Quando cá temos animação à mesa, para ele não andar de roda de nós a fazer das dele, o meu marido arranja-lhe umas coisas para ele se entreter. No outro dia arranjou uma orelha -- mas, calma, uma orelha não humana (sei que é de um outro bicho mas não me lembro de qual). Uma orelha seca, creio que, a bem dizer, só a cartilagem.
Não ligou muito mas, por via das dúvidas, foi enterrá-la.
Hoje desencantou-a. Estava mole, escura, com ar podre. Quando me aproximei para ver que porcaria era aquela que estava, todo lambão, a roer, parou e olhou-me fixamente, nitidamente numa daquelas: 'make my day'.
Manda quem pode, obedece quem deve. Ou seja, desisti.
E, de cada vez que eu me aproximava, parava de roer aquela coisa e olhava-me, não sei se com medo que eu fosse roubar aquela iguaria, se a preparar-se para defender o seu tesouro. Quando está assim, possessivo, mais vale não medir forças com ele.
Tivemos que usar o truque de tocar à campainha. Aí salta, vai a correr para o portão, para impedir que qualquer invasor ouse pôr o pé no jardim. Nessa altura, o meu marido foi resgatar aquela coisa, deitando-a fora, para bem longe.
Se fosse um cãozinho fofo, obedientezinho, deixava que lhe tirássemos os seus troféus. Mas não é. Sabemos, sabemos bem, que se atirará a quem o ousar. O professor que o treinou durante meses recomenda que o distraiamos, que não o enfrentemos pois ele é mais rápido que nós e o seu instinto falará sempre mais alto. Portanto, já percebemos: pode alguém ser quem não é? Mesmo que de um cão se trate.
Agora imagine-se como fico invejosa quando vejo um canito obediente como este aqui abaixo.
Human and Dog Team STEAL THE SHOW | Britain's Got Talent
Witness the incredible bond and acrobatic power of Christian Stoinev & Percy as this dynamic human and dog team takes the Britain's Got Talent stage by storm! Their flawless routine combines amazing feats of agility and strength, leaving the judges in a spin and absolutely mesmerized. This unforgettable performance truly steals the show!
Não é novidade pois aconteceu há uns dois ou três dias mas é um cenário tão apocalítico que não quero deixar de aqui o ter, pro memória.
Se eu estivesse na praia e visse aquele rolo, qual fofo e gigante rolo compressor, a vir do lado de lá do horizonte, teria ficado assustadíssima, a imaginar que, de lá, sairiam naves espaciais assustadoras e das quais sairiam seres que nos deixariam petrificados.
De tal maneira a imagem é do caraças que, quando vi na televisão, não liguei, pensei que estivessem a falar de algum filme. Só depois percebi que era real, que o mundo está a ficar cheio de coisas do além.
Cet énorme « nuage rouleau » observé en pleine canicule au Portugal n’était pas un fake
PORTUGAL - Comme un air d’apocalypse. Ce dimanche 29 juin, de nombreux Portugais voulant se rafraîchir sur les plages du centre et du nord du pays ont fait face à un phénomène aussi rare qu’effrayant : un « nuage rouleau ». Comme vous pouvez le voir dans notre vidéo ci-dessus, plusieurs personnes ont en effet filmé un immense nuage horizontal, avançant depuis l’horizon.
O calor destes últimos dias tem-me desfeito. Só estou bem em casa, ao fresco.
Mas calhou termos combinado um almoço ali para as bandas do centro, de perto do rio. Um calor de ananases. Felizmente o restaurante era relativamente perto de um grande parque pelo que o stress do estacionamento desta vez não foi tema. Claro que tive que me abstrair da memória de todas as vezes em por ali andei quando a minha mãe esteve internada, durante quase um mês, no hospital lá perto, num belo quarto com uma bela vista, vista essa a que nem ela nem eu prestámos qualquer atenção. Mas, enfim, o tempo anda e temos que andar também, transportando as memórias.
Não tentámos pôr o carro perto do restaurante pois estamos escaldados com as dificuldades em encontrar lugar. Assim, ali era garantido e, de resto, a distância não era nada por aí além. Mas subestimámos o calor que estava. Caraças. Infernal. Um daqueles calores que queimam, que custam a suportar.
Lembro-me sempre do meu espanto, há uns trinta e tal anos -- numa altura em que as viagens não eram uma banalidade absoluta --, quando um amigo chegou de umas férias algo exóticas pelos locais menos turísticos de Marrocos e me contar que, de tudo, o pior tinha sido o calor, temperaturas em torno dos 40º. Falou dos ventos, das areias, das ruas estreitas, de mil coisas, mas o calor... isso tinha-o deixado francamente marcado. E eu perguntava como suportavam, o que faziam para prosseguir os passeios dentro de tal forno.
A experiência mais próxima que eu tinha tido tinha sido em Angola, numa viagem feita na minha adolescência. Mas a viagem foi no verão de cá, logo no tempo menos quente de lá. Estava calor e o ar era pesado, tanta a humidade, o meu cabelo chegava ao fim do dia todo empapado, mas o calor era razoável, nada de nada de fornos acima dos 40º.
E, no entanto, agora, por cá, é o que se sabe. Uma coisa impossível.
Ainda não foi desta que fui conhecer o Macam, o novo museu, às terças está fechado. Ainda tive a ideia de ir até ao CCB mas fui demovida, a ideia era peregrina demais.
Portanto, depois de termos cumprido uns afazeres, regressámos a casa onde o cãobeludo nos esperava, estendido no chão de pedra.
Vesti o biquini e fui ler para o spot que descobri ser o mais perfeito, aquele onde poderia estar todo o santo dia, uma sombra verde, fresca e boa.
O livro não me convence mas isso parece ser o 'novo normal', livros que não aquecem nem arrefecem mas que, espantosamente, parecem ser do agrado dos editores (e, se calhar, de muitos leitores). Mas entre uma página e outra vou olhando para a copa das árvores, para os pássaros que por ali andam, para o céu, para lado nenhum.
E estou a gostar muito das caminhadas ao cair da noite. É a hora da doçura, da intimidade. As luzes das casas estão acesas, mas as janelas ainda abertas deixam ver o tom quente e dourado do interior. As ruas estão silenciosas, o ar mais fresco, e sabe muito bem andar assim, o cão mais ligeiro, nós conversando ou não que o silêncio às vezes é muito reconfortante.
E, agora à noite, depois de ter feito umas coisas para o Instagram (tenho este lado proleta, de não me baldar, parece que tenho sempre que produzir quelque chose e então lá está, todos os dias tento fazer uma coisa para a story eoutra para o feed), o Youtube traz-me de novo a matemática e a física, temas que sempre trago no coração, e, uma vez mais, envoltas em poesia.
Desta vez o tema é o origami, tema que sempre me atraiu (numa onda contemplativa, não executiva). O que se faz com uma folha de papel só não é mágico porque tem muita técnica. Uma maravilha.
This Origami is Changing Engineering…
Twenty-five years ago, physicist Robert Lang worked at NASA, where he researched lasers. He also garnered 46 patents on optoelectronics and wrote a Ph.D. thesis called "Semiconductor Lasers: New Geometries and Spectral Properties." But in 2001, Lang left his job to pursue a passion he’d had since childhood: origami. In the origami world, Lang is now a legend—and this Great Big Story documentary tells his true story. It’s not just his eye-catching, intricate designs that have taken the craft by storm. Some of his work has helped pioneer new ways of applying origami principles to complex real-world engineering problems.
Sabemos tudo e mais alguma coisa a propósito de tudo. É ver os comentadores que aparecem nas televisões mal algum acontecimento salta para a ribalta. Os mesmos que sabem tudo sobre a Ucrânia e sobre a Rússia sabem também tudo sobre Israel e sobre a Palestina mas também sabem sobre Trump e sobre a legislação americana e, se necessário for, também são capazes de dissertar sobre as eleições no Benfica ou sobre a nuvem-rolo que galgou a linha do horizonte para ir a banhos. Mas pouco sabemos do que se passa dentro de nós, em especial no cérebro, e também muito pouco sobre o 'lugar' em que vivemos, como viemos aqui parar e para que freguesia vamos pregar quando o nosso corpo tão pobremente humano perecer.
Pasmo com as pessoas que põem e dispõem como se fossem viver para sempre, que tomam decisões definitivas sobre porcarias sem qualquer interesse como se estivessem a definir o futuro da humanidade.
E, igualmente, pasmo com as dúvidas que, por vezes, assolam à cabeça de cientistas.
