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sábado, setembro 13, 2025

‘Uma escapadela secreta onde o verão perdura’: as viagens favoritas dos leitores do Guardian, em setembro, na Europa

 

Ao ver o título da notícia do Guardian (acima, no título), patriota como sou, fui logo ver se aparecia algum destino português. E sim, aparece. Fiquei contente. Mas fiquei admirada. Évora é uma cidade linda (e onde se come bem) mas, ainda assim, estava à espera de um lugar mais pitoresco ou mais desconhecido ou com uma oferta mais diversificada. No entanto, reconheço, é disparate meu, na volta até demonstro algum provincianismo ou alguma miopia.

O Alentejo banha-se em luz dourada até finais de Setembro e Outubro. A região estende-se desde florestas de sobreiros a praias selvagens do Atlântico, com temperaturas diurnas ainda a rondar os 20°C. Na cidade caiada de Évora, ruínas romanas e praças tranquilas convidam a um passeio tranquilo. Mais a oeste, a costa perto de Vila Nova de Milfontes oferece ondas quentes e areias quase desertas. O Alentejo é lânguido e soalheiro, um refúgio secreto onde o verão se prolonga e o tempo parece parar.
Autor do texto: Matthew Healy.
Autor da fotografia:  Praça do Giraldo, Évora. Fotógrafo: Philip Scalia/Alamy

Numa altura em que alguns dos meus amigos andam no laré por locais longínquos e enviam fotografias maravilhosas, eu sinto-me cada vez melhor no nosso país, e, em particular, em casa, seja na da cidade, por acaso perto do mar, seja na do campo, no meio do nada, rodeada de serras e de silêncio. 

No outro dia o meu marido estava a sugerir uma viagem e eu, que antes estava sempre numa de ir e que adorava planear, escolher hotéis, ir à aventura, agora penso sobretudo na maçada de fazer malas, na falta de conforto que representa a ausência dos nossos sítios tão bons, ou penso no déjà vu que já tudo me parece, quase como se já nada é verdadeiramente novidade. E quando, no meio deste comodismo, abro uma excepção e penso em ir visitar algum lugar, o que me ocorre é sair de manhã, irmos de carro, levarmos o nosso querido cãobeludo mais fofo, e regressarmos ao fim do dia. Quem me viu e quem me vê.

Mas depois, quando tento situar, no tempo, o momento em que comecei a desinteressar-me por ir viajar, localizo facilmente. Primeiro foi o meu sogro com uma doença grave que nos enchia de preocupação, que ia fazer tratamentos, que era preciso acompanhar, visitar, que nos fazia ter receio de nos ausentarmos. Depois, durante esse mesmo período, foi a minha sogra, também muito mal, internada durante bastante tempo, depois em casa, acamada, a precisar de cuidados permanentes. O que esse período nos trouxe a nível emocional e logístico não tem explicação. A seguir, durante esse mesmo período, foi o tremendo avc do meu pai. Aí a nossa vida complicou-se severamente. Eu e o meu marido cheios de trabalho, com responsabilidades que não podiam ser compatibilizadas com a ocupação que nos era requerida, e as preocupações a sucederem-se, umas atrás de outras. As férias passaram a ser apenas no país e fora de casa não mais que uma semana de seguida. E, ainda assim, íamos sempre com o credo na boca. Entretanto, morreu o meu sogro, algum tempo depois a minha sogra. Depois veio a covid, o confinamento, a morte do meu pai, e, quando já apenas sobrevivia a minha mãe, vieram os horríveis problemas com ela, que me iam levando a uma tremenda depressão tal a situação complexa que ela atravessou. Impossível afastar-me. Já lá vai um ano e picos que se foi, já poderia ter recuperado os meus velhos hábitos de nos pormos na alheta, de irmos passear e descobrir outras terras. Talvez um dia. Mas não sei.

Em retrospectiva, lembro-me de quando trabalhava, saindo de manhã e regressando ao fim do dia, os fins de semana sempre tão cheios de visitas e de mil compromissos, sempre sem tempo para usufruir tranquilamente da nossa casa. Agora consigo fazê-lo. Olho para as árvores, sento-me a ouvir os pássaros, rego, ocupo-me da casa, o meu marido ocupa-se com o jardim, lemos, cozinhamos, caminhamos. Tempos muito tranquilos. 


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Desejo-vos um bom sábado

sábado, junho 14, 2025

Conversa de vizinha


As televisões mostram ataques aéreos de Israel, do Irão. Os comentadores saltaram para os balcões para opinarem sobre a gravidade, sobre os objectivos, sobre os impactos. Mas a mim estas crises entre estes intervenientes deixam-me praticamente indiferente. Sei que é estranho mas é o que é. Não sei se é por ter memória de outros ataques, se é porque tudo isto me cansa porque me parece demasiado estúpido. Não sei. A mim parece-me que o único objectivo que interessa na estratégia dos países é o de atingir melhores índices de desenvolvimento, de justiça, de felicidade. Tudo o que seja invadir outros países ou atirar mísseis para cima de outros países parece-me uma aberração, uma coisa inexplicável.

Custa a compreender como ao longo de anos perduram guerras e guerrilhas, espionagens, provocações, ameaças, entre alguns países. Parecem aqueles vizinhos que disputam uma extrema, que se envolvem em discussões, por vezes mortais sobre a posição de um marco ou de uma vedação. Uma irracionalidade absurda, injustificável. Parece-me insultá-los, chamar-lhes burros, trogloditas. Não me apetece preocupar-me com gente assim.

Parece-me que apenas a paz, a cooperação, a livre circulação, a investigação científica orientada para a qualidade de vida e para a preservação do planeta fazem sentido.

Por isso, não vou falar no assunto.

Vou antes falar de algumas pessoas que, aos poucos, por estas bandas, temos vindo a conhecer.  

Quando eu vivia num prédio mal conhecia quem lá vivia. Também é verdade que trabalhava todo o dia. Mas cada um estava no seu apartamento. Lá calhava coincidirmos no elevador mas eram cumprimentos quase de circunstância que duravam até que o elevador parasse para que algum de nós saísse.

Aqui é diferente. As casas estão separadas por jardins e as pessoas também pouco se veem. Uns trabalham todo o dia, outros só veem a estas casas de vez em quando. Ainda assim, há pessoas com quem nos cruzamos quase diariamente e que cumprimentamos já com alguma familiaridade.

O senhor que cuida amorosamente do seu jardim é daqueles com quem mais simpatizo. Todo o seu jardim é um mimo, todo primorosamente arranjado. Não há uma folha caída, não há uma flor ou uma folha seca. E há caminhos de pedrinhas, há vasos harmoniosamente dispostos. Todas as manhãs vai comprar qualquer coisa ao minimercado, presumo que pão ou fruta ou legumes, e vai à papelaria comprar o jornal. Nunca vi a mulher mas o meu marido diz que já a viu algumas vezes, inclusivamente que no outro dia nos cruzámos com eles no supermercado. Devo passar por malcriada porque parece que não reconheço as pessoas quando as vejo fora do local onde as vejo habitualmente. E, como sou míope, para não me pôr a olhar fixamente para as pessoas para ver se conheço ou não, desabituei-me de olhar com atenção. Por isso, não vejo o que o meu marido vê.

Hoje também passou por nós uma ciclista que nos cumprimentou com uma familiaridade que só poderia ser de quem já nos conhecia. A voz não nos foi estranha. Era lusco-fusco e ela ia de capacete. pareceu-nos que entrou para uma certa casa. Se for, ficamos admirados. Naquela casa morava um casal um bocado hippie, ele mais que ela. Aliás, ele é um bocado estranho. Não cumprimenta, passa sempre na dele. Mas ela era uma simpatia. Víamo-lo muito a passear um grande cão. Falava-nos muito bem, muito simpática. Depois desapareceu. Há bem mais de um ano que não a víamos. Pensávamos que se tinha fartado de aturar aquele antipático. Pois hoje pareceu-nos que era ela. 

Também estamos sem saber o que aconteceu a um senhor de idade. Todos os dias, ele e a mulher iam de braço dado até ao café. Tenho ideia que muitas vezes almoçavam por lá e por lá ficavam durante a tarde na conversa com outras pessoas, a senhora a ler o jornal. A senhora cumprimentava-nos com muita simpatia. O marido, quando via a mulher a cumprimentar-nos, também nos cumprimentava. Tínhamos a impressão que o senhor estaria a ficar com alguma demência pois parecia cada vez mais ausente e com mais dificuldade de autonomia no andar. Nunca mais os vimos. No outro dia, vimos a senhora no jardim, só ela. Estava a regar os vasos. Como estava lá mais para o fundo, não deu para perguntar pelo marido. Mas também receamos que a resposta fosse triste.

Depois há uma casa aqui perto de nós. Cumprimentamo-nos muito amistosamente. O meu marido é que os conhece bem. Eu, se os vir fora do contexto, não os reconhecerei de certeza. Há o homem, a mulher, pelo menos uma filha e um filho. Mas a mulher é igual à filha e há o que pensamos ser a namorada do filho e o que pensamos ser o namorado da filha. E há o que pensamos serem amigos do filho e da filha. Ou seja, há sempre um entra e sai de jovens. Mas também pode ser a dona da casa e eu confundi-la com a filha. O único que é mais ou menos inequívoco é o homem.

