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quinta-feira, agosto 07, 2025

Momento grande: Adélia conversa com Bial
-- Uma entrevista rigorosamente a não perder --

 

Desde que a descobri passou a ser companhia sempre presente na minha vida. Adélia Prado é daquelas pessoas luminosas de quem se pode dizer que é 'do bem'. Sorrindo, fala coisas sensatas, sábias, simples. Não é daquelas que se 'acha', não enrola a conversa em prosa armada. É daquelas pessoas com quem se aprende, com quem se ganham anos de vida, com quem apetece estar.

E o Bial é outro que tal. Todo ele cativa: sabe ouvir, sabe falar, sabe olhar. As entrevistas conduzidas por ele são conversas sempre gostosas.

Por isso, uma conversa entre os dois é maravilha pura. Conversam de tudo com aquela leveza, aquelas gargalhadas, aquele desassossego que alegra e rejuvenesce. Pode a conversa fluir em torno da morte, da vida, de sexo, de religião que as palavras não fogem nem se espantam. Adélia fala e Bial, embevecido, deixa-se ficar a ouvir. De vez em quando, parece que gostaria de ficar em silêncio, a pensar no que ela diz. Mas a entrevista tem que prosseguir e, então, lá vem mais uma questão. Outras vezes leem poesia e o prazer é redobrado: ambos parecem submersos nas palavras.

Esquecemo-nos da idade de Adélia, os seus 90 anos não pesam, não desgastam, não cansam: aqueles tantos anos luzem com graça e inocência, como as luzinhas do cenário em que se encontram.

Adélia Prado em "Conversa com Bial"

Adélia Prado, maior poetisa viva do Brasil e recém ganhadora dupla dos prêmios Camões e Machado de Assis, maiores honrarias prestadas a escritores de língua portuguesa pelo conjunto de sua obra, concedeu entrevista ao Pedro Bial, no programa "Conversa com Bial".

Prestes a completar 90 anos, a autora aclamada que publicou o primeiro livro aos 40 fala de suas experiências, de sua voz poética, de diferentes momentos da vida.




Dias felizes

quinta-feira, junho 27, 2024

Adélia Prado, o feliz Prémio Camões 2024

De vez em quando fico mesmo contente com o Prémio Camões do ano. Este ano foi uma dessas escolhas felizes. Como bem sabe quem por aqui me acompanha, Adélia Prado tem uma voz que muito me agrada. Gosto de escritas desarrumadas, espontâneas, em que as vísceras e as mãos e tudo fala para que as palavras se ajeitem, seja em prosa seja em poesia. Parece que escreve o que lhe ocorre, sem preocupação em 'fazer bonito'. Se calhar até é uma escrita burilada, não faço ideia, mas sente-se que as palavras vieram motu proprio, ninguém as chamou. Escolheram-se umas às outras, e imagino que ela pare para perceber se fazem sentido e, se à primeira vista, parecem não fazer, acredito que ela as deixe lá estar na mesma pois, se não faziam sentido, passarão a fazer.

Já aqui o tenho confessado. De leitora assídua de poesia, agora ando mais distante. Parece que, na actualidade, a poesia perdeu a genuinidade, perdeu o viço, há muita banalidade, muita coisa disparatada sem ponta por onde se pegue.

O meu marido, pouco ou nada dado a poesias, há pouco ia a passar e ouviu na televisão a notícia do Prémio Pessoa. Perguntou-me: 'Essa não é aquela de que gostas muito?'. Disse-lhe que sim. Ele confirmou: 'Uma que escreve umas coisas que não fazem sentido...?'. Confirmei. 

Justamente. A beleza de uma escrita assim está na capacidade de escrever o que os outros não dizem, na originalidade de escrever o que a mais ninguém ocorreria dizer, ou, pelo menos, dizer dessa forma.

Tenho na minha secretária um livro dela. Tenho na mesinha ao lado do cadeirão que está ao lado da janela uma pilha de livros e um deles é dela. Tenho no parapeito da janela ao lado do sofá em que estou outra pilha de livros e um deles é dela. De vez em quando parece que sinto vontade de ler uma coisa inédita. É que posso ler muitas vezes o que ela escreveu que me parece sempre inédito.

Que Prémio Camões tão bem dado, tão feliz.

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No meio da noite

Acordei meu bem pra lhe contar um sonho:
Sem apoio de mesa ou jarro eram
as buganvílias brancas destacadas de um escudo.
Não fosforescia nem cheirava nem eram alvas.
Eram brancas no ramo, brancas de leite grosso.
No quarto escuro a única visível coisa, o próprio ato de ver.
Como se sente o gosto da comida eu senti o que falavam:
«A ressurreição já esta sendo urdida, os tubérculos
da alegria estão úmidos vão brotar sinos».
Doía como um prazer.
Vendo que não mentia ele falou:
as mulheres são complicadas. Homem é tão singelo.
Eu sou singelo. Fica singela também
Respondi que queria ser singela e na mesma hora,
singela, singela, comecei repetir singela.
A palavra destacava-se novíssima
como as buganvílias do sonho. Me atropelou
— O que foi? — ele disse:
— As buganvílias…
Como nenhum de nós podia ir mais além,
solucei alto e fui chorando, chorando,
até ficar singela a dormir de novo.