O tema dos buracos negros é daqueles do caraças: matematicamente demonstra-se a sua existência e consegue-se saber (ou pensa-se que se consegue) as leis físicas que os regem. Mas ir lá vê-los, saber ao certo como são e sair de lá para contar... isso está quieto.
Até que alguém se lembra: espera lá... e se vivêssemos dentro de um? E se o que (pensamos que) conhecemos seja apenas o que existe dentro do buraco negro? Ou seja, e se o que (pensamos que) conhecemos não for o universo mas, apenas, uma ínfima parte dele? Ou seja, e se vivemos numa cápsula dentro do mega universo?
Claro que nada disso alteraria a nossa realidadezinha pequenina: o que amanhã vamos fazer para jantar, o que temos que trazer do supermercado, em quem vamos votar nas autárquicas, como vamos desenrilhar-nos do enredo marado que prometem ser as presidenciais. Tudo isso existe e é inalterável estejamos nós dentro ou fora do buraco. E que raio de espaço habitamos é também uma coisa tão intangível que até se perceber alguma coisa não nos doa a nós a cabeça. Mas que teria graça percebermos alguma coisa disto, lá isso teria.
Mas isto, na volta, é conversa de quem tem os neurónios a derreter. Este calor derrete-me. Por mais que me banhe, nada arrefece as minhas células (nem as estátuas que tentam refrescar-me as entranhas).
Por isso, passo a palavra a Neil deGrasse Tyson.
Is Our Universe Inside a Black Hole?
Is our universe inside a black hole? Neil deGrasse Tyson (Astrophysicist & Hayden Planetarium director) breaks down intriguing new evidence along with other curious parallels that could point to the universe being inside a black hole. Is the edge of our universe an event horizon on a black hole in some other universe?
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NB: As esculturas que aqui veem não existem, são totalmente inventadas por mim (com a ajuda da Sora)
Desde que por aqui ando que falo disto: em Portugal, quem paga impostos paga mais do que deve, especialmente quem ganha um pouco acima da média, e isto porque há muita gente que deveria pagar (ou pagar mais do que paga) e não paga.
A partir de certo ponto, a carga fiscal é sentida como um esbulho. Taxar como se fossem milionários pessoas que são classe média -- e, em vários países europeus, classe média baixa -- é dissuasor para quem pode ir trabalhar para outro país ou para quem pode fugir ao impostos.
A cena do IRS jovem é falaciosa, creio que até absurda. Qual é o jovem que opta por Portugal porque até aos 35 anos tem IRS baixo, sabendo que, quando fizer 36, o fisco lhe vai cair em cima? Nenhum. Se o tema for impostos, ele vai olhar para o que vai descontar à medida que progredir profissionalmente e aí vai ver que em Portugal se impede que alguém ganhe um pouco mais, pois metade do que ganha vai direitinha para impostos e contribuições.
Isto do lado do que é preciso fazer na redução de impostos como arma de combate à evasão fiscal.
Mas depois há os casos especiais que igualmente carecem de combate.
Mas, reconheça-se que, se a legislação o permite e se a alternativa é deixar ficar uma parcela enorme de rendimentos na mão do Estado, a tentação pode ser quase inescapável.
Por isso, ao mesmo tempo que se vá atrás disso, volto a dizer: baixem-se os impostos, baixem-se de forma palpável, reduzam-se os escalões, torne-se tudo mais aceitável.
Já aqui falei que tenho muitos amigos médicos e os que já atingiram a idade da reforma e têm gosto por continuar a exercer apenas trabalham um ou dois dias por semana pois dizem que mais que isso é para ser comido pelos impostos. Portanto, os que não têm a dita empresazinha para ser encharcada de custos e para fugir ao fisco, fazem a optimização fiscal não trabalhando. Isto, numa altura em que a escassez de médicos é brutal. E isto é um exemplo pois cada um tem os seus motivos e argumentos para estar revoltado com o esbulho fiscal a que é sujeito.
Outra situação é a dos senhorios e da "enorme percentagem de arrendamentos não declarados". O que não falta são as situações de arrendamentos 'por fora' ou 'por baixo da mesa'. Só não digo que conheço vários casos em que assim é para não me virem pedir que os denuncie. Os senhorios põem as suas casas ao dispor de pessoas que não conhecem, pessoas que lhes podem trazer problemas, os senhorios têm que fazer a manutenção das casas, têm que pagar IMI, têm que pagar o seguro da casa, têm que pagar o condomínio, e, no fim, têm que pagar um imposto que é francamente dissuasor. Conheço pessoas que preferem ter uma trabalheira a manter casas antigas a que não dão uso apenas porque acham que não lhes 'compensa' se forem pagar os impostos mas não querem entrar numa situação irregular. Por isso, optam por não arrendar as casas. Com a falta de casas que há, para além de serem precisas mais casas, em especial casas para os muito pobres e para os 'remediados', habitação social, portanto, da responsabilidade do Estado, há que conseguir pôr no mercado mais casas para a classe média. E a maneira sensata será baixar os impostos sobre as rendas, mas baixá-los consideravelmente, e, em simultâneo, criar incentivos fiscais para os inquilinos que declarem as rendas através de contratos registados nas Finanças. Só assim se incentivará os senhorios a arrendarem casas a que hoje pouco ou nenhum uso deem e, ao mesmo tempo, se incentivará a que declarem fiscalmente os contratos.
O caso "do setor dos restaurantes, bares e estabelecimentos similares, onde é percetivel uma elevada evasão", também referido por Vital Moreira, é outro que merece destaque. O número de vezes em que vou a uma churrasqueira buscar frango assado ou a uma pizzaria ou a um qualquer restaurante em que, ao pagar, me dão o ticket do pagamento e o ticket da 'registadora' (no qual está escrito que é para conferência e não substitui a fatura) é impossível de quantificar. Quanto peço a fatura, até ficam a olhar para mim como se fosse uma excêntrica: 'Ah quer...?'. Confesso que nos locais de maior afluência em que, mal me despacham, se viram para atender o seguinte, até para não atrapalhar a cadência, acabo por deixar passar. Mas é indecente, é escandaloso. Impunidade total. Isto já para não falar que em muitos destes sítios só aceitam pagamento em dinheiro, ou seja, nem fica rasto. A AT não deveria regularmente andar em cima destes estabelecimentos? Deveria, deveria. Muitos impostos deveriam ser colectados se houvesse auditorias ad hoc, ie, de surpresa.
É que por haver tanta, tanta, tanta gente a não pagar impostos ou a pagar muito menos do que devia, andam outros, os que gostam de fazer as coisas by the book, a pagar muito mais do que seria razoável.
Portanto, apoio completamente que o Governo crie medidas efectivas, fáceis de implementar e de controlar para combater a evasão fiscal. E apoio que se simplifiquem as regras fiscais e se baixem os impostos. No caso do IRS, defendo que se reduza, pelo menos para metade, o número de escalões e que se reduza significativamente as respectivas taxas.
No caso da habitação, como forma de alavancar a oferta de casas para arrendamento, que se baixem capazmente os impostos na tributação autónoma e se criem incentivos aos inquilinos que tenham recibos emitidos pelas Finanças.
Tal como nos malfadados tempos da troika ataquei ferozmente a política de austeridade porque asfixiou a economia e empobreceu as pessoas e o País, agora continuo a defender que a economia precisa de liquidez para se movimentar e para crescer. Libertar mais rendimento (por redução da carga fiscal) só aparentemente empobrece os cofres do Estado pois, havendo mais liquidez circulante, há mais consumo, há mais investimento, há mais emprego, há mais poupança. E, em qualquer dessas vertentes, incidirão os impostos, fazendo com que a colecta se fortaleça (não por via das taxas mas da base sobre a qual se aplicam).
Sei bem que haverá quem diga que lá está a minha costela liberal a manifestar-se. É verdade. Tenho uma costela liberal, já o disse muitas vezes. Liberal (qb) na economia e liberal (qb) nos costumes sociais. Quando disse há tempos que se o Partido Socialista não souber reinventar-se e trazer de novo para os seus valores os da social-democracia que estão na sua origem, há lugar para um partido novo, progressista, democrático, humanista, moderno, venerando a cultura e o planeta, liberal.
Tive vontade de completar o título com "... e passou a ser uma grande palhaçada" mas contive-me. Cada um sabe de si. Além disso, não se podem analisar as coisas independentemente do tempo em que ocorrem. As circunstâncias vão formatando as mentes.