Sobre os vizinhos de uma das casas ao lado da nossa nem sei que diga. Falo deles no livro 'Um ordenado paraíso'. 

Não conseguimos perceber a dinâmica desta casa nem conseguimos compreender estes personagens. Já aqui viveram diversas pessoas e, de cada vez, é um mistério absoluto. Grande parte do que descrevo no livro é verídico. Há uma mulher, em particular, que quase parece filha do homem, que por vezes parece a empregada dele, outras vezes parece a patroa, e não conseguimos perceber se é brasileira, se é portuguesa, pois tanto fala um brasileiro cerrado como um português de gema. Tudo o que se passa nessa casa vai para além do nosso entendimento. Acredito que um dia ainda hei de escrever outro livro sobre esta casa -- logo que consiga desvendar o verdadeiro mistério. Porque há mistério, lá disso não tenho dúvida. 

Bem. É tarde. Estão os israelitas e os iranianos às turras e estou nisto, a fofocar sobre os vizinhos. Não se faz.

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Um bom sábado

sábado, maio 10, 2025

Em dia de cenas variadas e de animada conversa política com dois sportinguistas de gema

 

Andamos às voltas com equipamentos de aquecimento que faziam (e fazem) parte da casa. O filho dos ex-donos é um engenheiro que não é daqueles teóricos, é todo do tipo engenhocas. E, do que percebi, quando jovem (e ainda é jovem) terá pensado formar uma empresa e, talvez para se treinar (ou para facturar, não sei), foi montando coisas em casa dos pais. Tudo do bom e do melhor, verdade seja dito, mas nada standard, nada documentado, tudo de uma redundância e complexidade tais que ainda não desencantámos quem aqui chegue e perceba o que vê.

Tudo estaria bem se o jovem, por sinal super prestável e simpático, se tivesse mantido no 'ramo' e pudesse dar assistência. Mas não, já não está nessa. E também já não se lembra. Já comprámos a casa há quase 5 anos e a montagem de toda esta incrível traquitana deve ter acontecido bastante antes. Portanto, é natural que não se lembre.

E o que acontece é que vem um e vem outro e olham para isto tudo, equipamentos, bombas, manómetros, termómetros, tubos em todas as direcções, e ficam sem saber onde mexer. Pior, com medo de mexerem. 

No outro dia, já esta semana, veio um senhor simpaticíssimo, aumentou a pressão, purgou, injectou um líquido, fez lá o que entendeu... e o problema principal manteve-se. Hoje regressou e, depois de andar às aranhas durante não sei quanto tempo, resolveu mexer numa válvula que está num outro local e que, aparentemente, nem tem a ver com este filme... e, como por magia, o problema resolveu-se. Mas nem ele soube explicar nem eu consegui perceber. E fico com a sensação que foi uma solução um bocado às três pancadas pois resolveu-se agora mas, no inverno, quando ligarmos outro equipamento, ficaremos com outro problema. Mas, pronto, agora parece que está e só posso dar-me por contente.

O meu filho sempre disse que uma coisa tão extraordinária e tão complexa em vez de um activo, de uma mais-valia, pode tornar-se num passivo, uma dor de cabeça. Vários técnicos que cá têm vindo têm dito que, por eles, acabavam com tudo e montavam uma coisa simples. Mas quando se fala na possibilidade de o fazerem, fazem marcha atrás pois o desmontar tudo o que para ali está parece ser, em si, também bastante complexo.

Como sou curiosa, para tentar descortinar o funcionamento daquela parafernália, já recorri ao chatgpt, mostrando fotografias. Elogiou bastante o sistema e fez uma série de recomendações que igualmente não compreendi.

Tirando este tema que esta sexta-feira de manhã nos obrigou a andar de um lado para o outro, a abrir portões para passar equipamento, depois ir buscar uma escada para ir ao telhado, depois uma mangueira para juntar água ao produto, depois desligar uma coisa no sótão, depois ir ver outra coisa não sei onde -- isto dividido entre mim e o meu marido depois de termos o cão devidamente isolado, o cujo ladra freneticamente  -- hoje fomos almoçar com dois dos meninos. 

Depois fomos ver se comprávamos um corta-sebes telescópico mas que, afinal, só por encomenda. Aproveitámos ainda para ir a outra loja pois o meu marido queria comprar uma daquelas mantas térmicas de emergência. Claro que aproveitei para trazer umas coisitas para mim. Antes comprava roupa que desse para o trabalho e para situações equivalentes a nível de exigência. E o que agora verifico é que me faltam peças simples, nomeadamente para usar no ginásio. Por isso, trouxe duas blusinhas daquele tecido muito fininho e com buraquinhos que deve ser para arejar. E uns calções também de tecido maleável, meio curtos mas não shortinhos. Vim de lá bem contente com os materiais -- imagino que se lavem bem e sequem ainda melhor, obviamente sem precisarem de ser engomados -- e com as cores e os feitios.

Devo também dizer que já há caracóis (cozinhados) à venda. Por isso, ao jantar, para além da sopinha, comi caracóis. Não me pareceram excepcionais mas creio que o problema estava na cozedura, parece que estavam um bocado mal cozidos. Mas, ainda assim, bastante razoáveis.

Claro que tudo isto, dito assim, parece que nada vale muito. Mas vale. Ao almoço, estivemos a conversar sobre profissões e sobre política, incluindo a questão dos impostos e das contribuições sociais. E gostei imenso. Os manos são muito diferentes: um mais liberal, mais puxando ao pai, outro com uma consciência social apurada, mais na linha da mãe. Ouvi-los a argumentar, a forma como se rebatiam, se chamavam mutuamente a atenção para alguns aspetos, foi uma agradável surpresa. Um tem dezasseis anos, outro catorze recém feitos, e a forma ponderada, abrangente, como o mais novo, ainda tão novinho, falou sobre estes temas, deixou-me com vontade de o encher de beijinhos. E ao mais velho, tão impulsivo, com uma tal verve argumentativa, também. Meus ricos meninos. Dois futebolistas, além disso. Sportinguistas, claro -- em stress pelo jogo, já a fazerem figas para irem festejar para o Marquês.

E agora não vem muito a propósito mas vi este vídeo e gostei imenso, imenso. E, portanto, aqui está.

Teenager Forced To KILL Friend: Shocking Story from Stranger's Past


Um bom sábado

quinta-feira, dezembro 26, 2024

O almoço de natal - menu e receitas

 

Estou a ver se não adormeço... Vou ver se consigo manter-me acordada para contar o que foi o almoço de Natal.

Prato de peixe

Como os meninos nunca querem comer peixe no dia de Natal, nomeadamente bacalhau, lembrei-me de inventar qualquer coisa que fosse mais apelativa para eles.

Trouxas de Bacalhau:

Cozi batata doce roxa (que fica negra como breu quando coze e que é deliciosa), batata roxa normal, ovos, couve Pak Choi, bacalhau.

Depois de tudo cozido, tirei as espinhas ao bacalhau, descasquei os ovos, esmaguei tudo com garfo. Numa frigideira, fritei em azeite cebola com uma folha de louro. Quando estava frita, retirei a cebola e o louro e envolvi o puré. Depois temperei com salsa picada e pus um puco de sumo de limão. Envolvi.

Tinha massa folhada rectangular, comprada. Cortei cada rectângulo em quadrados pequenos, talvez de 10 cm de lado. Em cada quadrado pus uma colherada generosa do puré. Fechei a trouxinha. 

Num tabuleiro coloquei azeite e mel. Rebolei lá as trouxinhas. Depois polvilhei bastamente cada uma com sementes de sésamo e sementes de chia.

Rolinhos de salmão

Cozi batata doce cor de laranja, ovo, lombo de salmão. Depois esmaguei tudo e temperei com azeite e limão.

Cortei os rectângulos de massa folhada em rectângulos. Em cada pequeno rectângulo coloquei uma colherada de puré e enrolei. 

Fiz a mesma coisa que às trouxas. Envolvi-as em azeite e mel e polvilhei com as sementes de sésamo e chia.

Entretanto, tinha o forno a aquecer. Com o forno a 170º, introduzi as trouxinhas e os rolinhos. 

Quando estavam tostadinhas, estavam prontas.

Foram servidas com salada de alface e quase funcionou como uma entrada.

Prato de carne

Para carne: Perna de borrego, um peito/entrecosto de borrego, uma peça de entrecosto alto de porco. E uma morcela de arroz e uma alheira.

De véspera preparei uma marinada com cerveja, alhos, pó de pimentão doce, orégãos, tomilho, alecrim, sal, azeite. Num tabuleiro temperei a perna e num outro a peça de entrecosto de porco. Não temperei de véspera o entrecosto de borrego pois, como era baixo, poderia ficar excessivamente impregnado.

Rebolei cada peça na marinada. cada peça tinha levado uns golpes para ficar mais saboroso e para assar melhor. Tapei cada tabuleiro com papel de alumínio e coloquei no frigorífico.

Ontem quando chegámos a casa, seria uma e tal da manhã, o meu marido colocou lenha de azinho no forno de lenha. Como se levanta cedo, lá para as sete e tal, já o forno estava mais ou menos quente, colocou mais lenha para se formar mais fogo e aumentar o calor. E tirou os tabuleiros do frigorífico pois, segundo o meu filho, grande mentor destas incursões gastronómicas, a carne não deveria entrar muito fria no forno.