Adélia Prado, Bagagem

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Documentário Adélia Prado: uma mulher desdobrável


Adélia Prado - a vida é mais tempo alegre do que triste



Adélia Prado, a simplicidade de um estilo


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Salve Adélia Prado

terça-feira, dezembro 15, 2020

Devagar, despreocupadamente, caminhamos para o fim da luz, para o fim dos tempos?

 



Acho que o mundo está a entrar num caminho estreito. E não sei se, no fim desse caminho estreito, há uma saída.

Não é só isto da pandemia 

(embora também o seja, pois não podemos desvalorizar uma pandemia que faz colapsar a economia em todo o mundo e em que, ao fim de quase um ano, ainda permanece o mistério sobre como funciona este vírus, transmutando-se e escolhendo uns e não outros e matando uns e não outros), 

é também tudo o que aí vem com as alterações climáticas e, não menos grave, o que está por vir com a dependência total de tecnologias omnipresentes, ubíquas, baratas, ao alcance de todos... e não apenas desreguladas como impossíveis de regular.

Esta segunda-feira vários serviços da Google estiveram em baixo. O impacto que isto tem na vida de muita gente é incalculável. Claro que grande parte das pessoas nem pára para pensar que tem parte da sua vida alojada e processada em computadores longínquos, geridos por gente que ninguém sabe quem é... e que, ao não pagar um tostão por nada disso, dificilmente pode algum dia reclamar o que quer que seja. Mesmo que o queira fazer vai ter a maior dificuldade em saber a quem se dirigir e de que forma o poderia fazer.

E não estou a falar só de gmail, hangouts, blogger, youtube, etc, que, para muita gente não é apenas coisa lúdica mas sim profissional, social, familiar. Estou a falar também de uma miríade de equipamentos, dispositivos e toda a espécie de objectos que, sem nos apercebermos, estão ligados sabe-se lá onde. Um carro que recebe actualizações automáticas e que está permanentemente a ser localizado para poder ter o gps a funcionar ou para receber informações do trânsito, por exemplo. E nem falo dos telemóveis: ligados a tudo, apps a ferver ligadas a bancos, a fnacs e bertrands, a supermercados, a cartões de tudo e mais alguma coisa, a todo o lado. Falo de fábricas, falo da alimentação eléctrica das cidades, falo de painéis de sinalização de autoestradas, falo de tudo. Tudo automatizado, tudo ligado a tudo... e cada vez mais. A internet das coisas. Tudo automatizado, tudo com inteligência, tudo com algoritmos. Machine learning. Ah pois é. E tudo tem o seu inegável lado bom, óptimo. Mas está à mão de semear para quem o queira usar para o mal. E o pior é que não há como controlar. Por perversidade, por brincadeira, por pirraça, por dinheiro, por descaso... tudo está aí à disposição de quem queira fazer o que lhe apetecer como, por exemplo, deixar um país às escuras, fazer os carros irem uns de encontro aos outros, atirar com fábricas pelos ares. E não digo mais para não dar ideias.

Não falo apenas de ataques cibernéticos, dos hackers que entram onde não devem muitas vezes a soldo de Estados que praticam ingerência noutros Estados, não falo de espionagem industrial em larga escala, não falo em sabotagem cuidadosamente orquestrada. Não falo porque tudo isto é real, existe, é conhecido. Falo, sim, porque é o que mais preocupa, de quando as máquinas se programarem a elas próprias, de quando os humanos se tornarem redundantes face à fiabilidade dos algoritmos, falo de quando os sistemas ficarem descontrolados e os humanos, indefesos, isolados, sem saberem como sobreviver.

Claro que o Marcelo andar a meter-se onde não deve é uma chatice e um déjà-vu sem os quais passávamos bem, claro que o Marques Mendes ser a alcoviteira do regime é daquelas para as quais já não há paciência, claro que haver um populistazeco de meia tigela a subir nas sondagens e levado ao colo pelo PSD e pela comunicação social é uma daquelas chatices que corre o risco de vir a acabar mal, claro que o meu País ter um serviço onde se pratica a tortura e o desrespeito pela dignidade e pela vida humana é insuportável, inaceitável e, se isso acontece, alguma coisa de muito grave se passa e, mais do que apenas pedir a demissão do ministro, deve haver garantia de que coisas assim jamais poderão voltar a acontecer (exames psicológicos e rastreio de álcool e drogas aos agentes, vigilância dupla, não sei), claro que, nesta altura, os professores andarem a falar em greve pela reposição do tempo de serviço é deslocado e despropositado, claro que tudo isso e muito, muito mais é verdade. 

