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segunda-feira, novembro 10, 2014

Casas e jardins especiais


No post abaixo mostro uma entrevista divulgada pelo site da Vogue inglesa, At Home with Kate Moss. A propósito falo um pouco dela e do quanto ela tem inspirado artistas variados - mas graça mesmo o que tem é a conversa dela.

Mas isso é a seguir. Aqui, agora, a conversa é outra.

Ando um bocado constipada há uns dias, sinto-me ligeiramente adoentada, há bocado tomei um anti-histamínico e, por tudo isso, estou com menos pilhas do que o habitual. Claro que, quando anunciei que este domingo não estava disponível, que ia ficar em casa, me perguntaram se tinha febre e parece que o pimentinha mais crescido até perguntou se eu tinha legionella. Pois, acho que não, nem andei por aquelas bandas (a não ser que passar na A1 na zona da Vialonga e Alverca conte). Mas, mesmo não sendo isso (noc-noc-noc, três vezes na madeira) e sendo apenas uma porcaria de uma doençazeca, a verdade é que estes resfriados ou gripes ou lá o que isto é deitam uma pessoa um bocado abaixo. 
Mas amanhã já vou estar fina até porque tenho programa nocturno e ai de mim se falhava o evento. Depois logo conto até porque promete; mas, como devo chegar tarde a casa, talvez seja apenas uma nota breve. Logo vejo o que consigo fazer.

De tarde, enquanto, deitada no sofá e tapada com uma manta quentinha, lia de gosto O Grande Rebanho de Jean Giono, ia pensando que, à noite, aqui, no Um Jeito Manso, tinha muita matéria para pôr em dia. Pensava, por exemplo, nas ligações de Durão Barroso ao BES ou noutras coisas desagradáveis como a venda do País ao desbarato, seja a chineses, angolanos, brasileiros, omanitas, a quem calhar; mas a verdade é que, agora, não tenho disposição para falar das teias de que se tem tecido a vida política em Portugal, grande parte dela subordinada a interesses oportunistas e, em alguns casos, pouco mais do que feudais.


Contudo, em dias assim, quando não estou em grande forma, só me apetece falar ou pensar em coisas que me agradam.

Por isso, com vossa licença, que se lixem o Cherne e as suas liasons ao BES, a Isabel dos Santos, agora com a OPA sobre a PT e a quem já não deve faltar muito para ser a nova DDT, e os anormais sempre de perna aberta que acham muito bem que se perca a soberania num abrir e fechar de olhos, sem que se lhes ouça um ai


Vou antes partilhar convosco casas ou jardins de que muito gosto.


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.  1  .




Já não é a primeira vez que aqui trago Luis Barragan, cuja arquitectura muito me inspirou numa dada altura em que pintei várias telas a pensar nas linhas puras, nos recantos subtis e nas cores quentes das suas casas.


A sua casa é maravilhosa. Se um dia me sair o euromilhões (coisa que acho que um dia vai acontecer e, por isso, apesar de saber que a probabilidade é ínfima, jogo todas as semanas), tentarei descobrir um arquitecto que me desenhe uma casa - uma casa tripla (para os meus filhos poderem viver perto de mim) - do género da casa de Barragán. A casa mete-se pelo jardim e o jardim, quase selvagem, entra pela casa e, mesmo que não houvesse tudo o resto, quase que só isso bastava. Mas há: as cores, os ângulos de luz, o silêncio. Um despojamento que me toca.


Casa Estudio Luis Barragán, México





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.  2  .


Há um outro jardim que acho muito belo. As cores, a vegetação, a água do Jardim Majorelle em Marrakech, Marrocos, são exuberantes e maravilhosas. Aquela conjugação de azuis escandalosos com os verdes em todas as gradações, as flores, os cactos, o marulhar da água, tudo aquilo é superlativo. O jardim foi desenhado pelo artista francês Jacques Majorelle em 1920/1930 e adquirido em 1980 por Yves Saint-Laurent para evitar que fosse convertido em hotel. YSL dizia que aquele jardim era uma inesgotável fonte de inspiração. Acredito.



Jardin Majorelle, Marrakech




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.  3  .



Não queria deixar de aqui ter um jardim português ou uma casa mas não encontrei vídeos sobre aquilo de que me estava a lembrar. Até que pensei no parque ligado a um palácio que acho também de grande beleza e a merecer uma visita, Monserrate.

Transcrevo o texto que acompanha o vídeo.