Para mim um casamento é a formalização de uma união que, de alguma forma, já existe. Cada um já tem que saber que é com o outro que quer viver e formar família. Pode até acontecer que isso já esteja a acontecer sem que o 'papel passado' faça qualquer falta.
Se fosse hoje, provavelmente não me tinha casado pois passava bem sem a cerimónia e sem a festa. Simplesmente, parece que, naquela altura, era normal as pessoas casarem-se. Casei-me sem sequer nos ocorrer que poderíamos, simplesmente, viver juntos. Mas também não sei se, na altura, a união de facto já tinha o enquadramento que hoje tem. E, de resto, também não sei se hoje estar-se casado é igual, em termos de direitos, a viver em união de facto. Se houver algum inconveniente, também não vejo que o casamento faça mal.
Mas, seja como for, para mim o casamento é uma formalização, um acto administrativo, e pode ser também um momento de reunir família e amigos dos dois lados para que se conheçam e convivam.
Já contei que o meu casamento foi decidido e tratado creio que num mês. Fomos ao notário e perguntámos qual a primeira data disponível. E foi nessa data que ficou. Era uma sexta-feira e nem pensámos que poderia ser um transtorno, o meu pai é que me censurou por isso (mas também foi uma censura relativa e, além disso, compreendi o que ele dizia, que era dia de trabalho, que as pessoas teriam que tirar um dia de férias). Depois fomos escolher um sítio para o copo de água. Vimos uns dois ou três e optámos por um lugar simpático, na cidade, com uma ementa que nos agradou. O fotógrafo foi um amigo da faculdade. Para a toilette, achei-me 'mascarada' de noiva se usasse um vestido todo produzido (que era o que havia) e por isso optei por uns jeans justinhos brancos, umas sandálias em cor nude, e uma túnica branca em organza bordada também a branco, um modelo Augustus. Depois é que percebi que era totalmente transparente. Naquela altura isso seria um bocado descabido. Por isso, usei por baixo, um top de algodão, ultrafino, de alcinhas ultrafinas. Tudo simples, sem qualquer complicação ou artifício.
Os casamentos dos meus filhos não foram nada disto, foram grandes festas, creio que talvez umas duzentas pessoas em ambos os casos, locais preparados, com música, com reportagem fotográfica de qualidade, tudo num outro comprimento de onda. Mas, ainda assim, românticos, muito alegres, muito genuínos: a festa foi feita por eles e pelos convidados.
Agora, quando vejo os casamentos transformados em eventos, organizados como se fossem espectáculos de entretenimento e diversão, espaços e momentos de exibição, fico um pouco incomodada. Já nada têm a ver com a partilha de uma decisão íntima.
O casamento do Bezos com Lauren Sánchez é o cúmulo dos cúmulos do que, em minha opinião, é um anti-casamento. Tomados e ungidos pelo ultra poder da sua ultra galáctica fortuna conceberam o casamento como uma ultra ficção. Para disfarçar a ultra arrogância, doaram dinheiro e convidaram os convidados a fazerem doações. Os ultra ricos a darem esmola aos pobrezinhos, à cidade pobrezinha quase a afundar-se, ao planetazinho pobrezinho tão cheio de problemazinhos climáticos e o escambau. E os convidados incluem a rainha dos reality shows e da cinturinha de vespa e respectivas sisters e recauchutada mamã, a rainha das entrevistas, uma rainha supostamente a sério, o rei dos pc's, o rei do titanic e mais toda a espécie de exemplares do showbizz e arredores. Faltou o candidato a nobel da paz, o dos belos e grandes feitos, o da boquinha de rosa e mãozinhas de bebé. Foi pena. A coisa teria ficado mais composta. Mas fez-se representar: veio a menina de seu papá, em róseo e abrilhantado vestido, mais o seu empreendedor marido, partner do sogro na visão de uma Gaza virada para a dolce vita, high luxury resort. Não sei quem celebrou o acto, se terá sido um cardeal escolhido a dedo ou se dispensaram a bênção divina. Tanto faz. E o que se viu foi que, depois de ter ajudado a eleger o tal que faltou, depois de se muscular e injectar para ser um eternamente jovem, o todo poderoso noivo resolveu dar o cinéfilo nó com a sua insuflada e reluzente noiva na terra da morte em veneza e isso, só por si, já seria uma heresia sem perdão.
Mas, neste mesmo dia, o instagram mostrou-me um outro casamento. Tudo filmado pela Madalena Abecassis. Talvez fosse o casamento de um primo. Um reality show a céu aberto. No meio do copo de água (e será que ainda se chama copo-de-água a uma cena destas?), apareceram uns polícias. 'Vem aí a bófia!', gritou alguém, creio que ela. E, de repente, os polícias não eram polícias, eram dançarinos disfarçados de polícias. Não sei se chegaram a fazer strip se ficaram assim mesmo. O que sei é que algemaram pessoas, apontaram armas à cabeça dos convidados. E toda a gente ria, tudo bem bebido, tudo descontrolado, tudo numa histeria colectiva, e ela sempre a filmar, tudo a festejar o facto de estar com uma pistola apontada à cabeça. E eu, vendo isto, interrogo-me: é isto um casamento? O que é que se celebra assim?
Confesso: vi sem acreditar no que estava a ver. A perversão ou a distorção de valores parece não ter limites. Não são só os governantes que fazem coisas incompreensíveis. São os cidadãos, os que elegem governantes perigosos, são os cidadãos que, no seu dia a dia, revelam ter mentes viradas do avesso, uma perversão colectiva que parece avançar sobre a consciência das pessoas como uma imparável mancha de óleo.
Tudo isto é demasiado chocante para mim.
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Felizmente ainda há protestos. Mas são devorados, engolidos pelo buraco negro da perversão.
Jeff Bezos and Lauren Sanchez's wedding underway in Venice | BBC News
Reality stars, actors, royals and A-listers have travelled to Venice for the lavish wedding of Amazon founder Jeff Bezos and TV presenter Lauren Sanchez.
Oprah Winfrey, Orlando Bloom, Kylie Jenner and Ivanka Trump were just some of the celebrities seen on the boats and streets of the Italian city on Thursday and Friday.
But the event has attracted protests from a variety of groups in Venice, including locals fighting over-tourism to climate change activists.
The festivities are expected to last three days, ending with a large party for the married couple and their hundreds of guests on Saturday.
Celebro os acasos, celebro a boa sorte das inexplicáveis coincidências, celebro a felicidade do que acontece apenas porque sim.
A terra, este pontinho azul que voga no infinito, nascido por milagre, que, por milagre, se mantém a flutuar em harmonia, sem se despenhar, sem explodir, sem se desintegrar, continua a ser o nosso chão, o nosso céu, o nosso sustento e amparo. Sem sabermos como nem porquê nem para quê temos o dia e a noite, temos as estações do ano, temos o quem e o frio, o seco e o molhado, o sólido, o líquido, o vaporoso e o tule e o insondável, o feio e o belo, o dizível e o indizível. E digo que não sabemos mas talvez alguém saiba, talvez os físicos, certamente os matemáticos, muito provavelmente os mais loucos poetas tenham as fórmulas, as demonstrações científicas e as outras, as feitas de palavras que cantam, que voam, que se escondem.
De todas as poeiras invisíveis que se escondem por entre as ondas também invisíveis que transportam palavras e imagens agradeço às que habitam o meu corpo e as árvores e as flores que me rodeiam.
Tudo parece impossível de mais para ser verdade. E, no entanto, damos tudo por adquirido. Não agradecemos a perfeição, a harmonia, a beleza, a raridade.
A caça aos alienígenas começou! Após uma distinta carreira em cosmologia, o Professor Martin Rees, astrónomo real, assumiu a procura de extraterrestres. Procurar alienígenas já não é ficção científica - é uma questão que está a envolver algumas das mentes mais brilhantes da ciência. À medida que o nosso conhecimento do universo aumenta, aproximamo-nos das respostas. Muitos cientistas acreditam agora que vivemos numa galáxia com mil milhões de planetas semelhantes à Terra, muitos dos quais podem estar repletos de vida. Mas que tipo de vida? Evoluiu alguma coisa para seres com os quais podemos comunicar? Este filme entra na mente dos cientistas que consideram uma das perguntas mais emocionantes e profundas que podemos fazer - estamos sozinhos no universo? O Professor Rees acredita que podemos ter a nossa ideia de como é um alienígena completamente errada. Se ele estiver certo, não são extraterrestres orgânicos que devemos procurar, são máquinas.
