Hoje numa reunião, um colega quis atirar-se para fora de pé e eu interceptei-o. Ele insistiu, tentando seguir numa deriva que, em meu entender, não ia levar a lado nenhum. E eu que não. Ele, então, do outro lado da mesa, em voz baixa, tentando ser discreto para não me envergonhar em público: 'open mind... está a perceber...? open mind...'. Achei graça. Interceptei na mesma, expliquei as minhas razões, ele percebeu. Mas fiquei a pensar naquilo.
E há bocado voltei a pensar. Se em tempos alimentei o secreto desejo de me fazer tatuar com uma rosinha bonita perto de um ombro ou na parte de cima de um seio, a verdade é que me saíu completamente da ideia desde que a coisa virou banalidade.
À hora de almoço estava à espera de vez para uma mesa, distraída. O meu marido disse-me em voz baixa: 'São copos?'. Não percebi. Ele disse-me: 'São copos no braço?'. Olhei e vi ao nosso lado um rapaz com copos tatuados no braço. Copos mal desenhados, sem ponta de graça, sem ponta de arte. Um disparate.
E agora dei com tatuagens em 3D. Antes de ver, só pela designação, não estava a perceber bem qual o efeito. Mas, caneco, quando vi achei assustador. Na volta é porque não tenho a mente aberta. Mas, caraças, imagine-se alguém que não esteja preparado par ao que vai ver, ao dar assim de repente com uma coisa destas. Que susto, bolas.
E, para terminar, a versão tattoo do mediático buraco negro que os outros viram por um canudo:
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Para contrabalançar a open-minded arte 3D sobre a pele, juntei dois apontamentos de beleza tradicional.
O vídeo lá em cima, obra de Sølve Sundsbø, junta Alexander McQueen & Damien Hirst e o resultado são écharpes de uma grande beleza.
E o vídeo abaixo mostra outra maravilha. Seda marmoreada com desenhos lindos: H€rmè$.
Num dia de canseira e ventania, estou mais para ser embalada do que para dissertações ou regabofes. Cansada, com sono, a precisar de dormir. Que dias estes, de manhã à noite, senhores, e o trânsito um horror. E o vento.
Durmo de janela aberta, gosto de sentir a aragem fria sobre o corpo. Por vezes acordo de madrugada com as gaivotas: gritam, gritam. Não sei se são lamentos, se é um choro sofrido, se é gozo, festa, dança, namoro. Não sei. Acordo e ouço-as, tento manter-me acordada, perceber quantas serão, o que fazem na relva àquelas horas escuras. Mas logo adormeço. Levo-as e às suas longas asas brancas dançando no escuro da noite para dentro dos meus sonhos.
Mas a noite passada não foram elas que me acordaram. Foi o vento arrastando coisas pela rua, tudo batia, tudo fugia na rua escura. Custou-me adormecer. E depois o dia, todo, todo.
Chego a esta hora e o corpo pede-me descanso.
Pois que descanso tenha.
Que me desculpem os meus Leitores mas hoje estou em modo piloto automático, a cabeça a funcionar nas margens do sono, incapaz de pensamentos conscientes. Funciona apenas uma parte de mim, uma parte pequena, a só me pede silêncio, imagens de outros mundos, palavras que me tragam notícias de lado nenhum, e que chegue até mim qualquer diferença, preciso de diferenças, estou farta da normalidade, da mediania, quero ver o que nunca vi, quero palavras que não façam sentido à luz dos preceitos vulgares, estou farta, farta, de racionais, de conversas alinhadas, encenadas, na verdade quase vazias. Ou que venham até mim corpos que se movam como eu, em sonhos, gostaria de me mover, fora de mim, para longe de mim.
Afasto de mim as sombras, não as quero. Ou então não, que venham - mas venham macias, sibilinas, sussurrantes, dizendo-me segredos perigosos, olhando-se sem medo, aliciando-me. Ou que a luz me ofusque, me desarme, me desequilibre.