De manhã, escorri o caldo da marinada para que o sabor não se impusesse demasiado. Temperos puxados não são connosco. 

No tabuleiro maior, coloquei legumes: cebolas grandes, um grande alho francês cortado em bocados, uma beringela, com casca, aberta ao meio, courgettes, cenouras, abóbora em cubos, um ramo de salsa, duas couves pak choi. Ficou completamente cheio. Polvilhei com um pouco de sal. Em cima dessa fofa cama, coloquei a grande perna de borrego.

No outro tabuleiro, também a marinada escorrida, coloquei uma grelha. E a peça de entrecosto ficou alto, na grelha. Cobri ambos com papel de alumínio.

La para as dez e tal, o meu marido empurrou as brasas para o canto e colocou os tabuleiros. 

(Nestes dias é tal a azáfama que não me ocorre fotografar. E depois, quando chegam, é a confusão de sempre e a alegria das trocas de presentes. E, às tantas, já está tudo esfomeado. E, portanto, nunca consigo ter a reportagem do making of nem sequer fotografias do produto final. Por isso, coloco aqui apenas a fotografia da lareira. Lá em cima, a arvorezinha das luzinhas que está por cima. E foi porque a minha filha felizmente fotografou a troca de presentes e o ambiente e eu agora repesquei estas pois, assim como assim, sempre dão alguma cor ao post)

Continuando...

Acompanhamentos

Arroz de forno

Entretanto, numa panela cozi uma perna de frango e um osso de vaca, uma grande cebola, um alho francês, salsa. Sem sal e já explico porquê. A água era o triplo do arroz que ia fazer.

Quando estava tudo cozido, retirei o osso de vaca que era destinado ao cão, para estar entretido. 

Depois desossei a perna de frango e escorri o caldo.

No caldo acima descrito, juntei uns mini-cubinhos de bacon, uns bocadinhos de chouriço de carne alentejana e um pouco de sal. Quando ferveu, juntei o arroz. Antes que estivesse pronto, retirei, coloquei num tabuleiro, cobri com mais cubinhos de bacon e chouriço às rodelas. Um pouco antes de irmos almoçar, foi para o forno de lenha. Nessa altura, em assadores de barro, a morcela de arroz e a alheira foram também para o forno, para estarem na mesa como entrada.

Batatinhas de forno

Cozi, com pele, batatinhas das pequeninas. Quando estavam quase, escorri e coloquei num tabuleiro Temperei com bacon aos cubinhos, sempre pouco, só para dar sabor, um pouco de orégãos e alecrim e azeite. E foi para o forno, neste caso para o forno da cozinha.

Empada de galinha

(Extra)

Foi um extra de última hora. 

Tinha-me sobrado quase um rectângulo de massa folhada fresca. Então, juntei os legumes da cozedura para o caldo do arroz e a carne de galinha desossada, coloquei um pouco de sal, um pouco de hortelã, misturei tudo com um garfo. Coloquei na massa folhada e fechei o rectângulo. Pincelei também com azeite e mel e também coloquei sementes. Ficou uma empada de galinha que também foi aprecada.

Volto às carnes de forno

A meio do processo de confecção, tirámos os tabuleiros para virar a carne ao contrário, voltando a ir para lá. Pincelei com o caldo da marinada e com azeite e mel. 

O processo foi monitorizado. Estaria pronto quando o interior da carne chegasse aos 70º. E só o ficou lá para as 13:30 ou talvez um pouco mais. Ou seja, cerca de 3 horas.

Esqueci-me de falar no entrecosto de borrego. Só foi para o forno já mais para o fim. 

Devo dizer que foi tudo apreciado. 

Sobremesas

Para sobremesa, eu e o meu marido fizemos um doce de abóbora e queijo cottage mas não seguimos exactamente a receita pelo que não ficou extraordinário. Por isso, não o descrevo. Se voltarmos a fazê-lo e resultar bem, depois conto.

A minha filha trouxe um bolo de iogurte que fez com cobertura de chocolate que ficou mesmo bom, um bolo-rei dito da Versalhes (passe a publicidade) e um bolo de limão estrela de natal da Padaria Portuguesa (passe também a publicidade). A minha nora trouxe arroz-doce, sempre uma delícia, umas rabanadas muito boas que fez com a mãe e com a minha neta (mulheres de armas, que dão belas sovas na massa) e ainda bolo-rei. E tinha também doces de ovos e bombons. E, como fruta, um prato com dióspiros às rodelas em volta, com centro de uvas.

Também havia queijos mas, para dizer a verdade, nem lhes toquei...

Vinhos

Aqui receio errar pois é pelouro do meu marido e, sinceramente, não prestei bem atenção. Só bebi o tinto e era muito bom. Tenho ideia que o branco era Burmester e que o tinto era Reguengos Reserva mas se calhar devia confirmar e ser mais específica mas agora não consigo, ele já se retirou. Ainda por cima tem andado um bocado constipado e à noite fica cheio de tosse.

Para quem não bebeu vinho, também havia Pleno (creio que de chá verde e limão) e água....

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E agora já estamos a pensar no repasto para o dia de Ano Novo. E já há algumas sugestões no ar e parecem-me bem. Depois conto. 

Chateia-me um bocado fazer comida só para nós os dois mas adoro fazer comida para muita gente. A rotina maça-me. O que gosto é de confusão, de estar sob stress e de improvisar.

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Claro que, quer antes, quer agora, não consigo deixar de pensar na minha mãe que no ano passado, por esta altura, estava tão mal, internada, com os médicos a dizerem-nos que a situação era terminal, que poderia ir-se de um momento para o outro. Naquela altura, não só a aflição de vê-la tão mal como a inquietação e perturbação por termos descoberto que ela estava tão mal quando já não havia nada a fazer, deixavam-me de rastos. 

Mas a vida é assim mesmo: efémera. Chega a uma altura em que, para uns, se acaba. São lugares comuns, mas é o que é. 

Mas a vida continua para quem cá está. Os miúdos estão felizes da vida, a sua alegria preenche todos os espaços. E o ambiente é harmonioso, afável, todos numa boa onda. Neste nosso primeiro Natal sem ela, hoje não se falou na sua ausência, mas sei que todos, ou quase todos, pensámos na tristeza que foi a sua partida. Mas há que aceitar que não há nada a fazer. A vida continua. E que continue bem e que seja bondosa para todos e que nós, os que estamos cá, saibamos apreciá-la, honrá-la, e saibamos sentir-nos agradecidos por tudo o que ela nos dá. Mesmo que, por vezes, seja ingrata.

E, pronto, já chega de conversa, estou cansada, com sono.

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E dias felizes para todos

segunda-feira, dezembro 16, 2024

Uma questão de ménage

 

Vou tendo notícias dos meus amigos e vou constatando o óbvio. E só não digo o óbvio ululante porque prefiro não me esticar no vocabulário. Vou manter-me comezinha. E não é que goste particularmente de me ver aqui comezinha mas foi o que me ocorreu. E o óbvio que vou constatando é que hoje é um que tem uma coisa, depois é outro de quem andávamos sem saber e que, afinal, teve uma cena e está internado, num outro dia é uma que é operada às cataratas, e depois é alguém que conta que vai começar a fazer tratamentos. E já nem falo na tristeza que é quando a gente se lembra de alguém de quem já não sabe há algum tempo e aparece alguém que diz, com ar compungido que essa pessoa, infelizmente, já cá não está. Pois é. Não vamos todos chegar aos 120 nem vamos todos de viagem no mesmo dia. Haveremos de ir aos poucos. Mas, felizmente, a maioria ainda está na boa. Mas isto de estar na 'boa' é relativo pois a verdade é que quando não dói aqui, dói ali. Claro que há dias em que não dói nada. Ou, então, dói um bocadinho e a gente cagua nisso (calma, comezinha me mantenho: educadamente interpus um u entre o g e o a -- ah, que sopinha de letras mais gira...).

Como hoje andava a doer-me um bocado o pé, o meu filho disse que eu deveria era fazer mais exercício, que cada vez lê em mais sítios que a massa muscular é fundamental. Não tenho ido fazer deep mix pois estou cada vez mais avessa a compromissos e a horários. Mas, se calhar, tenho que fazer mais do que caminhadas. A lida da casa não é suficiente para não perder massa muscular. 

E, agora que falo em lida da casa, fico a pensar em que mais é que poderei fazer que me fortaleça os músculos. Uma das coisas que me parece que é boa para os braços é varrer. E com aquela coisa que não é ancinho mas que também não é vassoura, raspo a terra onde a relva seca, e isso requer força. E ando com regadores de água. E gosto de lavar coisas. Mas passar a ferro, que também deve dar músculo, praticamente é coisa que já não se pratica cá em casa. E limpar o pó odeio. Mas isso não deve fazer nada à massa muscular. Andar a lavar casas de banho, o chão, roupa, tudo isso é bom para mim. Mas peçam-me para limpar o pó e fico doente. É que para limpar o pó sou meticulosa, reentrância a reentrância, por baixo, por trás, as pernas das cadeiras, das mesas, as traves. Tudo, coisinha a coisinha. E, por isso, levo horas. E odeio, odeio gastar horas de vida com uma tarefa tão sem graça.