Mas a gravidade e a urgência do que está por vir é de uma outra magnitude, ultrapassa o circunstancial. 

O tsunami múltiplo de desaires que está à espreita é global (tal como esta pandemia é avassaladoramente global), incontrolável e com tudo para ser dramático, talvez de consequências irreversíveis. E para isso ninguém parece estar atento. E o pior é que, mesmo que, aos poucos, alguns comecem a estar atentos, não sei se se vai a tempo. E quando falo em 'alguns' não falo em mim ou nuns quantos cidadãos mais preocupados e mais informados que eu. Estarmos ou não estarmos atentos e apreensivos é igual ao litro, não dá em nada. 

Falo, sim, que deveria haver uma urgência política reconhecida como a grande prioridade do mundo, falo numa espécie de abalo colectivo de tipo 'pára tudo!' que leve os Estados a encarem de frente, muito a  sério, os riscos e darem ordem expressa para que todas as baterias lhes sejam apontadas. 

E mais do que isso: um travão às quatro rodas, repensar tudo, criar mecanismos de não dependência absoluta das tecnologias. 

Mas não sei se vamos a tempo. 

O tempo de reacção política é um tempo lento, feito de cautelosas diplomacias, de demoradas negociações, de concessões, de sucessivos nivelamentos por baixo. E o tempo da tecnologia é o oposto, é o tempo do imediato, o tempo de quem age por si, o tempo de quem tem todos os meios à disposição, a baixo custo, o tempo de quem age por gozo ou por malvadez ou por mercenarismo ou por ambição, sem freios. De um lado está a malta do sistema, os totós que se acham o máximo e que não vêem um palmo à frente do nariz querendo apenas zelar pelos interesses mais próximos. Do outro estão os serviços de inteligência, os bandidos, os jogadores, os aventureiros, os novos piratas, os que desconhecem as leis ou conceitos tão abstractos como o bem ou o mal. 

Não sei se vamos a tempo.

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E, assim sendo, com estas preocupações em mente e com um dia cheio de manobras para pôr uma máquina em movimento, pouca disponibilidade física e mental me sobrou para ficções ou ilusões.

Cirandei pelo jardim mas pouco, fotografei, tentei que a cor das flores animasse o dia tão cinzento, tão escuro (tal como agora o faço, incluindo-as para que o post não fique demasiado sombrio), observei pela janela, enquanto falava ao telefone, os pequenos pássaros, tão frágeis, aparentemente tão despreocupados. Ao fim do dia estive a ler Adélia Prado, uma lufada de ar fresco. A cada frase espanto-me, surpreendida pela graça, pela irreverência da escolha das palavras, pela leveza dos pensamentos que dançam tão inocentemente sobre assuntos tão íntimos. Gosto muito. Gostava de ser capaz de decorar para agora, aqui, sem consulta, vos contar sobre algumas passagens -- mas não sou capaz e, ao mesmo tempo, não o tento. Sempre achei que quem decora muito e sabe tudo dificilmente se deixa encantar pelo que, de novo, for descobrindo. Esforço-me por preservar a minha ignorância e desprendimento.

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Desejo-vos um dia feliz.
Saúde. Boa disposição.

terça-feira, dezembro 08, 2020

Mió ainda

 



Dia que pareceu suspenso no ar. Foi daqueles dias que é e não é. Precisava de fazer uma compra mas não sabia se podia circular, se o comércio estava aberto. Desatenta, certamente. Uns lugares saíram de muito elevado, não sabia bem quais. Fomos à hora de almoço, meia compra feita. De qualquer modo, dia de trabalho. 

Mas frio, muita humidade, escuro a meio da tarde. Esta terça-feira, dia feriado. Ainda há menos de um ano, dia de folga era dia de passeio ou de encontro. Agora é dia de recolhimento e ainda não aprendemos a viver assim. Sobra tempo mas não sabemos bem o que fazer com ele porque não podemos usá-lo como quereríamos. 

De tarde, lareira acesa. A trabalhar na mesa redonda junto ao calor. Acabou a faena já estava muito escuro e frio para ir passear no jardim. Fui buscar um livro e estive a ler ali mesmo. Uma estreia. Gosto de ler reclinada, não sentada numa cadeira. Mas, à lareira, estava-se bem. Podia ter ido para o lado de lá, sentar-me num cadeirão. Mas achei que não valia a pena. Fiz chá de erva-príncipe e gengibre, fui lendo e bebendo. Uma novidade, isto. Bem me soube.