Fecho os olhos e puxo a estranheza que me é irmã, deixo que me abracem os sons que me trazem labirintos, galerias perdidas no fim do mundo, barcos abandonados nas praias ao sabor do vento e das areias. E que me tomem em suas asas os pássaros de escamas de fogo, que me levem, que me levem para as nuvens, para os castelos em ruínas habitados por espíritos azuis, por poetas, por músicos loucos, por cavaleiros perdidos, por sonhadores sem rumo, por deusas, por rastos de luz.
E, quando nada mais fizer sentido, eu fecharei os olhos e dormirei descansada, dentro de um mundo inventado onde os abraços que me envolvem são quentes e íntimos, onde as palavras me acariciam como se fossem deuses saídos do fundo do mar, transparentes como poesias infinitas, e com olhares longos e húmidos como a boca do meu amor.
Duck feather dress, The Horn of Plenty, AW 2009-10, Model Magdalena Frackowiak, image : firstVIEW
[Isabel Munoz part quant à elle en Colombie avec "Eros y Ritos, Eros et rites". Avec ses portraits de danseuses sous des masques rituels, elle révèle l'essence de l'être humain, à la recherche de ses craintes et de ses passions.]
Sim. Eu tenho o coração tomado de amor. Sou dessa gente que vai com tudo, caminha na brasa, mergulha na lava, se joga no fogo louco do encontro. Da vida, quero nada senão viver assim. Em chamas. É daí que vem todo o resto.
Comigo, essa história de pé atrás não funciona, não. O amor chega e entra com os dois pés e o que mais há em volta.(...) Contenção no amor é desperdício, sonolência, anticlímax, chateação. Quem sente amor tem a pele fustigada por um raio, voa baixo, treme de susto.
E que o diga o casal feliz de outro tempo em suas histórias de encanto e seus quarenta anos de namoro e sonho, suas viagens pelo mundo, seu olhar de cuidado aos mais jovens: o amor é ou não é um susto, um abalo, um assombro, um sobressalto? Decerto que é. O amor é o inesperado, o carro que quebra na padaria, a água que falta, o gás que acaba. (...)
“Ah! Mas isso não é amor, é só paixão”, dirá o ser impecável, perfeito, em sua fúria por rotular a vida e quem nela esteja. E eu respondo: que seja! A paixão é minha e eu dou a ela o nome que eu achar que devo. Inclusive amor, esse palavrão que incomoda tanto a tanta gente. (...) Mas que ainda assim, quando se tornar robusto, maduro, corajoso, conserve em si o frio na barriga, a saudade, o riso fácil, o jeito simples e as declarações de apreço com os olhos brilhando de ternura.
Assumo e declaro: meu amor não tem pudor. Amo em total descaramento. Vergonha eu só tenho na cara, não no coração. (...) Fazer o quê? Uma hora eu aprendo. Com tempo e trabalho e coragem, eu aprendo a ter menos vergonha e ainda mais amor.
eu digo, fique aí, não deixarei que ninguém o veja.
há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas eu despejo uísque sobre ele e inalo
fumaça de cigarro
e as putas e os atendentes dos bares
e das mercearias
nunca saberão que
ele está
lá dentro.
há um pássaro azul em meu peito
que quer sair
mas sou duro demais com ele,
eu digo,
fique aí,
quer acabar comigo?
(…) há um pássaro azul em meu peito que
quer sair
mas sou bastante esperto, deixo que ele saia
somente em algumas noites
quando todos estão dormindo.
eu digo: sei que você está aí,
então não fique triste.
depois, o coloco de volta em seu lugar,
mas ele ainda canta um pouquinho
lá dentro, não deixo que morra
completamente
e nós dormimos juntos
assim
como nosso pacto secreto
e isto é bom o suficiente para
fazer um homem
chorar,
mas eu não choro,
e você?