Talvez por isso, quando chego a qualquer lado, uma das coisas em que reparo é se é fácil de limpar. No verão estive na casa de uma amiga onde ainda não tinha ido. Estupidamente em vez de louvar a graça dos objectos, o ambiente acolhedor ou a beleza das pinturas, o que me saiu foi: 'Limpar esta tua casa deve ser uma trabalheira...'. Ela riu-se. Acho que nunca tinha pensado nisso. Respondeu: 'Não sei, é a minha empregada que trata de tudo. Desde que me reformei só lhe peço é que não ande com os tarecos à volta enquanto eu estiver a dormir.'

Por exemplo, ao ver a casa aqui abaixo, sem dúvida uma casa fantástica, ainda por cima principescamente decorada para esta época festiva, o que penso é que é casa em que eu não poderia viver: ou teria que andar lá sempre gente a cirandar e a limpar ou, então, aquilo deveria estar sempre carregadinho de pó.

Mas vejam. E inspirem-se.

Inside Richard E. Grant’s Georgian House at Christmas | Design Notes

Richard E. Grant welcomes us into his London home at Christmas. Filled with an abundance of treasures, Richard’s house sits within a walled garden littered with the dark foliage of evergreen topiary and ivy-clad trees, all providing an atmospheric backdrop for the attractive façade of his Georgian house.

“It looks like something that, I suppose, I have fantasised about living in since I was a little boy,” says the Saltburn actor as he sits in the drawing room of his rectory. Watch the full episode of ‘Design Notes’ as we tour Richard E. Grant’s house in Richmond, which has been given a maximalist boost of lavish Christmas decorations for the festive season.


E uma boa semana para todos

quinta-feira, outubro 24, 2024

Ah que bom poder estar em casa, descansada...

 

Já aqui falei nisso muitas vezes: casei-me com vinte anos. Estudava (ia às aulas, fazia trabalhos, tinha exames) em metade do dia e, na outra metade, dava aulas. 

Depois fui trabalhar para uma empresa. Usava diversos transportes públicos e, numa parte do percurso, uma carrinha da empresa. Saía de casa às sete e picos da manhã e chegava às sete e tal da tarde e, como coincidiu com o inverno, já era de noite. Entretanto engravidei. E ali andava eu. E até aproveitava um dos transportes para fazer rosetas de lã em crochet para fazer mantinhas para o berço. 

Depois nasceu a minha filha. Mudei de local de trabalho mas continuei a usar diversos transportes, aliás ainda mais, pois, antes de ir trabalhar, ia deixar a bebé a casa da minha sogra. E ao fim do dia a mesma coisa. Com ela ao colo, com sacos, em eléctricos, em autocarros. O meu marido estava na altura na Marinha e não conseguia andar ele a levar a nossa filha. Além do mais, eu amamentei-a até tarde. Ou seja, dava-lhe de mamar antes de ir trabalhar e, à tarde, mal chegava a casa da minha sogra, dava-lhe outra vez de mamar.

E logo a seguir engravidei do meu filho e aí levava-o a ele, levava-a a ela ao colégio. Felizmente (felizmente, neste sentido), entretanto o meu marido já estava a trabalhar numa empresa e já conseguia participar nesta logística, aliviando-me um pouco.

Nessa altura comecei a ter muito mais trabalho, com muitas reuniões, indo de vez em quando para fora de Lisboa e, por vezes, para fora do País.

Ou seja, não conseguia ter tempo de qualidade em casa.

Nessa altura os nossos filhos ainda não namoravam nem tinham os seus próprios compromissos, salvo algumas festas de anos ou práticas desportivas. Por isso, tínhamos margem para, ao fim de semana, combinar almoçaradas, picnics e passeios com amigos. E tínhamos também que visitar a família. Nessa altura ainda estavam todos vivos. Por isso, nem ao fim de semana eu conseguia estar calmamente em casa.

Quando vinham as férias, e geralmente nunca conseguíamos ter mais que três semanas, íamos sempre pelo menos uma semana para o Algarve, outra semana íamos passear e lá conseguíamos estar cerca de uma semana em casa para ir à praia por cá. Quando eu pensava o que queria fazer nas férias, o que eu gostaria mesmo era de ficar em casa, Mas, claro, em especial com crianças pequenas ou adolescentes, fazer praia era fundamental. Além disso, também gostava de passear.

E depois arranjámos a casa no campo e, por isso, os fins de semana passaram a ser lá mas era uma logística complicada, carregados de comida e toda a espécie de tralha. E havia obras, andávamos a plantar arvores, a família também ia muito lá.

Depois veio o tempo da velhice e das doenças dos pais de ambos, o que nos exigia visitas, trabalhos, fazer compras e ir lá levar, etc. 

Até ao fim (salvo os tempos do confinamento e do teletrabalho) diariamente saía cedo de casa e chegava ao fim do dia. Horas e horas de trabalho, rematadas e iniciadas com horas de trânsito. 

Quando estava a aproximar-se o tempo de nos reformarmos, o meu maior sonho era poder ficar em casa sossegada. 

Contudo, mal me reformei, tive um problema num joelho que me obrigou a exames e tratamentos, depois veio a Covid e o sono que nos trouxe, depois vieram as crises da minha mãe, estando duas vezes internada, depois veio aquele período em que eu julgava que ela andava constantemente com crises de hipocondria e várias vezes fui com ela para o hospital passando lá a noite inteira à espera. O desfecho foi o que eu não esperava, ao descobrir que, afinal, estava mesmo doente e de forma terminal. 

A seguir veio o calvário de esvaziar a sua casa.

Portanto, só recentemente me vi com disponibilidade para ficar em casa sem encargos, sem afazeres, sem preocupações. De vez em quando sinto que o meu corpo e a minha mente ainda não aprenderam esta nova realidade pois parece que ainda receio que venha alguma má notícia, parece que ainda receio afastar-me muito pois 'pode acontecer alguma coisa'. Mas, finalmente, começo a usar os meus dias para fazer aquilo de que gosto.

Por exemplo, hoje, depois do pequeno almoço, pus-me 'à verão' e fui sentar-me ao sol. Levei um chapéu e um livro. Ouvia os passarinhos enquanto lia. Uma maravilha. Entretanto, o meu marido foi desbastar um bocado de uma sebe para podermos ter mais sol no sítio onde eu estava. 

Depois fomos ao supermercado, ele foi comprar uns jeans e trouxemos o almoço de lá.

Aqui já em casa, almoçámos e fui outra vez sentar-me ao sol a ler. Depois vim para casa, estive a fazer coisas que devia. Mas tudo tranquilamente, na boa, sem pressas, sem stresses. 

Ao fim da tarde, a temperatura amena, a luz muito dourada, os passarinhos a esvoaçarem junto a mim, o cão sentado ao meu lado, pensei que finalmente, ao fim de tanto e tanto tempo, posso usar descansadamente a minha casa.

E é tão bom, tão, tão bom. Sinto-me feliz, agradecida.


quinta-feira, setembro 05, 2024

A teoria do caos em palavras simples, palavras ao alcance de qualquer borboleta

 

O meu marido lesionou-se, anda a fazer fisioterapia. Tanto serra, tanto poda, tanto carrega que o ombro deu de si. Poderia ter paciência para fazer o que qualquer pessoa faz: ficar quieto, pôr gelo. Não tem. Mas de tarde pôs-se a ver um filme qualquer na Netflix e a seguir pôs-se a ler. Pensei que estava a levar a sério a recomendação de alguma contenção.

Entretanto, ao fim da tarde, quase noitinha, fui regar umas zonas não abrangidas pelo sistema de rega bem como vasos. Quando regressei, estava o pátio cheio de ramos e de folhas e andava ele com um serrote com um cabo de uns dois metros a cortar os rebentos ladrões da buganvília, uns ramos gigantes que crescem espetados em direcção ao céu. 

Entretanto anoiteceu, ficámos ali, já de luz acesa, a varrer e a limpar as mesas, as cadeiras, estava tudo cheio de flores e folhas, ele a juntar os ramos. Depois ainda fui regar outros vasos. Gostei de andar por ali nestas andanças já de noite.

O cão mais fofo também estava feliz, andava a brincar em nossa volta.

Tirando isso, posso acrescentar que estive a ler um livro do Paolo Cognetti, 'Sem nunca chegar ao fim'. Foi a minha filha que me empestou. Infelizmente já não foi traduzido pelo Pedro Tamen, que trazia uma sensibilidade poética muito especial aos livros anteriormente publicados em Portugal. Mas, ainda assim, é um livro sereno, um daqueles livros que me trazem prazer. Não há aventuras escaldantes, crimes inexplicáveis, dramas de caixão à cova. Há a descrição de uma caminhada na montanha. E eu acho isso maravilhoso.

Pelo meio, estive a escrever. Tinha uma ideia em mente mas, nestas coisas, as palavras têm vida própria. E estão a levar-me por outros caminhos. Quando acabei fiquei de olhos fechados a pensar: 'Para onde é que estou a ser levada?'. 

Há uma dose grande de imprevisibilidade nisto tudo.