Depois fui ver as notícias. Mas ando enjoada, niquenta: nada me interessa por aí além. Aquilo que sei que deveria dizer é de tal forma incómodo (sobretudo para mim própria) que ando a evitá-lo há meses. Tem a ver com a morte de Ihor Homenyuk no aeroporto de Lisboa. Não gosto de falar do que não sei. Mas fosse o que fosse que tivesse provocado tal sanha por parte dos inspectores e fosse o que fosse que os levou a todos a encobrir o caso, pelo menos com os contornos que parece ter tido, uma coisa parece inegável: é indesculpável que agentes da autoridade agridam alguém até à morte, deixando-o a agonizar, sem tratamento ou suporte de vida. Acho tudo o que se vai conhecendo de uma tal barbaridade que não compreendo como não houve uma investigação célere e exaustiva para que já houvesse acusados e para que já tivessem sido retiradas conclusões políticas. Seria bom que fosse público o que ali se passou naquele dia trágico para um homem que, ao que parece, vinha em busca de uma vida melhor; e seria bom que também se conhecesse quais os procedimentos habituais para averiguações do SEF no aeroporto e quais os mecanismos de controlo para que nunca mais haja lugar a situações de violência e encobrimento como as que envolveram o espancamento até à morte de Ihor. Também me parece que seria bom que tivéssemos todos conhecimento dos exames psicológicos a que os agentes de autoridade são geralmente sujeitos bem como qual o controlo de despiste de consumo de álcool ou drogas que lhes é feito.

A bem da transparência e da confiança da população nas autoridades, tudo isto deveria ser claramente exposto.

Mas, enfim, tema de tal gravidade não pode ser falado en passant e, por isso, prefiro nada dizer. 

Continuo, então, onde estava: no meu livro. Um livrinho pequenino. Manuscritos de Felipa. No outro dia, quando o folheei estava com aquela alta expectativa que sempre sinto em relação a Adélia Prado e, não tendo sido atingida por um raio de luz ao abri-lo, logo me assustei perante a perspectiva de que, desta vez, talvez fosse decepcionar-me.

Mas não: há na escrita de Adélia Prado uma irreverência, uma subversão, uma brincadeira, uma graça e, ao mesmo tempo, uma tal ida ao miolo que não consigo nunca ficar-lhe indiferente. Pelo contrário, espanto-me. Mas é um espanto agradado, uma vontade de perceber como se consegue cerzir de forma tão criativa palavras normalmente dadas a outras companhias.

Não é fácil transcrever excertos pois perde a graça se descontextualizado. Há ali uma dança em que cada passo faz parte da coreografia. Não dá para amputar o pas-de-deux, não dá para retirar o voo, a graciosidade do movimento, a amplitude do salto. Mas, ainda assim, arrisco. Um petit amuse-bouche.

Teodoro atende o telefone e pelo jeito a Angelina acabou de morrer. Me dá a notícia no tom em que toda a notícia assim deveria ser dada: olha, a Angelina terminou o serviço dela, tomou banho e voltou para casa dos pais, foi de primeira classe. (...)

Acordei ótima, sem estranhar o mundo, nos eixos. Eixo é uma palavra perfeita, não propriamente bonita, mas como palavra é sentido, esta tem apenas o que chamaríamos beleza interior, consolo dado a mulheres feias e bondosas, ideia e consolo enganosos, porque beleza radia e o que radia radia para fora, ou estou delirando? Vou acabar descobrindo que eixo é uma palavra bonita por dentro e por fora? Azeite. Vou pensar muito não, pra não gerar confusão. 

Estou no eixo, isto é, funcionando sem estranhezas para alegria ou tristeza, rima e solução; mais ou menos no 'tanto faz' daqueles santos meio estranhos, esquisitos e inteiros como o macaco da historinha que acharam felicíssimo em seu galho:

-- Macaco, sua mãe morreu.

-- Ah, é? Mió.

-- É mentira, macaco.

-- Mió ainda.

Se minha mãe morrer vou ter escrúpulos de falar: melhor, ou melhor ainda, porque não sou perfeita, não sei conversar sem adjectivos, ainda não sou essencial. (...)

E é isto. Um prazer. A vida pode ser uma coisa simples. Basta não complicar. Mas não é fácil. Descomplicar é como desajectivar. A gente quer, quer, mas, mal se distrai, já está a acrescentar adjectivo ou complicação. Ou as duas coisas ao mesmo tempo que é ainda pior.

Talvez por isso, quando passei para o YouTube, o meu amigo algoritmo, adivinhando que ando a complicar o que é simples, avançou com uns vídeos que me prenderam do princípio ao fim. Cada um com uns vinte e poucos minutos. Ou seja, ao todo, para mais de uma hora de coisa boa. Ainda por cima, uma hora falada em francês -- que é língua que me agrada por demais, civilizada, elegante, cheia de convite para viver bem -- e com música suave em fundo. Caso não saibam francês, não faz mal. São vídeos bonitos de ver. Três casos de saber viver bem. E se vocês já têm uma vida assim, simples e boa, mió ainda.