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Escuto na palavra a festa do silêncio.
Tudo está no seu sítio. As aparências apagaram-se.
As coisas vacilam tão próximas de si mesmas.
Concentram-se, dilatam-se as ondas silenciosas.
É o vazio ou o cimo? É um pomar de espuma.
Uma criança brinca nas dunas, o tempo acaricia,
o ar prolonga. A brancura é o caminho.
Surpresa e não surpresa: a simples respiração.
Relações, variações, nada mais. Nada se cria.
Vamos e vimos. Algo inunda, incendeia, recomeça.
Nada é inacessível no silêncio ou no poema.
É aqui a abóbada transparente, o vento principia.
No centro do dia há uma fonte de água clara.
Se digo árvore a árvore em mim respira.
Vivo na delícia nua da inocência aberta.
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Pela segunda vez aqui, a música é Epilepsy Is Dancing numa interpretação de Antony and the Johnsons -- e o vídeo deverá ser visto pois é qualquer coisa de irreal.
O primeiro poema é um excerto de Poema Sujo, de Ferreira Gullar
A prosa é um excerto de Deixemos de coisa. O que mata mesmo é abrir mão de viver de André J. Gomes na Bula
O penúltimo poema, transcrito (numa tradução de Pedro Gonzaga) e lido (por Tom O'Bedlam), é O pássaro azul de Charles Bukowsky
O último poema é A Festa do Silêncio de António Ramos Rosa
A primeira e a última fotografia fazem parte da exposição Savage Beauty relativa à arte feérica de Alexander McQueen que vai estar até 2 de Agosto no Victoria & Albert Museum
A segunda fotografia, de Isabel Muñoz, integrou a exposição 6 artistes pour 6 "Regards de femmes" que decorreu na Galerie Hegoa (França)
O ballet é 'Chroma' chor. Wayne McGregor, numa interpretação de Artem Ovcharenco e Anna Tikhomirova (Bolshoi Ballet)
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma quarta-feira mesmo muito feliz.
No post abaixo mostrei seis cenas apagadas da série O Sexo e a Cidade - e rever o que nunca se viu é gostinho de que não devemos privar-nos.
E, mais abaixo, falei de sininhos, campainhas, sirenes, mails e sms, um folguedo misterioso que parece que se desencadeia quando algum funcionário mais zeloso espreita por debaixo das saias de alguma maria amélia arraçada de VIP para lhe ver o underware fiscal.
Mas isso é a seguir, se faz favor. Aqui, para terminar a minha jornada, quero dizer-vos que hoje percebi o que se passa comigo enquanto aqui estou: viro um holograma, deixo de ser gente.
Se eu não estivesse já tão cheia de sono procuraria um enquadramento melhor para holograma, qualquer coisa de mais filosófico, tal como que os hologramas vêem através dos homens como os deuses, mas, assim, com vossa licença, limito-me a transcrever da wikipedia:
Os hologramas possuem uma característica única: cada parte deles possui a informação do todo. Assim, um pequeno pedaço de um holograma tem informações da imagem do mesmo holograma completo. Ela poderá ser vista na íntegra, mas a partir de um ângulo restrito. Uma comparação simplista pode ser feita com uma janela: se a cobrirmos, deixando um pequeno buraco na cobertura, permitiremos a um espectador continuar a observar a paisagem do outro lado, porém, por conta do buraco, de um ângulo muito restrito; mas ainda se conseguirá ver a paisagem.
Desta forma, a holografia não deve ser considerada simplesmente como mais uma forma de visualização de imagens em três dimensões, mas sim como um processo de se codificar uma informação visual e depois (através do laser) descodificá-la, recriando "integralmente" esta mesma informação.