Por exemplo, na minha vida recente aconteceu uma coisa completamente improvável. Aliás, uma sucessão de coisas absolutamente improváveis. Não só improváveis como, até, inexplicáveis. E nem vale a pena eu tentar compreender pois são eventos alheios que escapam totalmente ao meu controlo. O que sei é que, face a isso, estou agora metida em trabalhos em que até há duas semanas nem pensava. O que esteve na origem de tudo não consigo nem imaginar. Se fosse ficção, eu acharia inverosímil. 

É aquilo de que o bater de asas de uma borboleta aqui pode provocar um tufão no outro lado do mundo.

A simple guide to chaos theory - BBC World Service

According to classical physics and the laws of Isaac Newton, it should be easy to predict the behaviour of objects throughout the universe with relative ease.

But in 1961, a meteorologist unwittingly discovered this was not the case – that there was a lot more uncertainty around us. Here's how chaos theory and its butterfly effect, has changed the way we think about our Universe.


Dias felizes

domingo, setembro 01, 2024

A consciência das plantas

 

Já contei que muitas das flores, das árvores, das trepadeiras e das sebes deste meu jardim já existiam quando para cá viemos morar, há sensivelmente quatro anos. E, não sei por que artes mágicas, tudo desatou a crescer de forma algo exuberante. Não é apenas a antiga dona da casa que fica espantada quando cá vem, sou também eu que, ao ver fotografias dessa altura, fico admirada. Quase parece outro jardim.

Ela tinha feito cursos de jardinagem e andava em cima do jardineiro para que ele se aplicasse segundo os ensinamentos que ela tinha adquirido e, mesmo sem ele, ela era super cuidadosa. Sabia quando e como podar cada variedade, quando e como adubar flores e árvores.

Nós aqui somos diferentes. Empíricos. Eu, em especial, sou sobretudo intuitiva e, muito acima de tudo, tenho um respeito absoluto pelas plantas. Podo o que acho que é de podar e não toco no que acho que deve ser deixado por si ou que pode ser ajeitado a bem, sem amputar.

Tudo se desenvolve, tudo floresce. O meu marido acha demais. O meu filho, no outro dia, uniu-se ao pai, dizendo que, pelo menos o que está na passagem, deveria ser cortado. Sendo bastante alto, andava com a cabeça a roçar nas folhagens ou tinha que andar às voltas para se desviar. O meu marido sentiu que tinha claque e sentiu-se vitorioso. Acabei por ceder: só o que estava na passagem... Claro que, mal virei costas, o meu marido se esticou e foi mais além. Mas não ficou mal pelo que deixei passar...

Mesmo a árvore borboleteira que há uma meia dúzia de meses recebi de presente, uma coisinha mínima num vasinho, está enorme, florida, preparada para vir a ser um belo exemplar. Vou encaminhando, prendendo a estacas, cortando derivações desnecessárias, olhando, com encantamento, o milagre do crescimento.

No outro dia, uma conhecida, ao ver a suculenta que tenho à porta, disse-me que, há tempos, disse a uma amiga que acha que aquela variedade aprecia é que não lhe liguem muito pois nunca viu nenhuma como a minha e acha que eu não lhe presto atenção. Mas presto. Presto é não querendo mudá-la. E ela desenvolve-se como quer, majestosa, delicada. No outro dia, uma parte dessa planta partiu-se. Tive muita pena mas depois pensei que não ia perder aquela parte da flor. Coloquei-a na terra, num outro vaso. Pegou e desatou a desenvolver-se de forma exuberante. Até tive que passar uma fita por ela para a prender a uma armação de madeira que está ao pé para que, por terra, não se parta também.

O meu marido é o meu oposto: se vir um ramo partido, deita-o fora, não lhe passa pela cabeça espetá-lo na terra a ver se dali algo renasce.

Já falei disso muitas vezes: ele gosta mesmo é de cortar, se possível a eito. Mas já não é como era antes, está ligeiramente mais cuidadoso e, quando acha que a coisa requer tratamento de choque, geralmente já me consulta antes de fazer coisas graves e irreversíveis. Infelizmente nem sempre o faz. Ainda no outro dia, no campo, de roçadora em punho, coisa que me aterroriza, deu cabo de um medronheiro que despontava e cujo crescimento eu observava com carinho. Fiquei para morrer. E o nosso casamento só não acabou pois, in extremis, resolvi dar-lhe mais uma oportunidade.

Hoje andou encavalitado num escadote antigo e periclitante, mas que é muito alto, a cortar os ramos do chorão que estavam em cima do telhado e a podar ramos de glicínia, que cresce a um ritmo vertiginoso e que galga para cima do telhado de forma galopante. Fica lindo, em especial quando se cobre de cachos de florzinhas delicadas e lindas, mas, neste caso, percebo a necessidade dos cortes pois é muito verdade que, à velocidade a que aqui tudo se desenvolve, se não tentamos refrear algumas destas plantas, quando dermos por ela, a casa está tapada por vegetação. E, no caso dos telhados, é tramado pois pode levantar as telhas e depois entra água em casa.

Uma vez li um livro sobre um jardineiro e adorei. Também vi um filme, aliás, dois, e também adorei. É uma profissão que, quando exercida com desvelo e amor, é maravilhosa.

Aprendemos que as plantas não têm cabeça, que não têm tino. Há muito quem ache que a nível de intelecto ou de emoções são abaixo de calhaus.

Como também tenho muito respeito por pedras, não me revejo nesse desdém.

Mas não sei nada de botânica para poder ajuizar se as plantas sabem o que querem, se demonstram o seu querer e o seu bem-estar ou as suas afinidades através da forma como se desenvolvem.

Geralmente, quando aqui partilho vídeos, faço alguma validação, mesmo que ligeira, para perceber se não é tanga, se há fundamentação científica. No caso do vídeo que hoje aqui partilho, confesso a minha ignorância para poder avaliar se tudo o que aqui se diz tem validação científica. Mas, como é tema que me agrada, arrisco.

PLANTS Have CONSCIOUSNESS & Self-Awareness

Do plants speak the secret language of awareness, whispering knowledge and weaving connections to our Earth? Discover the science of superorganisms which are cosmic antennae with their own voice, healing humanity with melodies and music.

Listen to plants, the silent consciousness uniting all life. Flowers, trees, and fields exhibit unique anatomical and communication abilities to express agency and information. Roots, soil, pollen, and weather are all aspects of a supportive ecosystem teaching us about interconnected auditory understanding between species … at the crossroads of modern research and ancient wisdom.


Desejo-vos um belo dia de domingo

segunda-feira, agosto 26, 2024

Este post não é sobre uma ave que passa cantando

 

Dia tranquilo. 

Comecei o dia a regar o jardim. O sistema de rega parece que pifou. Para ser mais precisa, não o sistema de rega em si mas o autómato que o comanda. Por isso, não arranca.

Pelo meu marido, não arranca, não arranca. Por ele, ou desencantamos alguém que o arranje ou nada a fazer. Por mim, não. Dá sempre como desculpa que não acha bem gastar água a regar. Não concordo. Acho que uma maneira de combatermos a desertificação é termos árvores, o solo coberto, vegetação. Nem é só a estética da coisa, é também uma questão ambiental.

Quando ele me viu de fato de banho e havaianas, espantou-se: 'Onde é que vais, de fato de banho?'. Ia regar, claro.

Reguei tudo bem regadinho e só não acabei a autobanhar-me porque já estávamos atrasados. Não sei como mas temos sempre qualquer coisa para fazer ou temos sempre que ir aqui ou ali. 

O almoço foram restos, como é óbvio. 

Depois de almoço, deitei-me a ler um livro e, passado um bocado, adormeci. Mas para que não pensem que em vez de ler só durmo, desta vez completo a narrativa e digo que, depois de acordar, continuei a ler. Um livro que me tem dado muito que pensar. Um dia que tenha sossego na cabeça, hei de falar nele.

Mas é um facto: não ando a ler tanto quanto era meu hábito e tanto quanto gosto e isto porque ando viciada em escrever. Só me apetece escrever. Por exemplo, estou aqui e as minhas mãos até fervilham com a matéria caliente que a minha cabeça está danadinha para deixar sair. Uma maluqueira, esta mania de escrever.

Um dia que eu consiga publicar alguma coisa e me torne uma escritora célebre vocês podem vir aqui ver como são os bastidores de uma escritora maluca. 

(Riam-se, riam-se...)

Gostava ainda  de contar uma coisa que não tem nada a ver mas de que agora me lembrei. Ontem, de manhã, eu e o meu marido fomos fazer uma caminhada por onde não costumamos passear. Às tantas começámos a ouvir uma música. Mas uma música sublime. Parei a tentar identificar. Não consegui. Sei que há apps para o descobrir mas não quis perturbar o momento pondo-me à procura de apps e tretas tecnológicas ali totalmente descabidas. O som vinha de uma casa muito bonita, uma casa incomum com uma arquitectura também sublime. Por mim, sentava-me no passeio e deixava-me ficar ali. Pensei que, por vezes, a felicidade aparece assim, como um momento inesperado.

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E agora, para não me despedir assim, sem mais, à papo-seco, procurei uma música qualquer e encontrei esta que também não tem nada a ver com o post. É o que é. 

Atahualpa Yupanqui - Ave que pasas cantando (en directo, 12.04.1977)

Cancion interpretada por el mas importante folclorista que ha tenido Argentina, en el programa "Esta noche fiesta". Su nombre verdadero era  Héctor Roberto Chavero Aramburu y junto a su esposa Paula Nenette Pepin fueron autores de piezas que se han convertido en clasicas del folclore argentino


Uma boa semana!

quarta-feira, maio 29, 2024

Como se consegue a biodiversidade em harmonia e em pequena escala?