Sylvie Ramu, sculptrice et femme de cœur dans son petit paradis 


La folle vie d’un aventurier philosophe de 95 ans - Paul Du Marchie


Les merveilles d'une créatrice de papier, Viviane Fontaine

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Pinturas de Oscar Howe ao som de Farewll, Angelina segundo Joan Baez
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Até aqui, no post, não entrou a palavra Natal mas não faz mal: entrou agora e está bem assim. Se gostaram destes vídeos façam de conta que são três presentes que aqui vos ofereço

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domingo, novembro 29, 2020

Acidentes, regressos e manuscritos de Felipa
[Ah...se eu pudesse trincar a terra toda]

 



Não há muito a dizer. O jardim está verde e florido e a chuva torna-o ainda mais viçoso. Mas a partir do princípio da tarde começou a chover, choveu, choveu, e escureceu de tal maneira que, para ler, só de luz acesa. 

Tenho um hábito: quando me levanto, dou a volta à casa, levanto os estores e vou pondo as janelas na posição basculante. Gosto que entre ar fresco. E, geralmente, gosto que fiquem assim todo o dia. O meu marido agora não concorda, diz que está frio demais para tanto ar fresco, diz que arrefece a casa. Por isso, geralmente, quando me apanha distraída, vai fechar as janelas. Se acordo a meio da noite vou, sorrateiramente, abrir a janela do quarto, gosto de sentir o ar fresco da noite. Se ele dá por isso, passa-se, diz que sou maluca. Mas gosto tanto.

De manhã não choveu. Fomos fazer uma caminhada. Mais de uma hora a bom passo. Uma caminhada bem mais longa do que o costume. Vamos conversando. Às tantas disse ao meu marido que ele sobretudo ouve e responde ao que pergunto. Ele respondeu: 'e não é preciso mais'. Ri-me. Sempre assim foi. Raramente é ele que puxa assunto. Ou tem assuntos de trabalho que o preocupam ou ouviu alguma notícia que achou relevante ou, então, alinha na minha conversa. E assim, nesta conversa solta, nem se dá pelo tempo a passar. 

Este domingo, que parece que vai chover todo o dia, não sei como vamos fazer. Já andámos muitas vezes com chapéu de chuva mas é uma maçada, em especial quando a chuva é forte ou faz vento. Mas ficar sem caminhar é que não.

Tinha ideia de ir fazer umas arrumações mas deu-me uma total preguiça. Estive a ler. Fui fazer a monda aos livros que trouxe no outro dia a ver os que tinham vindo para mim. E estive a ler parte de cada um. Enquanto lia, ia tentando descortinar quais as partículas elementares que ali se encontravam e que não encontro noutros autores. 

Mas não foi pacífico, devo confessar. Pensei que ia ficar rendida mas estou vacilante. Por exemplo, estranhei a linguagem deste Acidentes. Parece que lhe falta ali o sopro de deus. 

E, lá está, quem sou eu para falar em deus? A última pessoa a poder fazê-lo. Mas é o que penso: nos poemas que me parece conterem verdadeira poesia eu acredito que há ali mais do que apenas a inspiração ou a técnica do poeta, há uma qualquer transcendência, a mesma que encontro numa flor perfeita, numa música improvavelmente bela, numa pintura que sobrepõe sentimentos e luzes e sombras e inexistências. Penso: é um sopro divino. Um deus que reina sobre os acasos e se diverte a deixar que uns afoguem algumas coisas e outros elevem as coisas a um patamar tal que quem se apercebe deles tem vontade de se ajoelhar. Mais do que um patamar, um altar. 

O da Mónica Baldaque já cá estava em casa e o do Harari não é dos meus

Mas é isso: ainda não li tudo e talvez não com a devida concentração. Mas, do que li, sinto que há ali palavras destituídas de música ou de luz ou de não sei o quê. Tenho ideia que há palavras que não têm cabimento no reino dos céus que é o reino onde habita a poesia.

Da Adélia Prado parece que também não estou a encontrar nestas páginas a dose habitual de desalinho e a irreverência que nela tanto me cativam. Mas, de qualquer maneira, estou a gostar. Há sempre ali uma graça, um drible, um sorriso escondido por detrás da palavra. Para gostar de um livro tenho que sentir a inteligência mas sem exibicionismo, tenho que sentir o conhecimento profundo da natureza humana mas um conhecimento sem pergaminhos. Não sei explicar.

Do primo, ainda apenas espreitei. E ali encontrei a elegância do costume, a fluidez, o espírito. Lerei depois. Por enquanto, contento-me em folhear, apanhar fragmentos, deixar-me ir pela mão. Depois saltar, ler outro bocado. Há ali aquele saber escrever antigo, aquela prosa bem costurada, aquele saber contar. Não há futilidade, superficialismo. Há o prazer de escrever e partilhar ideias ou conhecimentos.