O Parque de Monserrate integra exuberantes jardins e um palácio, testemunho ímpar dos ecletismos do século XIX, onde os motivos exóticos e vegetalistas da decoração interior se prolongam harmoniosamente no exterior. O relvado fronteiro ao palácio permite um descanso merecido, antes de prosseguir na descoberta de um dos mais ricos jardins botânicos portugueses. Em setembro de 2013 o Parque de Monserrate recebeu European Garden Award para "Best Development of a Historic Park or Garden" (Melhor Desenvolvimento de um Parque ou Jardim Histórico). 



Parque de Monserrate, Sintra, Portugal


 


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Relembro: sobre aquela que (aos 40 anos) continua a ser uma musa para fotógrafos e demais artistas e uma extraordinária máquina de fazer dinheiro, falo um pouco sobre ela e partilho um vídeo agradável, At home with Kate Moss, no post já a seguir.

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Desejo-vos, meus Caros Leitores, uma boa semana a começar já por esta segunda-feira.

..

quinta-feira, março 14, 2013

Para Francisco I, o Papa que veio do fim do mundo para mostrar a Luz aos que a não vêem, para fazer ouvir a Sua voz aos que não a ouvem




Igreja de Luis Barragán, arquitecto mexicano
(o calor das cores da América Latina)


Francisco, nosso irmão e irmão de tudo!
Sublime doido, jóia rara
com a nossa miséria por engaste...
Quem, de ti digno, te cantara!
Mas a mim, dá-me a glória de ser mudo:
irmão das pedras que pisaste.



Rothko Chapel em Houston, Texas, com pinturas de Mark Rothko
(o despojamento absoluto das cores em recolhimento)



Meu o ofício incerto das palavras
a evocação do tempo
o recurso ao fogo

Meu o provisório olhar
sobre este rio
o fascínio consentido das margens
sitiando a distância

Meus são os dedos que em tumulto
modelam capitéis
de sombra e arestas

Mas oculto na brisa
és Tu quem percorre o poema
despertando as aves
e dando nome aos peixes



O espaço de recolhimento de uma agnóstica, in heaven


Estarei ainda muito perto da luz?
Poderei esquecer
estes rostos, estas vozes,
e ficar diante do meu rosto?

Às vezes, como num sonho,
vejo formas como um rosto
e pergunto: "De quem é este rosto?"
E ainda: "Quem pergunta isto?"

E: "E com quem fala?"
Estarei ainda longe de Ti,
quem quer que sejas ou eu seja?
Cresce a noite à minha volta,

terei palavras para falar-Te?
E compreenderás Tu este,
não sei qual de nós, que procura
a Tua face entre as sombras?

Quando eu me calar
sabei que estarei diante de uma coisa imensa.
E que esta é a minha voz,
o que no fundo de isto se escuta. 




*

O primeiro poema é de José Régio e chama-se 'O Pólo Sumo, em louvor de S. Francisco de Assis'

O segundo poema é de José Tolentino Mendonça e chama-se 'Revelação'

O terceiro poema é de Manuel António Pina e chama-se ' Estarei ainda muito perto da luz?'

A música é uma Cantata de Bach (BWV 63) e é interpretada pela orquestra Divino Sospiro

*

Este é o meu segundo post de hoje. Abaixo poderão ver a minha primeira impressão de Francisco, antes Jorge Mario Bergoglio, depois de o ter visto dirigir-se aos fiéis que o aguardavam à chuva. 


*

Se me permitem, muito gostaria que hoje me visitassem também no meu Ginjal e Lisboa. Hoje as minhas palavras seguem as linhas da minha mão, guiada pelas mãos de Maria do Rosário Pedreira, e dedico-as à Leitora amiga que me falou nas linhas da minha mão e neste poema. A música é de sonho: numa grande interpretação Mischa Maisky toca Tchaikovski.

*

E, tirando isto, nada mais a não ser desejar-vos uma quinta feira muito boa (apesar de fria). 