 

Ando cheia de pensamentos a propósito do meu jardim. É todo lindo, e lindo de uma maneira que nunca teria sido a minha. É como em tudo. Gosto de pinturas claras, quase transparentes, silenciosas, abstractas para além da conta. Mas, se ponho a pintar, parece que toda a (muita) cor que tenho dentro de mim, todo o (muito) movimento que tenho dentro de mim saem como numa enxurrada. Fica um tal excesso que em nada tem a ver com o que gosto de ter nas paredes. Nos jardins, olho para o meu, quase minimalista e adoro. Mas sei, sei bem, que, se tivesse sido eu a concebê-lo, teria plantado tudo em maior quantidade variedade, mais flores, maior exuberância.

Mas aquilo que eu teria feito seria mais fácil de manter pois gosto da rebeldia inerente à natureza, gosto que as coisas cresçam, se misturem. Em contrapartida, um relvado tem que ser muito regado, muito aparado. Uma trabalheira.

Já deixei crescer a sebe que bordeja o muro, e ela cresce e floresce que é um gosto. A antiga proprietária, ao vê-la, abre a boca de espanto. Durante vinte anos nunca conseguiu que ela crescesse. Agora não para de crescer. Penso que percebe que está à solta, em liberdade. O jardim está perfumado que dá gosto. E há passarinhos por todo o lado. As buganvílias também transbordam de flores que atraem abelhas, borboletas, pássaros. Os jasmins não conseguem conter-se. Crescem e deitam hastes floridas por todo o lado. As roseiras sobre os portões estão exuberantes, quase excessivas de tão carregadas que estão de mil rosinhas, lindas, lindas. 

O meu marido olha e acha que deve ser tudo aparado, cortado, contido. Diz que qualquer dia não vamos dar conta. Eu acho que cortar nem pensar. Logo agora que está um jardim mais lindo que eu nem consigo deixar de olhar.

O pior é mesmo a relva. Tenho vontade de deixar de aparar. Em parte já há ervinhas, florzinhas. O meu marido acha que não pode ser. E eu penso que tem que ser. Mas compreendo que, se calhar, tem que haver um meio termo. Não posso ter uma seara em vez de um relvado. Talvez possa haver musgo, trevinho, florzinhas, verdurinha miúda que se possa pisar e onde nos possamos deitar em cima como nos deitamos na relva. Mas ainda não percebi qual o ponto de equilíbrio e como é que lá se chega.

O meu filho no outro dia também me falou em ter um jardim sustentável. Não sei se foi essa a palavra que usou mas acho que foi essa a ideia. Também me falou em horta mas para isso não temos paciência. Não somos muito de andar a cavar e a arrancar ervinhas à volta, a afastar lagartas e caracóis. Acho eu. Pelo menos ainda não estou nessa fase (e o meu marido ainda menos).

Mas, portanto, por isto e por aquilo, tenho andado a ver uns vídeos. Este é apenas um deles.

Building Biodiversity in Central Park with Lisa


quarta-feira, fevereiro 07, 2024

Certidão permanente, caderneta predial, teor do artigo ou artigo do teor, matriz e o escambau.
Coisas que não sei como é que o Kafka deixou de fora
Salva-se, desta problemática, a maravilhosa casa de João Vicente de Castro

 

Continuo na minha tentativa de cumprir com as diligências. Mas parece que, em larga percentagem, me saio sempre mal.

Tento fazer como manda a lei mas não é fácil perceber o que manda a lei. Depois, faltam-me os termos e o conhecimento dos meandros das coisas. Não percebi ainda a diferença entre certidão urbana permanente, caderneta predial urbana, artigo de teor (ou teor de artigo?), matriz predial, etc.

Acontece que a casa em que viviam os meus pais, em termos dessas coisas está um bocado baralhada.

A história é a seguinte. Quando os filhos eram jovens, creio que talvez quando atingiram a maioridade, os meus avós paternos ofereceram-lhes um terreno. Os dois irmãos embrenham-se na construção de uma moradia dupla. Desenharam, contrataram técnicos e projectistas, acompanharam a construção. O meu pai orgulhava-se de que a casa levou muito mais ferro do que necessitava, queria que fosse boa construção. Eram muito jovens, os irmãos. Mas ambos levaram tudo muito a sério.

Não ligaram muito foi ao lado burocrático.

O terreno tinha uma determinada área e, depois de implantada a área habitacional, sobrou o terreno do qual fizeram respectivamente, atrás hortas e à frente jardins, uma divisão feita entre eles, daqui para ali, daquele lado da casa é meu e, de lá para acolá, deste lado, é teu.

Depois, tiveram o cuidado de ir à Conservatória desanexar a casa de cada um do edifício inicialmente registado como único. Ou seja, fizeram a divisão da coisa comum, por aquisição um ao outro. Isso está registado. Mas só desanexaram do artigo inicial, que era um todo, as respectivas zonas habitacionais especificando a área e depois escrevendo 'e logradouro', mas esqueceram-se de especificar a área de cada logradouro. Ou seja, o terreno remanescente, o chamado logradouro, em termos da certidão ou da caderneta ou do teor ou sei lá do quê, permaneceu comum já que não especificaram a área de cada logradouro que deveria ter sido desanexado tal como a zona habitacional.

Mas para eles estava tudo bem.

Além disso, em termos de IMI, cada um pagava o seu, ou seja, o correspondente à sua casa.

Até que um certo dia, na sequência da informatização nas Finanças, começou a aparecer como se as duas casas fossem uma única e em que cada um era dono de 50% de cada.

A minha mãe falava disto en passant. Chegou a ir às Finanças dizer que se tinham enganado. Presumo que não deve ter percebido nada do que lhe disseram pois, por algum motivo, se calhar por não estar esvaziada a área do artigo inicial, não corrigiram. O meu pai tinha tido o AVC e as prioridades e os problemas dela eram outras. E das minhas nem se fala. Ouvia falar disso como coisa remota, desinteressante.

Quando o meu pai morreu e se teve que fazer a habilitação de herdeiros, apareci como dona de uma parte da casa dos meus pais e de uma parte da casa dos meus tios. Um disparate. A minha mãe disse-me que vinha desse 'erro' das Finanças. E, creio que nessa altura, falou com os meus tios que também estavam admirados com tudo aquilo. A minha prima, sem tempo para coçar, muito menos tempo teve para se preocupar com tal coisa. E eu idem. Ficou.

Quando a minha mãe estava internada fui eu que paguei o IMI dela. Lá estava a pagar 50% do IMI da casa dos meus pais e 50% da casa dos meus tios. Falei com a minha prima que foi ver e disse que com os pais acontece o mesmo mas que, no conjunto, pagamos o valor correcto portanto, mais coisa menos coisa, 'que se lixe'...

Concordei. Preocupada, aflita e angustiada que andava quis cá eu saber disso.

E agora estou nesta situação absurda e sem saber por que ponta pegar. Nas Finanças falam-me em pôr em propriedade horizontal. O Conservador ri-se: 'Mas propriedade horizontal de quê? Isso era antes de eles, nos idos de 1900 e troca o passo, terem desanexado cada um a sua casa...'. Portanto, estou nisto.

Provavelmente terei que contratar um solicitador. Mas tem que ser ao mesmo tempo que os meus tios. E eles são idosos, isto deve fazer-lhes confusão, o lógico é que não sejam perturbados. E a minha prima, cheia de trabalho, ainda menos pachorra deve ter para isto.

Só que, nestas circunstâncias, para o que quer que seja, não consigo fazer nada da casa pois, para todos os efeitos, em termos de Finanças, sou dona de apenas uma parte da casa e os meus tios donos do restante. Um absurdo de todo o tamanho.

Ao ouvir-me queixar desta trapalhada, o Conservador ria-se : 'Se não tivesse recebido nada em herança não teria trapalhada nenhuma...'. Pois. Mas herdei.

Liguei para as Finanças e fiquei desconcertada, desanimada. Falaram-me em ir à Câmara. Liguei para a Câmara, expliquei. Pediram-me uma série de coisas, escritas com as siglas. Tive que ir descodificar. Mas olho para o que tenho e não percebo o que corresponde a quê. E na Câmara dizem-me que o não sei quê que devo apresentar, se quiser fazer não sei o quê, deve ser actualizado. Pergunto-lhe se está a falar daquele livrinho escrito à mão, na Conservatória, e parece que ela nem sabe de que é que estou a falar. Às tantas apetece-me desistir. Não tenho pachorra, não tenho conhecimentos para tão exigente empreitada, não tenho tranquilidade para pesquisar ou pensar nestas coisas.

E acho que tenho prazos para tratar destas coisas e receio não conseguir encontrar o caminho deste emaranhado, a tempo e horas.

Enfim. Uma seca de todo o tamanho.

E continuo com avaria de comunicações desde segunda de manhã. O operador tinha mandado mensagem a dizer que devia ficar resolvido esta terça à tarde. Nada. O meu marido ligou e agora dizem que talvez na quarta a virar para quinta. Nem televisão, nem internet, nem telefone. Só o telemóvel funciona nesta casa. É da rede do telemóvel que estou a alimentar o computador.