Ao início da noite fiz encomendas online e falei ao telefone. Antes fui para debaixo do telheiro ver a chuva e fotografar. Também fotografei os livros e algumas coisas em volta. E respondi aos comentários atrasados e descansei. Não é fácil ocupar o tempo quando se está habituado a não o ter. Inconscientemente parece que me sinto ociosa. Dou por mim a pensar se tenho alguma coisa atrasada para fazer, como se não me fosse concedido o direito a estar sem nada que fazer. Geralmente, ou tínhamos a família cá em casa ou íamos visitar a família, ou íamos encontrar-nos com alguém a algum lado ou íamos para o campo onde há sempre mil coisas para fazer ou íamos às compras ou qualquer outra coisa. Agora aqui em casa, num dia de chuva, sem se poder sair, parece que fica aquela sensação estranha de não saber bem o que fazer com o tempo. Mas foi bom, então não...?



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E, de repente, ocorreu-me que há muito tempo aqui não tinha o Cine Povero, bateu a saudade. 

E cá está: vem com Alberto Caeiro na voz de Pedro Lamares


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E desejo-lhe, a si muito em especial, um bom domingo.
Descubra o que lhe traria felicidade e procure-o. 
Geralmente não é nada de transcendente, está certamente ao seu alcance.
Be happy

segunda-feira, dezembro 23, 2019

Em dia de muito mar, muita poesia







Procurámos o mar. 

Se o mar é um deus, é um deus com estados de alma, umas vezes apiedado, outras contemplativo e sereno, outras, como hoje, todo ele fúrias, exaltações. Um deus infinitamente forte, de uma força indomável, incontrolável, inclemente. Um deus superior a tudo. Indiferente a tudo.


A lente da máquina fotográfica sempre embaciada tanta a humidade, o paredão invadido, com areia e água e cheio de flocos de espuma espessa, o ar que insufla as águas ali materializado. 


Os acessos ao areal interditados mas, ainda assim, alguns inconscientes a passear, certamente sentindo-se rebeldes e especiais, se calhar sentindo-se superiores aos elementos. 


Mas logo a força das águas lhes provou o risco que corriam. Num dos casos o meu marido chegou-se às rochas e zangou-se, que é uma inconsciência, que é assim que morrem pessoas, que fazem correr riscos a quem os vai resgatar. 


Uma mulher ficou com as pernas molhadas e sem sapatos e um homem ficou molhado até à cintura. O meu marido, que os ouviu a falar, disse que pareciam estar noutra, como que eufóricos. 


Não sei, mas vê-los como os vi fez-me impressão. É que, por vezes, têm sorte e podem sentir a superação. Outras vezes, por mera futilidade, arriscam a vida e fazem arriscar a vida dos que querem salvá-los.

E, depois, as gaivotas. Poucas gaivotas. 


Não sei para onde vão as gaivotas em dias assim. Onde se acolhem? Voam para longínquos rochedos? Para torreões secretos, nos confins da terra? Não sei.

Fotografei as poucas que ali se chegaram. 

No areal, umas quantas. Na praia que, no verão, foi preenchida com areia há agora uma funda piscina. O mar levou parte da areia. Entre a piscina e o mar, uma língua de areia onde as gaivotas se agrupam.


Acho-as maravilhosas. Fotografo-as tentando captar os seus movimentos.

Lá em baixo uma mulher de cabelo encarnado fotografa-as também. E eu fotografo a mulher de cabelo encarnado. Naquele contexto, aquele cabelo parece uma insólita plumagem rubra. Introduz uma nota de cor numa paisagem quase incolor.


Ao fundo, quase oculto pela névoa (reparem na fotografia acima), um homem arrisca, soltando o cão. Pouco depois, pressentindo a força das ondas, o cão foge para terra enquanto o dono é envolvido pela água.

Sem quererem saber de quem as olha ou dos riscos que as pessoas correm, as gaivotas desfrutam a sua livre e feliz existência.


Aquelas asas grandes, aqueles bailados longos, aquela elevação pelos ares em total liberdade, aquela graça e tranquilidade enquanto caminham pela beira da água, tudo nelas me fascina. 


E o ar branco, a névoa, a luz diluida na neblina, tudo muito belo, muito apaziguador apesar do rugido, apesar da força bruta das águas ali ao lado. Ou talvez mais ainda por isso mesmo.


Por vezes, a luz branca transforma em luz e em prata as ondas que se agigantam ao largo. Custa olhar. Parece irreal.


Em casa, para além de trabalhar e de ter ido comprar mantimentos, li. Li de gosto, devagar, saboreando o sentido e a música das palavras, o verso e o reverso, a sua sombra e a sua luz.