Há quase dez anos o fabuloso Alexander McQueen concebeu um holograma de Kate Moss. Num desfile, do nada, a imagem dela começou a formar-se, a rodopiar, presente, quase gente, e, de seguida, quando todos os que assistiam viam com fascínio a imagem daquela mulher que assim tinha nascido da luz, logo ela começou a desaparecer, imaterial, intangível, até ser nada, uns pontos de luz perdidos e, depois, a escuridão.
Dime por favor donde no estás
en qué lugar puedo no ser tu ausencia
dónde puedo vivir sin recordarte,
y dónde recordar, sin que me duela.
Dime por favor en que vacío,
no está tu sombra llenando los centros;
dónde mi soledad es ella misma,
y no el sentir que tú te encuentras lejos.
Dime por favor por qué camino,
podré yo caminar, sin ser tu huella;
dónde podré correr no por buscarte,
y dónde descanzar de mi tristeza.
Dime por favor cuál es la noche,
que no tiene el color de tu mirada;
cuál es el sol, que tiene luz tan solo,
y no la sensación de que me llamas.
Dime por favor donde hay un mar,
que no susurre a mis oídos tus palabras.
Dime por favor en qué rincón,
nadie podrá ver mi tristeza;
dime cuál es el hueco de mi almohada,
que no tiene apoyada tu cabeza.
Dime por favor cuál es la noche,
en que vendrás, para velar tu sueño;
que no puedo vivir, porque te extraño;
y que no puedo morir, porque te quiero.
Gustavo Alejandro Castiñeiras
E agora vou desaparecer, perder-me na noite, sair voando, desfazer-me na escuridão, deixar de parecer gente, deixar de ver a vossa alma através dos computadores, deixar de ouvir o bater do vosso coração através da noite.
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O poema, lindo e triste, é de Gustavo Alejandro Castiñeiras.
A exposição Savage Beauty com obras de Alexander McQueenque pode ser vista (desde 14 de Março) até de 2 de Agosto no Victoria and Albert Museum.
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Permitam que relembre que a seguir há mais dois posts, um para os que gostam da Carrie Bradshaw ou do Mr. Big, e outro para os que gostam das brincadeirolas do Núncio das campainhas VIP.
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira.
Acho que nunca ofereci nem recebi nada no dia de S. Valentim. E tenho ideia de que, por cá, a moda do Dia de S.Valentim é relativamente recente, mais uma das invenções importadas que têm por objectivo estimular o consumo.
Em contrapartida, desde um certo dia 10 de Dezembro até que um ano e pouco depois me casei, recebi todos os dias 10 de cada mês uma rosa.
Ele, moreno, tinha aquele ar de cristo (ou, à luz dos tempos correntes, de jihadista), cabelo escuro quase pelos ombros, barba espessa, e depois um certo ar freak e andar de desportista e, por contraste, aparecia com uma rosa para me oferecer e eu derretia-me e beijava-o ardentemente, estivesse onde estivesse, à frente de quem calhasse.
Quem assistia espantava-se com amor tão arrebatado de parte a parte.
No dia do meu casamento não quis bouquet, quis que fosse ele a trazer-me uma rosa.
Muitos anos depois encontrei uma colega de faculdade e pergunta-me ela: Olha lá, e ele ainda te oferece uma rosa todos os meses?
Rose by Georgia O'Keeffe
Achei graça como ela tinha guardado isso na memória.
Agora Dia dos Namorados? Não sei bem o que seja isso mas, como é bom namorar, acho que Dia dos Namorados devia era ser todo o santo dia. Namorar a sério, namorar de brincadeirinha, namorar para esconjurar a solidão, namorar para celebrar a comunhão de pontos de vista, namorar para adoçar os dias, namorar só por uma noite, namorar ao longo de anos, namorar para festejar a vida - tanto faz.
Por isso, o dia 14 ainda vem longe mas não faz mal, antecipa-se. Ou, então, faz de conta que estou a abrir caminho para os que querem celebrar à maneira e que podem inspirar-se aqui: decorem o poema, ponham o joelho em terra e digam-no com sentimento, ofereçam rosas, ofereçam beijos (e, claro, também podem oferecer um vestido couture como os que aqui mostro, o primeiro Chanel, o segundo Alexander McQueen).