As coisas vêm ter comigo. É aquilo de ir na rua e alguém, que não conheço, chegar ao pé de mim e começar a contar-me a sua vida. Ou estou com uma em mente, abro o youtube e, sem que antes tenha feito pesquisas (porque 'ele', o algoritmo google, poderia migrar informação do motor de busca genérico para o motor de busca do youtube), aparece-me um vídeo que tem tudo a ver com aquilo em que ando a pensar. Não sei porque é que isso acontece. Mas acontece. Coincidência ou coisa do caraças, eu não sei.
Sei que ando numa onda zen (o que V. poderão já ter testemunhado pelo que vou divagando por aqui e que os vídeos que tenho estado a publicar no instagram também demonstram) mas, quando abro o youtube, não vou à procura de nada. Limito-me a ver o que 'ele' tem para me mostrar. Gosto de ser surpreendida.
E abaixo já verão qual o vídeo que hoje estava em posição de destaque e que estive a ver até agora.
Chegámos a casa perto das dez da noite. Depois de nos instalarmos, pusemos a reportagem sobre o Sócrates. Falarei disso depois pois tenho que deixar assentar. A seguir abri, então, o Youtube.
Hoje tive mais um dia calmo, com arrumações domésticas, com caminhadas, com um passeio bom, e, pelo meio, com mais uma tentativa de prosseguir a leitura da biografia do Herberto Helder -- mas a achar aquele tijolo um repositório ora excessivamente detalhado ora desnecessariamente ficcionado --, a espreitar 'O outro lado dos livros', Memórias de um editor, Manuel Alberto Valente, e a achá-lo um bocado 'seco' (seco ou seca?), e, pelo meio, a olhar as árvores, a sentir o perfume das flores, a ouvir os passarinhos, a olhar o céu.
Fui buscar uma espreguiçadeira e levei-a para um sítio onde não costumo estar, debaixo de uma árvore onde antes nunca tinha estado a preguiçar.
E foi uma maravilha, um encantamento, uma sensação de que eu poderia ser uma folha, um fruto a ganhar forma, um dos passarinhos que passarinha por aqui, uma pétala de rosa. Por acaso, sou esta que agora aqui escreve e que dá conta da perplexidade agradecida que sente por estar viva, por poder presenciar tanta beleza, tanta harmonia entre todos os elementos.
E, com este estado de espírito, abro o youtube e dou com uma conversa entre o Bial e Marcelo Gleiser, um físico que me deixou fascinada a ouvi-lo.
Apetecia-me transcrever várias coisas que ele disse e que correspondem ipsis verbis ao que penso (ou que me deixam a pensar), coisas como estas duas aqui abaixo que podem não ser a última coca-cola do deserto mas que são grandes verdades (pelo menos a mim tocam-me bastante pois é destas evidências que parece que meio mundo anda esquecido):
Celebrar o privilégio de estar vivo neste mundo
Cara, acorda, você é feito de estrelas!
Somos feitos da mesma matéria que as estrelas, da mesma matéria que as árvores, há átomos de outras coisas e de outras pessoas dentro de nós. Somos magia, um acaso que, por milagre, se materializou em nós.
O vídeo é um bocadinho longo mas acreditem que é interessante do princípio ao fim. Espero que gostem.
ESTRELAS, ÁTOMOS e mais com o físico Marcelo Gleiser | Conversa Com Bial | GNT
Um bate-papo que mistura ÁTOMOS, ESTRELAS, NATUREZA e o "mundo sobrenatural": o físico e astrônomo Marcelo Gleiser chega no #ConversaComBial para uma entrevista de expandir mentes.
Vi o vídeo que aqui partilho com particular agrado. Revejo-me em muito do que Annie Norgarb ali diz. Não na parte em que diz que passou grande parte da vida a fazer e a ser como os outros esperavam, esforçando-se por não desagradar, mas na parte em que diz que gosta cada vez mais de estar em contacto com a natureza, na parte em que diz que a vida é como remar até chegar ao outro lado, e isto em todos os sentidos, e na parte em que diz que gostaria de passar para o outro lado com calma, na boa.
Não posso dizer que nunca fiz coisas contrariada. Fiz. Por exemplo, quando os meus sogros ou os meus cunhados combinavam almoços ou jantares em restaurantes que, segundo eles, eram muito conhecidos e muito bons, eu ia para não ser desmancha-prazeres, mas ia antevendo que era um dia que ia às malvas. Fazia um esforço para parecer bem disposta mas, por dentro, ia mais do que contrariada. Geralmente os restaurantes estavam a deitar por fora. Primeiro que fossemos atendidos era um castigo. Os meus filhos ficavam cheios de fome, impacientes. Chegávamos a um ponto em que as crianças já se portavam mal por todo o lado, os meus sobrinhos mais pequenos choravam, já todos embirravam uns com os outros.
Alguns, começavam a pedir bebidas antes de começarmos a ser atendidos e, portanto, parece que nem davam pelo incómodo das crianças. O tempo passava e a comida não vinha. Depois, quando vinha, como éramos muitos, era uma confusão. Uma confusão a pedir, uma confusão à mesa com meio mundo a querer provar o que os outros tinham pedido, a trocarem coisas uns com os outros. Depois uns eram especialmente vagarosos, e estavam ali numa de degustar. Era quatro e tal da tarde e ainda estávamos à mesa. Quando parecia que tínhamos acabado, havia quem passasse aos digestivos e aí iniciava-se uma nova e demorada fase. Depois, ao fim de muito tempo, finalmente lá vinha a conta, sempre uma verba astronómica mas que era impossível de conferir pois, pelo meio, toda a gente tinha pedido mais um pouco de cada coisa, no conjunto parcelas que não acabavam. Podia ser aquilo ou metade daquilo. Pagava-se e pronto. Mas eu gosto de coisas rigorosas. Por isso, ficava azul de largar uma nota preta sem fazer a mínima ideia se estava correcto. Saíamos de lá tardíssimo. E, não raras vezes, a cena dava-se em lugares que não eram propriamente à beira de casa. Lembro-me, por exemplo, de uma ida à Sopa da Pedra em Almeirim, aí incluindo também primos, uma confusão indescritível, ou a um cozido em broa em Sintra num restaurante numa aldeia em que só começámos a almoçar depois das quatro da tarde. Intimamente sentia-me desvairada e estafada pois perder um sábado ou um domingo daquela maneira não era o que eu mais desejasse, mas aguentava de boa cara, fazia um esforço sobre-humano para não espumar, para não invectivar ninguém, para parecer que aquela também era a minha praia. Tudo porque não era capaz de dizer que não contassem comigo. Mas, enfim, a vida também é feita de alguns fretes.
A nível profissional também fiz alguns. O pior eram reuniões, não conduzidas por mim mas por alguém que gostava de fazer render e que deixava que se arrastassem por infindáveis horas sem que nada se resolvesse. Horas e horas a mastigar, sem engolir. Eu a ver as horas a passar, a querer ir para casa, e aquilo sem acabar. Por vezes mostrava alguma impaciência mas era obrigada a acatar o ritmo de quem conduzia a reunião. Lembro-me, em especial da ansiedade em que ficava quando os meus filhos ainda eram pequenos ou adolescentes e eu queria ir buscá-los à escola, estar com eles, queria fazer o jantar a horas... e nada, aquilo não atava nem desatava. Se calhar, não podia mesmo levantar-me e dizer que me recusava a dar mais para aquele peditório. Acho que não podia mesmo fazer isso. Mas foi tempo de vida que queimei a aturar pessoas que não sabiam conduzir reuniões ou tomar decisões. Não foi para agradar, foi apenas porque seria impensável desacatar a hierarquia, seria algo que irremediavelmente teria consequências, e não seriam boas.
Mas, tirando coisas assim, não tenho ideia de ter contrariado a minha natureza para agradar aos outros.
Mas, tirando esse aspecto, coincido muito no que a Annie Norgarb diz, no gosto das coisas simples, no prazer no contacto da natureza, na compreensão de que não vale a pena complicar e na vontade de que, quando o fim se aproximar, ir na boa, sem me agarrar a uma vida que irremediavelmente um dia se extinguirá.