Senti-me feliz a ler. Aquela sensação de paz vivida instante a instante, de satisfação serena e boa.


bebemos os poemas e a paixão
bebemos sôfregos o vento ardente
até perdermos o sentido das palavras

digo-vos é mentira
o corvo não regressou à arca de noé
continuou a voar entre duas águas
perdeu-se na travessia do caos e da ordem
fascinado pelas líquidas imagens
que se desprenderam do infinito dilúvio

quando a terra por fim secou
o corvo impregnava tudo de treva
para que a pomba não encontrasse o ramo de oliveira
e deus
ao olhar o que nunca fora obra sua
mal soube por onde fissurar tanta escuridão

vingou-se
aprisionando os homens em territórios
de abandono e desolação.


Ave, Maria!
Ave, carne florescida em Jesus.
Ave, silêncio radioso,
urdidura de paciência
onde Deus fez seu amor inteligível.


Senhor meu amo, escutai-me,
a donzela espera por vós, no balcão.
Cuidado que não acorde os fâmulos
a paixão que estremece o vosso peito.
Os galgos estão inquietos, a alimária pateia.
Rogo-vos que vos apresseis.


E, agora que parei de ler, penso outra vez no mar. Como serão as ondas que se formam ao longe, amplas, imensas, quando ninguém as vê? Serão igualmente assustadoras ou, esquecidas do medo dos homens, suavizarão as arestas e os rugidos e avançarão com mais vagar, ondulantes, desfrutando a absoluta solidão da noite? Haverá espuma branca e rendilhada a rematar as ondas ou a espuma será negra, densa e perfumada de maresia como a paixão que se cola ao corpo das mulheres nas noites de irreprimível paixão?

Não sei. Há muitas coisas que não sei. 

E essas tantas coisas ainda por saber enchem-me de uma tal alegria que só eu sei.

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Desejo-vos uma boa semana, a começar já por esta segunda-feira

segunda-feira, novembro 11, 2019

Quero o que antes da vida foi o profundo sono das espécies, a graça de um estado







Do cogumelo gigante da semana passada nem vestígios. Ainda pensei que estivesse reduzido a uma cutícula como tenho por lá visto algumas, mas nem disso encontrei sinal.

Noutro sítio, um que, de também tão grande, se abriu ao meio, ainda lá está, já a dar mostras de querer decompor-se, voltando à terra de onde, ele como todos nós, saímos.


Mas, do primeiro, nada. Algum animal o terá devorado? Ou ter-se-á desfeito em água? Evaporado?

Entretanto, onde a semana passada nem afloravam, agora estão dois grandes, brancos, perfeitos, a parte inferior rendilhada.

Coloquei o meu pé ao pé para se perceber o tamanho destes cogumelos.
Não tão grandes como o outro que desapareceu mas também grandes como duas belas farófias


Parecem-me milagres. O que eram antes de serem?

Rompem da terra, de sob as pedras, de sob a caruma,  um fofos, outros muito etéreos, quase uma espuma solidificada, outros bem carnudos, tisnados, quase uma crosta em vez de pele.


Como as borboletas que são belas e existem mas que o são a partir do que não eram, suspeito que os cogumelos também. Um pouco como o que escrevo. Estas palavras existe à medida que aparece e não faço ideia de onde estava antes de existir. São mistérios e, tal como todos os mistérios naturais, insondáveis. 

Dos pequeninos, aqueles pontinhos que se erguiam nos seus filamentos transparentes, também nem sombra. Em contrapartida, há agora outros muito discretos, elegantes, num tom requintado.

E continuo a vê-los trincados. Devem ser saborosos e não fatais.


E há outros também pequenos, quase umas florzinhas brancas, por vezes rosadas no centro, luzindo por entre a caruma rubra e molhada, entre folhinhas nascentes, verdejantes.


Só os vejo porque ando cada vez mais devagar, espreitando a terra, baixando-me para desvendar tudo o que me parece diferente do que encontrei na vez anterior que por lá passei. Conheço cada pedra, cada erva, cada rebento.

E encanto-me com tudo. E agora também com o orvalho coalhado por entre a caruma e as folhinhas e pedrinhas. São gotas de uma limpidez absoluta, cristais de luz.


Não encontro um período em que consiga dizer que alguma coisa morre neste meu pedaço de terra.  Tudo vive e revive. Um devir pleno de vida. Pode alguma coisa tombar, quase desfazer-se, misturar-se com a terra, transformar-se em segredo. Mas tudo renasce. Renascerá sob outras formas, mas renasce.

Não sei qual o elo de ligação entre todas as coisas ou o laço que une o que foi, o que é e o que vai ser. Talvez seja apenas a vontade intrínseca de existir, essa força telúrica que dá vida às coisas. A continuidade do tempo como seiva desta vida que se entrelaça, numa longa e infinita cadeia.


As folhas misturam-se com a água da chuva, as cores tingem-se das mais belas cores de outono e assim entrarão na terra, macias e coloridas e da terra brotarão novas formas de vida.