Está bonito, isto, está mesmo.
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Salva-se deste relambório chato para caramba, o vídeo da lindíssima casa de João Vicente de Castro. Fico perplexa com tamanha e tão bela casa. Não por acaso a Vogue faz reportagem com ela. Só conheço o João Vicente de Castro da Porta dos Fundos. Não sei se é daí que vem o budget para um casarão tão impressionante mas, verdade seja dita, é coisa que não me diz respeito.

Espero que gostem. Garanto que merece muito a pena.

Tour pela casa sofisticada de João Vicente de Castro | CASA VOGUE

No Jardim Botânico,  Rio de Janeiro, a casa de 500 m² do ator João Vicente de Castro, com reforma recém-finalizada pelo Estúdio Orth, ficou exatamente do jeito que ele imaginava: confortável, convidativa e contemporânea. Faça um tour!


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Desejo-vos um bom dia

Saúde. Ânimo. Paz.

sexta-feira, janeiro 19, 2024

Coisas e loisas

 

O meu marido de vez em quando vinha dizer-me que, na cave, ainda há sacos com coisas que vieram da outra casa e que ficaram para arrumar quando eu tivesse tempo. Era aquele tipo de coisas que, na altura, não sabia bem onde pôr talvez porque eram de utilização dúbia.

E o tempo foi passando e a vontade para abrir os sacos, ver o que lá está dentro, decidir o que fazer, não apareceu.

Primeiro era porque estava a trabalhar, tinha mais que fazer. Depois deixei de trabalhar e ainda tive menos tempo livre.

E o meu marido sempre a picar. Para ele parecia-lhe inconcebível que havendo aquilo por fazer eu não me importasse e fosse deixando estar. 

Então, resolveu ele deitar mãos à obra. Só que descobre coisas que ou não sabe o que são ou não sabe o que lhes fazer nem onde guardar. 

Eu sei o que são mas também não sei o que lhes fazer. 

Por exemplo, termos. Um para líquidos, outro para sólidos. Ou uma caixa tabuleiro em madeira com uma grelha também de madeira que acho que é para cortar o pão, se calhar para as migalhas caírem para o tabuleiro. Ou um rechaud. Coisas assim. Coisas que na altura devem ter tido uma justificação mas que depois caíram em desuso. Por acaso o rechaud até teria dado jeito no outro dia. Puxei pela cabeça para tentar perceber onde estaria até que deduzi que lhe tinha perdido o rumo. Afinal apareceu. 

Poderia guardar na cozinha se os armários não estivessem cheios ou se a despensa não estivesse identicamente repleta. E pior que isso. Nesta cozinha, num dos lados, o armário de cima vai até ao tecto. Mesmo que me ponha em cima daquele banquinho desdobrável do ikea, não chego lá. Ou seja, não faço ideia de que é que o meu marido para lá encafuou. 

Trouxe as coisas para cima e depois deixei de vê-las. Devem ter ido fazer companhia às coisas lá de cima.

Veio também dizer que havia uma coisa que não sabia o que era e que estava toda cheia de bolor. Fui ver. Uma toalha de mesa de renda, grande, rectangular, feita por mim. Não com bolor mas com ferrugem. O tempo que levei a fazer aquela toalha... Rosetas e rosetas de crochet em linha branca. E nunca mais a usei e nunca mais de tal me tinha lembrado. E o espaço que aquilo ocupa. As gavetas já estão cheias. Agora, ainda por cima, tenho que ver como se tiram as manchas de ferrugem. Ainda mais essa.

Quando lá fui ver a toalha vi uns jogos turcos de toalhas de casa de banho, ainda na embalagem. Houve uma altura em que a minha avó materna me levava turcos e mais turcos, coisas para o enxoval. Também não sei onde pôr. Mas custa-me desfazer deles tendo sido presente da minha avó.

Outra coisa que lá estavam eram lençóis bordados, outros com grandes rendas. O trabalho que deram. A minha avó materna e a minha mãe faziam rendas enormes, numa linha finíssima. Depois contratavam uma senhora que fazia bordados e que pregava as rendas. Obras de arte. Nunca usadas. Onde é que eu ia pôr lençóis daqueles na cama? Não dariam jeito nenhum. Nem podem ser usados sem ser passados a ferro. Os que uso são muito maiores do que aqueles, as camas agora são bem maiores, e não precisam de ser passados a ferro. Portanto, onde é que os ponho aquelas peças de arte? 

Tralha, tralha, tralha. Na prática é o que tudo aquilo é.

E já sei que mesmo que queira impingi-los aos meus filhos, não vão nessa. Têm as coisas deles, não querem coisas que nada têm a ver com o seu gosto e com o seu estilo de vida. E também não têm espaço. Compreendo-os. Fazem bem.

É um assunto que me incomoda: a quantidade de coisas que tenho cá em casa. Quando via alguns programas de reabilitação de casas nos Estados Unidos ficava admirada ao ver que as pessoas compram as casas mobiladas e, quando vendem as casas em que viviam, vendem-nas mobiladas. É mais fácil do que andar com a tralha atrás.

Nestas alturas lembro-me do meu amigo que morava num andar em que ele e a mulher tinham comprado o direito e o esquerdo e feito obras para unir. Ficou um mega-mega-apartamento. Segundo ele dizia, carregado de toda a espécie de tralha. Não conheci essa casa, só a casa que tinham no campo. Aí, era uma moradia grande. Ela era o cúmulo da vitalidade, de entusiasmo, e isso abarcava também a sua actividade de decoradora. Andava por antiquários e lojas de velharias e arranjava peças fantásticas. Carradas de coisas fantásticas. Carradas. Em Lisboa devia ser a mesma coisa. E por cima do giga-apartamento deles, de um dos lados, morava a sogra. Quando a sogra morreu, a casa ficou para eles. A senhora tinha um belo apartamento requintadamente mobilado. Ele estava doido com tanta tralha. Dizia que só tinha vontade de comprar um apartamento minúsculo no Chiado e mudar-se para lá, deixando tudo para trás, tudo.

Eu também acho que uma bela coisa poderia ser mudar-me para a casa quase vazia, a casa dos sonhos do meu marido. E esta ficava como casa-museu. Quando os meus netos, bisnetos e trinetos quisessem descobrir raridades do passado, vinham até cá.


Mas, enfim, também não é caso para lágrimas. 

Caso para lágrimas é ver como jovens estudantes, gente supostamente não totalmente burra, adere ao Ventura. Não consigo perceber se é mérito do Ventura, que é capaz de ser perigosamente inteligente, ou se é demérito da malta que se deixou enredar nas conversas muito elaboradas do aparelhismo partidário e se mostra demasiado instalada, afastando a malta que é jovem e rebelde, ou se é uma idiossincrasia desta juventude que parece alienada e não aprendeu a dar valor à democracia e à liberdade. Uma tristeza e uma preocupação.

Mas é o que é. Face a isso, saibamos agir com inteligência. E bola para a frente.


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Um dia bom

Saúde. Boa sorte. Paz.

sexta-feira, janeiro 12, 2024

Choninhas e baldas. E etc.

 

Volta e meia, em cima de tudo o resto há as coisas que se estragam. Ontem houve uma coisa que se partiu e que tem que ser arranjada. Onde pensávamos que resolveriam o assunto, disseram que não e deram o contacto de um homem.

Hoje, estava a chegar do hospital, atrasada pois estive lá mais tempo do que esperava e o trânsito também estava pior do que desejável, apareceu o dito. O meu marido ficou no jardim a suster a fera que ficou desaustinada e eu entrei com o expert.

Caraças. Se há coisa para a qual eu não tenho paciência é para nhonhinhas, nheco-nhecos. Mediu e remediu, apontou e tornou a apontar, pediu-me para eu segurar a lanterna, pediu para eu espreitar a ver se via não sei o quê, deu exemplos para validar as suas teorias, queria mostrar-me vídeos para justificar o que dizia. Eu já só queria que o homem se calasse. E ele não se calava. Depois estava demasiado perfumado. Não suporto homens demasiadamente perfumados. 

Às tantas o meu marido ligou-me. Não percebia o que se passava. Eu poderia ter dito as medidas por telefone mas o homem disse que um milímetro a mais ou um milímetro a menos poderiam ser a morte do artista pelo que tinha que ser mesmo ele a vir tirar as medidas. Mas, julgava eu, era coisa para uns cinco minutos no máximo. Qual quê? Não cronometrei mas mais de meia hora foi. Espreitava para dentro daquilo, oferecia-se para fazer uma limpeza às entranhas da coisa, mas tudo em slow motion, tudo com longas pausas entre palavras. Um desespero. Pessoas assim levam-me à loucura. Já só me apetecia correr com o homem de qualquer maneira. Que choninhas do caraças, senhores.

Acabei por me pôr a andar e ele, que remédio, a andar e a falar atrás de mim, depois saí porta fora e ele a querer atrasar o passo. É que, no meio disto, dizia que não ia conseguia fazer um orçamento exacto pois se alguns parafusos se partissem ao retirar, tinha que pôr parafusos novos, ou se os parafusos novos não fossem exactamente iguais, poderia ter que fazer furação nova. Por isso, não sabia. E eu, impaciente de todo: 'Faça assim. Diga o valor aproximado e diga quanto pode ser mais, no máximo, caso surjam esses imprevistos'. Ele olhou-me como se não percebesse, como se eu estivesse a dizer uma coisa impossível. E queria voltar a colocar dúvidas e entraves a um orçamento exacto. 

