vezes recorremos aos Privados.

É isto que os meus Caros Comentadores acham uma maravilha, não carecendo de estudo para determinar qual a solução optimizada que garanta objectivos de bom atendimento?

E a ineficácia...? Coisas simples que poderiam ser resolvidas com uma perna às costas por quem sabe gerir. Dou um exemplo muito recente passado comigo.

Eu e o meu marido tomámos a 1ª dose da vacina contra a pneumonia, salvo erro em Dezembro. Teríamos que levar uma 2ª dose em Junho e, preventivamente, marcámos logo a toma das duas doses. 

Esta vacina é paga pelos utentes, embora seja um medicamento comparticipado. Quando o médico de família prescreveu as vacinas, pensávamos que prescreveria logo as 2 doses. Mas não. Só prescreveu a 1ª dose.

Em Março quando fomos a uma consulta, pedimos que prescrevesse a 2ª dose. Ele assim o fez. A mim prescreveu em nome de outra pessoa mas, como só dei por isso em casa, marimbei-me. Estas vacinas têm que ser guardadas no frigorífico. Como não sabemos a validade delas, por precaução, fomos comprá-las de véspera. Contudo, quando fui aviar as receitas, eis que o farmacêutico me diz que a receita já não estava válida. Apesar de saber que a vacina era para Junho, o médico enganou-se e só pôs validade de 1 mês. A receita deixou de ser válida em Abril. Tentámos, então, falar para o Centro de Saúde para pedir que o médico alterasse a receita ou, na impossibilidade em tempo útil, para desmarcar a toma da vacina. Depois de se ter ligado várias vezes ao longo do dia, sem sucesso, só ao início da noite nos devolveram a chamada. Ficaram de falar com outro médico, pois o nosso não está lá (o que parece ser frequente), a senhora que nos ligou disse que ia tentar que outro médico passasse novas receitas. Mas isso levaria na melhor das hipóteses 3 dias úteis pelo que tivemos que remarcar a toma da vacina.

Numa clínica ou hospital privado, se queremos contactar com o médico, temos como. Além disso, de véspera recebemos sempre uma mensagem a lembrar a marcação do dia seguinte e, se formos, respondemos SIM, se não pudermos ir, respondemos que Não. E automaticamente o sistema de marcações é alterado e quem ligue a pedir uma marcação já poderá contar com a vaga surgida em caso de alguém responder Não. Tudo automatizado, tudo simples, imediato, tentando que não fiquem vagas por preencher.

No SNS quem faltar, se quiser avisar, acontece o que referi: um dia inteiro a fazer chamadas e depois a vaga ficando lá pendurada, por preencher. Por isso, com esta falta de optimização, só se arranjam consultas para muitos meses depois.

Mas a situação da falta de médicos e enfermeiros é grave não apenas no SNS. E isto é grave sobretudo para os doentes. Podem os grandes defensores de que quem deve resolver o problema da falta de recursos (físicos e humanos) na Saúde devem ser os médicos, de preferência os que detestam a matemática, achar que se os Privados estiverem também com falta de pessoal clínico, azar o deles.

Errado. Azar o nosso, os dos utentes.

Quando alguém precisa de ir a uma Urgência e não a encontra no SNS, deslocando-se a um hospital privado e dá de caras com a Urgência também fechada (e já está a acontecer), não é bom para ninguém, em especial para quem precisa de apoio clínico urgente.

Portanto, não seria mais humano, mais eficiente, mais razoável se uma pessoa fosse ao Portal da Saúde ou ligasse para o 112 ou para a Saúde 24 e, face à patologia, recebesse indicação do local onde deveria dirigir-se (garantindo tempos de espera baixos, local na proximidade e custo zero)?

Note-se que quando digo custo zero, refiro-me ao utente. Obviamente há sempre um custo para o Estado, seja a pessoa atendida no SNS ou num Privado.

E ontem também expliquei que, em modelos deste tipo, que optimizam os factores em jogo, se o custo num privado for mais elevado que no SNS, a pessoa só em último caso é dirigida para o Privado.

E depois há uma coisa extraordinária. Quem defende cegamente, como os meus Comentadores, o recursos exclusivo aos hospitais e Centros de Saúde públicos, faz ideia de quais os custos para o Estado? E acham que o dinheiro cai do céu? Não sabem que sai do bolso dos contribuintes (os que pagam impostos, pois, como sabemos o que não falta é quem não os pague ou pague menos do que devia)?

O facto de ainda não se ter percebido que os médicos devem tratar dos doentes, mas que quem deve gerir os sistemas de Saúde e os Hospitais devem ser pessoas com valências de gestão, tem conduzido aos problemas que parecem insanáveis na Saúde (como os que referi).

Devo ainda dizer que a fobia ao trabalho prestado por entidades privadas não tem razão de ser. Um dos hospitais que foi considerado um exemplo de excelência a nível de qualidade de serviço prestado foi o Hospital de Braga na altura em que era gerido por um grupo privado, numa das PPPs. Devo ainda dizer que as PPPs foram excelentes para os doentes, óptimas para o Estado e más para os Privados pois, estrangulados pelo Estado, perderam dinheiro e agora, naturalmente, recusam-se a voltar a gerir Hospitais Públicos.

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Se percebi mal o que disseram e quiserem concretizar, ou avançar com sugestões sobre como equacionar os problemas no seu conjunto, tentando identificar as melhores respostas a dar para que as pessoas não sejam tratadas de forma desumana e terceiro-mundista, agradeço.

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Do que escrevi e do que aqui, há anos, venho dizendo, acho que é muito claro que sou firmemente defensora do SNS. Por isso é que gostava de vê-lo robusto, eficiente, reconhecido.

Defendê-lo acefalamente ou só porque sim sem querer admitir falhas ou oportunidades de melhoria é condená-lo. Isso eu não quero fazer. Quero que melhore, que a ninguém passe pela cabeça destrui-lo.