Até das pedras nascem musgos, rebentam flores, despontam árvores. Uma maravilha a céu aberto.
Já mostrei uma vez. 
Do rochedo nasceu um pinheirinho. Ficámos intrigados. De onde lhe vem o sustento? Pensámos que não tem como sobreviver, sem terra. Mas não tivemos coragem para interromper a sua ousadia. 
No verão, ao trepar por ali, algum dos meninos o partiu. Quando o vi com o seu tronco fininho quebrado fiquei de coração desfeito. Juntei as duas partes e amparei-o com pedrinhas em volta. Ainda pensei pôr-lhe uma fita em volta, um pano, qualquer coisa. Mas pensei que poderia ser pior, não deixando que cicatrizasse. Penso nele como se fosse um bichinho. Ao fim de uns meses após o acidente, ainda ali está, vivo, mais crescido. Não retiro as pedrinhas que o amparam com medo que tombe. Não sei quanto tempo vai viver mas não interessa. Há seres que transportam em si a inviabilidade para suportaram inclemências e que não foram fadados para serem iguais aos outros que conhecem todas as fases da decadência.  São seres que, enquanto existem, são belos e eternos na sua cintilante efemeridade. assim o meu querido pinheirinho.

E há arbustos ou pequenos troncos que parecem secar, depois voltam a aparecer cobertos de líquenes ou deles rebentam novas aflorações.

Na primavera passada, naquela de cortar pinheiros que não guardam a devida distância entre eles, para grande desgosto meu, o meu marido cortou um que já estava bem grande. Pois bem, está a rebentar por todo o lado. Recusa-se a desaparecer, impõe a sua viçosa vontade de viver. Acho isso tocante. Não sei se teremos coragem de voltar a tentar o seu fim.


Uma vez, há uns anos, em dia de grande vendaval, algumas árvores caíram in heaven. Um dos que mais me doeu foi um pinheiro enorme que tinha sido plantado pelo meu pai e que estava num canteiro em volta do qual estava um banco de madeira também feito pelo meu pai. O banco partiu-se e o pinheiro, que parecia ajoelhado, teve que ser abatido. A parte do tronco que estava debaixo de terra e da qual partiam as raízes era enorme e eu nunca consegui desfazer-me dela. Ainda lá está e nesta altura cobre-se de musgos, folhinhas e cogumelos, na primavera cobre-se de florzinhas e no verão tem líquenes secos que ficam lindos e chega o inverno e deixa perceber que é um corpo pleno de vida, sempre a reinventar-se, sempre a mostrar-me que a memória do meu grande pinheiro ainda está bem viva.


Hoje de manhã estive com os meus pais e com a parte da família que estava disponível e foi muito bom como é sempre bom. Momentos de felicidade. Sentimento de pertença: os laços de sangue falam muito alto e quando, num grupo, para além daqueles com quem existem os laços de sangue, há afinidades e gostamos uns dos outros, é uma bênção. São momentos de harmonia que perduram na nossa memória. Na memória... e nas fotografias porque, como sempre, registo os sorrisos, as brincadeiras, as alegrias.


E depois, para além das tarefas domésticas -- que ao domingo são sempre muitas -- estive a ler um livro que me aconchegou a alma: o segundo volume de A vida no campo do Joel Neto. Uma vez mais é daqueles livros que, sendo um registo diarístico, não tem outro enredo que não a descrição das pequenas coisas: o jardim que se constrói, a vereda que se desenha, o pão feito pela última vez pela senhora de oitenta anos, a cadela inteligente e meiga, a araucária que tem um carisma que marca a paisagem, o motorista da urbana que conhece toda a gente e manda a menina buscar um casaquinho a casa e por quem ele espera. E o livro vai avançando e vamos acompanhando o que pensa, o que sente o seu autor. Lê-se, lê-se e dá vontade de continuar.


Mas interrompi porque tive outras coisas para fazer e depois li dois mails que muito me tocaram, muito mesmo, e nem respondo já pois quero que façam o seu percurso dentro de mim.

E agora aqui estou de novo, a ver as fotografias dos meus meninos queridos que crescem todos os dias, vão deixando de ser meninos pequeninos, e são tão, tão, queridos, e eu gosto tanto de estar com eles, tão brincalhões. E também já estou com saudades dos verdes e dos perfumes e da beleza imensa que irrompe por todo o lado in heaven.

Há um tempo que une todas as coisas e pessoas de que gosto, um tempo que transporta afectos e memórias e bons auspícios, e esse tempo é a cola que dá a unidade de que preciso para melhor perceber o sentido da vida e para mais confiantemente me entregar ao exercício de existir.

E dito assim pode parecer estultice e, certamente, é. Mas não encontro melhor forma de transpor para palavras o que sinto até porque é sensação vaga, ideia que talvez nunca consiga formar-se.


Mas é isto. 

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O título do post pertence ao poema Exausto de Adélia Prado.

E, se me permitem, partilho de novo um vídeo de Li Ziqi, a jovem que vive no campo com a avó


A paz entre as pessoas que se amam e respeitam e que vivem em harmonia com a natureza

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