E que o afecto aqueça os vossos corações (...soa piroso, não é?... Mas é o que vos desejo mesmo...).


sexta-feira, março 09, 2012

Eu e a pintura (e mais alguns pintores que me acompanham: Amadeo Souza Cardoso, Mark Rothko, Max Ernst, Paul Klee, Georgia O'Keeffe e, de novo, Paula Rego) e Luis Barragán, o arquitecto mexicano. E a música de Out of Africa (os grandes espaços!) e o Ballet de Zurique


Música, por favor

Banda sonora de África Minha

Quando não tinha este entretenimento dos blogues, ocupava o meu tempo à noite (noite dentro) fazendo Tapetes de Arraiolos, lendo ou, ao fim de semana, pintando. Antes já me tinha dedicado ao tricot, fazendo casacos e camisolas para a família, ao crochet fazendo colchas e toalhas, aos bordados bordando à mão livre desenhos que inventava. Também houve uma altura em que aqui em casa se fazia fotografia, revelando, ampliando, uma  actividade alquímica maravilhosa, coisa que decorria num ambiente de mistério e magia, quase às escuras, manuseando o papel, que se mergulhava em líquidos especiais, com umas grandes pinças de madeira com pontas de borracha.

Agora, com isto dos blogues, como não consigo ser comedida em quase nada do que faço, e, portanto, escrevo imenso, e faço pesquisas enquanto escrevo, acabo por consumir um tempo tal que não dá para poder continuar a fazer quase nenhuma das actividades que acima referi.

Provavelmente um dia destes vou ter que interromper isto dos blogues pois já estou com algumas saudades das outras coisas. 

Par de fantasia da Disney segundo Paula Rego - então não é uma mulher
com um extraordinário sentido de humor...? Reparem nos  fantásticos pormenores. Eu adoro! 

Uma actividade que me motiva especialmente é pintar. Comecei tardiamente. Sempre tive paixão por pintura, ou melhor, por ver pintura, e o meu filho (vítima em criança, tal como a irmã, das nossas regulares incursões por tudo o que era museu e exposição) uma vez, há uma meia dúzia de anos,  resolveu oferecer-me telas e tintas. 

Comecei por preferir pintar antes em papel que era um suporte mais barato pois achava que só ia fazer desenhos pouco mais que infantis (ou nem isso) e dava-me pena estragar as telas. Quando se veneram os artistas, acha-se que até é falta de respeito a gente fazer incursões assim, à toa, ‘armada em pintora’. 

Foi, portanto, absolutamente sem pretensões que me aventurei. Ir tirar daqueles cursos de pintura para principiantes e amadores estava fora de questão. Pintar para mim tem que ser uma descoberta – e sei que é uma estupidez, pois aprender técnicas seja do que for nunca fez mal a ninguém (mas sou autodidacta por natureza, nos Arraiolos, por exemplo, e em quase tudo o resto) ; é que, para mim, estes entretenimentos só fazem sentido se forem à solta, sem regras, sem preceitos, puro prazer da aventura, da ousadia.

E então iniciei o meu percurso.

Amadeo Souza Cardoso - Saut du Lapin. A leveza da cor em suave movimento


Amedeo Modigliane - Jeanne Hébuterne, a mulher que morreu de amor

Na pintura, como ‘consumidora’, prefiro a arte abstracta, ou figurativa se não for muito fiel à realidade. Não aprecio as pinturas que são fiéis reproduções da realidade (pelo menos da realidade vista de forma como toda a gente a vê; isso parece-me banal, não me suscita interesse). Uma paisagem tal e qual, uma jarra de flores tal e qual, a coisas assim não acho piada nenhuma. Tem que haver algo de imprevisto, de inusitado, de desconforme, para me despertar interesse.

Pelo contrário, pinturas sem qualquer significado explícito, sem intenções, cativam-me de uma forma quase inexplicável. 

Mark Rothko - Violet, green and red. A quietude ou inquitetude,
nem sei, das manchas de cor de Rothko, iluminadas ou escurecidas, para mim
 estão muito perto do que penso como o sentido da religiosidade 


Como se pode ficar absorta em frente de um Rothko, quase envolvida, como se se estivesse a ver qualquer coisa de complexo quando se trata apenas de manchas de cor, aparentemente de simples execução e desprovidas de sentido? Pois não sei mas a verdade é que me fascina, fico rendida, não me apetece sair da frente.

Max Ernst - At the first clear word
Incompreensível? Talvez. Mas não são as coisas inesperadas que nos fazem parar?

Mas também os impressionistas, os expressionistas ou os que não se encaixam em lado nenhum. Pintores que sejam capazes de se desligar da realidade quotidiana e transpor para uma superfície qualquer coisa que não seja nada que não cor, luz, movimento, forma ou sombra, são os que mais me interessam. Não se explica, acho eu. É simplesmente assim.

Paul Klee - Head of a Man. A graça imprevista, o espanto, a ironia e a quase doçura da cor
- o que eu gosto destas cores

É pois natural que, ao pintar, me puxasse para coisas assim, indefinidas, coloridas, de uma espontaneidade quase infantil. 