Do que mais me custou nos últimos tempos da vida da minha mãe foi na sua total negação, na sua recusa em aceitar que o fim estava para breve, na forma desesperada como se agarrava à vida. Não aceitou que estava doente, escondeu-o, não quis tratar-se, teve medo dos tratamentos, e, sobretudo, não quis aceitar que o fim da linha estava prestes a ser cruzado. Estava numa angústia terrível e nunca permitiu que o tema fosse abordado. Gostava de ter podido dizer-lhe que partisse em paz, que nós ficaríamos bem e que ela iria descansar. Gostava de ter podido serená-la. Mas não foi possível. Ela queria viver e, sobretudo, queria viver com a qualidade de vida que teve até tarde. Eu gostava de, quando chegar a minha vez, encarar esses momentos com maior racionalidade, com tranquilidade, com aceitação. A forma como Annie Norgarb fala disso, sorrindo, agrada-me.
Mas não é só disso que ela fala. Fala de despojamento, fala de simplicidade. E alimenta os passarinhos, os patos, o pavão, os seus três cães. Passeia, acarinha as flores, desfruta da paz de existir.
É um vídeo muito bonito. (Dá para pôr legendas em português).
It took me 80 Years - Life Lessons I Wish I Knew Earlier - HERE'S WHAT MATTERS
Time, when approached with gentleness, doesn’t have to be something we resist. It can become a steady companion, offering a quieter kind of beauty — one that isn’t about appearance or achievement, but about depth and authenticity. As we grow older, our priorities shift, our understanding deepens, and there’s often a greater sense of ease in simply being who we are.
The passing years don’t take away who we are, they often bring us closer to it. Rather than chasing youth or regretting its passing, there is value in settling into ourselves more fully. When we stop measuring life by what we should be or do, we begin to recognise the richness of where we already are.
O Instagram mostra-me coisas e geralmente gosto do que me mostra. Os algoritmos são bem concebidos, lá isso tenho que conceder. Por exemplo, ouço com atenção dicas sobre saúde, sobre alimentação, sobre exercício físico e já partilhei um ou dois vídeos com a família. E gosto muito de ver cortes de cabelo e transformações que quase parecem de personalidade só porque a pessoa mudou completamente de penteado ou de cor de cabelo. Quanto a decoração, jardinagem ou culinária isso nem se fala: vejo de gosto e aprendo sempre. Depois há os DIY (Do It Yourself) que me deixam fascinada mas que são tantos e tão variados que não consigo fixar um décimo do que vejo: truques para melhor dobrar e acondicionar roupa, para pintar, para transformar pequenos espaços em espaços multi-usos, para enfiar linha no buraco da agulha, para regar flores na nossa ausência, etc. E relatos de artistas que mostram como pintam, como incorporam outros materiais nas suas obras ou, simplesmente, que mostram os seus trabalhos.
Um mundo.
E dá ideia que meio mundo tem coisas a ensinar aos outros: três alimentos maravilhosos, três alimentos péssimos, três cremes fabulosos, três truques fantásticos para disfarçar a barriga, três regras de etiqueta para estar à mesa.
Vou navegando por ali e, como tenho dito, sem propósito. Não tenho nada para ensinar. Pego no telemóvel e digo a primeira coisa que me vem à cabeça. Digamos que são apontamentos, breves e irrelevantes testemunhos mas testemunhos de pensamentos ou coisas banais. Não sei se faz sentido. Penso nos recursos informáticos necessários para acondicionar, catalogar, tornar disponíveis a todo o mundo que queira ver coisas tão despropositadas. É como isto que aqui escrevo. São registos que ficam armazenados em servidores, que circulam pelas redes. Em qualquer parte do mundo a qualquer hora do dia, qualquer pessoa pode ver o que faço. E, no entanto, o que faço é totalmente irrelevante. Mas, se calhar, a vida é mesmo assim, uma sucessão de eventos, uns dignos de ficarem para a história e outros assim, banais, irrelevantes.
No meio do que me aparece tenho conhecido personagens cuja existência desconhecia em absoluto e que agora vejo na boa. Destaco três.
Um, o Theodoro, é um influencier brasileiro com mais de cinco milhões de seguidores, que tem recebido prémios e tem sido capa de revista. Acho-lhe piada. É extrovertido, alegre, bem disposto. Mostra-se com o marido, com os pais, com as tias, pessoas humildes, mostra o cão. Claro que não acrescenta nada de extraordinariamente existencial ao mundo. Mas, sendo um jovem gay e que é tão bem aceite pela família e pela sociedade, julgo que isso é importante, sobretudo para que os mais preconceituosos percebam que a homossexualidade não é uma opção, é uma orientação, e não é uma limitação nem uma menorização. Ninguém tem direito a ser mais ou menos feliz por ser ou deixar de ser hetero ou homossexual.
Outro é o Sincera.mente. Acho-lhe um piadão. É genuíno, é divertido, é boa onda. É drag mas uma drag com muita pinta, com bom gosto, inteligente, rápido na construção de uma boa tirada, com uma intuição e uma imaginação toda ela eivada de bom humor. As suas conversas na rua são um monumento à boa disposição e ao humor a sério.
O terceiro é o Kiko is Hot. Não sei bem definir qual a sua actividade (mas é puro desconhecimento meu). Se calhar é artista de teatro. Ou faz podcasts. Ou será DJ? Não sei. Mas gosto dele. É simpático, é divertido, goza com ele próprio. Também é gay. Vi que diz que, por ele, tanto pode ser do sexo masculino como do feminino. E acho que isso tem que ser respeitado. Acho que deve ser uma boa onda, uma boa companhia, uma graça.
Nestes tempos em que parece que a homofobia está outra vez a caminho de ser legitimada, penso que é importante que figuras públicas que são gays não se escondam, mostrem que são estimadas, amadas pela família, respeitadas. E penso que quem está seguro da sua sexualidade e não tem receio de ser 'contagiado' ou receio de ser olhado de lado deve falar do assunto de forma aberta, simples, sem tabus. Só os cobardes podem achar que quem é homossexual é um ser inferior, que pode ser insultado, humilhado, ameaçado.
Mau é ser mesquinho, hipócrita, manipulador, narcisista, mentiroso, vigarista, burro ignorante e prepotente, agressivo. A homossexualidade não é um traço de caráter pelo que afastar ou repudiar ou pretender isolar socialmente alguém só por isso não faz sequer sentido.
Só por ter conhecido estes três bacanos já acho que o Instagram tem valido a pena.
E só espero que o Chega, com o PSD a reboque, não apareça por aí um dia destes, qual Trump, a querer proibir espectáculos drag. Desta gente tudo se espera.
Ando tão numa outra que me parece pura perda de tempo pôr-me a falar de temas que não me interessam. Mas a verdade é que compreendo que quem aqui me visita também já deve estar pelos cabelos com os meus bucolismos e as minhas florzinhas.
Só que falar dos ataques de uns malucos a uns fanáticos, das retaliações de uns estupores a uns fundamentalistas, de umas ameaças de uns filhos da mãe a uns sacanas de primeira é coisa que me maça. Pá, maça-me mesmo. Mesmo que queira alinhar três palavras falta-me a inspiração para inventar motivações válidas ou reações lógicas. Tudo me parece uma soap opera ensopada em sangue, fragmentada por estilhaços, mas com a agravante de os intervenientes serem uns palhaços, uns trogloditas. Por isso, lamento mas não consigo.
Acho que ando em modo 'férias grandes'. Quando andava no liceu, aspirava a entrar nas férias grandes em que havia sempre praia com amigos, festas de anos com slowzinhos e bolos incluídos, passeatas e risotas com fartura. E esse espírito parece que desceu em mim e me impede de me deter em temas 'pesados' ou chatos ou absurdos.
Sobre o Governo também não quero dizer nada. Ainda agora começaram, há que esperar para ver. Além disso, quero que, a bem do País, as coisas lhes corram bem. E, no que se refere à oposição, o PS tem que dar ao pedal para se voltar a aguentar em cima da bicicleta, mas há também que lhe dar tempo. Tempo. Aguardar. Não falar só por falar.
Por isso, querendo não defraudar a paciência de quem aqui vem na esperança de me ouvir a falar de coisas mais actuais e concretas, vou falar do conflito entre uns tais Anjos e uma tal Joana Marques.
Para começar tenho que confessar que não sou seguidora ou apreciadora nem de uns nem de outros. Do pouco que lhes conheço, a qualquer dos três, não aprecio. Nada daquilo faz o meu género.
Mas se acho que o que eles cantam não faz mal a ninguém, quem gosta gosta, quem não gosta segue em frente, já do que ela faz não se pode dizer o mesmo.
É humor, dizem. Mas eu, ao pouco que lhe tenho ouvido nunca achei ponta de corno de piada nenhuma. Parece-me apenas uma criatura maledicente, antipática. Haverá quem ache graça a ouvir umas pessoas a troçarem de outras. Eu não acho. Pelo contrário, incomoda-me.