E que sejam rosas vermelhas, carmins, cor de sangue - que essas, sim, são a cor da paixão, do amor.
(Rosinhas cor-de-rosa, brancas, amarelinhas, etc, são para outras circunstâncias e quem não saiba o significado da cor das rosas pode consultar aqui.)
No post abaixo falei de festas, convívios dançantes, malícias inocentes, Janis Joplin, Miss Dior e outros.
Mas isso é a seguir. Aqui, a conversa é completamente outra.
Devo confessar que tinha escrito um outro post cujo título era 'Quantas mais mortes tem que haver por falta de cuidados para que Paulo Macedo se demita? Quantos mais mortes têm que pesar na consciência de Passos Coelho para que ele se demita?' mas depois apaguei.
Há assuntos que me doem ao ponto de só me apetecer falar à bruta (mas mesmo muito à bruta). Contudo, a verdade é que acho que aquelas criaturas já só me merecem desprezo. Nem sequer raiva. Só desprezo.
Tenho um seguro de saúde que me permite recorrer à medicina privada e por isso não falo por mim. Quando me insurjo, falo por quem não tem seguro privado, não tem poupanças, não tem um bom ordenado, falo por quem morre por não ter dinheiro para pagar o tratamento, por quem está horas num corredor, ao frio, por vezes até à morte. Não falo sequer pelos meus pais que têm igualmente um seguro de saúde. Nem pelos meus filhos que felizmente também o têm. Falo por aqueles cujos pais ou filhos têm que se sujeitar ao tratamento desumano a que criaturas disfuncionais como Paulo Macedo, Maria Luís Albuquerque, Paulo Portas, Passos Coelho os obrigam e a que Cavaco Silva fecha os olhos.
Depois li que o BCE está a tirar o tapete à Grécia.
BCE deixa de aceitar dívida grega como garantia para financiar a banca do país
Há qualquer coisa de perverso nesta Europa. A UE e todos os seus organismos são uma criação das pessoas da Europa. O Banco Central Europeu é uma instituição que existe para defender a moeda e a saúde financeira dos países em que vivem pessoas. E, no entanto, as criaturas não se ensaiam nada para devorar os seus criadores, para aniquilar as pessoas para as quais deveriam trabalhar. Pode ser que isto seja uma medida de pressão, pode ser uma coisa que não seja para levar a sério e, sobretudo, pode não ter grande impacto directo, e não tem, mas tem efeito psicológico e é, de qualquer forma, uma pedrada na esperança e ofende o esforço hercúleo que os corajosos homens do Syriza estão a tentar levar a cabo para salvar o futuro da Grécia. Acredito que Varoufakis vai saber reagir em força e que Alexis vai saber suavizar o dislate mas, por coisas destas, se vê que esta Europa está a precisar de um abanão a valer.
Esta gente não se enxerga. As populações já não suportam esta forma mesquinha de tratar os povos. Têm sido estes estúpidos burocratas com as suas estúpidas reacções e aberrantes resoluções que têm trazido a instabilidade aos sacrossantos mercados e a fome e o retrocesso para os países abrindo a porta a movimentos xenófobos, racistas, perigosamente extremistas.
Não fosse o Um Jeito Manso um blogue de família e a ver se não rematava este assunto com uns palavrões a preceito. É que já só tenho vontade de os mandar para o raio que os parta mas com o valente vocabulário do Norte, caraças.