E assim, aos poucos, fui ganhando à vontade, fui ganhando o gosto. Tal como quando escrevo, em que no minuto antes não sei o que vou escrever, também assim é quando pinto. Olho para a tela, pego num pincel, e começo a pintar. É uma sensação de liberdade imensa. E começam a surgir cores e mais cores. Uso muito o encarnado e o amarelo e as diversas gradações da mistura de uma com a outra.

Ao princípio, por mais que tentasse libertar-me de tudo, ainda tinha a preocupação de fazer uma flor que parecesse uma flor convencional, ou um corpo que fosse quase um retrato, um risco que fosse direito. Mas não queria ter essa preocupação, ela era involuntária. No entanto, por mais que me forçasse a fazer coisas que não se parecessem com nada a não ser com o que surgisse, involuntariamente, na tela, não o conseguia. A abstracção é uma coisa muito difícil de se atingir. Estamos, sem dar por isso, totalmente reféns do que conhecemos, do que é igual para toda a gente, do banal, em suma.

Georgia o'Keeffe - From the lake. O sereníssimo movimento das cores, uma ondulação perfeita.


Ajudava-me muito nessas alturas em que queria pintar livre de ortodoxias, ler entrevistas feitas a escritores ou pintores, perceber os mecanismos que regem as mentes livres, ou ver livros sobre obras de arquitectura. Foi importante para mim confirmar que, a maior parte das vezes, se parte de um acaso, e que os pintores se divertem a ouvir as explicações que os outros atribuem às suas obras.

Houve uma altura que tomei contacto com a obra do arquitecto mexicano Luis Barragán. 

Foi um encantamento. As cores quentes, os jogos de luz e sombra, muros e escadas e recantos e pequenas superfícies de água - tudo aquilo me deixou impressionada. 

Luis Barragán - Capela Tlalpan

Vi uma capela que ele concebeu, as janelas por onde entrava uma luz amarela, quente, um crucifixo simples de uma dignidade muito simples, e fiquei encantada. Durante algum tempo pintei capelas, ou apenas janelas e cruxifixos, paredes coloridas. Nessas fotografias apareciam frequentemente freiras ajoelhadas ou sentadas, em oração, e aquela pequena mancha de preto e branco no meio daquelo espaço de luz quente fascinou-me. 

Luis Barragán - Convento das Irmãs Capuchinhas

Essas pequenas freiras aparecem em muitos quadros que pintei nessa altura. Mas, aos poucos, fui conseguindo obter uma liberdade ainda maior, desligada de toda as figuras habituais. E então eu era incrivelmente feliz apenas a pintar, cores, texturas, brilhos, formas injustificáveis.

Vocês que me estão a ler devem pensar ‘Que grande pancada!’ e se calhar é. Nem tenho qualquer preocupação em relação ao valor daquilo que pinto. Mas o que é o valor? É uma coisa tão subjectiva. 

E, para mim, o prazer não está em contemplar aquilo que fiz - o prazer está no próprio acto de pintar, na liberdade total de escolher cores, de criar texturas sem querer saber para quê, no esforço por fazer aparecer ali uma nesga de luz e não saber o que é aquilo ali, em criar profundidade num objecto - sem querer, sequer, perceber que objecto será aquele.

Mas é uma sensação tão boa. Que saudades que eu tenho. 

Houve uma altura em que me dava para pintar cidades, prédios, torres, igrejas no meio de prédios, viadutos, enormes viadutos que cruzavam a paisagem, que se cruzavam entre si no meio de prédios, monumentos estranhos, enormes, e antenas de feitios imprevistos. Quando há pouco tempo fui a Génova, entrando pela estrada do Mediterrâneo, nem queria acreditar: era quase como as cidades que eu pintava. Fiquei deslumbrada. Amei Génova. Uma vida, um bulício, e viadutos que vêm lá de cima e se cruzam nos ares com outros viadutos e casas e mais casas. 

Noutra altura, deu-me para pintar varandas em casas desordenadas, tudo às cores, gradeamentos incertos, flores abstractas, janelas de diferentes tamanhos e muitas, muitas cores. Quando o meu filho foi à Argentina e me mostrou as fotografias do Bairro La Boca, fiquei também admiradíssima. Parecia que eu tinha andado a pintar aquele bairro e, no entanto, nunca o tinha visto.