Quando o Ricardo Araújo Pereira põe a ridículo maus desempenhos no exercício de cargos públicos por parte de pessoas pagas por todos nós e que se revelam uns burgessos que não sabem falar, nem estar, nem fazer, não me choca. É gente incapaz cuja profissão supostamente é trabalhar em benefício da população e que, nos vídeos que ele mostra, se revelam uns bimbos que jamais, em tempo algum, deveriam estar naquelas funções. Outras vezes mostra candidatos que pisam o risco, que tropeçam, que se desviam. Mas, lá está, estão a candidatar-se a cargos públicos. Seria bom que fossem exemplares, competentes, acima de qualquer suspeita. Por isso, não me choca que sejam chamados à atenção. E se o forem de forma como ele o faz em que pouco diz, apenas os expõe e, sempre, através de vídeos públicos, também nada a dizer. Não sei se aquilo é humor ou se é crítica social ou política. Mas aceito.
Mas gozar com pessoas que estão no exercício do seu trabalho e no decurso da sua vida, por exemplo por cantarem menos bem, por se vestirem menos bem, por trabalharem de uma forma algo questionável ou seja lá por que for, isso parece-me bullying, maldade, exercício gratuito de maledicência. Forçosamente irá afectar negativamente as vítimas, irá humilhar as pessoas, envergonhá-las, prejudicá-las. Nunca gostei de assistir à troça de uns sobre os outros. Nunca. Se não consigo impedi-lo, afasto-me.
Tenho observado que meio mundo anda a defender a pespineta Joana Marques. Alega-se que é humor ou liberdade de expressão. Não concordo nem um pouco. O que ela faz é dizer às claras aquilo que os maledicentes fazem à boca pequena, é dizer de viva voz o que tanta gente anónima despeja nas redes sociais. Mas isso não é bom pois a humilhação que inflige aos visados é ainda mais cruel, mais amplificada.
Dito isto, acho também um disparate a reacção dos Anjos com o recurso à via judicial, com aquele pedido de indemnização. Penso que mostrarem publicamente o seu desagrado e seguirem em frente teria sido mais razoável, mais digno. Assim, o que conseguiram foi o oposto do que pretendiam: são ainda mais ridicularizados. Mais valia terem ficado quietos.
Agora penso que seria interessante que se debatesse sobre o caminho do entretenimento em Portugal. Se ouço algumas rádios, fujo a sete pés: meio mundo diz graçolas parvas, riem-se muito das parvoíces que dizem. Se calha ouvir alguns podcasts, fujo a sete pés: perguntas parvas, respostas parvas, a futilidade como o novo 'normal'. E o endeusamento que fazem desta Joana Marques é outra aberração. Como pode ter tamanho palco uma pessoa que amesquinha os outros, que é gratuitamente desagradável, que causa constrangimento e angústia às suas vítimas? Em que mundo é que aquilo é humor? Gozar com os outros, apoucá-los, é engraçado? Não acho. Acho triste.
Já é tempo de se reconhecer o mérito a quem tem alguma profundidade, a quem consegue falar de assuntos interessantes, desenvolvimentos científicos, arte, experiências sociológicas, a quem consegue falar de assuntos em que haja mérito, a quem revele saber e cultura, a quem tenha graça e delicadeza e bondade -- em vez de dar palco a parvoíces de gente parva que se acha engraçada a expor a sua vacuidade e a troçar com as fragilidades alheias.
Quem se dá ao trabalho de ver os meus inconcebíveis vídeos no Instagram, para além de constatar um indiscutível amadorismo e uma total ausência de propósito, já deve estar farto do chinfrim que faço ao andar, pisando caruma, folhas secas de azinheira ou de eucalipto, bolotas ressequidas e tudo o mais que por aqui se junta.
É certo que eu poderia -- e, se calhar, deveria -- aprender a editar os vídeos, retirar-lhes o ruído ambiente, cortar e colar bocados disparatados, etc. Mas, sinceramente, não ando com paciência para gastar tempo com isso. E, ao escrever isto, receio que achem falta de respeito da minha parte apresentar produtos de tão insólita falta de qualidade alegando falta de paciência para aprender e para editar. Porém acreditem: não é falta de respeito, é mesmo uma quase incapacitante falta de paciência. Pode ser que me passe... Um dia que leve mais a sério isto de fazer 'conteúdos digitais' (como agora sói dizer-se) talvez me leve a mim mesma mais a sério (e agora devia aqui inserir um emoji a piscar o olho e a deitar a língua de fora para que percebam que estou a pensar que está bem, está).
Em contrapartida, tenho passado os dias a varrer em volta da casa. Só que a casa, ainda assim, tem um perímetro que vai lá, vai, e os calores dos últimos tempos têm feito o chão encher-se de folhagem seca. Por isso, é um trabalho insano, uma never ending story, uma cena à moda do sísifo. Até não há muito, com as chuvas, era musgo por todo o lado e até nascia erva das pedras. Agora está tudo seco e é o que se vê.
Lá por baixo, na extensão grande do terreno, não há como varrer ou impedir que os meus passos façam barulho ao pisar isso, mas, em volta da casa, até por razões estéticas ou de segurança, obviamente tem que ser tudo limpo.
Em tempos, tínhamos contratado um senhor da aldeia para tratar das limpezas e das regas. Vinha duas tardes (completas) por semana. Queixava-se, dizia que não chegava, dizia que era trabalho a tempo inteiro. Mas também não queríamos que isto fosse o palácio de versalhes, não era nossa ideia ter um jardim imaculado em volta da casa. Sobretudo, o que queríamos era que, ao fim de semana, não tivéssemos que nos preocupar com isso. Mas o senhor, para nos demonstrar que duas tardes (inteiras) por semana não chegavam, pespegava-se cá ao sábado. Nós a querermos estar descansados e à vontade e ele a cirandar por aqui, a chamar-nos para nos mostrar isto, a chamar-nos para nos perguntar sobre aquilo, uma seca de que não havia memória. Mesmo quando lhe dizíamos que íamos cá ter pessoas, ele não despegava. Aliás, parece que fazia questão em estar, em ver e ser visto. Ficávamos passados. Com muita dificuldade e cuidado para não o melindrarmos, acabámos por dispensá-lo.
Mas isto não se dá conta. Precisa mesmo de manutenção. O ano passado o meu marido contratou outro senhor da aldeia. Veio recomendado pelo vizinho do início da rua. Avisou-nos que ele bebia um copito a mais mas que era trabalhador e sério.
Chegávamos cá e estava tudo na mesma, com excepção de beatas por todo o lado. E não era das puritanas que rezam, eram mesmo das que podem pegar fogo. Queixava-se que era um trabalho ingrato, que vinha limpar e varrer e apanhar ervas todos os dias e que chegava ao fim de semana e o que tinha sido cuidado na segunda-feira já estava outra vez a precisar de ser limpo. O vizinho confirmava que o via andar por cá a trabalhar, que não era tanga. No fim, pagávamos horas que nunca mais acabavam e não se via nada de jeito, só beatas. Dizia que tinha cuidado, que as apagava bem. Mas eu não podia ver beatas por todo o lado, é coisa que me me complicava com o sistema nervoso. No conceito dele, os cigarros são para se deitar para o chão e parecia não perceber que não o deveria fazer. Acabámos por agradecer e, uma vez tudo pago, nunca mais lhe dissemos para vir.
Resultado, somos nós que tratamos do assunto. O meu marido reclama, diz que é trabalho a mais.
A mim não me custa. Gosto imenso de varrer. Aposto que para a minha cabeça é como se estivesse a meditar: não penso em mais nada. Ando completamente focada a varrer e fazer montes. O pior é que, depois, encher os sacos ou os carrinhos custa um bocado. Uso uma pá grande mas, às tantas, o meu marido pega ele naquilo e anda ele a recolher os montes, a transportá-los para a terra. E queixa-se. Diz que, antes de eu acordar, já ele andou a cortar mato ou a fazer outras tarefas e que, depois, eu não sei parar e varro este mundo e o outro e que não está para isso. Mas esta nossa dinâmica, de reclamarmos um com o outro, já tem barbas, ou seja, já não ligamos muito aos protestos um do outro.
Outra coisa que fica para mim é a rega. Gosto imenso de regar. Quem me acompanha aqui há muito tempo, recordar-se-á que já contei que, de início, investimos fortunas (salvo seja) em sistemas de rega mas que, quando cá chegávamos ao fim de semana, estava tudo roído. Os coelhos (ou outra bicharada) roíam tudo. O meu marido substituía e eles comiam. Desistimos. O meu marido decretou que o que sobrevivesse sem rega seria bem vindo, o que carecesse de cuidados, podia desaparecer à vontade. E assim foi.