Mas também não quero falar nisto. Cansa-me e cansada já eu estou desta cambada toda. Já o disse aqui várias vezes. Não sou filiada em partido nenhum, nunca fui nem me vejo a seguir acefalamente o que quer que seja pois lealdade a princípios (que prezo) é uma coisa e fidelidade canina é outra e aí, santa paciência, mas não me apanham. A maior parte das vezes, nas legislativas, tenho votado no PS mas já votei de maneira diferente e assim o farei sempre que achar que há melhor alternativa. Seja como for, se agora apoio a luta das gentes do governo grego é porque me parecem mais do que justas e legítimas as suas pretensões e porque acredito que não é sangrando uma população até à penúria mais humilhante que se vai conseguir fazer alguma coisa por aquela gente. Por isso, não é por estarem significativamente à esquerda do partido no qual mais vezes votei que os vejo como uma ameaça. Têm mostrado patriotismo, argúcia, pragmatismo e coragem. E tomara que não verguem. Muitos Duartes Marques, Passos Coelhos e outras fracas figuras encontrarão certamente pelo caminho e o que desejo é que estes bravos gregos que agora por aí andam a tentar convencer os seus parceiros de que merecem ser ajudados não desmereçam quando encontrarem inesperados escolhos no seu caminho.
Mas não vou falar nisto.
Para verem do que me lembrei há bocado quando estava a tentar desviar a cabeça de tanta porcaria e miséria: fui à procura e encontrei o meu Tarot. É muito bonito este que aqui tenho, é o Tarô Da Vinci.
Sei que me repito mas, a quem veio aqui parar sem me conhecer, digo: sou dos números, dos modelos. Não vivo de fantasias nem me posso dar ao luxo de me deixar arrastar por rêveries. E sou agnóstica.
E, no entanto, a minha mente abre-se a toda a espécie de acasos, de inexplicações.
Agora andava esquecida do tarot mas sempre me pareceu tudo muito acertado. Como sou preguiçosa nunca me aperfeiçoei muito. Mas nem é por ser preguiçosa, é mais por achar que, sendo tanta coisa nesta vida um mero acaso e sendo a razoabilidade disto tão improvável, mais vale deixar estas coisas na base do improviso, do deixa lá ver.
Faço, pois, o mais simples.
Penso numa questão que gostava de ver esclarecida, mas penso mesmo concentrada, e depois parto o baralho, faço três montes, tiro a carta de cima de cada monte e disponho-as de uma certa maneira. Depois vou ao livro e interpreto.
Fiz isso a propósito de um certo assunto de índole pessoal (nada a ver com políticas). Concentrei-me mesmo enquanto pensava na dúvida, como se fizesse uma pergunta e a pergunta viesse do mais fundo de mim. Dispus as cartas e depois fui ler o significado delas naquelas posições - e, como sempre acontece, até me arrepiei, as coisas que aquilo me dizia, senhores. Estou a escrever isto e com vontade de parar para ir reler e prestar mais atenção porque, de tão incrível, li quase sobressaltada.
Não me perguntem se eu acho que há alguma explicação ou se é tudo maluqueira, metafísica, coincidência ou anormalidade da minha parte porque não sei responder. Mas que eu faço isto e obtenho respostas que me deixam estupefacta e arrepiada lá isso é verdade.
E agora vou mesmo parar por aqui pois há ali algumas coisas que me deixaram francamente intrigada, tenho que reler e tentar interpretar com mais calma. Mas, só de pensar, já estou a sentir um certo nervosismo. A sério.
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As imagens talvez não tenham muito a ver com o texto mas apeteceu-me tê-las aqui. São fotografias de vários fotógrafos muito cá de casa (Tim Walker, Mario Testino) e que eu apenas porque estou cheia, cheia, de sono não identifico e mostram criações de um grande da moda precocemente desaparecido. Se eu pudesse não perderia a exposição Alexander McQueen: Savage Beauty exhibition at the Victoria & Albert Museum.
A música é Joan of Arc interpretada por Jennifer Warnes & Leonard Cohen
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Relembro que a Miss Dior que ouve Janis Joplin vem já a seguir
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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa quinta-feira