Mas o que mais gosto de pintar é o nada, o nada cheio de cor e luz, ou o movimento do nada entre superfícies maceradas pelo tempo, ou as sombras orgânicas e aleatórias desenhadas pela luz sobre bocados de nada.

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E, para terminar, a dança que eu, noutra encarnação, devo ter sido uma danseuse.

Ballet de Zurique

««»»

No Ginjal hoje temos Inês Fonseca Santos com mais uma das suas Coisas. Acompanha com Mahler.

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E tenham, meus caros, uma belíssima sexta feira. Divirtam-se!

sábado, dezembro 10, 2011

O amor segundo Tony Judt e Rilke. Pablo Neruda, que cantou o amor como poucos e Andy Garcia que lê (o poema 20) e Keira Knightly que interpreta. Joaquín Cortés vibra em Suaran Flamenco e, porque as cores assim o sugeriram, talvez o meu arquitecto preferido, Luís Barragán. E mais.


Das memórias de  Tony Judt que estou a ler, O Chalet da Memória', retiro este pequeno excerto em que ele diz que 'o amor é aquele estado em que somos nós próprios com mais satisfação'. A seguir refere Rilke: 'o amor consiste em deixar aos amados espaço para que sejam eles próprios, ao mesmo tempo que se lhes dá a segurança no seio da qual esse eu possa florescer'.

Nem mais.

E agora espaço para os poetas, actores, bailarinos, arquitectos - aqueles que, com a sua arte, nos proporcionam uma vida mais feliz. Enjoy, my dear friends.











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(Quase Rothko, em azul e nuvens, ou eu voando over the mountains.)


Secretamente
espreitamos-nos
como caminhos
à beira
de atraentes abismos.


(excerto do poema Secretamente de Virginia Schall)


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E tenham, meus Caros, um belo sábado.


(PS: E a cimeira? - perguntarão vocês... Pois: mais do mesmo. Pouco, coisinha pouca. Estamos mal entregues e não se vê escapatória. Agora talvez só quando o papagaio da popota perder as eleições, quando a própria popota também as perder. Até lá, vai ser isto, andando no fio da navalha, um sufoco permanente. Estão a ver porque não quis falar nisto...? É que já chateia.

Não fiquem agora, no fim, com esta sensação desagradável; por favor, voltem ao princípio que a voz do Andy Garcia ajudá-los-á a ficar bem dispostos de novo. If you please.)
   

segunda-feira, junho 27, 2011

Livros que são como coelhos. E, In heaven, juntam-se Patti Smith que me vai contar do Robert Mapplethorpe, 'Look at me', Campo Baeza que pensa com as mãos e Luis Barragan, o arquitecto da luz, da cor, da vida


Pois é. Depois da longa maratona de há pouco tempo, de total reestruturação da biblioteca, de três novas estantes (incontornável IKEA), e do hercúleo esforço de catalogação (vide o post de conclusão), a desordem tende a instalar-se de novo. Em cima de algumas cadeiras e da mesa em que habitualmente escrevo, a coisa já está assim.

No entanto, enquanto o caos é gerível, sinto-me bem assim. Mesas de trabalho sem nada em cima não têm a ver comigo.

Adiante.

In heaven, sol e calor que só visto. Resolvi tirar uma fotografia aos três últimos coelhinhos que nasceram (que, como é sabido, eles, os livros, reproduzem-se como coelhos). Aqui estão sobre uma grande pedra que, aqui, pedras e flores e árvores, tudo convive na maior liberdade. Coloquei ao pé, um outro e já explico porquê.


O da esquerda está a ser uma agradável surpresa, 'Apenas miúdos', (Just Kids) da Patti Smith (ed. Quetzal) e, em devido tempo, quando o acabar, a ver se não me esqueço de falar dele. Patti Smith partilhou a arte e a vida, foi musa, amiga e testemunha de alguém cuja arte muito me impressiona e de que aqui já falei algumas vezes, Robert Mapplethorpe (poderão aceder a esses posts seleccionando o separador correspondente do lado direito), um fotógrafo tocado pela genialidade. Além disso, do que estou a ver, ela escreve muito bem.

Robert Mapplethorpe e Patti Smith



Outro dos livros é daqueles livros-objectos de que tanto gosto e que devia ir para uma vitrina, é lindo, é pequenino, capa preta, letras prateadas, 'look at me' - Autoportraits du XX.e Siècle de Pascal Bonafoux, (Hors Série découvertes Gallimard). O maravilhoso é que por dentro, todo ele se desdobra, de todas as maneiras, um papel agradabilíssimo e, claro, auto retratos de pintores que tanto admiro, numa edição inteligente e criativa - um gosto! Abro-o, reabro-o, enchantée.