Mas o que está mesmo em volta da casa, do lado da frente, tem que ser regado. Agora do lado de trás e dos lados (se bem que a casa, pela sua arquitectura, na prática não tem frente, nem lados, nem trás) nunca é regado.
E, no entanto, está tudo gigante. Só as laranjeiras, e estão à frente, é que estão raquíticas e vão acabar por morrer. Não deveriam ter sido plantadas, não se dão aqui, é impossível. Quando comprámos o terreno já cá estavam, e já eram infelizes. Trinta anos depois ainda sobrevivem... mas coitadas.
E hoje já andei a apanhar orégãos, amanhã já vou montar o estaminé do costume: lençol em cima da mesa da casa de jantar e eles espalhados em cima, a secar.
Adoro. São perfumados, frescos. Bouquets graciosos, delicados e com a graça adicional de serem comestíveis.
O campo, para mim é uma mistura de mil sensações boas: os sons, os cheiros, a luz, a paz, o vagar, o contacto directo com a terra, com o trabalho simples. Maravilha maior. Não há cá férias em resorts, em turismos de habitação cinco estrelas, o que for: aqui é que a minha alma rural se sente bem.
E, ao fim do dia, enquanto estava ao telefone com a minha filha, ia ela a caminho de casa depois de umas belas férias abroad, e eu por ali andava de um lado para o outro, uma surpresa daquelas que me deixam a sorrir, com vontade de agradecer, com vontade de trepar às árvores a ver se me aceitam como uma deles: um esquilo a andar por cima de um banco, a trepar a um muro e depois a subir pelo tronco da azinheira sob a qual eu estava. Que bênção, que alegria. Eu com receio que eles tivessem desaparecido e, afinal, ainda por aqui andam. Este é mais escurinho do que os que eu tinha visto antes. Este era mesmo castanhinho escuro. Lindo, fofo, um rabo enorme, ao alto.
Estava a falar ao telefone, não consegui fotografá-lo. Mas acreditem, ainda por aqui andam. Provavelmente, enquanto ando a varrer, estão eles lá em cima a tentar compreender que animal é este que, cá em baixo, se entretém a fazer montes de folhinhas e bolotas (e pinhas que eles deitam para o chão depois de as roer). Esse animal sou eu que, tal como eles, vim de outras paragens para usufruir do privilégio de respirar este ar tão puro, para viver nesta paz tão mágica.
A semana passada a PJ fez uma operação com o objetivo de desmantelar um grupo neonazi que atuava em Portugal. Curiosamente, só o fez depois de vermos reportagens jornalísticas sobre o grupo e de elementos do grupo terem agredido pacatos cidadãos que apenas faziam aquilo que conscientemente entendiam fazer sem qualquer prejuízo para a sociedade.
Tenho sempre alguma dificuldade em entender a razão de as polícias não investigarem o que realmente é perigoso para a sociedade e para a democracia e andarem a reboque da comunicação social nestes assuntos.
Soube-se, entretanto, que o grupo neonazi tinha militantes que pertenciam à polícia, à GNR e às Forças Armadas e que planeava acabar com o governo socialista por meio de uma ação violenta no parlamento.
Enquanto se desenvolviam estas ações organizativas, criminosas e verdadeiramente perigosas para a democracia, o MP estava preocupado com os jantares do Galamba e com mais uma série de putativas parvoíces. É de " louvar" a perspicácia dos magistrados que, por manifesta falta de qualidade ou por, porventura, terem agendas escondidas, em vez de investigarem assuntos verdadeiramente importantes, se ocupavam de menoridades inconsequentes.
Não consta que durante quatro anos tenham feito oitenta e tal mil escutas telefónicas ao polícia que chefiava o grupo. Esqueceram-se ou não era prioritário?
Também é curioso que a polícia e as forças armadas não consigam garantir que o respetivo pessoal cumpre os mínimos democráticos.
Já agora não quero deixar de referir que a votação no Chega deu, em minha opinião, um forte contributo para estes grupos saírem do covil e aparecerem em público a defender ideologias intoleráveis, contra os mais elementares direitos dos cidadãos. Também se deve agradecer ao José Pedro Aguiar Branco o trabalhinho que fez como presidente da AR ao permitir que o Chega denegrisse o Parlamento durante toda a legislatura. Assim, se criam percepções que tornam as instituições alvos fáceis para quem quer destruir a democracia e se potencia o voto nas forças anti sistema.
"Parabéns" José Pedro. Ou será que ainda é possível emendar a mão? Aguarda-se para ver o seu comportamento nesta legislatura.
Caminhamos numa direção muito perigosa e corremos o risco de em pouco tempo desbaratarmos o que levou muitos anos a conquistar. Os EUA, com o Trump, são um exemplo acabado deste retrocesso. Se não tivermos pessoas preocupadas e pressionantes e políticos à altura, isto não vai acabar bem.
Infelizmente, do que se tem visto parece que a malta que agora governa está mais preocupada em seguir a agenda do Chega do que seguir um caminho escorreito. Tempos desafiantes.
Não sei há quantos anos não ando de metro em Lisboa. Décadas, seguramente. Habituámo-nos a andar de carro. Bem sei que é uma parvoíce. Mas, quando sugiro ao meu marido que, em vez de andarmos preocupados com o trânsito ou com o estacionamento, podíamos usar transportes públicos, pergunta-me onde é que deixávamos o carro. Não há transporte directo para o centro, pelo menos que saibamos. Por isso, ou fazíamos transbordo ou íamos de carro até um lugar mais ou menos periférico. Mas desabituámo-nos, isso parece-nos mais complicado do que irmos de carro desde que fechamos a porta de casa até quase à porta do lugar onde vamos. Há hábitos difíceis de quebrar.
Isto é uma (subtil) performance
Quando eu andava de metro, e gostava de andar por ser prático e rápido, esteticamente nada tinha que se lhe dissesse. Mas mudou e, do que tenho ouvido dizer, mudou para melhor, para muito melhor. Tenho ouvido falar de algumas estações que me dizem ser espectaculares, quer do ponto de vista arquitectónico quer do ponto de vista artístico. Do ponto de vista técnico, nomeadamente do ponto de vista de engenharia civil, tendo em conta as particularidades da cidade, nem falo pois não tenho competências para avaliar -- mas imagino que cada estação seja um desafio, especialmente as da baixa, debaixo de água, no meio de estacaria e de ruínas.
Estas são as três graças
Mas hoje, depois de um dia longe de trânsitos, poluições e outras confusões, um dia dedicado a varrer (não dou conta da caruma, das folhas secas das azinheiras, das bolotas), a caminhar entre árvores, a fotografar flores e florzinhas, pés de orégãos, searas imaginárias, luzinhas mágicas a envolver pomponzinhos fofos, eis que pouso aqui, no bem bom, e recebo, de presente do youtube, um vídeo que mostra a beleza do metropolitano de Lisboa.
Diz ele que é dos mais belos do mundo. E eu fico contente por saber isso. Adoro Lisboa, adoro Portugal, adoro as coisas lindas do meu País.
Para quem esteja como eu -- a milhas de o conhecer -- aqui fica. Lindo, de facto, moderno, elegante, arejado e convidativo. Um dia destes vai ter que ser.
This Is the Most Beautiful Metro (that no-one talks about)
When transport fans, enthusiasts, tourists, guidebooks and listicle websites talk about the most beautiful underground systems in the world, the same small handful of cities tend to be mentioned. You've just immediately thought of at least two of them.
But no-on ever seems to bring up the Metro in Lisbon, which is, in my opinion, definitely worth including on the list. Using footage from my recent trip to the city, let me show you what I mean...
Gosto agora muito de me sentar no jardim ou no campo, em especial à tardinha, a olhar para o ar, para o céu, para as árvores.
No jardim há agora um perfume novo, creio que a mistura de várias flores. É um perfume floral, isso sem dúvida, mas, ao mesmo tempo, doce e íntimo. Os pássaros também gostam. Descem e vêm passear perto de mim, entretendo-se a debicar o que encontram na terra.
Se estou sob as árvores gosto de as admirar, vendo-as de baixo. Não existiam e foram-se tornando a maravilha que são. E gosto de ver as flores através da luz. Ou a luz através das flores. Parece o mesmo mas não é.