Eu já só pensava que nem pensar voltaria a ter um tal patarata em casa. Ah, às tantas, ao mexer, ao desmontar para ver se tirava as medidas exactas, deixou cair um pouco de pó. Ficou aflito, pediu uma vassourinha e uma pázinha. E eu que ele deixasse, que eu já limpava, que não se importasse. Mas gente assim não desiste. Viu os apetrechos da lareira e pôs-se a varrer e a limpar.

Lá fora, ao frio, às escuras, o meu marido e o cão. Claro que poderia ter ele entrado e deixado o cão na rua. Mas a perspectiva de ir aturar um empata daqueles era ainda pior do que ficar à seca na rua.

Lá vim, então, a andar, abrindo o portão, o homem ainda a querer explicar cenas, a justificar e a sustentar teorias sobre as cenas. Creio que o interrompi e lhe disse: 'Está bem. Mande o orçamento que conseguir. Obrigada.' e bye bye. Há com cada um.

Também há uma fuga de água num dos tanques da caldeira. Há uns dois meses. Veio cá um que disse o que era e que ia mandar um orçamento. Até hoje. No princípio do mês passado, estava noutro país, não sei se de férias se em trabalho. Depois no fim do ano estava a banhos, de férias, num país africano. Depois que não sei o quê. Até que finalmente era hoje. Sim, sim. É o veio. Tipo mais baldas nunca vi. Sempre altas conversas, grandes desculpas e grandes promessas. Um bocas. Caraças.

Só espero que apareçam mais uma catrefada de imigrantes que venham compensar a falta de mão de obra que há em todos os sectores. 

Tirando isso, só se for o que a funcionária do hospital que estava a ocupar-se da minha mãe conversou comigo. Uma simpatia. Não sei como já estava a falar-me da sua ansiedade, dos seus ataques de pânico, de como gostava de não ser tão magra, já estava a fazer-me confidências. Qualquer dia pergunto se me permitem que filme e publique. Depoimentos avulsos sobre a vida de pessoas desconhecidas.

De manhã também liguei para uma amiga da minha mãe que lhe tinha ligado. Não sei como, passado um bocado, já estava a falar-me das suas maleitas, do que faz, do que não faz, das doenças prevalentes na sua família, em como todas as da sua geração estão a ir desta para melhor. Isto dito sem dramas, entre sorrisos.

Também tenho mais histórias do balneário da piscina mas ficam para outro dia.

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Os fantásticos sapatos são apenas algumas das modas de gosto duvidoso que podem ser vistas em 30 Questionable Fashion Choices That Have Been Shared On This Instagram Page

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Um dia bom

Saúde. Boa sorte. Boa onda. Paz.

domingo, dezembro 10, 2023

O conforto e o aconchego de ter a família à mesa
(e junto ao coração)

 

Não vou falar do que me preocupa em permanência pois compreendo que não me faz bem nem deve ser agradável de ler. Aliás, já tenho a família inteira a querer despachar-me para ajuda psicoterapêutica. Estão fartos de me aturar e compreendo-os. Mas, pelo menos por enquanto, não creio que já seja caso disso. Tenho é que interiorizar que o que há a fazer extravasa as minhas capacidades, já não está nas minhas mãos. Tenho, sempre, por natureza, vontade de encontrar soluções para todos os problemas. E, neste caso, desde há algum tempo que me sinto completamente impotente. E isso atormenta-me um bocado. Estive a falar com o médico e ele foi muito claro. E, claro, não me deu novidade nenhuma. Aliás, ele fez questão de dizer que não estava a dar-me novidade pois antes de lá entrar já havia os problemas que agora tem. Percebo-o, não quer que haja qualquer hipótese de eu poder dizer que adquiriu aqueles problemas lá. Sei muito bem que não. Aliás, quando, antes de ir, nos perguntou porque é que ela tinha decidido ir para lá, eu esclareci invocando os factos como eles são e com os quais ela concordou. Pede-me ele que eu confie que está a ser feito tudo o que há a fazer, todos os cuidados estão a ser prestados, todos, tudo. Sempre que lá vou e sempre que falo com a equipa clínica constato isso. 

Mas, enfim, disse que não ia falar mais do mesmo e, portanto, mudo de assunto (antes que me apareça aqui em casa a brigada da camisa de forças que, do que hoje lhes ouvi, parece que já faltou mais).

Direi que, à parte essa preocupação que me traz com o coração apertado, o dia foi muito bom. Todos cá em casa, mesa cheia. Todos a conversarem, rindo, comendo. 

Depois uns jogaram paintball no campo aqui perto, outros jogaram badminton, outros ficaram a ver televisão. 

Depois, mudança de cenário e, aí, houve um renhido jogo de basketball, uma hora no duro, com todos os jogadores a acabarem encharcados. 

O mais novo, por sua vez, jogou futebol com um amigo que encontrou no parque. E as meninas mais crescidas e o casal mais idoso ficaram a observar.


Não contei que, pelo meio, o mais novo subiu à árvore e gostou de lá estar, menino mais fofo, e pediu para alguém lá fazer uma casinha.

E apanharam-se cogumelos a ver se o dog não tem a tentação de os provar (e não sabemos se são pacíficos). E eu ainda andei a fotografar os passarinhos que dançam na romãzeira, agora desprovida de folhas.


E, à falta de melhor assunto, vou contar o que fiz para o almoço.

Entrada: salada de salmão

Num tabuleiro grande coloquei alface iceberg aos bocadinhos, cenoura ralada, abacate aos bocadinhos, bolinhas de mozzarela (bastantes), salmão fumado. Temperei com azeite, orégãos e um pouco do caldo da mozzarela.

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Prato principal: arroz de carnes

Numa panelão, alourei duas cebolas (das maiores que encontrei) aos bocadinhos, juntei dentes de alho e louro. Depois juntei carne de vaca aos bocadinhos (daquelas que se vendem para jardineira) e moelas. Juntei uma embalagem de sopa portuguesa (couve lombarda, alho francês, cenoura), um pouco de vinho branco e sal. Passada talvez uma meia hora ou um pouco mais juntei coxas de frango do campo, rojões de porco e entremeada, dois tomates maduros e salsa. Juntei mais vinho branco e um pouco, muito pouco, de pimentão doce. Estufou até as carnes estarem bem macias, tendo juntado, entretanto, mais água.

Depois retirei as carnes, desossei, cortei. 

Num tacho grande coloquei arroz basmati e o dobro da quantidade de arroz em caldo de cozinhar as carnes. Cozinhou até estar apenas com um pouco de líquido.

Liguei o forno para estar bem quente pouco depois.

Num pirex gigante juntei o arroz, misturei as carnes desossadas e cortadas. Por cima, polvilhei com bacon em mini-cubos e enfeitei com rodelas de chouriço de carne. 

Foi ao forno até o arroz ficar mais sequinho e até o bacon e o chouriço estarem tostadinhos e brilhantes.

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Sobremesa: salada de frutas com iogurte e gelatina

Numa grande taça de vidro (aliás, em duas) coloquei maçãs aos cubinhos, dióspiros aos cubinhos, uvas brancas e uvas pretas sem grainha. Misturei em cada taça um iogurte grego de mirtilo e gelatinas (de compra) de morango. Misturei. Por cima coloquei amoras, framboesas e mirtilos.

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E ainda...

No fim, apetecia-lhes qualquer coisa mais doce. Não havia. Por isso, foram ao congelador e acabaram com os gelados. 

(Ainda bem pois, por acaso, estava mesmo a precisar de mais espaço naquela gaveta).

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Entretanto, agora vi este vídeo da Reflections of Life (ex-Green Renaissance

que me trouxe serenidade e paz. 

Aqui está, na esperança de que também gostem.

SHE LET IT ALL BE

Nos cantos silenciosos das nossas mentes, há uma voz que tende a minar e semear dúvidas: o crítico interior. O negativo. Aquele que ataca as nossas inseguranças. Confirma as nossas dúvidas e ataca a nossa confiança. Pode soar como 'você deveria', 'porque não fez isso?' ou 'o que há de errado consigo?'

Reconhecer este diálogo interno é importante porque muitas vezes molda as nossas ações e decisões. Quando somos muito duros conosco mesmos, isso prejudica a nossa confiança e bloqueia a nossa criatividade.

É essencial nomeá-lo, reconhecer a sua influência e, o mais importante, não deixá-lo tomar as rédeas das nossas vidas. Em vez de permitir que a dúvida dite as nossas escolhas, devemos esforçar-nos por promover a auto-aceitação. Ao fazer isso, capacitamos-nos  para nos libertarmos das garras da crítica interior e abraçarmos a nossa autenticidade.

Abraçar as nossas imperfeições e celebrar as nossas qualidades únicas nos capacita a entrar na plenitude de quem devemos ser. E traz consigo uma profunda sensação de paz interior, permitindo-nos enfrentar os desafios da vida com confiança e graça.

Filmado em Hermanus, África do Sul.

Com Catherine Brennon


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Desejo-vos um bom dia de domingo

Saúde. Força. Paz.