Acima, exemplifiquei, desdobrando uma folha deste maravilhoso livrinho, numa das variantes de dobragem. Aqui podemos ver um auto retrato de Francis Bacon, ('je déteste mon propre visage') e uma montagem de olhares, Van Gogh, Bacon, Picasso, Frida Kahlo, etc, página que tem por legenda 'Se mirer, c'est affronter l'être et sa fonction, L'oeil étonne le voir', Paul Valéry.

O terceiro livro relaciona-se com uma outro dos meus pontos de interesse, a arquitectura. É uma cuidada edição Caleidoscópio, 'Pensar com as mãos' do arquitecto espanhol Campo Baeza.

Leio no próprio livro que Alberto Campo Baeza não tem carro, televisão, relógio, telemóvel.

Leio que na sua biblioteca há mais livros de poesia do que de arquitectura - e fico enlevada pois amar a poesia é um dos pré-requisitos que imagino para uma correcta interpretação da obra arquitectónica.

Leio que no seu atelier não há mais que três pessoas e leio que confessa que é muito feliz.

E, ao ler tudo isto, já eu própria parto feliz para a leitura do livro.

Ao longo dos curtos capítulos vamos percorrendo a sua concepção dos conceitos inerentes à arquitectura: a importância maior da luz, a linearidade, a estrutura - mas vejam bem os maravilhosos títulos que ele vai dando aos capítulos: O sopro de uma brisa suave, Da medida das ideias, Quando o plano se converte em linha, Tempus Fugit, Desenhar no ar, A própria beleza, A luz que constrói o tempo e o espaço, Pregas de luz, etc, etc.

Depois fala de alguns arquitectos que considera especiais (e orgulhosa descobri que ele fala dos irmãos Aires Mateus, de Fernando Hipólito, de Eduardo Souto de Moura, de Paulo H. Durão de que não tinha ainda ouvido falar).

Mas fala sobretudo de alguém cuja obra muito admiro, Luis Barragán, arquitecto mexicano (1902 - 1988), prémio Pritzker. Apenas conheço os seus trabalhos de um livro e da internet mas, mesmo assim, o seu trabalho arrebata-me e já pintei muitas telas inspirada nos seus trabalhos. É uma construção cheia de poesia, sem nada a mais, a síntese perfeita da forma e da luz, uma cor fulgurante, geralmente com uma combinação cromática arrojada e feliz, uma forma inspirada de capturar a luz, transformando-a em linhas de sombra, recantos de sossego, recantos de felicidade em que a luz cai a pique ou desliza pelos muros.

Por isso, o outro livro que juntei ali em cima é justamente sobre Luis Barragan, Editorial RM, S.A. de C.V., México 2001, de José Mª Bendia Julbez, Juan Palomar, Guillermo Eguiarte, Fotografias de Sebastián Saldívar e Prólogo de Álvaro Siza, que folheio e folheio, sempre encantada.  

Páginas do livro em que se vê, nesta casa acolhedora de Barragán uma pintura de um outro mexicano, o pintor Diego Rivera (que foi casado com Frida Kahlo)


In heaven, onde tudo é possível, a mulher de joelhos saíu das páginas do livro, saíu das paredes daquela casa e está aqui e abraça a cesta de lírios, tal como D. Diego Rivera um dia a viu

Sobre a caruma, livro de Barragan, aberto nas páginas cheias da vida transbordante de cor das suas construções


Confesso-vos: se eu pudesse sair por aí fazendo o que me apetece,


 Sophia de Mello Breyner Andresen - Les beaux esprits se rencontrent

('Pudesse eu não ter laços nem limites, ó vida de mil faces transbordantes, pr'a responder aos teus convites suspensos na surpresa dos instantes' - relembra-me Sophia que aqui, in heaven, tem assento permanente; onde haja um recanto à sombra, aqui está ela, com um chapéu de abas largas, parecido com o meu (ou será o meu?), livro nas mãos, palavras soltas ao vento.)

... mas, ia eu dizendo, que se pudesse, saía também por aí, construindo muros coloridos com as cores vibrantes de Barragán, recantos com escadas que pareceriam que não iam dar a lado nenhum, linhas infinitas de luz, fios de água, longos corredores de luz que conduziriam a espaços de paz.


  Tenham uma boa semana! Divirtam-se. Encham a vossa vida de cor de de luz. Be happy. Be happy.