As nuvens também me cativam. São efémeras como uma aragem. Não têm a noção do tempo nem do espaço, são livres como uma partícula elementar, como uma palavra solta ao vento, como espíritos vogando por aí.
Isto é um deus, e creio que daqueles que não são particularmente santos (honi soit qui mal y pense).
Muitas vezes tenho um livro comigo mas, se o livro não tem nada que me impressione (e impressionar no sentido em que a luz impressiona a película, nela gravando imagens, sombras, movimentos), fecho-o e deixo-me estar.
Isto é um milagre. Inexplicável. Fruto da inspiração de uma inexistente divindade
Tenho saudades de fotografar com as minhas máquinas fotográficas. Foram-se estragando e, depois, para quê continuar?, já tinha milhares de fotografias. Faz sentido continuar a acumular fotografias? Não vou voltar a vê-las. O que gosto é do momento em que capto a imagem. A partir daí já não me interessam. Agora uso o telemóvel. E vou apagando pois estou sempre a precisar de mais espaço.
Isto é uma obra de arte. Fortuita. Com a vantagem de não ser um Miró
Já contei muitas vezes que, quando fazemos as nossas caminhadas nestes dias de calor, mal transpomos e entrada do nosso jardim, sentimos a frescura que nele se acolhe. A temperatura está uns graus abaixo da temperatura fora dele. São as árvores, as trepadeiras, as flores, é o carinho que retêm.
In heaven a mesma coisa. Vou andar lá em baixo e, no meio das árvores, é outra a geografia.
Em qualquer dos casos, o tempo suspende-se.
Hoje estava sentada no meio das flores, o cão deitado, os passarinhos a cantar. Pensei que poderia ficar assim saecula saeculorum. Talvez bastasse não me mexer. O mundo à minha volta a girar e eu ali, parte do tempo, imóvel como o tempo, uma partícula imaterial suspensa na infinitude do espaço.
E para que não protestem com o teor da conversa, para quem prefere temas mais concretos, aqui está um vídeo que poderia muito bem servir de inspiração a quem tem a responsabilidade de melhorar os espaços públicos.
THE MINI FOREST - Rewilding using the Miyawaki Method
Terrell Wong is about to plant 100 trees in her small Toronto backyard, a dense mini forest based on the Miyawaki Method. What at first seems like a simple act soon evolves into a complex story about dirt, lawns, fungus, wildlife, native species, and finally the human brain. An anti-lawn anthem from director David Hartman, The Mini Forest explores this innovative form of afforestation and the importance of restoring the native woodlands that once covered so much of Canada and the World.
Gosto de livros, de filmes e de vídeos sobre jardins e jardineiros. Sobretudo, gosto de jardins.
Tenho vivido bons momentos ao longo de toda a minha vida.
Não guardo traumas (ou, pelo menos, não dou por eles). Sempre relativizei o que me desagradava. Na escola devo ter passado por situações menos boas pois toda a gente se lembra de ter passado e eu não devo ser diferente dos outros. Mas, de facto, não me lembro. Situações boas de que me lembre são aos montes. Provavelmente desde miúda que reajo como sempre me ter lembrado de ter reagido: não ligar a mínima ao que me desagrada.
Por exemplo, lembro-me de que, quando cheguei ao 1º ano do que se chamava Ciclo Preparatório, hoje 5º ano, não conhecia ninguém na minha turma. Na altura, as turmas eram inteiramente femininas. Várias das minhas colegas tinham andado juntas na escola primária e, portanto, já eram amigas. Eu aterrei num mundo desconhecido. Isso para mim foi apenas uma alegria, um mundo novo a descobrir. Era tudo desconhecido: o espaço, o ambiente, as professoras, as colegas, as regras. Com dez anos acabados de fazer ia, de autocarro ou a pé, sozinha para a escola e da escola para casa. Os meus pais trabalhavam e, por isso, eu estava por minha conta. Achava isso natural. Talvez estranhando não verem a minha mãe, perguntavam-me por ela e eu dizia que ela estava na escola, a dar aulas, era professora. Lembro-me de um dia uma colega me ter dito, com ar abespinhado, que eu julgava que era melhor que as outras e, quando eu me mostrei admirada e perguntei porque dizia ela isso, me ter respondido que eu dizia que a minha mãe era professora. Lembro-me bem do meu espanto e de ter dito: 'Mas ela é professora!'. E lembro-me de ter pensado: 'É mesmo burra, se calhar queria que eu dissesse que a minha mãe estava em casa, só para ser igual às outras'. Não me aborreci. Relativizei, achei apenas que ela era burra. E ao longo de todos os anos em que com ela convivi mantive a mesma opinião: só diz burrices.
Por isso, se alguém me chateou (e, repito, só me lembro dessa vez), borrifei.
A minha mãe por vezes arreliava-se por eu ser assim. Disse-me várias vezes que me achava excessivamente racional. Na realidade, eu sempre fui muito o oposto dela. Embora para o exterior ela mostrasse alguma resistência à opinião alheia, a verdade é que se incomodava muito com isso. E guardava mágoas e ressentimentos. Eu zero. Não queria saber disso para nada. Ela às vezes dizia-me: 'disseram isso de ti e não queres saber..?'. E eu respondia que não, não queria saber. Zero, zero. Por isso, quando ela às vezes mostrava opiniões negativas sobre alguém, eu nunca sabia porquê. Se alguma vez tinha sabido, já tinha esquecido. Ela ficava passada comigo. Achava-me excessivamente desprendida.
Mas dos momentos bons não me esqueço. E não os desvalorizo.
Podem ser situações aparentemente insignificantes mas, para mim, muito relevantes. Por exemplo, e já falei disso muitas vezes, dos momentos bons, relembro os que vivi, ainda que fugazmente, nos viveiros em que ia comprar pequenas árvores para tornar o nosso terreno pedregoso naquilo que é hoje. Já não me lembro como se chama a terra, se é Chamusca, se é Azambuja, sempre confundi os nomes. Saía de casa muito cedo, metia-me a caminho para lá estar muito cedo (não me recordo bem mas tenho ideia que aquilo abria às oito). Depois escolhia as arvorezinhas, levava o carro cheio e regressava a Lisboa, para ir trabalhar.
As jardineiras, simpaticíssimas, de galochas, andavam pelo meio de todo aquele mundo, um mundo perfumado, húmido, generoso, a terra negra, fértil -- e elas conheciam todas as espécies pelo nome correcto, sabiam como cresciam, como se faziam, escolhíamo-las em conjunto, eu pedia a opinião delas, elas juntavam-se para andar comigo. Acredito que achassem curioso que ali chegasse aquela mulher vinda de Lisboa, vestida daquela maneira, de saltos altos, toda produzida, e por ali andasse conversando com elas, escutando-as com tanta atenção. Cheguei a dizer-lhes que as invejava, que não me importava de trabalhar ali. A forma como faziam transplantes de vasinhos para vasos maiores, a forma como tratavam as plantinhas como bebés, como animaizinhos que precisassem de cuidados, enternecia-me.
No liceu detestei botânica. Hoje penso que a forma como se ensina destrói a curiosidade e o gosto dos miúdos. Muito se deveria repensar sobre a forma de ensino.
Mas também é certo que o meu gosto por árvores, por flores, por trepadeiras, é um gosto mais espiritual que académico ou funcional. Por exemplo, não me sinto atraída por saber as regras de uma poda correcta ou por fazer uma horta. Mas gosto de andar junto às plantas, contemplá-las, venerá-las. É um gosto poético, um gosto imaterial, quase abstracto, difícil de explicar.
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Não obstante, gosto de ver vídeos como este que aqui partilho em que se abordam temas bem pragmáticos, muito terrenos. Muito pertinentes. Este é um dos tipos de sabedoria que me cativa.
Portugal is Turning into a Desert – Can This Farming Method Save It?
Portugal is slowly turning into a desert. But is the real issue a lack of water—or poor water management? Lars and Denise are using a powerful technique to restore the land and prevent desertification. This technique can be applied anywhere in the world—not just in Portugal or dry regions. By using this method, you’ll gain a deeper understanding of farming and how to work with nature instead of against it.
In this short documentary, Lars—who has spent years working with nature—explains the basics of his approach, inspired by syntropic farming. Want to learn more? Together with Lars and Denise, I (Sara) have created step-by-step videos to teach this method.
00:00 - 00:37 Intro
00:37 - 02:17 Results
02:17 - 05:56 How to regenerate the land? Permaculture vs. syntropic farming
05:56 - 08:06 How long does it take to regenerate? No dig vs. dig